O livro é de 1988, mas ainda não o tinha lido. Aqui há tempos, a propósito do inexplicável furor daquela mediocridade chamada As cinquenta sombras de Grey, que me recuso a ler e a ver porque não estou para perder tempo com "porcaria", um amigo relembrou-mo.
É, juntamente com mais dois ou três - nunca consigo ler um livro de cada vez - minha leitura de férias. Ainda vou a meio, mas estou a gostar muito, apesar de estar a lê-lo traduzido, o que quase nunca me acontece. Prefiro sempre o original das línguas que domino, mas desta vez havia a possibilidade de mo emprestarem e eu aproveitei-a.
Não me interessa tanto se é ou não um "romance erótico", porque essas classificações me parecem sempre um pouco redutoras, mas é pelo menos o prazer de ler um livro muito bem escrito, daqueles que "prendem" e nos modificam e acrescentam alguma coisa; e a confirmação de Vargas Llosa como um escritor magnífico (se dúvidas houvesse...)
Aqui fica um bocadinho:
O nosso conhecimento recíproco é total. Tu és eu e tu, e tu sou eu e tu. Algo tão perfeito e simples como uma andorinha ou a lei da gravidade. A perversidade viciosa - para dizer com palavras em que não cremos e que ambos desprezamos - está representada por esses três observadores exibicionistas do ângulo superior esquerdo. São os nossos olhos, a contemplação que praticamos com tanto afã - como tu agora -, o desnudamento essencial que cada qual exige do outro na festa do amor e essa fusão que só pode expressar-se adequadamente traumatizando a sintaxe: eu te me entrego, me te masturbas, chupa-te-me-mo-nos.
Agora, deixa de olhar. Agora, fecha os olhos. Agora, sem os abrir, olha para mim e olha-te tal como nos representaram nesse quadro que tantos olham e tão poucos vêem. Agora já sabes que, ainda antes de nos termos conhecido, de nos termos amado e de nos termos casado, alguém, pincel na mão, antecipou em que horrenda glória nos converteria, cada dia e cada noite de amanhã, a felicidade que soubemos inventar.
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