domingo, 9 de setembro de 2012

Quinteto de Lisboa


Apresentado como "um novo género musical que surge de uma grande vontade de ser português", o Quinteto de Lisboa, que reune alguns dos melhores músicos portugueses e uma espanhola (basca) de voz excepcional, fez a sua estreia mundial, ontem, ao vivo, em Lisboa.
E foi um acontecimento! Mais um notável e excelente espectáculo, mais uma  noite inesquecível, com garantia de lugar reservado na extensa lista dos "concertos da minha vida".
Este é um projecto que tem tudo para dar certo: em primeiro lugar, tem o talento do João Gil, que, para mim, é um génio, e que impõe a tudo o que faz uma marca de qualidade extrema. Como se isto fosse pouco, junta-se-lhe João Monge, excepcional letrista, numa dupla antiga, com uma história feita de cumplicidades  e parcerias várias, responsável por algumas das mais bonitas canções da música portuguesa.  E depois, ainda, o virtuosismo do José Peixoto, o profissionalismo discreto, mas seguro, do Fernando Júdice, a voz grave e bem portuguesa do Hélder Moutinho e a singularidade da voz e da presença, simultaneamente forte e elegante, da Maria Berasarte, a provar que uma estrangeira também pode sentir e cantar o fado e que são na verdade muito mais ténues do que parecem as diferenças entre Portugal e Espanha.
Era, pois, à partida, um concerto que prometia... Mas a realidade superou as expectativas para lá do que é possível imaginar. Tudo foi perfeito, marcado pela sobriedade, pela elegância, pelo bom gosto, pelo lindíssimo cenário, pela teatralidade adequada,  pela mistura perfeita de alegria e tristeza, de flamenco e de fado.
Quinteto de Lisboa é um nome para fixar! O disco sai no início do próximo ano, (apesar das cinco músicas que já podem ouvir-se na internet) e tenho a certeza absoluta que vai dar muito que falar... A avaliar pelos nomes envolvidos e por aquilo a que assisti no concerto de ontem, o que vem aí só pode ser mesmo muito, muito bom! E recomenda-se!...

2 comentários:

  1. Bom concerto, excelentes executantes nas guitarras, as vozes, ambas muito boas mas a de Moutinho deslocada por não conseguir escapar à ortodoxia do fado. O elo mais fraco foram, sem dúvida os textos, que nunca se decidiram entre o argumentativo do fado sofrido (que não era o que o público esperava) e a ironia que seria necessária para o pretendido. Desastrosa a aposta no musicar Sophia e Sá-Carneiro: o poema da primeira (porquê traduzido?) é, como bem o diz, um grito no silêncio, que foi acompanhado por um trecho musical a despropósito, aliás parecia ter sido trocado com o que, supostamente, acompanhou o poema de Sá-Carneiro, carregado de ironia que em nada se vislumbra no excelente mas deslocado som que o completou.
    Muito bons músicos, podem ir muito mais longe, sem dúvida, se conseguirem escapar do lugar comum.

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    1. Não estou nada de acordo consigo, anónimo, mas naturalmente cada um tem a sua opinião. Para mim, esteve tudo perfeito. O Hélder Moutinho não sabia todas as letras de cor e tinha que ler algumas e isso foi para mim o único aspecto negativo. Ainda que não muito relevante :)

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