domingo, 21 de dezembro de 2014

Apaziguar os medos

 
Quando eu era pequena e tinha medo do escuro só no colo da minha mãe me sentia protegida daquele imenso negrume por onde eu acreditava virem monstros e perigos, escorregando misteriosamente no rasto de luar que  se introduzia pelas mais pequenas frinchas e me iluminava  partes do quarto, avolumando as sombras e adensando os recantos mais negros, que pareciam buracos vazios.
Na altura bastava-me chamá-la, bastavam-me os seus braços fortes e o calor da sua mão para acalmar e voltar a adormecer em paz.
Hoje, chamamo-nos uma à outra sem palavras, sentamo-nos em silêncio junto de uma janela sem vermos o que está para além dela, e apertamos as mãos na inquietação e no desconforto do que fica para lá do horizonte visível.
Agora  já não há monstros imaginários e o desamparo parece bem maior. Mas na vulnerabilidade do fim como na do início da vida é também o amor que nos tranquiliza e amplia  a certeza de que o medo e a morte não se intrometem na vida; fazem parte dela.

2 comentários:

  1. É isto mesmo! A morte faz parte da vida, mas custa muito saber que um dia temos todos o mesmo fim, principalmente de quem gostamos!...Pior do que a morte é o sofrimento da angustia ! Beijo, Isabel.

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    1. Na verdade tudo faz parte da lógica da vida, por mais duro que seja vivê-lo e até às vezes difícil aceitá-lo.

      Obrigada Madalena.
      um beijinho também para si.

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