Tinha ido em Março. Voltei ontem. E o que vi não foi o mesmo. Mas foi igualmente intenso e arrebatador. Para quem vê, como para quem faz certamente, cada representação é única, ainda que o texto e os intervenientes sejam os mesmos.
Não é a primeira vez que vejo um espectáculo do Diogo Infante mais de uma vez. Porque ele faz sempre tão bem o que quer que seja, que uma vez não chega.
No entanto, como ele dizia ontem, este foi o seu papel mais difícil e o mais marcante. Para nós também. Este é, sem dúvida, o papel de uma vida. Não apenas pela dificuldade de decorar um texto tão extenso e tão complexo, "maior que nós", como eles disseram, mas pela forma como se apropriou dele e o interpretou; e como nos levou com ele naquela viagem ao mais fundo de si, e de nós, ao lado mais obscuro das emoções, das fragilidades e dos medos, expondo-se e entregando-se na totalidade de corpo e alma, e transfigurando-se até aos limites do possível.
Quem vê esta Ode Marítima nunca mais volta a ler o texto da mesma maneira, porque ele ficará para sempre marcado por uma impressão digital tão forte.
E percebe com mais clareza que não é actor quem quer, mas quem já nasce artista e assume essa sensibilidade e a exterioriza assim, sem nenhum pudor.
O que achei também extraordinário, ontem, foi que, depois daquele turbilhão que quase nos esmaga, o Diogo e o João sentaram-se no palco e conversaram com a assistência, com a simplicidade que os caracteriza, como se fazer aquilo que tínhamos acabado de ver fosse tão natural como respirar.
Não conheço todos os actores do mundo; nem preciso. E, ainda assim, tenho a certeza que o Diogo Infante é o melhor de todos eles.
Gostava de poder agradecer-lhe, nem que fosse apenas pelo que vi em Março e ontem; mas nunca seria capaz de encontrar as palavras certas. Por isso, digo só isto: Obrigada, Diogo!
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