quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Ensimesmados


Nos transportes públicos, nas ruas, nas escolas, nos restaurantes, nos espectáculos e um pouco por todo o lado é a isto que se assiste cada vez mais: as pessoas vão perdendo a capacidade de olhar à sua volta, de se relacionar para além das suas redes, das suas mensagens, dos seus auscultadores, sempre de cabeça baixa e alheadas de tudo o que as rodeia, sempre ausentes, numa "realidade virtual" que é pouco mais que um reflexo dos seus próprios umbigos.
Nas escolas, por exemplo, que é um universo que conheço muito bem, mesmo os alunos que conseguem durante o tempo da aula estar "longe" dos telemóveis, agarram-nos mal toca para o intervalo e nem querem sair das salas, ou, se são obrigados a fazê-lo, sentam-se no chão dos corredores para não ir mais longe e ali ficam virados para dentro, entre vídeos, jogos e mensagens, interagindo muito pouco entre si.
Eu, que apesar das redes e da invasão tecnológica a que é impossível escapar, continuo a gostar muito de observar as pessoas e os ambientes, perguntava-me hoje de manhã no metro, vendo noventa por cento dos passageiros de narizes enfiados em cima dos écrans e de phones nos ouvidos, que mundo é este em que, subtilmente, e a pretexto da evolução e da modernidade, seguimos caminhos que nos conduzem ao individualismo, ao isolamento e à solidão.

8 comentários:

  1. Faço imensas vezes essa mesma pergunta, até porque tenho filhos em idade escolar e vejo o relacionamento deles com os amigos. Muitos dirão "são os tempos modernos". São de facto outros tempos, mas não tenho a menor dúvida que os tempos da minha meninice eram tempos bem mais felizes. Estes jovens nunca saberão, por exemplo o que era viver o Natal há 40 anos atrás. Os preparativos domésticos, o ir ao monte à procura de musgo para o presépio, os cheiros vindos da azáfama da cozinha... Ficam as saudades!

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    1. Parece-me tudo um pouco assustador, Fátima. "São os tempos modernos", decerto, mas somos todos um pouco responsáveis pelo estado a que vamos chegando. Só dois exemplos: não é raro ver pais a darem os seus próprios telemóveis a bebés de colo para eles se "entreterem" ou pais que estão à mesa ou onde quer que seja sempre agarrados às sua redes, dando péssimos exemplos de convivência saudável e, acima de tudo, de educação (ou falta dela)...

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  2. O que se vai procurando nos ecrãs é, geralmente, a gratificação imediata, um espelho que alimente o narcisismo, a âncora ilusória da existência.

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  3. Infelizmente é o que cada vez mais se manifesta e que vai degradar as relações das pessoas, e causar mais doenças a todos os seres humanos, a começar nas crianças !

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  4. Hoje vinha eu no metro, e à minha frente estava uma senhora a ler um qualquer livro. Nitidamente queria olhar para mim, mas com vergonha fingia que estava antes a ler o livro... Hoje não me apeteceu fazer nada durante a viagem de metro, mas confesso que por vezes vejo as notícias... Incluindo as notícias do futebol... No telemóvel... Mas hoje não, hoje só me apeteceu não fazer nada.
    No final de contas qual é a diferença entre quem lê um livro no metro ou lê uma outra coisa qualquer no telemóvel?

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    1. A questão é que a maior parte das pessoas não vai exactamente a ler...

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