Tenho, de há muito, a convicção de que devo ser parecida com toda a gente. De facto, nos mais diversos lugares e circunstâncias, é habitual dizerem-me ter ideia que me "conhecem de algum lado". Mas o que se passou ontem ao fim de tarde, num típico eléctrico lisboeta, - bem menos turístico que o 28 -, assumiu contornos de verdadeira caricatura.
A meio de um percurso entre Santos e Campo de Ourique, quando me sentei num lugar à janela, deliciada com a perspectiva de admirar Lisboa ao sabor da ronceirice do eléctrico e da brisa da tarde, uma senhora sentada no banco atrás do meu, que eu já reparara me olhava insistentemente, tocou-me no ombro e perguntou-me com delicadeza, pedindo desculpa por me interpelar daquela maneira repentina, se eu não era do Mar Salgado.
Respondi que não, sorrindo meio divertida, mas ela não se convenceu. E insistiu: sim, é aquela que trabalha no mercado do peixe, disse, talvez para me relembrar o meu papel. Voltei a dizer-lhe que não era quem ela julgava, nem sabia bem de quem falava, pois não acompanhava a novela. Um pouco desiludida, mas ainda desconfiada, ousou numa última tentativa: é que é tão parecida... E repetiu esta frase várias vezes.
Por pouco não me vi forçada a tirar uma fotografia para publicar no facebook, ou sabe Deus onde, ou a ter que dar um autógrafo. O problema é que não saberia que nome assinar. E continuo sem saber com quem me confundia.
E ainda há quem ache que andar nos transportes públicos não é uma interessante experiência do quotidiano...
(Fotografia de Maria Cristina Guerra)
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