terça-feira, 4 de novembro de 2014

O livro do Camarneiro

 
Até há cerca de duas semanas, conhecia-lhe apenas o nome. Camarneiro, como Mouzinho, é um apelido pouco comum. Sabia que tinha sido o vencedor do Prémio Leya 2012, mas nunca me interessei muito por lê-lo. Na verdade, pode ser preconceito meu, mas não ligo nenhuma a este tipo de galardões, desconfio sempre de ascensões mais ou menos meteóricas e amplamente mediatizadas e irrita-me sobejamente o grupo Leya e a sua visão algo mercantilista da literatura. Admito, enfim, que em tudo isto possa haver um pouco de exagero meu.
Seja como for, por circunstâncias que não vêm ao caso, conheci o Nuno Camarneiro em carne e osso. E foi uma agradável surpresa. Gostei de o ouvir e de lhe conhecer o percurso mais ou menos sinuoso, de perceber que era inteligente, bem humorado e nada convencido. Fiquei cheia de vontade de o ler, para ver até que ponto o que escrevia era tão interessante como o que dizia. Apressei-me a comprar o livro. Tinha dois. Escolhi o que fora premiado.  Comecei há pouco tempo mas, até agora, não me desiludi. Gosto da sua escrita simples e clara, que nos prende às palavras e faz querer ler mais.
Hoje, sem mais nem menos, levei o livro comigo. E no final de um aula peguei nele e contei aos alunos isto tudo. Quem era Nuno Camarneiro, como o tinha conhecido e decidido começar a ler, como estava a gostar, apesar de ser ainda o início. Depois abri o livro e comecei a ler-lhes. Ouviram num imenso silêncio uma parte do capítulo chamado "a voz do narrador", que apresenta os diferentes moradores do mesmo prédio. No fim,  perguntaram-me onde é que eu tinha comprado o livro, quanto custava e saíram a dizer que parecia ser " bué da fixe".
E eu fiquei a pensar que estas coisas de ler e fazer ler são quase sempre muito mais simples do que às vezes imaginamos. Para quê complicar?
 
(...)
O prédio, como outros, tem sons e movimentos próprios de um organismo. Uma janela que bate, vozes que viajam pelos canos, o estalar de madeiras que se adaptam ao tempo, os talheres nos pratos à hora das refeições, os autoclismos, música que atravessa as paredes perdendo sons e ganhando outros, o motor do elevador cansado de carregar gente.
Quando o elevador se põe em movimento, há quem se agite com ele. (...)

4 comentários:

  1. Se o conheceu pessoalmente, certamente ficou a conhecer o "acordar um dia". Se não foi o caso, deixo-lhe o link: http://acordarumdia.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já sabia da existência do "acordar um dia", ainda que não se tenha falado nisso desta vez e há muito tempo passei por lá de fugida.
      Vou voltar a passar um dia destes com olhos mais atentos. :) Obrigada, pois por me relembrar.

      (Mesmo caladita tenho passado também pela sua "casa". Beijinho com saudades). ;)

      Eliminar
  2. Menina Isabel e não é que me despertou o interesse também?!
    Bjo
    PS Facilitei-lhe a vida com o post no blog que sabe?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ainda bem, Helena. É uma espécie de retribuição por tantas coisas que tenho conhecido pela sua mão ;)

      PS - Claro que sim. Muito obrigada por estar aí, sempre querida e atenta.

      (A despropósito: tenho uma história muito engraçada para lhe contar um dia destes. Descobri que a sua amiga Isabel e eu somos quase primas. Uma graça!...)
      Beijinho

      Eliminar