Les vieux ne bougent plus
Leurs gestes ont trop de rides
Leur monde est trop petit
Du lit à la fenêtre,
Puis du lit au fauteuil
Et puis du lit au lit. (Les Vieux, de Jacques Brel)
Quando olho a minha mãe, vejo, com mais clareza, como podem ser duros e devastadores os efeitos que a passagem do tempo tem em nós. Às vezes, confesso, não deixa de emocionar-me ver nela apenas uma sombra do que foi outrora.
É a mesma alegria. É o mesmo sorriso. Mas, o dinamismo e a energia de quem eu me habituara a ver positiva e bem-humorada, a agarrar a vida com as duas mãos, olhando-a de frente e lutando contra todos os impossíveis para a transformar numa festa diária, perdeu-se para sempre.
E pergunto-me o que ela pensará sobre tudo o que não consegue dizer-me. Tento aceitar a sua velhice com a naturalidade de quem sabe que o declínio não pode ser evitado. Sei que, agora, tenho de ser eu a ampará-la e a mimá-la, para que ela se sinta bem. Só quero que, no tempo que lhe resta, ela possa ser muito feliz. E faço tudo por isso. Porque o tempo também inverteu, de certo modo, os nossos papéis. Mas não deixa de ser triste constatar que, entre nós, só o amor continua igual.
Os Domingos à tarde são um tempo só nosso, momento especial de estarmos juntas. Hoje, tento aproveitar ao máximo esse tempo. E não consigo imaginar-me sem os seus olhos verdes, sempre vivos, mudando de tonalidade consoante o seu humor, nem sem os nossos risos cúmplices e os nossos abraços apertados.
Tenho, muitas vezes, saudades do seu colo. Do tempo em que bastava dizer: "ó mãe!" para tudo se resolver; em que bastava ser embalada pelos seus braços fortes e bons para que todas as minhas dores passassem e os meus desgostos de menina se desvanecessem.
Quem sabe se, de afecto em afecto, o que procuramos a vida toda não é mesmo o regresso a essa inocência irremediavelmente perdida, que continua a parecer-nos a "Terra Prometida".
Quem sabe se, de afecto em afecto, o que procuramos a vida toda não é mesmo o regresso a essa inocência irremediavelmente perdida, que continua a parecer-nos a "Terra Prometida".
Querida isabel,
ResponderEliminarAproveite ao máximo os momnetos - e os silêncios - que possa gozar com a sua Mãe. Não soube o que isso era, separada dela durante mais de 30 anos até ela falecer em 2003. As mães merecem tudo o que possamos dar-lhes. Só nós sabemos o que nos sacrificamos pelos nossos filhos, as alegrias que lhes démos, os gestos, os sorrisos, as presenças em actos simbólicos, o carinho, tudo....
A minha filha escreveu-me hoje um texto para o meu projecto do 10º ano que eu teria posto n meu blogue, se o tivesse.
Começa assim:
When I was a kid and it was time for bed, my Mum used to slide a cassette of soft piano music into a cassette recorder and leave it playing in the hallway where we kids could hear it and fall asleep to its sound. This is one of my fondest memories.
Esta é a melhor recompensa que se pode ter na Vida!
Bjinho
Sem dúvida!É isso que eu procuro fazer. Também acho que a relação de mãe e filha é verdadeiramente especial, apesar de eu só a conhecer de um dos lados.
EliminarBeijinho :)
Quando se inverte esta relação unívoca de afectos, diz-se então que atingimos a maioridade. Prefiro dizer que passamos a ser definitivamente adultos: damos colo, mas já não o recebemos. Mas como Dar é muito mais do que Receber, aproveitemos tudo-tudinho ao máximo. Bonito texto, Isabel.
ResponderEliminarBeijinhos :)
Uma vez, há algum tempo, assiti a uma entrevista do filho do Adolfo Suarez, que tem Alzheimer; e ele dizia, com uma enorme serenidade, que chega uma altura em temos de fazer aos nossos pais o que eles um dia também nos fizeram a nós.
EliminarConcordo consigo. Amar é dar, dar, dar, sem querer saber de receber. Obrigada, Paulo!
Beijinho :)
Foi o acaso que aqui me trouxe(na véspera do 3º aniversário do falecimento da minha)e chorei ao ler o seu texto.
ResponderEliminarEsse colo de que fala é inesquecível...por isso desejo que ainda possa usufruir dele por muito tempo.
Obrigada pelas suas palavras.
Obrigada também Many!
EliminarSim, eu procuro aproveitar ao máximo a minha mãe e o nosso tempo de estarmos juntas.
Bem-vinda! Bom Ano Novo!
Beijinho
Isabel Mouzinho