Quando há pouco mais de um ano decidi que faria uma pausa no flamenco e me inscreveria no ginásio para cuidar do corpo de outra maneira, estava longe de imaginar que me dedicaria a isso com tanta persistência e regularidade. Não que não confie no meu carácter disciplinado e cumpridor. Mas apesar de ter feito exercício a vida toda, nunca fui grande fã de ginástica, nem tenho propriamente o espírito de uma desportista. Odeio correr, por exemplo.
E, no entanto, apeteceu-me aquela novidade. Foi assim que, além da aula semanal de Pilates, que não dispenso, três vezes por semana, de Inverno e de Verão, com frio, com calor, com chuva, com vento, ou com sol, contrariando a preguiça que me faz sempre querer ficar na cama um bocadinho mais, passei a levantar-me a horas quase obscenamente impróprias para ir ao ginásio logo de manhã, muito cedo, ante o espanto e a descrença dos que me conhecem bem e sabem como eu gosto de me deitar tarde e quanto me custa depois levantar-me sem ter dormido oito horas, pelo menos. E tudo isto sem falhas. Sem nunca me ter deixado vencer pelo momento em que o despertador toca e se pensa: "ah, hoje não vou!" O que é mesmo mau de ultrapassar, o que custa na verdade, é apenas esse instante de sair da cama. Porque tudo o resto é até uma interessante descoberta: é poder assistir ao amanhecer, que varia com as estações do ano, é ver o dia clarear e a cidade ganhar vida; e é, também, o prazer de se sentir em forma, mais bem-disposto e com doses reforçadas de energia.
E entretanto já passou um ano. Estou satisfeita com os resultados obtidos e, sobretudo, contente comigo por ter sido capaz de cumprir, rigorosamente, o que estabeleci e me propus fazer.
Não se trata de fazer batota com o tempo, nem de tentar mascarar os inevitáveis efeitos da sua passagem e os diversos estragos físicos que se vão instalando de maneira mais ou menos imperceptível, até se tornar tarefa vã disfarçá-los. Também não é querer dar ao corpo uma importância excessiva, porque todas as idades podem ser encantadoras e a maturidade traz consigo serenidade e sabedoria adquiridas com o que se foi vivendo, que compensam a frescura e o viço que se perdem, mesmo que saiba sempre bem ouvir a quem já não nos vê há muito: "estás sempre igual!.."
Trata-se, acima de tudo, de se sentir bem na sua pele e dar valor ao que se tem; e de saber cuidar disso, sem medo do tempo que passa, mas querendo aproveitá-lo da melhor maneira possível. A continuar, portanto!..
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