quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

(Re)começo(s)

 
Ainda a propósito do Ano Novo, encontrei no blogue "Duas ou três coisas", de Francisco Seixas da Costa, esta opinião, com a qual concordo inteiramente:
Deixei, há muito, de acreditar na ritual ideia de ter o início do ano civil como ponto de partida para um novo tempo na vida pessoal. Se, ao longo do ano anterior, não fomos capazes de mudar atitudes e práticas, dificilmente será a simples entrada de Janeiro a dar-nos a força e, em particular, a persistência que até aí não tínhamos tido - seja o arrumar daquela estante ou arrecadação, sejam os contactos pessoais em atraso, seja recomeçar a escrever um texto há muito adiado ou qualquer outro acto que seguramente nos ajudaria a melhorar e organizar a vida. Mas percebo muito bem que alguns persistam em tentar utilizar essa marca temporal como o momento para o abrir da ilusória cortina que nos separa de um futuro de maior racionalidade. 
E depois de um dia dedicado à preguiça, quase fora do tempo, passadas as festas, volta a mesma rotina de antes com tudo o que há nela de bom e de mais entediante, também.
Por mim, são de novo as correrias e os horários a cumprir, o ginásio a horas escandalosamente matutinas e dias inteiros no semi-sossego do meu lugar com vista privilegiada sobre a Av. de Roma, o computador na minha frente e os papéis, cadernos, canetas, dossiers, processos, recursos, queixas, transferências disciplinares, dúvidas, pareceres, telefonemas, mails, faxes, ofícios e mil outros assuntos a tratar em quarenta horas por semana. E depois, há também o tempo que é só meu e eu preencho como quero e como posso, no que depende de mim. Porque o mundo é também quem me rodeia e acompanha, e limita e liberta, e faz feliz.
É bom acreditar nas infinitas possibilidades que nos oferece a ideia de tantos dias por viver e imaginar poder preenchê-los com momentos e  motivos que se querem só de prazer e felicidade. Mas, na verdade, é em cada dia que se começa um ano novo; e cada momento deveria ser percebido assim, na plenitude da sua singularidade, na certeza de que mesmo o que aparentemente se repete não é nunca exactamente igual, sem querer saber do que está depois de cada curva da estrada e na alegria de aceitar o que nos acontece, porque tudo nos ensina e fortalece. E, a cada passo, mais seguro ou mais incerto, ir procurando e construindo, desfazendo e corrigindo o caminho, porque há uma grande parte dele que depende só de nós.
Enfim, e porque tenho sempre músicas na cabeça, tudo isto me lembra num canção de Vinicius e Toquinho de que eu gosto muito, e que me traz muito boas recordações.
Diz assim:
(...)
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver 
O que virá 
O fim dela ninguém sabe bem ao certo 
onde vai dar 
Vamos todos numa linda passarela 
De uma aquarela 
Que um dia enfim 
Descolorirá (...)

 (Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

4 comentários:

  1. Depois de lido o texto e ouvida a canção, fiquei quase em estado Zen.

    Obrigado pela partilha, Isabel.

    Beijinho

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  2. Bom, não exagere...
    Obrigada digo eu, pela "visita" e pela simpatia.

    Beijinho

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    1. Pronto, está bem. O que vale é que há gostos para tudo. Há quem goste e seja simpático assim e há quem não goste e me insulte e diga que eu sou "vazia" e outras coisas. Mas esses não interessam e não me tocam. Só não percebo por que razão continuam a psaar por aqui. Eu, por exemplo, não perco tempo com o que não me interessa.
      Mas neste mundo, como no mundo real, há gente verdadeiramente perturbada... ;)

      Beijinho, António.

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