O assunto já foi amplamente discutido, eu sei, mas não resisto. Porque ontem li no jornal um artigo de Paulo Pereira de Almeida chamado "António Costa: a serena incompetência", que me parece dizer de forma clara o que também para mim é óbvio, embora haja quem prefira não o querer ver.
Diz assim:
As recentes afirmações de altos responsáveis da Câmara Municipal de Lisboa (CML) sobre as inundações em vários pontos centrais da cidade constituem - em si mesmas - uma ameaça à segurança e à garantia de uma ação eficaz da parte da Proteção Civil.
E foi com uma enorme surpresa e incredulidade que pudemos, na passada terça-feira desta semana, assistir a um conjunto de "esclarecimentos" de diferentes dirigentes da CML que apontavam - de um modo certamente concertado - para a "inevitabilidade" da ocorrência de acumulações massivas de água da chuva na capital portuguesa. Foi assim que - de uma maneira que é bem reveladora da sua serena incompetência - o presidente da CML e atual líder do Partido Socialista (PS) António Costa surgiu nos principais meios de comunicação social a admitir que "nada" pôde, poderia, ou poderá, vir a ser feito para evitar a repetição do caos em segurança urbana e proteção civil que Lisboa viveu na passada segunda-feira.
Ora acontece que - para além de serem profundamente preocupantes -, as afirmações de António Costa só podem deixar muito intranquilos todos os que habitam, trabalham, circulam e vivem a cidade. Vejamos - pois - de uma maneira mais concatenada, as razões de preocupação para cada um destes grupos de cidadãos. Em primeiro lugar, e para os que trabalham e comutam todos os dias entre as suas casas (muitas vezes fora de Lisboa) ficámos a saber que - em caso de chuvas fortes e de outras intempéries - não está garantido que consigam aceder ao seu local de trabalho ou regressar a sua casa depois do trabalho; será, a todos os títulos e ironicamente, uma espécie de "greve self-service" sem hora marcada dos potenciais transportes, o que só encontra paralelo em cidades do terceiro mundo. Depois, em segundo lugar, e para os que fazem das ruas de Lisboa o seu local de comércio e que já vivem atualmente sobrecarregados de impostos e numa enorme crise, ficámos a saber que a CML nada lhes garante em termos da segurança e da proteção dos seus bens e dos seus espaços comerciais; ora para o presidente da maior autarquia do País (e agora candidato a primeiro-ministro) só poderá ser contraditório defender os mesmos comerciantes quando se trata de lhes pedir o voto e agora, no momento em que se adivinham outras ambições, deixá-los à sua sorte. Por fim, em terceiro lugar, e para os turistas e todos os que circulam e vivem a cidade de diversas formas e em diferentes condições sociais, ficámos ainda a saber que Lisboa tem um presidente que nada faz (ou, pelos vistos, fará) para garantir a segurança de circulação e a preservação dos espaços públicos. É que - note-se bem - se com uma chuvada intensa mas curta Lisboa fica transformada no caos que se pôde observar na segunda-feira, nem quereremos imaginar o que poderá suceder com uma verdadeira tempestade, ou com um potencial nevão.
António Costa é um político de uma escola que - aparentemente - não olha a meios para atingir os seus fins. Para quem tem memória política, ainda se recordará dos tempos em que Costa era ministro da Administração Interna e prometia que os registos das câmaras de videovigilância nas estradas serviriam como prova para punir as infrações dos condutores; e também se lembrará de quando, já presidente da CML, Costa não hesitou em colocar em causa o trabalho do seu colega de governo do PS Rui Pereira, então ministro da Administração Interna, em nome de uma Lisboa mais segura.
Ironias à parte, merecíamos melhor como candidato a futuro primeiro-ministro.
Mas, segundo consta, na próxima semana volta o sol e o calor, pelo já ninguém pensa nisto, até porque a segurança, como outras coisas, é assunto que só nos preocupa depois da(s) catástrofe(s).
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