segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Um filme polémico



Em geral, desconfio dos filmes de que toda a gente fala. Ou muito premiados. Resisto algum tempo a ir vê-los e, não raras vezes, acabam por ser uma desilusão. Foi talvez por isso que, apesar de La Vie d'Adèle já ter estreado há mais ou menos três semanas,  ainda não o tinha ido ver. Mesmo sendo um filme francês, de que eu gosto quase sempre, nem que seja para ouvir a doce musicalidade da que é, para mim, a língua mais bonita do mundo. Mesmo com a "Palma de Ouro" do Festival de Cannes.
Mas, desta vez, havia ainda outra razão a justificar o meu atraso: o filme não estava no Corte Inglês, nem nas Amoreiras, que são os cinemas onde eu gosto de ir. Enfim, lá aconteceu.
É um filme enorme, que dura três horas. Longo demais, diria eu, e tornando-se por isso, a certa altura, ligeiramente maçador.
Tem Adèle Exarchopoulos no papel principal e é ela que faz o filme valer a pena. Uma verdadeira revelação, na sua imensa naturalidade, na sua juvenil frescura e numa sensualidade desarmante, que a torna belíssima, e mesmo inesquecível. Porque além de Léa Seydoux, com quem contracena, o filme é ela e a forma como namora a câmara, fazendo-o sempre como se não a visse.
Durante três horas acompanhamos a vida de Adèle nos seus aspectos mais comuns, na escola, a dormir, a comer, depois a trabalhar. E, também, ou talvez principalmente, experimentando o afecto e o prazer, descobrindo-se a si mesma enquanto descobre, lenta e dolorosamente, o amor, o corpo, o desejo, o sexo. Adèle é a menina que se faz mulher entre incertezas e vontades, na perplexidade de um mundo novo que se lhe revela, e que vai esbanjando erotismo em cada momento, quando ri, quando chora, quando come, quando dorme, quando fala e quando se mantém em silêncio.
Sem entrar na polémica que, terminada a rodagem, opôs as actrizes ao realizador (o franco-tunisino Abdellatif Kechiche), as quais o acusaram de lhes provocar sequelas emocionais por ter levado aos limites a exploração da sua intimidade, diria que são de facto excessivas e demoradíssimas as cenas de amor lésbico entre Adèle e Emma.
Parece-me, de resto, que há hoje uma certa tendência, sobretudo em meios pretensamente mais intelectuais, de algum exibicionismo em relação à homossexualidade, o que é muito óbvio neste filme. E não era necessário ir tão longe.
Aceito e respeito a homossexualidade, embora não a consiga entender e não possa deixar de a achar um pouco estranha, uma espécie de amor "ao espelho", em vez da procura da alteridade. Dito isto, não me parece que quem é homossexual tenha de se esconder, como é óbvio, mas cair no extremo oposto, o da ostentação, como se isso fosse um sinal de modernidade, é também um exagero.
Não posso pois dizer que não gostei, ou que não há, pontualmente, coisas muito boas e marcantes, até, mas não achei o filme tão fantástico e imperdível como ouvira dizer.
E, pode até nem me ficar muito bem dizer isto, mas, sinceramente, há ali "fufalhice" a mais para o meu gosto.

9 comentários:

  1. Ahahahah!... Ainda bem que avisa porque "não há, mesmo, necessidade"...
    Beijinho Isabel

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    1. Bem, Teresa, não passa de mera opinião, com toda a subjectividade inerente. Há, de certeza, quem pense de outra maneira...

      Beijinho

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  2. Polémica, um termo que vem crescendo e apimentando tudo por onde passa.
    O filme, só vendo para poder comentar.

    Quanto à duração, o que dizer de um filme com 184 minutos que me prendeu à cadeira até à última cena?
    Falo do 'Les uns et les autres'.

    Beijinho, Isabel.

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    1. Se não gosta do adjectivo "polémico", pode substituí-lo por "controverso", que, neste caso, também se aplica.
      O que eu escrevi sobre o filme, talvez ainda um pouco a quente, é exactamente o que penso dele.
      O problema nem é a duração (mas também é). Quanto a records o meu de 7 horas. O filme chamava-se "Hitler um filme da Alemanha" de Syberberg e, para mim, todo aquele tempo foi, acima de tudo, uma daquelas loucuras que só fazemos por amor.

      Beijinho

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    2. Só mais uma coisa: não é o tempo que dura o filme que o torna mais ou menos interessante, cada caso é diferente dos demais, mas, em geral, uma boa história não precisa de ser muito longa. Duas horas, duas horas de picos de filme, parece-me o tempo certo. Era isto!

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  3. Partilho tudo o que escreve sobre o cinema francês. Mesmo quando o filme não é bom, fica a sonoridade e o ambiente que só os filmes franceses proporcionam. Três horas numa sala de cinema, hoje em dia, é muito para mim. O DVD vem a caminho de casa, para ver numa tarde chuvosa de domingo.

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    1. Ó Carlos, trocar a sala de cinema e a sua magia pelo DVD e o sofá é quase um sacrilégio. E depois, há filmes que é mesmo obrigatório ver no cinema. Quer um exemplo? "Lawrence da Arábia", parafraseando Pedro Correia, no "Delito de Opinião". Mas há mais, muitos mais...

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  4. Boa noite, Isabel!
    Já ouvi falar neste filme, mas pouco ou nada sei da sua história e não sei se me apetece ir vê-lo. Concordo consigo, também fico de pé atrás quando algo é muito badalado e popularizado, seja em cinema , livros e por aí fora. Enquanto estava a ler a sua análise , às tantas levou-me a pensar nos livros da famosa Anita:"...na escola, a dormir, a comer, depois a trabalhar"...(risos)
    Beijinhos.

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    1. Madalena, posso garantir-lhe que o filme não tem nada, nadinha mesmo, a ver com os livros da Anita! :D

      Vá ver!... Nem que seja por causa da Adèle Exarchopoulos. Tenho a certeza que ela ainda vai dar muito que falar. ;)

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