sexta-feira, 13 de junho de 2014

Eu é mais bolos!...




Durante não sei quantos dias, querendo ou não, vamos ter de aguentar uma overdose futebolística. E não são só os jogos, na televisão ou em écran gigante, um pouco por todo o lado. São os intermináveis comentários que antecedem e sucedem cada desafio, as tácticas e estratégias discutidas até à exaustão por verdadeiros "treinadores de sofá"; e ainda todas as notícias sobre as lesões, os treinos, o que comeram, vestiram, disseram, ou onde dormiram os jogadores; as bandeirinhas e os cachecóis; e um súbito furor patriótico, que inunda tudo. Um cansaço!...
Tudo isto me passa ao lado, tanto quanto é possível, no meio desta espécie de terramoto, que parece querer fazer esquecer que há vida para além do futebol.
Hoje, por exemplo, neste que é dia de Lisboa, nasceu em 1888, por uma feliz coincidência, um dos seus poetas maiores.  E isso também vale a pena ser lembrado...
Aqui fica:
Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
                        (Fernando Pessoa)        

8 comentários:

  1. Realmente isto do Mundial é uma chatice. Nunca mais começa a pré-época e os jogos do Benfica!

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    1. Não é "uma chatice", mas é uma canseira...
      Mas o Benfica é que não!...
      É que mesmo não percebendo nada de futebol, a minha alma é sportinguista. Nem que seja por herança familiar...

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  2. Futebol se joga no estádio?
    Futebol se joga na praia,
    futebol se joga na rua,
    futebol se joga na alma.
    A bola é a mesma: forma sacra
    para craques e pernas-de-pau.
    Mesma a volúpia de chutar
    na delirante copa-mundo
    ou no árido espaço do morro.
    São vôos de estátuas súbitas,
    desenhos feéricos, bailados
    de pés e troncos entrançados.
    Instantes lúdicos: flutua
    o jogador, gravado no ar
    — afinal, o corpo triunfante
    da triste lei da gravidade.

    Carlos Drummond de Andrade

    Beijinho:)

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    1. Visto desta maneira poética, sim, Paulo. Assim é lindo...

      Sou suspeita: Drummond de Andrade é um dos meus poetas preferidos. (E não conhecia este poema. Obrigada pois por isso, Paulo) ;)

      Beijinho :)

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  3. A comunicação dita social não pensa duas vezes, quando se trata do palavrão 'share'.
    De dois em dois anos, por esta altura, temos campeonatos europeus e mundiais, alternadamente.
    Gosto de ver bom futebol mas, sem dúvida que as doses industriais saturam.
    Fado, futebol, e Fátima, como dantes, são a distracção de um povo amolecido.

    Poesia? Venha ela, da boa.
    Beijinho e bom domingo, Isabel.

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    1. Não concordo consigo, António. Não se trata de "um povo amolecido", mas antes de consumir o que quer que se lhes ponha na frente. Falta de sentido crítico, entre outras coisas.
      Enfim, a questão é mais vasta e mais fundo e poder-se-ia dizer muita coisa, mas... não temos tempo.

      Farei por isso, obrigada. Beijinho.

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  4. Cansaço dos grandes para quem não tem a mínima apetência para o enredo à volta do futebol. Também sou tão ignorante na matéria. Digamos que um zero à esquerda.
    Beijinhos, Isabel

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    1. A mim não me dá sequer súbito patriotismo. Nem os jogos de Portugal vejo... :)

      Beijinhos

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