Ainda a propósito do Ano Novo, encontrei no blogue "Duas ou três coisas", de Francisco Seixas da Costa, esta opinião, com a qual concordo inteiramente:
Deixei, há muito, de acreditar na ritual ideia de ter o início do ano civil como ponto de partida para um novo tempo na vida pessoal. Se, ao longo do ano anterior, não fomos capazes de mudar atitudes e práticas, dificilmente será a simples entrada de Janeiro a dar-nos a força e, em particular, a persistência que até aí não tínhamos tido - seja o arrumar daquela estante ou arrecadação, sejam os contactos pessoais em atraso, seja recomeçar a escrever um texto há muito adiado ou qualquer outro acto que seguramente nos ajudaria a melhorar e organizar a vida. Mas percebo muito bem que alguns persistam em tentar utilizar essa marca temporal como o momento para o abrir da ilusória cortina que nos separa de um futuro de maior racionalidade.
E depois de um dia dedicado à preguiça, quase fora do tempo, passadas as festas, volta a mesma rotina de antes com tudo o que há nela de bom e de mais entediante, também.
Por mim, são de novo as correrias e os horários a cumprir, o ginásio a horas escandalosamente matutinas e dias inteiros no semi-sossego do meu lugar com vista privilegiada sobre a Av. de Roma, o computador na minha frente e os papéis, cadernos, canetas, dossiers, processos, recursos, queixas, transferências disciplinares, dúvidas, pareceres, telefonemas, mails, faxes, ofícios e mil outros assuntos a tratar em quarenta horas por semana. E depois, há também o tempo que é só meu e eu preencho como quero e como posso, no que depende de mim. Porque o mundo é também quem me rodeia e acompanha, e limita e liberta, e faz feliz.
É bom acreditar nas infinitas possibilidades que nos oferece a ideia de tantos dias por viver e imaginar poder preenchê-los com momentos e motivos que se querem só de prazer e felicidade. Mas, na verdade, é em cada dia que se começa um ano novo; e cada momento deveria ser percebido assim, na plenitude da sua singularidade, na certeza de que mesmo o que aparentemente se repete não é nunca exactamente igual, sem querer saber do que está depois de cada curva da estrada e na alegria de aceitar o que nos acontece, porque tudo nos ensina e fortalece. E, a cada passo, mais seguro ou mais incerto, ir procurando e construindo, desfazendo e corrigindo o caminho, porque há uma grande parte dele que depende só de nós.
Enfim, e porque tenho sempre músicas na cabeça, tudo isto me lembra num canção de Vinicius e Toquinho de que eu gosto muito, e que me traz muito boas recordações.
Diz assim:
(...)
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver
O que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo
onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá (...)
Deixei, há muito, de acreditar na ritual ideia de ter o início do ano civil como ponto de partida para um novo tempo na vida pessoal. Se, ao longo do ano anterior, não fomos capazes de mudar atitudes e práticas, dificilmente será a simples entrada de Janeiro a dar-nos a força e, em particular, a persistência que até aí não tínhamos tido - seja o arrumar daquela estante ou arrecadação, sejam os contactos pessoais em atraso, seja recomeçar a escrever um texto há muito adiado ou qualquer outro acto que seguramente nos ajudaria a melhorar e organizar a vida. Mas percebo muito bem que alguns persistam em tentar utilizar essa marca temporal como o momento para o abrir da ilusória cortina que nos separa de um futuro de maior racionalidade.
E depois de um dia dedicado à preguiça, quase fora do tempo, passadas as festas, volta a mesma rotina de antes com tudo o que há nela de bom e de mais entediante, também.
Por mim, são de novo as correrias e os horários a cumprir, o ginásio a horas escandalosamente matutinas e dias inteiros no semi-sossego do meu lugar com vista privilegiada sobre a Av. de Roma, o computador na minha frente e os papéis, cadernos, canetas, dossiers, processos, recursos, queixas, transferências disciplinares, dúvidas, pareceres, telefonemas, mails, faxes, ofícios e mil outros assuntos a tratar em quarenta horas por semana. E depois, há também o tempo que é só meu e eu preencho como quero e como posso, no que depende de mim. Porque o mundo é também quem me rodeia e acompanha, e limita e liberta, e faz feliz.
É bom acreditar nas infinitas possibilidades que nos oferece a ideia de tantos dias por viver e imaginar poder preenchê-los com momentos e motivos que se querem só de prazer e felicidade. Mas, na verdade, é em cada dia que se começa um ano novo; e cada momento deveria ser percebido assim, na plenitude da sua singularidade, na certeza de que mesmo o que aparentemente se repete não é nunca exactamente igual, sem querer saber do que está depois de cada curva da estrada e na alegria de aceitar o que nos acontece, porque tudo nos ensina e fortalece. E, a cada passo, mais seguro ou mais incerto, ir procurando e construindo, desfazendo e corrigindo o caminho, porque há uma grande parte dele que depende só de nós.
Enfim, e porque tenho sempre músicas na cabeça, tudo isto me lembra num canção de Vinicius e Toquinho de que eu gosto muito, e que me traz muito boas recordações.
Diz assim:
(...)
Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver
O que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo
onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá (...)
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)
Depois de lido o texto e ouvida a canção, fiquei quase em estado Zen.
ResponderEliminarObrigado pela partilha, Isabel.
Beijinho
Bom, não exagere...
ResponderEliminarObrigada digo eu, pela "visita" e pela simpatia.
Beijinho
Não exagerei.
EliminarPronto, está bem. O que vale é que há gostos para tudo. Há quem goste e seja simpático assim e há quem não goste e me insulte e diga que eu sou "vazia" e outras coisas. Mas esses não interessam e não me tocam. Só não percebo por que razão continuam a psaar por aqui. Eu, por exemplo, não perco tempo com o que não me interessa.
EliminarMas neste mundo, como no mundo real, há gente verdadeiramente perturbada... ;)
Beijinho, António.