Adorava saber quem foi o(a) iluminado(a) que inventou a moda do trabalho em open space. Mas pior do que o conceito em si que, como tudo, terá vantagens e desvantagens, o que é mesmo mau é aplicá-lo indiscriminadamente, só "porque sim". Porque é muito cool e moderno e, quanto mais não seja, dá "para maior convívio". E não é isso que "a malta" quer, numa espécie de prolongamento da indisciplina, ou do recreio do tempo de escola?
Detesto estas modas que pegam não se sabe como nem porquê, sem qualquer razão válida que as justifique. Admito que, quando o trabalho se faz realmente em equipa, possa ser benéfica a ocupação do mesmo espaço. No entanto, na maior parte dos casos, mesmo o que é suposto ser uma equipa, na realidade não é assim que funciona, porque cada um tem as suas atribuições e não faz a miníma ideia do trabalho dos outros. Nem quer, muitas vezes. Para se sentir imprescindível. Insubstituível, até.
E depois, a maioria das pessoas não tem a noção do que é partilhar uma sala com várias outras e continua a agir como se não houvesse ali mais ninguém.
Assim, há os que se põem a cantarolar como se estivessem na banheira lá de casa, os que trazem os CDs e os põem a tocar, obrigando os outros todos a ouvir a "sua" música, a menos que se socorram dos seus próprios auscultadores para ouvir outra coisa qualquer; os que abrem e fecham janelas e ligam ou desligam ares condicionados em função dos calores repentinos que os(as) assolam, ou de arrepios momentâneos, sem perguntar nada a ninguém; e os que fazem verdadeiros picnics em cima das suas mesas de trabalho, às mais improváveis horas do dia, e com toda a espécie de ruídos inerentes. Há os que se metem malcriadamente em todas as conversas, mesmo aquelas para as quais "não foram chamados", de preferência interrompendo quem está a falar, porque sabem sempre tudo. E há ainda os que descarregam os maus humores e a fúria (sabe-se lá com quê, ou com quem) no "equipamento", vingando-se nas teclas do computador. E os profissionais do telefone; os que levam o dia todo a fazer e a receber chamadas e, quando há várias pessoas ao telefone ao mesmo tempo, tentam sobrepor a sua voz às demais e gritam consoante a distância a que se situa o seu interlocutor, ou como se cada um deles fosse um potencial cliente da casa "Sonotone".
O magnífico open space ("tão lindo estarmos todos juntos!...") é, pois, um mundo de ruídos, egos empolados e idiossincrasias várias, uma atordoadora Babel, onde o silêncio e a concentração se tornam quase uma miragem, mesmo para quem possui grande poder de alheamento e espírito zen.
Ter um gabinete só para mim é um sonho que, provavelmente, (e a não ser lá em casa), não vou realizar nunca. Mas já me dava por satisfeita se pudesse voltar de novo a uma sala onde estivessem, no máximo, duas pessoas além de mim. E tenho a certeza absoluta de que o trabalho correria bem melhor.
Enfim, parafraseando Sartre, dir-se-ia que, tal como no seu Huis Clos: l'enfer, c'est les autres.
E depois, a maioria das pessoas não tem a noção do que é partilhar uma sala com várias outras e continua a agir como se não houvesse ali mais ninguém.
Assim, há os que se põem a cantarolar como se estivessem na banheira lá de casa, os que trazem os CDs e os põem a tocar, obrigando os outros todos a ouvir a "sua" música, a menos que se socorram dos seus próprios auscultadores para ouvir outra coisa qualquer; os que abrem e fecham janelas e ligam ou desligam ares condicionados em função dos calores repentinos que os(as) assolam, ou de arrepios momentâneos, sem perguntar nada a ninguém; e os que fazem verdadeiros picnics em cima das suas mesas de trabalho, às mais improváveis horas do dia, e com toda a espécie de ruídos inerentes. Há os que se metem malcriadamente em todas as conversas, mesmo aquelas para as quais "não foram chamados", de preferência interrompendo quem está a falar, porque sabem sempre tudo. E há ainda os que descarregam os maus humores e a fúria (sabe-se lá com quê, ou com quem) no "equipamento", vingando-se nas teclas do computador. E os profissionais do telefone; os que levam o dia todo a fazer e a receber chamadas e, quando há várias pessoas ao telefone ao mesmo tempo, tentam sobrepor a sua voz às demais e gritam consoante a distância a que se situa o seu interlocutor, ou como se cada um deles fosse um potencial cliente da casa "Sonotone".
O magnífico open space ("tão lindo estarmos todos juntos!...") é, pois, um mundo de ruídos, egos empolados e idiossincrasias várias, uma atordoadora Babel, onde o silêncio e a concentração se tornam quase uma miragem, mesmo para quem possui grande poder de alheamento e espírito zen.
Ter um gabinete só para mim é um sonho que, provavelmente, (e a não ser lá em casa), não vou realizar nunca. Mas já me dava por satisfeita se pudesse voltar de novo a uma sala onde estivessem, no máximo, duas pessoas além de mim. E tenho a certeza absoluta de que o trabalho correria bem melhor.
Enfim, parafraseando Sartre, dir-se-ia que, tal como no seu Huis Clos: l'enfer, c'est les autres.
Vivi isso a 1000% e não posso concordar mais!
ResponderEliminarGrande beijinho
Pois, só quem passa por isso realmente consegue entender.
EliminarGrande beijinho também, Ritinha (e parabéns! - já sei da novidade...;)
Eu penso muitas vezes que os open spaces são a versão urbana das fábricas de confeções: nas fábricas as senhoras estão no open space sentadas numa mesa com uma máquina à frente a costurar. Nas empresas as pessoas estão no open space sentadas numa mesa com uma máquina à frente a teclar.
ResponderEliminarOs open spaces existem por uma questão de economia de espaço e redução de custos, afinal consegue-se meter muito mais gente por milímetro quadrado num open space e fica muito mais barato que ter de fazer gabinetes para toda a gente.
Dando uma de novo rico, eu por acaso até tenho gabinete no meu local de trabalho mas raramente o uso (exceto para os meus 15 mins de sesta), uma vez que a maior parte das vezes prefiro estar junto das equipas de trabalho no open space. Quando existem regras a coisa não é assim tão má: só se pode comer na copa e é impensável alguém falar alto ou por música no open space. Há uns tempos uma pessoa que nos veio visitar ficou admirada com o ambiente de silêncio absoluto que por ali existe, logo o problema não será tanto do conceito mas da forma como as pessoas o utilizam.
Sem ofensa, Sérgio, é "uma de novo rico" mesmo, ter o seu gabinete para fazer a sesta e depois juntar-se aos outros, os "operários da fábrica" para o "recreio."
EliminarQuanto a regras, há coisas óbvias que não precisam de regra alguma. Basta a sensatez e a educação das pessoas. É mais simples...
Peço desculpa, mas tenho imensas dúvidas sobre esse mundo maravilhoso de que fala. Se visitar o meu "open space" também vai encontrar um silêncio absoluto. Óbvio...
Mas faça o seguinte: deixe o seu gabinete e a sua sesta e instale-se no "open space" durante um ano. E depois podemos falar outra vez. Duvido que a sua opinião se mantenha.
Eu também gostava de poder fazer uma sesta e de ter um gabinete só para mim. E nesse caso ia achar o "open space" maravilhoso (mas para os outros, claro!)
Mesmo o que diz sobre economia de espaço e redução de custos não é totalmente verdade. Bom, não para todos os casos. Às vezes é mesmo só porque sim. Modernices (no que há nelas de mais nefasto...)
Ahahah... Acho que não percebeu bem o que disse. Mas não precisa pedir desculpa para nada. Eu sei o que são open spaces caóticos, super-barulhentos, etc., mas aqui posso mesmo confirmar em 99% do tempo está tudo em silêncio, sendo provavelmente uma exceção à regra. Também já trabalhei num local onde haviam regras para se estar no open space que incluíam questões relativas ao ruido, etc.
EliminarPor acaso desde há coisa de talvez 2 anos que praticamente dou uma utilização residual ao gabinete e a principal razão tem a ver com o não querer "desligar-me" da realidade e das pessoas, pelo que estar no open space acaba por ser uma ferramenta de gestão e de proximidade. Isto para além de por vezes também me aborrecer um pouco estar sozinho na toca o dia todo. No fundo aquela velha história dos dentes e das nozes... Mas sim, idealmente cada um teria o seu espaço próprio para além dos espaços comunitários, mas nem sempre é possível.
Bom, tenho 10 mins para recuperar energias ;)
Tanto quanto sei, o conceito foi criado nos países nórdicos. Quando vivi na Suécia, esse conceito já existia por lá.
ResponderEliminarConcordo em absoluto consigo. Copiar os exemplos dos nórdicos nem sempre é uma boa ideia.
Não é de todo boa ideia não... (Na maior parte dos casos, pelo menos, e tendo em conta o espírito português no que há nele de piorzinho).
Eliminar