Para lá de todos os percursos, e vontades, e histórias que se cruzam, se afastam, ou apenas se tocam ao de leve, havia a certeza daquele afecto desmedido a que não conseguiam sequer dar um nome, fosse amor, amizade, ou o que quer que quisessem chamar-lhe, fundado e alimentado ao longo do tempo na naturalidade do bem querer, imune a todas as desavenças, amuos, desencontros e mágoas que faziam também parte do caminho e o tornavam mais humano e mais autêntico.
Tudo começara quase por acaso, com um daqueles encontros fortuitos que parecem ainda assim ter sido escritos nas estrelas, ou originados por um alinhamento perfeito dos astros, que os aproximara só porque sim, porque alguma coisa maior que eles os impelia um para o outro sem que o pudessem entender ou explicar.
No início tudo fora apenas a incerteza que caracteriza os começos, feita de avanços e recuos, de sobressalto e de curiosidade, de arrojo e de medo, de sonho e de realidade, de ânsias e esperas, e risos e lágrimas, alegrias e decepções. Existiam ou inventavam-se? A que saberiam os beijos? Como seria o calor do abraço apertado que faz esquecer o mundo inteiro? E queriam às vezes desfazer logo o ponto de interrogação que tinham colado à imagem um do outro, outras vezes demorar-se na descoberta do que estava para lá do que viam e apenas pressentiam nas palavras e nos gestos, pedaços daquele mistério que queriam e não queriam desvendar, verdades misturadas com a imagem fantasiosa que se haviam criado, alimentada pelo desejo e a imaginação. De quando se olhavam demoradamente tentando adivinhar-se; e tinham pudor de assumir o que realmente lhes assaltava o coração e a vida, por temor de poder soar a vulgaridade ou excesso de atrevimento; de quando acreditavam que tudo era possível, e duvidavam disso em igual proporção.
Depois, com os anos, habituaram-se à melodia do riso e ao som da voz que se lhes fizera real a ponto já a saberem de cor, que lhes ressoava na cabeça nos momentos em que sentiam falta um do outro e se perdiam a delirar como seria bom voltarem a estar juntos, naquele tempo e espaço em que a urgência de se terem era maior que tudo, e lhes ocupava o corpo, o espírito e a existência toda.
Conheciam todos os meandros do carinho e da sensibilidade de que eram capazes, do abandono e da entrega nos momentos de desejos à solta e corpos confundidos, sem pressas, nem vergonhas, nem limites; do arrepio do toque dos dedos na pele, abrindo caminho por recantos secretos; e de todos as pequenas e grandes loucuras que tornavam tão bons todos os minutos de todas as horas de todos os dias vividos em comum.
E tinham agora a certeza absoluta de que estavam unidos para sempre, sem precisar de juras nem de promessas ou sentimentos de posse, porque era enorme a cumplicidade e a harmonia que tinham criado ao longo do tempo, porque tinham aquela estranha forma de querer-se, diferente, bonita, complexa, terna e insensata, que estava para lá de tudo e de todos, que era também amparo, colo e aconchego, e que os fazia ser felizes só por saber que se tinham, e por poder existir assim, na mais simples e total liberdade.
Tudo começara quase por acaso, com um daqueles encontros fortuitos que parecem ainda assim ter sido escritos nas estrelas, ou originados por um alinhamento perfeito dos astros, que os aproximara só porque sim, porque alguma coisa maior que eles os impelia um para o outro sem que o pudessem entender ou explicar.
No início tudo fora apenas a incerteza que caracteriza os começos, feita de avanços e recuos, de sobressalto e de curiosidade, de arrojo e de medo, de sonho e de realidade, de ânsias e esperas, e risos e lágrimas, alegrias e decepções. Existiam ou inventavam-se? A que saberiam os beijos? Como seria o calor do abraço apertado que faz esquecer o mundo inteiro? E queriam às vezes desfazer logo o ponto de interrogação que tinham colado à imagem um do outro, outras vezes demorar-se na descoberta do que estava para lá do que viam e apenas pressentiam nas palavras e nos gestos, pedaços daquele mistério que queriam e não queriam desvendar, verdades misturadas com a imagem fantasiosa que se haviam criado, alimentada pelo desejo e a imaginação. De quando se olhavam demoradamente tentando adivinhar-se; e tinham pudor de assumir o que realmente lhes assaltava o coração e a vida, por temor de poder soar a vulgaridade ou excesso de atrevimento; de quando acreditavam que tudo era possível, e duvidavam disso em igual proporção.
Depois, com os anos, habituaram-se à melodia do riso e ao som da voz que se lhes fizera real a ponto já a saberem de cor, que lhes ressoava na cabeça nos momentos em que sentiam falta um do outro e se perdiam a delirar como seria bom voltarem a estar juntos, naquele tempo e espaço em que a urgência de se terem era maior que tudo, e lhes ocupava o corpo, o espírito e a existência toda.
Conheciam todos os meandros do carinho e da sensibilidade de que eram capazes, do abandono e da entrega nos momentos de desejos à solta e corpos confundidos, sem pressas, nem vergonhas, nem limites; do arrepio do toque dos dedos na pele, abrindo caminho por recantos secretos; e de todos as pequenas e grandes loucuras que tornavam tão bons todos os minutos de todas as horas de todos os dias vividos em comum.
E tinham agora a certeza absoluta de que estavam unidos para sempre, sem precisar de juras nem de promessas ou sentimentos de posse, porque era enorme a cumplicidade e a harmonia que tinham criado ao longo do tempo, porque tinham aquela estranha forma de querer-se, diferente, bonita, complexa, terna e insensata, que estava para lá de tudo e de todos, que era também amparo, colo e aconchego, e que os fazia ser felizes só por saber que se tinham, e por poder existir assim, na mais simples e total liberdade.
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