Neste caso, não posso ser considerada suspeita. Há no fado apenas dois ou três nomes que verdadeiramente me tocam, mas não é dos estilos de música que mais me dizem e é até muito raro ouvi-lo em casa.
E, no entanto, ontem pude sentir o mesmo que sentira há cerca de três anos, num concerto de Carminho: a força imensa e arrebatadora daquilo a que poderá chamar-se a "alma portuguesa". E a confirmação de Camané como um artista singular e, a todos os títulos, excepcional.
O espectáculo, irrepreensível do início ao fim, do cenário ao repertório, fez um breve percurso pela sua discografia anterior, mas tinha como pretexto e objectivo a apresentação do CD "Infinito Presente", vinte anos depois do primeiro, e tocado na íntegra.
Só que o que aconteceu durante duas horas, naquela sala silenciosa e rendida à beleza do momento, esteve muito para além disso. Foi magia pura. Emoção à flor da pele. Foi deixar que a voz poderosa de Camané, a solo ou magnificamente secundada pelo talento de José Manuel Neto (na guitarra portuguesa), de Carlos Manuel Proença (na viola) e de Paulo Paz (no contrabaixo), nos levasse numa viagem marcante ao mais fundo de nós e ao mais bonito da vida. É que há na entrega com que canta, na força da sua voz, combinada com a sonoridade melancólica da guitarra portuguesa, algo que nos perturba e encanta, que nos entristece e faz felizes.
Goste-se muito, pouco, ou assim-assim de fado, será impossível ouvir Camané cantar David Mourão-Ferreira com tanta paixão e não sentir no fundo da alma um certo orgulho de ser português.
No fim apetece voltar outra vez ao início, ou comprar o disco e pô-lo a tocar, repetidamente; porque quando é a alma que canta/ é quando o fado acontece.
No fim apetece voltar outra vez ao início, ou comprar o disco e pô-lo a tocar, repetidamente; porque quando é a alma que canta/ é quando o fado acontece.
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