Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O tempo não passa pela amizade. Mas amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela há.
Há nas amizades verdadeiras uma aura de mistério, qualquer coisa de incompreensível e de inexplicável que faz delas uma espécie de benção, que nos enche a alma e a vida, e nos conforta o coração em dias sombrios, ou quando tudo parece virar-se do avesso e o mundo começa a girar ao contrário.
Vivem-se em total liberdade, mas tratam-se com cuidado e carinho. Têm por base a confiança inabalável, os sentimentos genuínos e a grandiosidade do afecto e, por isso, devagar se fazem também cumplicidade e partilha, na magia que faz os amigos de há pouco poder parecer que são já de há muito, e na certeza de saber que para lá dos silêncios e dos gestos alguma coisa nos liga, um laço invisível que se nos ata ao coração e que se acredita poder perdurar para além de tudo. Mas todas as pessoas, mesmo as que mais amamos ou admiramos, podem um dia desiludir-nos e magoar-nos.
Perguntamo-nos, então, quanto vale uma amizade. Por que será, afinal, que nos zangamos tanto, às vezes, por coisas maiores ou mais pequenas, até com quem nos quer bem? E quantas pessoas, das que nos são queridas, não foram já ficando pelo caminho, porque a determinada altura nos afastámos sem uma razão óbvia, ou sem conseguirmos encontrar um motivo suficientemente forte, e válido, que o pudesse explicar. Fomos deixando de nos falar e pronto. Por um amuo, um mal-entendido qualquer, que depressa dá lugar ao ressentimento, tantas vezes motivado por uma insignificância.
Já todos passámos por isto. Cada um de nós tem "o seu feitio" e eu não sou excepção, mas sou incapaz de prolongar uma zanga com as pessoas de quem gosto e que me importam. Essa é mesmo uma das minhas maiores debilidades. Sobra um incómodo, que me sufoca, e quero logo fazer as pazes. Tendo ou não razão. Se uma pessoa me ofende, prefiro dizer-lho, ainda que isso implique discutir o assunto de forma mais ou menos acalorada. É que, apesar de difícil, tentar pôr-se no lugar do outro e percebê-lo pode ser interessante. Importante, também. E pode valer a amizade. Afinal há tanta coisa que uma boa conversa, olhos nos olhos, permite esclarecer... Mas o que fazer quando até isso nos é negado?
(Miguel Esteves Cardoso)
Há nas amizades verdadeiras uma aura de mistério, qualquer coisa de incompreensível e de inexplicável que faz delas uma espécie de benção, que nos enche a alma e a vida, e nos conforta o coração em dias sombrios, ou quando tudo parece virar-se do avesso e o mundo começa a girar ao contrário.
Vivem-se em total liberdade, mas tratam-se com cuidado e carinho. Têm por base a confiança inabalável, os sentimentos genuínos e a grandiosidade do afecto e, por isso, devagar se fazem também cumplicidade e partilha, na magia que faz os amigos de há pouco poder parecer que são já de há muito, e na certeza de saber que para lá dos silêncios e dos gestos alguma coisa nos liga, um laço invisível que se nos ata ao coração e que se acredita poder perdurar para além de tudo. Mas todas as pessoas, mesmo as que mais amamos ou admiramos, podem um dia desiludir-nos e magoar-nos.
Perguntamo-nos, então, quanto vale uma amizade. Por que será, afinal, que nos zangamos tanto, às vezes, por coisas maiores ou mais pequenas, até com quem nos quer bem? E quantas pessoas, das que nos são queridas, não foram já ficando pelo caminho, porque a determinada altura nos afastámos sem uma razão óbvia, ou sem conseguirmos encontrar um motivo suficientemente forte, e válido, que o pudesse explicar. Fomos deixando de nos falar e pronto. Por um amuo, um mal-entendido qualquer, que depressa dá lugar ao ressentimento, tantas vezes motivado por uma insignificância.
Já todos passámos por isto. Cada um de nós tem "o seu feitio" e eu não sou excepção, mas sou incapaz de prolongar uma zanga com as pessoas de quem gosto e que me importam. Essa é mesmo uma das minhas maiores debilidades. Sobra um incómodo, que me sufoca, e quero logo fazer as pazes. Tendo ou não razão. Se uma pessoa me ofende, prefiro dizer-lho, ainda que isso implique discutir o assunto de forma mais ou menos acalorada. É que, apesar de difícil, tentar pôr-se no lugar do outro e percebê-lo pode ser interessante. Importante, também. E pode valer a amizade. Afinal há tanta coisa que uma boa conversa, olhos nos olhos, permite esclarecer... Mas o que fazer quando até isso nos é negado?
Enfim, a vida é demasiado curta e, no fundo, o mais importante é saber guardar os amigos verdadeiros coladinhos ao coração e levá-los connosco vida fora, para lá de todas as mágoas, de todos os silêncios e indiferenças, de todas as histórias reais, imaginadas, ou forjadas por quem nos quer mal.
E acreditar que o tempo traz sempre consigo a verdade de todas as coisas. E que ter quem acredite em nós faz a vida valer a pena...
E acreditar que o tempo traz sempre consigo a verdade de todas as coisas. E que ter quem acredite em nós faz a vida valer a pena...
Sem comentários:
Enviar um comentário