Este é mais um magnífico texto de Pedro Correia no "Delito de Opinião", da série "Penso rápido". Daqueles que suscitam um inevitável: "É isto!"
O Pedro tem esta extraordinária capacidade de conseguir dizer de uma maneira simples e certeira o que muita gente pensa sem encontrar as palavras que o possam exprimir com a mesma clareza.
E, nem que fosse só por isso, a blogosfera já teria valido a pena. Mas há, felizmente, muito mais...
"Nunca devemos confundir movimento com acção", ensinava Hemingway. Tenho-me lembrado com frequência desta frase sábia que parecia antecipar o tempo actual, em que tudo se banaliza. É um tempo de anestesia colectiva, potenciado pelo efeito reprodutivo da internet, das redes sociais, dos canais de notícias, da televisão em fluxo contínuo. Já quase nada surpreende, já quase nada escandaliza ninguém. E o mais chocante nesta permanente girândola de imagens em movimento é o facto de as "consumirmos" (palavra muito em voga) numa total falta de enquadramento hierárquico de valores, proporcionada pela diluição do jornalismo clássico que funcionava como mediador neste circuito. Hoje tudo é importante. O que equivale a dizer que nada é importante. Somos bombardeados com imagens de "famosos" a levar com frívolos baldes de água fria intercaladas com o vídeo do jornalista americano prestes a ser decapitado por um carrasco encapuzado, exibido até à náusea por todos os meios disponíveis como veículo de propaganda da face mais repugnante do islamismo radical. E depois disto voltam os baldes de água fria. Ou o bebé assassinado pelo pai. Ou a crise do BES. Ou a contratação do enésimo "reforço" para um clube de futebol. Ou outro homicida ovacionado por "populares" à entrada do tribunal neste país de alegados brandos costumes. Ou mais um avião que cai sabe-se lá onde, derrubado sabe-se lá por quem.
Nada choca, nada impressiona, nada fica, nada se retém numa sociedade narcísica onde se dilui a noção de privacidade à medida que tudo se "partilha" no instagram e no facebook, e que elege as selfies como supremo grito da moda: virar a câmara não para o mundo ou para os outros mas para o próprio fotógrafo que transforma o foco digital em espelho. A palavra eu sobrepondo-se à palavra tu e à palavra nós.
Nada choca, nada impressiona, nada fica, nada se retém numa sociedade narcísica onde se dilui a noção de privacidade à medida que tudo se "partilha" no instagram e no facebook, e que elege as selfies como supremo grito da moda: virar a câmara não para o mundo ou para os outros mas para o próprio fotógrafo que transforma o foco digital em espelho. A palavra eu sobrepondo-se à palavra tu e à palavra nós.
"É isto", mesmo!! Uma sociedade "narcísica" e do espectáculo, que se vem delineando há muitos anos.
ResponderEliminarIsabel, obrigada pela partilha.
Beijinho :)
Ora, é um prazer partilhar as coisas boas. E vale a pena ler o que o Pedro Correia escreve. Até quando não se concorda com ele, o que não é o caso aqui.
EliminarBeijinhos
O Pedro é excelente, mesmo. Texto fabuloso e assustador, porque real. Dele retenho "nada fica, nada se retém". Assim vamos.
ResponderEliminar"Assim vamos", mas como diz também o Pedro, lá nos comentários do DO, é preciso apesar de tudo "remar contra a maré". E falar nisto é já um bom princípio...
EliminarBeijinho, Fátima! ;)