Uma das facetas mais irritantes dos portugueses é a mania de que somos muito bons nas línguas. De que falamos quase todas. E bem, claro. Gabamo-nos disso, dizendo, com indisfarçável orgulho, que somos muito diferentes dos outros povos e dando de imediato como exemplo os vizinhos aqui do lado.
Não há português que não considere dominar fluentemente pelo menos o inglês e o espanhol, ainda que fale inglês como o Mourinho, ou espanhol como o Sócrates. Ainda me lembro de, quando decidi ir aprender espanhol, ouvir muitas vezes: "Aprender espanhol para quê? Eu sei falar espanhol e nem precisei de aprender." Típico...
Mas, pior que isso, é o facto de não querermos perder nenhuma, mas mesmo nenhuma, oportunidade de exibir esses conhecimentos e de mostrar toda a nossa sapiência.
Há o exemplo patético, a que já assisti milhentas vezes, de um turista dirigir-se a um português para pedir uma informação, esforçando-se, apesar do sotaque, por exprimir-se no nosso idioma, e o português responder-lhe automaticamente na língua que adivinha ser a do estrangeiro, com um sorriso condescendente, onde se lê, implícito, este pensamento: "Tão querido, a tentar falar português, que é tão difícil! Nem sabe que não é preciso. Nós falamos tudo. Somos tão simpáticos e hospitaleiros..."
Esta é um tendência transversal, comum a todas as faixas etárias e classes sociais. Agora, há até algumas faculdades portuguesas em que as aulas, todas, são em inglês.
Ainda hoje, no encontro "Presente no Futuro", no CCB, entre um público supostamente culto e até mais ou menos selecto, pelo menos na aparência, pude testemunhar uma vez mais esta nossa ridícula, para dizer o mínimo, maneira de ser.
Discutia-se a liberdade. Havia meia dúzia de oradores estrangeiros: um professor neozelandês de Direito e Filosofia da Universidade de Nova Iorque, uma filósofa turca, professora de Ciência Política e Filosofia em Yale, ou um escritor canadiano e professor na Universidade de Harvard, para referir apenas os que eu ouvi. Exprimiam-se, como é natural, em inglês. Mas havia, como é óbvio e habitual nestas situações, tradução simultânea para quem entendesse dela necessitar. Pois, no período destinado ao debate, a assistência insistia em colocar questões em inglês, apesar de ter sido expressamente pedido que as perguntas fossem feitas em português. E, perante a insistência para se utilizar a nossa língua, ainda deixavam escapar uma frase ou expressão em inglês (provavelmente para que ficasse claro que não era por não saberem Inglês que se exprimiam na sua própria língua).
É nestes pequenos sinais, nesta mania de nos vangloriarmos daquilo que nos deveríamos antes talvez envergonhar, que nós mostramos o nosso subdesenvolvimento e o quanto somos complexados.
Há o exemplo patético, a que já assisti milhentas vezes, de um turista dirigir-se a um português para pedir uma informação, esforçando-se, apesar do sotaque, por exprimir-se no nosso idioma, e o português responder-lhe automaticamente na língua que adivinha ser a do estrangeiro, com um sorriso condescendente, onde se lê, implícito, este pensamento: "Tão querido, a tentar falar português, que é tão difícil! Nem sabe que não é preciso. Nós falamos tudo. Somos tão simpáticos e hospitaleiros..."
Esta é um tendência transversal, comum a todas as faixas etárias e classes sociais. Agora, há até algumas faculdades portuguesas em que as aulas, todas, são em inglês.
Ainda hoje, no encontro "Presente no Futuro", no CCB, entre um público supostamente culto e até mais ou menos selecto, pelo menos na aparência, pude testemunhar uma vez mais esta nossa ridícula, para dizer o mínimo, maneira de ser.
Discutia-se a liberdade. Havia meia dúzia de oradores estrangeiros: um professor neozelandês de Direito e Filosofia da Universidade de Nova Iorque, uma filósofa turca, professora de Ciência Política e Filosofia em Yale, ou um escritor canadiano e professor na Universidade de Harvard, para referir apenas os que eu ouvi. Exprimiam-se, como é natural, em inglês. Mas havia, como é óbvio e habitual nestas situações, tradução simultânea para quem entendesse dela necessitar. Pois, no período destinado ao debate, a assistência insistia em colocar questões em inglês, apesar de ter sido expressamente pedido que as perguntas fossem feitas em português. E, perante a insistência para se utilizar a nossa língua, ainda deixavam escapar uma frase ou expressão em inglês (provavelmente para que ficasse claro que não era por não saberem Inglês que se exprimiam na sua própria língua).
É nestes pequenos sinais, nesta mania de nos vangloriarmos daquilo que nos deveríamos antes talvez envergonhar, que nós mostramos o nosso subdesenvolvimento e o quanto somos complexados.
Eu, que sou toda das Letras, defendo o mais possível a aprendizagem e o domínio de outras línguas. Que são, também elas, outras visões do mundo. Claro que falarmos inglês ou seja que língua for (e já agora bem) é óptimo. Mas fazê-lo em detrimento da nossa língua é que já me parece um absurdo. E não vejo ninguém preocupar-se com isso. Falar ou escrever com correcção deixou de ser relevante. É-o cada vez menos. Basta ouvir, ou ler a Comunicação Social, por exemplo. Mas não só...
No episódio de hoje, o que tornou tudo isto ainda mais explícito, para mim, foi o facto de na assistência estar um espanhol, também ele professor em Yale (não deveria, por isso, ter propriamente problemas com o inglês), mas que quando quis intervir fê-lo, sem hesitar, na sua língua.
É este orgulho pelo que é seu que nós devíamos aprender com nuestros hermanos, em vez de os criticarmos, como fazemos habitualmente. Pode até ser que essa seja uma das razões que explica que eles nunca tenham sentido necessidade, ou tido vontade, de fazer um Acordo Ortográfico com os restantes países que falam espanhol.
No episódio de hoje, o que tornou tudo isto ainda mais explícito, para mim, foi o facto de na assistência estar um espanhol, também ele professor em Yale (não deveria, por isso, ter propriamente problemas com o inglês), mas que quando quis intervir fê-lo, sem hesitar, na sua língua.
É este orgulho pelo que é seu que nós devíamos aprender com nuestros hermanos, em vez de os criticarmos, como fazemos habitualmente. Pode até ser que essa seja uma das razões que explica que eles nunca tenham sentido necessidade, ou tido vontade, de fazer um Acordo Ortográfico com os restantes países que falam espanhol.
Isabel, complexos, todos temos. O da língua, o da beleza, o da cultura, o da educação, o da felicidade. E julgo que até os espanhóis terão os seus... :)
ResponderEliminarSem dúvida, Carla. E por muito que eu ache irritante a nossa subserviência em relação a tudo o que "estrangeiro" e revelador da nossa baixíssima autoestima, o meu texto é mais uma constatação que uma crítica.
EliminarAfinal, eu também sou portuguesa e, por mais que defenda a nossa língua - por motivos óbvios - não me considero de todo melhor que os outros. :)
Beijinho