segunda-feira, 23 de março de 2015

Cinema Israelita


Nunca tinha visto um filme israelita.  Realizador(es), actores e até a realidade sócio-cultural retratada eram-me por isso inteiramente desconhecidos. E, no entanto, este "Gett: o processo de Viviane Amsalem" foi uma agradável surpresa. É um filme austero, mas emocionante também. Faz parte, soube-o depois, de uma trilogia sobre o casamento, a separação e o divórcio, que é aqui o assunto central e é o que "gett" significa.
Desenrola-se num único lugar,  - a sala de audiência do tribunal - excessivamente sóbrio e despojado, como o resto, entre quatro paredes brancas, onde têm lugar todas as cenas do processo, que se arrasta ao longo de cinco anos, e contribuindo assim para tornar mais opressiva e asfixiante a condição da mulher a quem são negados os direitos de decidir sobre a sua vida e de vivê-la em total liberdade.
É notável a interpretação de Ronit Elkabetz, que além de protagonista é também a  realizadora, com o seu irmão. O que há nela de mais tocante é, para mim, a forma como o seu olhar e os seus silêncios assumem um papel preponderante, pleno de significado(s) e reveladores da inflexibilidade do marido, da sociedade retrógrada e conservadora, do poder absurdo da religião, e também da força e  fragilidade da personagem principal, condenada a um destino de que o final, algo inesperado, (ou talvez não), é apenas mais uma trágica ironia.
Com as devidas distâncias, não posso deixar de pensar em sentimentos exacerbados de posse que, mesmo numa sociedade livre e aberta como a nossa, se vão vendo um pouco por todo o lado e que, ainda que disfarçados de amor profundo e de ciúme, não têm razão, nem motivo, nem desculpa.
E recomendo o filme, claro está!...

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