segunda-feira, 10 de março de 2014

O Jardim da Gulbenkian






O Jardim da Gulbenkian é meu. Às vezes até me esqueço um bocadinho que ele existe. Mas quando chega a Primavera e passo perto, há sempre um perfume qualquer que me faz ter vontade de transpor o portão e entrar.  
Conheço-o bem, pelo lado de fora e de dentro, de dia e de noite, em cada recanto ou degrau, nos extensos relvados ou no Anfiteatro ao ar livre, onde já fui imensas vezes espectadora (Jazz em Agosto, bailado, concerto) e uma vez também "artista". E mesmo se agora o visito raramente, conservo vivas as memórias de ínfimos detalhes e uma imagem muito nítida daquela espécie de oásis no meio da cidade, tão acolhedor, todo só sombras,  silêncio e frescura.
É que durante a minha infância e juventude o Jardim da Gulbenkian era muito perto de casa. Por isso,  é um dos lugares da minha vida. Que me pertence, porque, de certo modo, cresci nele.
Lembro-me de quando ia para o liceu com a minha irmã, a pé, e desistíamos do caminho mais curto só pelo prazer de passar por dentro do jardim. E de brincadeiras de infância, mais antigas ainda: de jogar Badmington e o "volante" ficar preso nas árvores, de saltar entre as pedras, ou de procurar o melhor sítio para me esconder. E havia tantos e tão bons esconderijos... 
Depois, foi também cenário idílico e secreto de amores pueris, de beijos ardentes  e apaixonados, que nos tiravam o fôlego e faziam acreditar  que deviam ser assim o paraíso e a eternidade. Ou de tardes de ócio passadas em confidências e conversas com amigos, num tempo em que achávamos que tudo era possível e que havíamos de conseguir transformar o mundo e torná-lo melhor e mais justo, quase tão bonito como aquele nosso jardim.
Hoje, sem estar previsto e por razões que não importam, voltei ao meu Jardim da Gulbenkian na quietude de uma manhã de segunda-feira. Emocionei-me e  deixei-me arrebatar por aquela tranquilidade silenciosa de águas rumorejantes e cantos de pássaros, pelo sossego e a enorme paz  à minha volta.  E, sem saber ainda a tarde atribulada que me esperava, apeteceu-me esquecer os deveres e as obrigações e estender-me ao sol, a ler, sem pensar em mais nada.

2 comentários:

  1. Tudo o que tem o 'carimbo' Gulbenkian é maravilhoso.
    Naturalmente, o jardim não foge à regra.

    Beijinho e vamos lá a aproveitar o sol, Isabel.

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    1. Também sou fã da Gulbenkian.
      E o que eu gosto deste sol de Primavera! Pena não poder andar mais na rua. Mas bate o sol na minha sala, na minha mesa, a tarde toda, o que já é bom. E daqui a duas semanas, vingo-me e rumo para sul para receber a Primavera "comme il faut". Assim o tempo se mantenha neste esplendor...

      Beijinho para si também

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