E às vezes, o silêncio estremece
Como se fosse a hora de passar alguém
que só hoje não vem
Não se deixar vencer pela melancolia. Esse era o mote. Sempre estivera na sua natureza encontrar o lado bom de todas as coisas e não se permitir estar triste por muito tempo. Aprendera a calar a dor, a vivê-la para dentro ou a relativizá-la, como se alimentá-la ou exibi-la fosse um sinal de ingratidão diante de tanto que a vida lhe dava.
Por isso, agora também tinha que ser assim. Para lá dos dias que passavam demasiado lentos e cinzentos, acreditar. Por aqueles dias, em Espanha, mais precisamente em El Rocio, viver-se-ia mais uma festa da Candelária. Se tudo fosse normal, por esta altura estaria também a planear passeios e viagens para o ano inteiro, visitas a cidades novas e às antigas, que trazia sempre no coração, ou a inventar comemorações em grande para mais um aniversário a pouco mais de um mês de distância.
E se lhe parecia às vezes que tudo era só inquietação e desamparo, se prevalecia a nostalgia, a tristeza e o desencanto incerto dos dias e horas por viver, se muitas saudades lhe doíam no peito, não podia deixar de pensar no privilégio de uma vida ainda assim segura e tranquila, quando tantos sofriam e se afligiam muito mais e por tantas razões de peso; e logo procurava mil afazeres e ocupações na esperança de ignorar ou esquecer as perguntas e preocupações que lhe atravessavam a alma durante as horas tão imensamente vagarosas daqueles dias.
E se lhe parecia às vezes que tudo era só inquietação e desamparo, se prevalecia a nostalgia, a tristeza e o desencanto incerto dos dias e horas por viver, se muitas saudades lhe doíam no peito, não podia deixar de pensar no privilégio de uma vida ainda assim segura e tranquila, quando tantos sofriam e se afligiam muito mais e por tantas razões de peso; e logo procurava mil afazeres e ocupações na esperança de ignorar ou esquecer as perguntas e preocupações que lhe atravessavam a alma durante as horas tão imensamente vagarosas daqueles dias.
Outras vezes, pensava que, mesmo de forma passageira, mesmo sem motivos demasiado fortes, podia a espaços entregar-se ao desgosto, desatar as lágrimas só porque sim e, em silêncio e solidão, desalmadamente, chorar. Então, virava-se para dentro, encolhida e calada, deixando a tristeza e a música embalar-lhe aquele buraco enorme que a deixava mais desprotegida e indefesa, sem serem precisas muitas lágrimas, nem dramas, nos momentos em que muita coisa íntima se desatava de repente, entre o deslumbramento ante a ideia romântica de se ser dono da sua vida e os momentos em que só se deseja um colo onde repousar a cabeça, ou o calor reconfortante de uns braços que acolham uma fragilidade repentina.
E logo refeita, sorria, na alegria serena de imaginar que entre o que fomos e o que está por vir, enquanto o coração bate no peito, há muita vida pela frente. E que, acima de tudo, é preciso ter calma. Sempre...
Olhava pela janela e procurava a paz no azul do céu (sempre fora essa a sua cor) para se sentir em harmonia com a vida. No fundo sabia que era normal tudo ser assim, um percurso lento, feito de altos e baixos, de avanços e retrocessos, de esperança e de desânimo. Mas que haveria uma luz ao fundo do túnel e que, de tudo aquilo, se sairia decerto renovado e engrandecido. E redescobriria, assim, de forma mais clara, a importância do amor verdadeiro e da companhia, o valor de abraçar quem se gosta com força, na felicidade de instantes vividos na serenidade de quem se quer bem e de vontades em sintonia.
(Fotografia de Luísa Correia, do Blogue "À Esquina da Tecla")
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