quinta-feira, 3 de julho de 2014

Platero e Eu


Devia ter uns nove ou dez anos quando o li pela primeira vez, assim, tal e qual, na edição "Livros do Brasil", de capa verde. Nunca mais o voltei a ler, mas também não o esqueci de modo algum, como aconteceu com tantos outros que, ao longo dos anos, me passaram pelas mãos. Só há poucos dias, quando casualmente lhe voltei a pegar, e o folheei, e li algumas passagens, percebi ao relembrar cada palavra, cada pequeno capítulo, como era grande e funda a impressão que ele me causara na infância. 
É na verdade tocante a história de amizade entre Platero, o burro, e o seu dono, o narrador; e é encantadora a forma simultaneamente simples, terna e poética através da qual se descreve o que vão vendo, e que quase nos permite acompanhá-los nas deambulações pelo campo andaluz.
A narrativa, na sua singularidade quase pueril, valeu ao autor, Juan Jamón Jimenez, o prémio Nobel da Literatura em 1956, e poderá - sei-o agora - ter ajudado a despertar em mim a paixão pela beleza das palavras e pelas emoções e sensações que elas provocam em nós.
Este é, sem dúvida, um daqueles livros de leitura obrigatória...
 Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro. Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas… Chamo-o docemente: “Platero”, e ele vem até mim com um trote curto e alegre (…). Os camponeses, vestidos de escuro e vagarosos, param a olhá-lo: — Tem aço… Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo.

2 comentários:

  1. Estou cheio de vergonha: não conheço o autor nem esta obra. Pela passagem que nos deixou, parece ser bonito e "limpo"... muito bom para estas idades e certas cabeças.
    Beijinho :)

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    1. Não tem que se envergonhar de nada, Paulo. Não conhece este, mas conhecerá outros, que eu não conheço e que o marcaram a si. E o que estas coisas têm de bom é também o que vamos podendo descobrir.
      O livro é muito bonito, mas de uma grande simplicidade, "limpo", como diz, simultaneamente alegre e melancólico, considerado prosa poética e para se ler em qualquer idade (embora com olhos diferentes, naturalmente).

      Esta passagem é o início...

      Beijinho :)

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