terça-feira, 10 de setembro de 2019

Mais do mesmo

Entre hoje e Sexta-feira começa oficialmente mais um ano lectivo em todas as escolas do país. Por estes dias, andam todos os professores que conheço (e são muitos) em infindáveis reuniões que, como quase sempre acontece, não servem para coisa nenhuma. É um mau presságio. Mas é sempre assim...
É certo que o novo ano tem que ser minimamente preparado, mas também é verdade que se perde muito tempo e energia com o que não faz sentido nem é necessário, apenas porque sim; porque é "o costume".
São estas pequenas (e grandes) coisas que fazem com que mesmo quem gosta muito da Escola, como eu, e fez dela toda a sua vida, tenha vontade de se afastar. E não deixa de ser sintomático que, no início de mais um ano, que devia ser cheio de esperança, ilusão e novidade, ninguém tenha verdadeiramente vontade de regressar. 
Por isso, mais do que tomar medidas parvas, mais do que insistir no que já se sabe que não serve para nada a não ser acumular cansaços e esgotar-se em conversas estéreis e em reuniões tão longas quanto improdutivas, melhor seria procurar fazer da Escola um espaço onde se privilegiasse aquilo que referiu Miguel Tamen, o Director da Faculdade de Letras de Lisboa, no seu discurso de boas-vindas: ter todo o tempo para ler, escrever, pensar, aprender. 

3 comentários:

  1. Só conheço as escolas do ponto de vista do utilizador, mas acredito que funcionem mais ou menos como o resto da administração pública, que conheço de ouvir falar. Há uma cultura de controle, provavelmente herdada do Estado Novo, em que tem de se preencher mais um papel, com dados já fornecidos 100 vezes em papeis anteriores, entregar mais um relatório (que nunca ninguém vai ler) e que tem de ir a uma secretaria levar um carimbo antes de seguir para um arquivo morto, etc.

    Quanto à mensagem do senhor da maior e melhor escola, pareceu-me muito bonita, só não tenho a certeza da teoria do "esquecem por agora a vida que vem a seguir", uma vez que a faculdade deveria servir exatamente para preparar essa vida que vem a seguir, e não para ser uma espécie de espaço de autorrecriação pessoal, onde só depois de concluída é que descubro a verdade, ou seja as saídas que tenho (ou não) em termos profissionais e amadores.

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    1. Sérgio, não estou de acordo consigo. As escolas funcionam de modo muito diferente da administração pública, posso assegurar, porque sei muito bem do que falo, pois apesar de as escolas públicas pertenceram ao "Estado" têm umas especificidades que fazem delas um universo "à parte", ao qual se aplica muito fortemente aquela máxima do "só quem está no convento sabe o que lá vai dentro". Isto, apesar de ser um dos domínios sobre os quais talvez mais gente acha que pode opinar. Basta ver a quantidade de disparates e de mentiras que se vão lendo nestes dias na comunicação social e nos variadíssimos artigos de opinião que por aí andam.
      Há muita burocracia na Escola, sim, mas muita dela é criada pela própria Escola e pelos professores que, achando-se sempre "mais papistas que o Papa" ou com medo de sabe-se lá quê são pouco práticos e inventam reuniões, grelhas e uma infinidade de coisas desnecessárias, ou perdem tempo em conversas que não levam a lado nenhum, acusando depois o "Ministério" de tudo e mais alguma coisa, mas sendo as primeiras vítimas do que eles próprios inventam.
      Hoje tende-se à formatação. Toda a gente quer fazer tudo igual a toda a gente, nas mesmas alturas, e com a desculpa da "uniformização" vai-se perdendo a criatividade e o espaço de liberdade que torna cada aula e cada professor únicos.
      Bom, podia ficar aqui imenso tempo a dizer imensas coisas, mas já chega.
      Quanto à Universidade,não acho nada que ela tenha que preparar para a vida que vem a seguir, a não ser de forma indirecta. Ou seja, a universidade deve ser uma especialização numa determinada área, que constitua antes de mais uma abertura de horizontes e de caminhos, que ensine a pensar e a descobrir. E depois, com essas "ferramentas", cada um que se faça à vida.

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    2. Se formos a ver, os hospitais funcionam de modo muito diferente da restante administração pública, tal como as esquadras da polícia, os museus, etc., etc., etc. Qual o padrão que por regra une todas estas instituições? Muitos processos burocráticos, muitas hierarquias muito fortes, ausência total de agilidade. Agilidade significa dar mais poder de decisão às pessoas, o que em estruturas baseadas nas hierarquias fortes é visto pelas mesmas como uma perca de poder, e a partir daí há que manter o sistema... Mas tinha ideia que agora vem aí da Europa umas coisas relativas a flexibilização e autonomia. Na prática é ter a liberdade de ensinar o mesmo, mas de outras formas, entre outras coisas. Parece-me muito bem, que isto de ensinar como se ainda estivessemos a preparar trabalhadores para linhas de montagem de fábricas está algo obsoleto, para além de que os chineses são melhores nisso (mas também só copiam, não criam nada)...

      Em relação às universidades imagine-se um aluno que termina o seu curso e não consegue outra oportunidade que trabalhar num call center (milhares e milhares), ou numa outra qualquer profissão de baixa diferenciação. Há duas formas de ver o caso: a culpa (já me esquecia, o jogo da culpa também é um padrão das várias instituições do estado) é do aluno que não soube estudar e depois fazer-se à vida; ou da universidade que não lhe soube dar ferramentas. E agora? Olhando para a realidade, de quem é a culpa? Do estagiário? Normalmente a culpa cai na pessoa mais abaixo da hierarquia, neste caso nos alunos... Eu se fosse um excelentíssimo senhor professor doutor, não sentiria que a minha escola é a melhor, se estivesse a formar licenciados para trabalharem depois (na melhor das hipóteses) em profissões de baixa diferenciação, especialmente para aqueles das classes mais baixas, que não pertencem a famílias que abrem logo portas (por magia). Portanto concordo com a ideia das ferramentas, mas analiso também os resultados. Mas pronto... é aproveitar agora, e depois quando saírem logo se vê...

      Beijinhos

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