sábado, 5 de dezembro de 2015

Jardins da minha vida (III)



Situado no centro da cidade, o Parque Eduardo VII, começou por chamar-se Parque da Liberdade, mudando depois de nome, como forma de homenagear o rei de Inglaterra que entretanto visitara Lisboa. Obra do arquitecto Francisco Keil do Amaral, o "Parque", como é normalmente conhecido, existe desde o início do século XX e é, ainda hoje, um dos mais emblemáticos locais de Lisboa.
Os seus 26 hectares incluem a Estufa Fria do lado oeste e o Pavilhão dos Desportos, mais tarde designado Carlos Lopes,  do lado oposto, e um miradouro no topo norte de onde se pode observar uma das mais bonitas vistas sobre o rio. É também no alto do Parque que é hasteada uma bandeira nacional de tamanho XXL, que por tradição havia sempre um presépio de grandes dimensões na época do Natal e que, desde 1997, existe um controverso monumento ao 25 de Abril da autoria de João Cutileiro.
Quando eu era pequena, o Parque Eduardo VII era o jardim que ficava mais perto da nossa casa e tinha um parque infantil que era um dos meus locais favoritos e fazia as minhas delícias. Nele  passei inúmeras tardes de aventura e diversão, experimentando habilidades nos baloiços e escorregas, inventando jogos, correndo e saltando, na despreocupação inocente desses anos em que o mundo nos parece simultaneamente simples, misterioso e encantador.
Mas tenho também uma má memória associada a este lugar que, ainda que aparentemente insignificante, me marcou de forma profunda. Foi quando, numa dessas tardes, o meu pai que sempre nos acompanhava e se sentava a ler no mesmo lugar, observando-nos de longe, resolveu esconder-se para ver como reagíamos ao verificar que ele não estava ali.
Relembro, até hoje, aquele momento de aflição em que olhei para o banco do costume e percebi que o meu pai não estava lá. Teria uns quatro ou cinco anos, não mais. Sei que pensei de imediato que não sabia como voltar para casa sozinha e senti-me verdadeiramente perdida. Não sei quanto tempo passou até o meu pai se mostrar de novo, nem sei se me pus a chorar, se chamei a minha irmã, ou o que fiz a seguir. Mas, durante muitos anos, mesmo já bem "crescidinha", aconteceu-me muitas vezes, a cada vez que  perdia de vista quem me acompanhava, num sítio qualquer, voltar por instantes àquela mesma sensação aflita do "e agora?"
De facto, há brincadeiras parvas que se fazem com as crianças, que deixam marcas que não poderíamos supor.

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