Eram iguais quase todas as manhãs: no despertar mais ou menos contrariado à hora certa, nos gestos que se repetiam maquinais, de olhos atentos aos ponteiros do relógio, todos os minutos contados, sem lugar a falhas, rotina cronometrada com rigor, acordando distraidamente para o mundo a ouvir as notícias no rádio, anunciadas com uma energia exaltada, que soava a falso e destoava do ambiente tão quieto e silencioso à sua volta.
Depois a rua, ainda semi-deserta, o café apressado e o jornal, de novo a realidade da vida, o autocarro pontual, que ao longo do percurso se enchia e se esvaziava de pessoas caladas e sonolentas a quem a chuva, repetida dias a fio, empurrava para um emudecimento mais fundo.
Sentava-se num lugar qualquer onde não estivesse mais ninguém e, até chegar ao Campo Pequeno, deixava-se ir, remetendo-se ao sossego do trajecto que já conhecia sem precisar de o olhar e observando, desatenta, as sombras que se dissipavam lentamente e os carros que passavam sem pressa, o dia a chegar vagaroso, o pensamento à deriva, misturando as ideias do que planeava fazer, com os restos dos sonhos de uma noite que lhe parecia sempre demasiado breve.
Mas era quando o colorido das árvores lhe lembrava de repente uma Primavera obstinada em esconder-se, que se perguntava por que razão estaria a aurora tão zangada com o sol para não vir pelos céus enchendo-os da claridade com que costumava precedê-lo e anunciá-lo. E , então, era inevitável: punha-se a sonhar com os dias de sol, de mar e de horizontes límpidos e sem limites, que estavam por vir e que não se lembrava de, alguma vez, ter desejado tanto.
Bonito texto e bem verdadeiro. Hoje as 7 da manhã estava escuro, o céu cinzento de chubo, as árvores paradas.
ResponderEliminarVoltei para a cama:))))
Bjo
Obrigada. Foi assim, hoje de manhã, sim, como em muitas outras manhãs. Mas eu não voltei para a cama. Fui para o ginásio ;)
EliminarBeijinho
Isabel
Há já uns dias que venho dizendo: quando as nuvens desaparecerem, não virá apenas sol. Com Ele virá o quentinho... sente-se.
ResponderEliminarBelo texto.
Beijinho:)
Deus queira que esteja certo, Paulinho!
ResponderEliminarE já agora que seja entre 20 de Abril e 5 de Maio, que vou estar de férias e poderei então aproveitar esse "quentinho" todo, deitada ao sol, ao pé do mar, ou vagueando pela cidade,como eu tanto gosto...
Obrigada por tudo. Beijinho enorme! :)