Se me pedissem para escolher um objecto que me definisse, não hesitaria em escolher uma caneta. Adoro canetas. Todas as canetas, mas sobretudo as de tinta permanente, que são aquelas com que me dá mais prazer escrever, que utilizo em todas as circunstâncias e das quais tenho uma vasta colecção.
Tenho pena que se escreva cada vez menos à mão. Durante anos, ouvi gabarem-me a caligrafia, pequena, redonda e certinha. Muito legível, como sempre me diziam. E lembro-me dos livros de ponto onde os meus sumários se destacavam, por causa da minha letra e das cores com que gostava de escrever: azul, sempre, em diferentes tonalidades, do turquesa ao bleu nuit e, às vezes, bordeaux. Lembro-me, também, de como, nos últimos Conselhos de Turma em que estive presente, as minhas colegas vinham munidas dos seus computadores portáteis, exibindo grelhas em Excel com percentagens relativas às coisas mais mirabolantes e eu insistia nos meus cadernos franceses, com anotações coloridas, manuscritas a tinta permanente, resistindo à tendência para reduzir a uma fórmula matemática a avaliação do percurso de aprendizagem de cada aluno.
Hoje, reconheço as inúmeras vantagens do computador e, no entanto, penso que, com a ditadura da era tecnológica, se perdeu o carácter distintivo das diferentes caligrafias, limitadas agora à monotonia de dois ou três tipos de letra - "times new roman" ou "arial" - que não revelam rigorosamente nada sobre a personalidade de quem os utiliza.
E depois, na frieza do teclado, não há o mesmo tipo de toque. É uma coisa mais superficial. Falta-lhe aquela sensualidade da caneta apertada entre os dedos e da mão deslizando devagar, encostada ao papel, da caneta quase como uma extensão do corpo, numa relação muito mais física com a escrita.
Não se trata de insistir em ser "antiquada", mas há prazeres que não devem perder-se. É por isso que ainda gosto de escrever cartas, que têm um requinte e um vagar que se perde na imediatez do mail ou do sms. Mas, porque desde que estou na DREL os "ossos do ofício" me obrigam a escrever no computador o dia todo, também já me habituei a fazê-lo directamente, sem pegar na caneta.
Ainda assim, continuo a ter os meus cadernos e as minhas canetas. Continuo a trazê-las sempre comigo, para ir registando ideias e pensamentos que me vão passando pela cabeça, ou sensações e sentimentos que vêm cá mais de dentro. À mão, pois claro!...
Tenho pena que se escreva cada vez menos à mão. Durante anos, ouvi gabarem-me a caligrafia, pequena, redonda e certinha. Muito legível, como sempre me diziam. E lembro-me dos livros de ponto onde os meus sumários se destacavam, por causa da minha letra e das cores com que gostava de escrever: azul, sempre, em diferentes tonalidades, do turquesa ao bleu nuit e, às vezes, bordeaux. Lembro-me, também, de como, nos últimos Conselhos de Turma em que estive presente, as minhas colegas vinham munidas dos seus computadores portáteis, exibindo grelhas em Excel com percentagens relativas às coisas mais mirabolantes e eu insistia nos meus cadernos franceses, com anotações coloridas, manuscritas a tinta permanente, resistindo à tendência para reduzir a uma fórmula matemática a avaliação do percurso de aprendizagem de cada aluno.
Hoje, reconheço as inúmeras vantagens do computador e, no entanto, penso que, com a ditadura da era tecnológica, se perdeu o carácter distintivo das diferentes caligrafias, limitadas agora à monotonia de dois ou três tipos de letra - "times new roman" ou "arial" - que não revelam rigorosamente nada sobre a personalidade de quem os utiliza.
E depois, na frieza do teclado, não há o mesmo tipo de toque. É uma coisa mais superficial. Falta-lhe aquela sensualidade da caneta apertada entre os dedos e da mão deslizando devagar, encostada ao papel, da caneta quase como uma extensão do corpo, numa relação muito mais física com a escrita.
Não se trata de insistir em ser "antiquada", mas há prazeres que não devem perder-se. É por isso que ainda gosto de escrever cartas, que têm um requinte e um vagar que se perde na imediatez do mail ou do sms. Mas, porque desde que estou na DREL os "ossos do ofício" me obrigam a escrever no computador o dia todo, também já me habituei a fazê-lo directamente, sem pegar na caneta.
Ainda assim, continuo a ter os meus cadernos e as minhas canetas. Continuo a trazê-las sempre comigo, para ir registando ideias e pensamentos que me vão passando pela cabeça, ou sensações e sentimentos que vêm cá mais de dentro. À mão, pois claro!...
Pois....
ResponderEliminarmas se a Isabel escrevesse este blog num caderninh seu com tinta permanente, estes belos pensamentos com os quais me identifico virtualmente, não seriam divulgados , nem chegariam àquelas pessoas que avidamente lêem o que os outros escrevem.
Só leio o que me apetece nos blogues e às vezes nem isso...mas há pedacinhos como este que fazem o meu dia.
Se quiser mando-lhe a minha morada, pode-me escrever uma carta....e eu prometo que lhe respondo, não em caneta de tinta permanente, mas com uma rolleyball de cor indefinida como os meus pensamentos mais íntimos:)))
Abraço
Tem razão, Virgínia! O prazer da partilha é um dos benefícios da tecnologia :)
EliminarDe facto, durante anos escrevi num caderninho, guardado no silêncio escuro de uma gaveta e ao qual pouquíssimas pessoas acederam.
Hoje reconheço que é muito mais enriquecedor fazê-lo na blogosfera, porque isso me permite conhecer outras pessoas e escritas, tão diferentes e tão semelhantes do que eu penso e sinto.
Se me quiser mandar a morada faça-o para o meu mail: mouzinho.isabel@gmail.com
Beijinho
Isabel
Que engraçado, Isabel. Um dia, há muito tempo, também me queixei disso e escrevi:
ResponderEliminar«Hoje em dia, as palavras caligrafadas, escritas pelo próprio punho, desenhadas à mão, revelam-se quase tão íntimas quanto um beijo molhado roubado ao fim da tarde em pleno epílogo de Verão. Letras escritas em elipse, ovaladas e entrecortadas por novas investidas ao início de cada palavra, ciente mas inclinada, acendem danças litúrgicas cadenciadas que induzem à singular natureza das almas, aos espécimes mais exóticos e únicos de cada um de nós. Toda a grafologia é-me, de facto, indiferente mas, uma vez presente, encoraja prodígios de sedução em consecutivas erupções sobre o papel ávido de reparo. Sei-o, sinto-o, e até trocava um ardente encosto apaladado por muitas das tuas letras em tinta de permanente satisfação.»
Muito a ver com o que o delicioso post que Isabel acabou de escrever, não? Beijinhos :)
Tudo a ver, sim, Paulo! Obrigada por ter partilhado comigo o seu texto, que é de uma beleza esmagadora!
EliminarBeijinho :)
Isabel
Paulo: Não posso deixar de soltar um grito de espanto perante tão vernácula prosa do meu Amigo Paulo. Tu às vezes ( quase sempre) surpreendes-me. Fico mesmo flabbergasted, como dizem os ingleses, com a tua arte de escrever. Nunca publicaste nada do que escreves? Valia a pena...ficávamos todos a ganhar!
ResponderEliminarBjo
Fica "flabber" quê?
EliminarExcelente, o seu post e o texto do Paulo, um must:)
ResponderEliminarObrigada Fátima! Também gosto muito do texto do Paulo! :)
EliminarBeijinho