terça-feira, 9 de outubro de 2018

Não, eu não sou CR7...


Quem me conhece sabe que eu não ligo muito ao desporto e em particular ao futebol, nem sequer quando joga a Selecção Nacional, porque não é assim que se manifesta o meu patriotismo. O que se passa nestes meios é-me portanto quase totalmente indiferente, a não ser naquele fundo de mim  que gosta de estar mais ou menos a par da actualidade.
Não tenho, por isso, nenhum orgulho especial em Cristiano Ronaldo, não porque não lhe reconheça competência e qualidades, mas porque há noutros domínios muitos portugueses que também se destacam em níveis idênticos sem que com isso se faça o mesmo alarde, apenas pelo facto de o mediatismo das matérias ser distinto.
Mas até percebo que se possa ver em Cristiano Ronaldo um desportista de excepção. O que já não entendo é que se misture tudo: uma coisa é o que ele é enquanto futebolista e outra coisa muito diferente é o que a pessoa faz e é na sua vida privada. E portanto não entendo este movimento um pouco irracional e  até absurdo que se está  a gerar à volta das últimas notícias que lhe dizem respeito e que assume contornos que chegam a ser ridículos.
Eu não tomo partido por nenhum dos lados, porque na realidade o que se passou só os intervenientes directos da história poderão saber com rigor. Mas que o caso tem contornos complicados é algo que não se pode negar. Basta ler na íntegra o artigo do Der Spiegel para o perceber.
O que me faz confusão no meio disto tudo é que pessoas que eu considero inteligentes, por quem tenho estima e consideração, reajam também apaixonadamente e sem qualquer objectividade. Como se Cristiano Ronaldo, por ser "bola de ouro" e mais não sei o quê, estivesse acima de toda a suspeita e não fosse uma pessoa como outra qualquer, sujeita à mesmas leis e aos mesmos princípios.
Estranho muito que as vozes que agora se levantam para defender Cristiano Ronaldo sejam, em muitos casos, as mesmas que defendem os movimentos #metoo. "É estranho que a senhora venha voltar ao caso tantos anos depois", dizem. "Só pode ser uma oportunista". É estranho, suspeito, até, de igual modo, digo eu, que Cristiano Ronaldo tenha querido com o seu dinheiro "silenciar" o caso. Porque se se tratasse de mera calúnia bastaria negar os factos. Depois, todos os argumentos utilizados me parecem lamentáveis e primários; são os que vão de demonstrar que ele até é um benemérito capaz de "ajudar muitos pobrezinhos e necessitados" até ao machismo mais puro que considera tratar-se apenas de uma p... ou dizer que "se ela aceitou ir para a suite, já sabia ao que ia"... Porque forçar alguém a fazer alguma coisa que não queira é sempre uma forma de violência. Aqui e na China... E seja o alvo quem for...
Enfim, eu não defendo nem acuso, mas "não ponho as mãos no lume" por ninguém. Nem por mim...
É por tudo isto que coisas como "somos todos CR7",  ou "vamos mostrar ao mundo que somos portugueses e estamos ao lado de CR7 contra as mulheres oportunistas. Ele defende a nossa nação, vamos apoiá-lo com o coração" ou  ainda a "corrente" proposta pela própria família que consiste em pôr no perfil do FB uma fotografia de CR com uma camisola de Superman e os hastags #ronaldoestamoscontigoatéaofim#justiçaCR7, #elemereceonossoapoio, #deusnuncafalha e #deusnocomando, a mim só me dão vontade de rir.
E, já agora: deixem Deus fora disto...

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