Começo pelo fim: eu gostei deste filme, intenso e controverso em simultâneo. Mas conheço quem não tenha gostado nada. E o facto de dividir opiniões de uma maneira tão antagónica também me parece que pode ser significativo.
Fui mais ou menos "em branco", isto é sem me informar grandemente sobre ele, o que é pouco comum acontecer-(me). Sabia apenas que estava nomeado para os Óscares e que tinha Michael Keaton no papel principal.
Fui mais ou menos "em branco", isto é sem me informar grandemente sobre ele, o que é pouco comum acontecer-(me). Sabia apenas que estava nomeado para os Óscares e que tinha Michael Keaton no papel principal.
E o que vi surpreendeu-me. Pode ser banal a questão do actor em busca de uma glória perdida, mas o que é nele mais interessante é a permanente interpenetração da ficção e da realidade, da personagem e do homem, do fingimento e da autenticidade, da representação e da vida. Depois, há qualquer coisa de inquietante e de perturbador, até, na complexidade das personagens, na sua violenta fragilidade, que pode às vezes ser cinismo e amargura, assombradas por um passado marcante, na dolorosa procura de si e da superação dos seus fantasmas, em busca de dignidade e de realização pessoal.
Pareceu-me um pouco excessivo o lado mais fantasioso e simbólico, e todavia há nessa inverosimilhança algo de peculiar, diferente, que remete para a carapaça de simulação em que se tornou cada vez mais o mundo actual; ainda assim, e mesmo sem ter visto (ainda) os restantes nomeados, não me chocaria nada que o galardão do melhor actor fosse para Michael Keaton, de resto aqui muito bem acompanhado por outros bons desempenhos, com especial destaque para Emma Stone, absolutamente expressiva naqueles olhos enormes e eloquentes, que enchem o écran e dizem muito mais do que as palavras que possa proferir.
Enfim, se nunca nos conhecemos inteiramente, porque há sempre partes de nós que nos podem a todo o momento ser reveladas, se grande parte da nossa vida é o resultado das escolhas que fazemos e dos encontros que nos vão acontecendo (ou que fazemos acontecer...), também alguns filmes que vemos modificam a nossa maneira de ver o cinema e de gostar dele.
Este filme pode ser isto tudo, ou outra coisa completamente diferente. E é também essa ambiguidade que lhe dá valor.
Enfim, se nunca nos conhecemos inteiramente, porque há sempre partes de nós que nos podem a todo o momento ser reveladas, se grande parte da nossa vida é o resultado das escolhas que fazemos e dos encontros que nos vão acontecendo (ou que fazemos acontecer...), também alguns filmes que vemos modificam a nossa maneira de ver o cinema e de gostar dele.
Este filme pode ser isto tudo, ou outra coisa completamente diferente. E é também essa ambiguidade que lhe dá valor.
Gosto de ler opiniões diferentes sobre o mesmo filme.Não me agradam filmes consensuais...
ResponderEliminarPor isso é que se costuma dizer "cada cabeça sua sentença." ;)
EliminarPor falar nisso e, se ainda não o fez, leia a opinião da Helena Sacadura Cabral no seu "Fio de Prumo", que é completamente diferente da minha...