domingo, 26 de abril de 2015

Ruptura

(Étienne Cabran)

Soneto do amor difícil

A praia abandonada recomeça,
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor, somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa...

Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo a nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio de morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe
de súbito surgido à flor dos limos.

E deste amor difícil só nasceu
Desencanto na curva do teu céu.


                                                           (David Mourão-Ferreira)

2 comentários:

  1. Bom dia.Que belíssimo poema, parabéns pela escolha.Abraço.

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    1. David Mourão-Ferreira é um dos maiores poetas da língua portuguesa. Mais especial ainda para quem, como eu, pôde conhecê-lo também como professor.
      Obrigada Vinicius

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