No dia em que se cumprem dez anos da sua morte, Sophia de Melle Breyner Andresen, um dos nomes maiores da nossa literatura, é hoje trasladada para o Panteão Nacional. Sophia merece, quanto a mim, todas as honras e homenagens. Merecia até, mais que Saramago, o Prémio Nobel. Mas isso são outras histórias...
O que já me parece insuportável é que, a propósito das cerimónias de hoje, venha a comunicação social, primeiro, e as redes sociais, logo em seguida, fazer declarações como as que podem ser lidas aqui. Ao que parece, a filha de Sophia ter-se-á mostrado muito incomodada e terá dito isto, - "Retiraram a poesia da minha mãe dos currículos escolares para lá colocarem poetas menores, considero mesmo que há uma tentativa subterrânea para a obliterarem." - a que se seguiu um coro de vozes indignadas, "na verdade, parece impossível, etc. e tal".
Ora tudo isto é mentira e convinha, antes de mais, ir verificar o que se passa. Qualquer pessoa que consulte as Metas Curriculares para o Ensino Básico pode confirmar que, na lista de obras e textos para educação literária, o nome de Sophia de Mello Breyner consta em todos os anos dos segundo e terceiro ciclos, do quinto ao nono, sem excepção, em prosa e em poesia.
Mas podemos até admitir que, caso não tivesse sido uma pessoa tão inteligente e sabedora como Helena Buescu a liderar a equipa responsável pelas Metas Curriculares, e antes um qualquer daqueles "iluminados" como os que são responsáveis por aberrações tais como o AO, ou (pior ainda) a Nova Terminologia Linguística (de que ninguém fala), isso tivesse acontecido. Caberia, ainda assim, a cada professor de Português contornar a questão. E temos, graças a Deus, liberdade para o fazer. Por mim, fazendo ou não parte dos programas e currículos, Sophia terá sempre um lugar central na minha sala de aula.
E porque, para lá de todas as polémicas mais ou menos vazias de sentido, o que importa, de facto, são as palavras que nos deixou, elas aqui ficam:
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
O que já me parece insuportável é que, a propósito das cerimónias de hoje, venha a comunicação social, primeiro, e as redes sociais, logo em seguida, fazer declarações como as que podem ser lidas aqui. Ao que parece, a filha de Sophia ter-se-á mostrado muito incomodada e terá dito isto, - "Retiraram a poesia da minha mãe dos currículos escolares para lá colocarem poetas menores, considero mesmo que há uma tentativa subterrânea para a obliterarem." - a que se seguiu um coro de vozes indignadas, "na verdade, parece impossível, etc. e tal".
Ora tudo isto é mentira e convinha, antes de mais, ir verificar o que se passa. Qualquer pessoa que consulte as Metas Curriculares para o Ensino Básico pode confirmar que, na lista de obras e textos para educação literária, o nome de Sophia de Mello Breyner consta em todos os anos dos segundo e terceiro ciclos, do quinto ao nono, sem excepção, em prosa e em poesia.
Mas podemos até admitir que, caso não tivesse sido uma pessoa tão inteligente e sabedora como Helena Buescu a liderar a equipa responsável pelas Metas Curriculares, e antes um qualquer daqueles "iluminados" como os que são responsáveis por aberrações tais como o AO, ou (pior ainda) a Nova Terminologia Linguística (de que ninguém fala), isso tivesse acontecido. Caberia, ainda assim, a cada professor de Português contornar a questão. E temos, graças a Deus, liberdade para o fazer. Por mim, fazendo ou não parte dos programas e currículos, Sophia terá sempre um lugar central na minha sala de aula.
E porque, para lá de todas as polémicas mais ou menos vazias de sentido, o que importa, de facto, são as palavras que nos deixou, elas aqui ficam:
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
E assim se vão espalhando mentiras. Pegam-se como rastilhos na Net.
ResponderEliminarOuvi da boca de um jornalista, a dois metros de distancia de mim ,que era mentira uma circular escrita com assinatura do senhor, a rolar na Internt. Totalmente falso. Como este caso há muitos. A Web é uma faca de dois. gumes.
É isso mesmo, Madalena! Profundamente irritante.
EliminarMas eu não me consigo calar. E, por isso, até fiz um comentário numa publicação do Facebook de uma pessoa que não conheço (amiga de amiga). Para repor a verdade. Como isso não é conveniente, o meu comentário foi apagado e ainda recebi uma nota a dizer que a página era dela e que ela fazia lá o que queria. e que se sentira insultada (com a verdade, portanto...)
É o que temos!...
Mas no meio disto tudo o que importa mesmo é a poesia de Sophia. E é isso que perdura.
Beijinho
Isabelamiga
ResponderEliminarTrato sempre a gente de quem gosto desta maneira: Ruiamigo, Helenamiga, e por aí adiante. E também uso o tu; A minha "provecta" idade (vou a caminho dos 73) e o facto de ter sido também professor levam-me a fazer assim em preito da Amizade. Mas, não querendo, avisa-me sff. Para certas (poucas) coisas sou obediente...
Não gosto definitivamente das redes ditas sociais e creio ter motivos para isso; mas quanto aos blogues, são outros quinhentos mal réis. Foi através do "Fio de Prumo" que te encontrei. E concordei contigo; por isso assim o escrevi.
O lugar da Sophia - que tive o prazer e a honra de conhecer e com ela conversar, jornalista é descarado, mas às vezes safa-se... - é no Panteão cada vez mais democratizado. É bom? É mau? Mas continua a ser... o Panteão.
Polémicas espúrias, inoportunas, enfim, parvas não cabem na minha cabeça de velhote cheio de vontade de o ser, mas com ela no seu lugar - e sem chapéu.
Por isso, o meu apoio ao que escreves. Bem hajas!
Qjs = queijinhos = beijinhos (e até rimam...)
Se não é pedir muito gostava de te ver na minha Travessa que então passará a ser tua também. E nela poderás ver quem sou... Obrigado.
Já eu, Henrique, que também me guio pela sinceridade, tenho por hábito não tratar por tu as pessoas que não conheço e até algumas que conheço, sem que isso queira significar mais distância, ou menos amizade e afecto.
EliminarQuase toda a gente que aqui chega vem através do "Fio de Prumo", o que é para mim um prazer e uma honra. Também foi por aí que comecei e gosto muito, muito mesmo, da Helena, generosa e querida como só ela, e sempre de janela escancarada para o mundo.
Quanto ao resto, só posso agradecer a sua simpatia e um dia destes lá passarei pela sua Travessa.
O que é estranho é a própria filha ser desconhecedora da realidade dos factos. Ou não será...?
ResponderEliminarBom, importante mesmo é ler Sophia. na escola e fora dela!
Sim e não, Paulo. Na verdade as pessoas não sabem bem. Mas há que ir verificar. Eu própria tinha ideia que Sophia estava nos currículos, mas fui às Metas ver se constava efectivamente. E lá está. Do 5º ao 9º ano, o que não é pouco. Agora dizem que não está no Secundário. Sim, de facto. Mas se já foi lida nos cinco anos anteriores... E, como digo, quem quiser pode sempre dá-la na mesma. (Os alunos que passarm pelas minhas aulas sabem até recitar de cor algumas poesias fundamentais da Cultura e Literatura Portuguesas, de Sophia e de outros autores, e o Programa não me "manda" fazer isso. E a maior parte dos professores não o faz. Mas a mim parece-me fundamental).
EliminarDito isto, as declarações da filha de Sopjia e outras no género têm a ver com aquela coisa muito portuguesa de que é preciso sempre dizer mal de qualquer coisa.
É como diz. É importante ler. Na escola autores portugueses, sobretudo (e não traduções de qualidade tantas vezes duvidosa...). Sophia e os outros, incluindo os clássicos. E além de ler, também escrever e pensar. Muito!
Boa noite, Isabel,
ResponderEliminarComo tão bem diz, "o que importa, de facto, são as palavras que nos deixou..." - palavras, que não são palavras, mas sim Palavras, porque palavras destas, tão bem conjugadas umas com outras, como se andassem de mãos dadas a bailar num bailado único e maravilhoso que nos seduz e enche a alma, não se encontram por aí, em qualquer esquina. Há pessoas que nascem com a dura missão de sentir como outros não sentem, de esquartejar seu próprio ser, em busca de conseguir colocar num agrupamento de palavras o que lhes vai na alma, e conseguem-no de maneira soberba, para nosso deleite. Sophia foi uma dessas.
E cada vez que passamos adiante o que ela nos deixou, estamos a imortalizá-la, a permitir que sua obra tenha valido a pena.
Bjo amigo
Sophia é, de facto, uma autora incontornável da nossa literatura e cultura. Obrigatória.
EliminarQuanto à literatura, digo-lhe isto, que ouvi um dia a Maria Alzira Seixo e me parece fantástico:
O que nos enfeitiça na poesia, na literatura, não é o que ela nos diz, mas a sonoridade e o ritmo com que isso é dito. É o trabalho de prosódia. E é aí que reside a arte". As palavras poderão não ter sido exactamente estas, mas a ideia sim!
Ler vale sempre a pena...
Beijinho