sábado, 30 de abril de 2016

Fé em alegria


Unos te rezan cantando
Otros lo hacen en silencio
Y otros solo con mirarte
Todos te dan un te quiero
Rocío, para rezarte


É a alegria desta vivência que explica a minha devoção, que muitos estranham. Como explicar que, sendo eu portuguesa, me emocione mais com Rocío do que com Fátima? Para lá do mistério que há sempre em todas as coisas do espírito, encontro na manifestação de fé desta romaria uma sentido de vida, de força e de alegria transbordante, que faz dela uma experiência única, que marca para a vida inteira e não pode nunca esquecer-se.
Rocío é um daqueles lugares verdadeiramente especiais que se fazem nossos para sempre, e onde se quer, a cada ano, voltar. Daqui a quinze dias é outra vez o tempo em que todos os caminhos e pensamentos estão no Rocío. Não ir, como me acontecerá provavelmente este ano uma vez mais, deixa uma certa tristeza. E está-se lá, não estando, enquanto não nos larga a saudade, a pena, e se agiganta dentro do peito a vontade do regresso...

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Dançar


Descobri tarde que dançar é bom. E que nem é preciso ter imenso jeito. Nunca gostei muito de discotecas, música mais ou menos a metro e a obrigatoriedade de se "mexer". Mas basta encontrar a música que verdadeiramente nos toca e depois soltar o corpo e as emoções; e deixar-se ir.
A dança pode até modificar-nos. revelar-nos um lado desconhecido de nós, dar-nos  um novo equilíbrio e uma maior serenidade.
Hoje, percebo que muito para lá da postura adequada, da técnica perfeita, do desempenho brilhante, dançar pode ser um enorme prazer. E fazer bem à nossa vida...

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Desconfiança


Eu, que não percebo nadinha de finanças, nem de "previsões macroeconómicas", ou "Programas de Estabilidade", mas olho com desconfiança e medo, até, para tudo o que vem dos socialistas e outros que tais, não percebo porque não se ouve, preferencialmente, quem percebe do assunto.
E, apesar de não ser bem o meu género preocupar-me por antecipação com o que quer que seja, temo que tenhamos de pagar bem caro esta "aventura" que nos caiu em cima, independentemente da nossa vontade... 

domingo, 24 de abril de 2016

Amigos


Um amigo, por definição, é alguém que caminha a nosso lado, mesmo se separado por milhares de quilómetros ou por dezenas de anos. Uma amigo reúne estas condições que parecem paradoxais: ele é ao mesmo tempo a pessoa a quem podemos contar tudo e é aquela junto de quem podemos estar longamente em silêncio, sem sentir por isso qualquer constrangimento. Temos certamente amigos dos dois tipos. Com alguns, a nossa amizade cimenta-se na capacidade de fazer circular o relato da vida, a partilha das pequenas histórias, a nomeação verbal do lume que nos alumia. Com outros, a amizade é fundamentalmente uma grande disponibilidade para a escuta, como se aquilo que dizemos fosse sempre apenas a ponta visível de um maravilhoso mundo interior e escondido, que não serão as palavras a expressar.

 (José Tolentino de Mendonça, Nenhum caminho será longo)


Esta é talvez uma das mais bonitas e completas definições de amizade que já encontrei, porque diz quase tudo. Eu acrescentar-lhe-ia ainda que, por razões que só o coração sabe explicar, os amigos são também as  pessoas que  parecem estar na nossa vida desde sempre, independentemente de quando chegaram, com quem nos rimos ou choramos, mas com quem nos sabe sempre muito bem estar. 

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Olhos verdes


A rainha de Inglaterra faz hoje 90 anos. A minha mãe faz 91 daqui a dois meses. Entre uma e outra há muitas diferenças. embora para mim sejam rainhas as duas. Sobre Isabel II, escreveu Pedro Correia: Num mundo em mutação, onde tudo passa, tudo se esgota e tudo esquece, ela é uma referência de estabilidade. Lembramo-nos dela desde sempre, são já poucos os que conheceram outro chefe do Estado no Reino Unido. E, de facto, olhamos para ela e não nos lembramos da idade que tem. 
Muito diferente do que se passa com a minha "Rainha", que vive agora num mundo de silêncio e movimentos reduzidos, naquele limiar que nos faz perguntar-nos muitas vezes se existir assim pode ainda considerar-se vida.
E, no entanto, quando a olho no fundo dos seus olhos verdes e vejo neles serenidade, mesmo se já não não lhes encontro a vivacidade de outrora, penso que tudo me faz sentido,  ainda assim, que nos entendemos pelos olhos como Blimunda e Sebastiana Maria de Jesus, e provavelmente como todos os que se conhecem demasiado bem e se amam sem limites. 
Por isso, se é verdade que às vezes me aflige um pouco ver nela uma sombra do que foi e me atormenta não saber o que pensa e o que sente, também se me apazigua o coração quando me agarra a mão e a aperta na sua, quando me passa a mão no cabelo e se ri para mim, ou quando a transparência dos seus olhos verdes me basta para  poder sentir-me mais feliz. 

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Paixões


Dizem que as paixões não se explicam. Deve ser por isso que não sei por que gosto tanto de flamenco...

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Remédio Caseiro


Nos dias em que o cansaço quase me vence (como ontem, como hoje) é na língua francesa que encontro refúgio e sossego; é essa doce sonoridade que me embala medos e fragilidades, e que volta a pôr tudo no seu lugar porque, afinal, também temos direito à tristeza, à solidão, à preguiça.



(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)

sábado, 16 de abril de 2016

Ver os aviões...


Completamente por acaso, encontrei hoje no Observador umas imagens antigas de Lisboa. Esta, em particular, trouxe-me uma recordação da minha infância, e do tempo em que o aeroporto tinha uma varanda sobre a pista, onde íamos muitas vezes só para ver os aviões a aterrar ou a levantar voo. Era uma emoção embrulhada numa aura de mistério e aventura, com aquele sabor amargo e doce, misto de nostalgia e anseio que têm todos os locais de partida e chegada.
Depois, também por acaso, ou talvez não, encontrei um texto da Alexandra Prado Coelho, no Público, já antigo, (de Maio de 2013) sobre esses passeios das tardes de Domingo  para ver aviões. Ela fala dos finais dos anos 40. Eu não sou assim tão antiga, mas vinte e muitos anos depois da data que ela  refere, o hábito persistia entre os lisboetas.
Não é uma questão de saudosismo, é apenas uma lembrança do tempo em que as tardes de Domingo se passavam preferencialmente ao ar livre, e não na atmosfera deprimente e asfixiante de um qualquer "Centro Comercial".
(...) Houve um tempo em que o passeio preferido dos lisboetas era até ao novíssimo Aeroporto da Portela. Aí existia uma esplanada com vista para a pista, onde quem não podia partir via os aviões levantar voo e, provavelmente, sonhava com o dia em que viajaria num deles.
 (...) quando entro hoje no aeroporto fico a pensar como ele, de certa forma, se virou para dentro. As esplanadas são interiores e delas já não vemos os aviões a levantar voo. Por isso regresso ás fotos do restaurante de grandes janelas voltadas para a pista (...) Era o tempo em que passávamos tardes de domingo a ver chegar e partir aviões.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Quando quiseres...


É que há coisas que não podemos, não sabemos, não queremos explicar. Nem é preciso. São assim e pronto...

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Abespinhados


Faz-me confusão a quantidade de gente mal-disposta que por aí anda. Que perde tempo com o que não importa. E que perante uma opinião diferente, parte para o insulto, ou despeja veneno e maledicência à toa. Não consigo entender. Não me demoro a ler quem ou o que não me interessa e, se por acaso encontro alguma coisa de que não gosto, calo-me e ignoro. 
Imagino que quem vive nisto constantemente (e há por aí uns profissionais do género) deve viver em profunda e permanente amargura. Uma tristeza, pois, quando há tanta coisa bonita e boa à nossa volta...

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Um Ministro Poeta


Sou tudo menos socialista, já se sabe. Mas ter um poeta como Ministro da Cultura, parece-me bem, confesso. Porque terá, pelo menos, um peculiar entendimento das coisas, uma sensibilidade maior. E isso é muito importante.
De Luís Filipe Castro Mendes conheço pouco. Mas à esquerda e à direita todos lhe tecem os maiores louvores. Segundo a minha amiga Helena, que o conhece bem, (...) iremos ter como Ministro da Cultura um homem muito inteligente, muito culto, e cuja profissão de origem, a diplomacia, lhe permitiu correr mundo e contactar com culturas muito diversas.
Humanamente é um homem caloroso, cujo olhar sereno mas directo só pode tranquilizar aqueles que, na área que vai conduzir, ponham parte do destino profissional nas suas mãos.
A Helena tem certamente razão. Há uns três anos estive no lançamento de um livro do futuro Ministro e gostei muito. Pude testemunhar a serenidade calorosa de que fala a Helena e tocou-me sobretudo a simplicidade com que pegou no seu livro e leu alguns poemas, que é no fundo a melhor maneira de os apresentar.
Vamos ver como se sai na política, mas lá que promete, disso não restam dúvidas...

Para a solidão nascemos. Outras vozes
nos chamam e invocam, outros corpos
se perfilam radiosos contra a noite.
Nós não somos daqui. Num intervalo
de campanhas esquecidas nos dizemos,
abrindo o coração aos de passagem.
Mas quando a manhã chega nós partimos,
mais livre o coração, longa a viagem.

                                                          (Luís Filipe Castro Mendes)

domingo, 10 de abril de 2016

Magia e perfeição


Às vezes, só às vezes, sinto orgulho de ser portuguesa. Não por causa dos Descobrimentos, nem dos golos do Cristiano Ronaldo, mas quando descubro aqui certas coisas que verdadeiramente me emocionam: quando olho o Tejo ao fim da tarde, quando vinda do sul sempre me surpreende e comove a vista de Lisboa, quando vejo o Diogo Infante representar com o talento que só os génios têm...
Foi também isso que aconteceu há dois dias, durante o concerto do Quinteto de Lisboa. Impossível encontrar as palavras certas para explicar como foi especial, íntimo e tocante o concerto na Culturgest, pretexto para apresentação do CD do grupo, que recomendo.
São quinze canções onde se cruzam a voz única, simultaneamente firme e cristalina de María Berarsarte, uma basca com alma de portuguesa, presença fortíssima, sensual, simples e expressiva, capaz de encher um palco, enquanto esbanja sentimento, e o profissionalismo de Paulo de Carvalho, que é, sem dúvida, uma das melhores vozes portuguesas de sempre. Se a isto juntarmos o talento de João Gil na guitarra acústica, de José Peixoto, na guitarra clássica e de Fernando Júdice, no baixo acústico, temos todos os ingredientes para garantir qualidade e uma sonoridade que é simultaneamente portuguesa na sua essência, mas com todas as influências da música do mundo. Claro que há também as letras de João Monge, sempre magníficas. E houve as luzes do Pedro Leston (que se reconhecem logo) e o som do Fernando Abrantes, que também contribuíram para tornar esta noite inesquecível.
Agora, que aquelas quase duas horas não podem repetir-se, é comprar o disco e ouvi-lo muitas vezes. Não é a mesma coisa, mas também é bom...

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Em Lisboa...


Há na luz das manhãs e dos fins de tarde de Lisboa um encanto especial, que seduz, que enamora, e de que não me canso nunca. Acordar com ela a entrar pela casa toda, ver o dia nascer e iluminar-se em mil cambiantes e depois esmorecer. lentamente. e escurecer até ser noite, é agora um privilégio maior, que me dá uma enorme e inexprimível sensação de bem-estar. Aqui, estou (ainda) mais feliz...

(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

À Flor da Pele


Mesmo sem motivo aparente, há também certos dias em que estamos mais vulneráveis e sentimentais, e em que um toque de mão, um abraço, um olhar terno ou uma atenção com sabor a mimo, de imediato nos emociona e enche a alma de alegria e paz.

domingo, 3 de abril de 2016

A vida numa gaveta


Temos tendência a guardar muita coisa de que não precisamos, que esquecemos no fundo de uma gaveta e ali permanece durante anos e anos.
Muito tempo depois, se por um motivo qualquer a voltamos a abrir, é inimaginável e surpreendente o que encontramos: papéis, bilhetes de viagens, contas de restaurantes, fotografias, cartas de amor, carteiras velhas, documentos, recados, postais, objectos vários, mil e um pequenos e grandes sinais de momentos e fases do passado que queremos recordar para sempre, ou que apenas arrumamos sem saber bem porquê.
Mas, na verdade, a vida não pode reter-se assim: vive-se a cada minuto, hora, dia e as lembranças, boas ou más, ficam registadas na cabeça e no coração. Isso chega...