domingo, 30 de março de 2014

A Casa da Achada

 
Ainda na sequência do curso "Mãos que constroem sonhos", sobre Mário Dionísio e o Neo-Realismo, de que já falei aqui, conheci este fim de semana A Casa da Achada.
Situada na Lisboa mais típica, entre a Mouraria e o Castelo, mesmo por trás da Igreja de São Cristóvão, esta Casa, também designada Centro Mário Dionísio, reúne todo o espólio do autor, tanto de pintura como de literatura, o arquivo pessoal e a sua biblioteca privada.
Tal como explica a página da internet  (www.centromariodionisio.org), a Casa da Achada foi fundada em Setembro de 2008, por familiares, amigos, ex-alunos e apreciadores da obra de Mário Dionísio, e está aberta ao público desde Setembro de 2009.
Desenvolve uma intensa e diversificada actividade cultural, que inclui ciclos de cinema, exposições, palestras, espectáculos.
Porém, como costuma ser frequente neste país, infelizmente, os apoios estatais, autárquicos, ou quaisquer outros são muito reduzidos, praticamente inexistentes, pelo que A Casa da Achada se vai mantendo e continuando a existir graças aos contributos dos amigos e à força de vontade e empenho da filha, Eduarda Dionísio.
Foi pois um privilégio extraordinário, e também uma emoção, ter podido ontem visitar com ela a exposição que reúne toda a pintura figurativa de Mário Dionísio (intitulada "50 anos de Pintura") e ouvi-la, na sua imensa capacidade comunicativa, explicar cada quadro, contar histórias, falar das relações entre os quadros, e destes com a obra literária, e ainda acompanhar a visita com a leitura de textos do pai.
Gosto muito, já se sabe, de partilhar as coisas boas. Por isso, aqui fica a sugestão: vale realmente a pena visitar A Casa da Achada, tal como vale a pena conhecer a obra imensa, multifacetada e interessantíssima de Mário Dionísio, que em A Paleta e o Mundo, escreveu isto:
Que raros, na verdade, têm sido os pensadores, os críticos, os políticos, que sabem incluir nos seus planos de acção esta consciência da realidade: é preciso sonhar.
E para quem não conhece mesmo nada da obra, sugiro que se comece, por exemplo, por isto.

(Fotografia de Maria Cristina Guerra)

sexta-feira, 28 de março de 2014

Laços


No calendário, os dias não são todos iguais. Há os que passam por nós de forma quase indiferente, mesmo se tentamos que cada um seja novo e especial. São dias que se sucedem a outros dias, sem espalhafato nem marcas, e se vivem entre banalidades e rotinas. Mas há também os que têm significado(s)  e os que ganham de repente um sentido novo. E que, por isso, se assinalam. Porque nos recordam alguma coisa ou alguém, porque nos trazem lembranças e afectos, ou pelos mais variados motivos.
Há um ano e tal, quase dois, passei a guardar o dia 28 de Março na lista dos meus dias dignos de celebrar. Porque, além dos nossos, os dias de todos aqueles de quem gostamos  e a quem queremos bem são nossos, de certo modo, também.  Vivem-se em alegria, até quando, como hoje, não há um sol a brilhar esplendoroso e a Primavera parece querer retroceder. É que  os amigos verdadeiros fazem-nos sempre sentir quentinho o coração. Tratam-se com cuidado, com carinho e atenção. Levam-se connosco pela vida fora. E isso é  magnífico. E reconfortante.
É o lado mais misterioso, indizível e irracional dos afectos, que nos aproxima de algumas pessoas e nos afasta de outras por razões inexplicáveis, que faz com que cada uma delas, na sua singularidade, seja única  e rara para nós, diferente de todas as outras. E por isso não gosto de ouvir dizer  "ninguém é insubstituível"; porque me parece que é exactamente o contrário.
Nós somos o exemplo vivo de que a amizade se pode revestir das mais diferentes maneiras de existir, e que há pessoas às quais sabemos intuitivamente que alguma coisa nos liga, ainda antes de cruzarmos um olhar. E que é possível estar perto, mesmo quando não se está fisicamente presente. 
Temos em comum um imenso amor pela nossa cidade e muitas outras afinidades, gostos, cumplicidades. Não sabemos tudo um do outro (e ainda bem!). Mas para além do que nos distingue e aproxima, dos defeitos e qualidades de cada um, o que nos une é uma estima que se desenvolve sem pressa nem obrigações, entre o rigor das palavras e a magia dos silêncios, claro e escuro, luz e sombras, sol e lua; que se fortalece com o tempo e é já carinho e amizade, respeito mútuo e consideração.
Aprecio em particular a sua inteligência, a sensibilidade,  o sentido de humor, a generosidade e a alma de artista. E o que me ensina e faz pensar, as pequenas descobertas subtis que se vão fazendo devagar, na emoção do que se pressente mais do que se sabe, e noutras boas sensações que são do melhor que a vida tem.
Sim, este é um post especialmente dedicado. É raro, mas às vezes também me dá para isto. Hoje justifica-se. Porque este dia é do Paulo, que é uma pessoa de quem eu gosto. Gosto muito!
É um amigo muito querido, diferente de todo os outros, mas, tal como os demais, é uma daquelas pessoas com quem rio, penso, me emociono, enterneço, maravilho e sinto que é bom poder contar; e que a vida é boa e vale a pena por causa destas harmonias mais ou menos secretas e de sentimentos genuínos assim; e  que são fortes os laços que nos unem, como nós difíceis de desatar.
Parabéns, Paulo!...
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima, naturalmente)

quinta-feira, 27 de março de 2014

Repetidamente, voltar...

 
 
 
 
 
 

Começa a ser um hábito, uma necessidade, o que lhe quiserem chamar. É, isso sei-o com certeza, um prazer daqueles bons, que sucessivamente se renovam e que, no entanto, nunca são iguais.
Nos últimos anos, tenho escolhido a chegada da Primavera para estar de novo nesta "minha" cidade,  - onde me sinto tão  a gusto, - ganhar novas energias e deixar-me encantar.
É pena não poder trazer para aqui o cheiro fortíssimo a flor de laranjeira que enche o ar intensamente, que quase inebria, mas as imagens, tantas vezes,  podem dizer mais que muitas palavras...
Por isso, enquanto imagino um novo regresso, calo-me, olho, e deixo as recordações tomarem conta do resto.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Lugares da minha vida



Há certos lugares que me são irresistíveis, que sinto como se me pertencessem, e que me fazem tão bem que necessito regressar a eles de tempos a tempos. Para me encher de beleza, tranquilidade e alegria. Para me (re)encontrar e sentir em paz. 
E, então, é como se tudo estivesse no sítio certo. Mais ou menos isso...

domingo, 23 de março de 2014

Inabilidade(s)



Apesar de notória e reconhecida por muitos, a minha capacidade de organização desvanece-se de súbito quando se trata de escolher o que levar numa viagem, por mais curta que seja.
Não sou exactamente daquelas pessoas que levam a casa inteira, mas admito que escolho sempre levar  muito mais do que necessito e não apenas no que à roupa diz respeito. Há pequenas coisas de todo o tipo que acho que podem fazer-me falta. Enfim, com a mania de ser previdente, acabo por ser pouco prática.
E, por isso,  é frequente ter de me sentar em cima da mala para a conseguir fechar, ou ter que deixar para trás,  à última da hora, o que me parecia imprescindível, só porque chego à conclusão que não cabe tudo. Também já por mais de uma vez me aconteceu ter de comprar um saco suplementar, porque no regresso a mala aparenta ter encolhido.
Às vezes pergunto-me se esta minha faltinha de jeito será mero sinal de falta de hábito, ou antes sintoma de uma inabilidade intrínseca e mais ou menos incorrigível.
E, nesses momentos, só nesses, prometo-me infalivelmente que para a próxima vou emendar-me.


sábado, 22 de março de 2014

Suárez



Quem me conhece sabe da minha paixão por Espanha e da atenção com que acompanho a actualidade e a vida cultural deste país de que me sinto sempre tão próxima. Foi por isso com tristeza que soube hoje do súbito agravamento do estado de saúde de Adolfo Suárez.
Suárez  é uma figura incontornável, com lugar de destaque na História espanhola. O seu nome ficará para sempre ligado à transição pacífica da ditadura para a democracia. Foi presidente do governo de 1976 a 1981. É a ele e ao Rei Juan Carlos que se deve uma Espanha  tal como hoje a conhecemos: livre, moderna e empreendedora.
Como quase todos os espanhóis, também eu tenho por ele um carinho especial.
Com 81 anos, Suárez sofre de Alzheimer há onze. Lembro-me de há alguns anos, já não sei exactamente quantos, ter visto uma entrevista do filho, Adolfo Suárez Llana, num programa de televisão chamado Las Cerezas que me impressionou: com uma força e uma serenidade fundadas na fé, falou da doença do pai e do modo como todos viviam com ela. E disse uma coisa que na altura não me tocou particularmente, mas que agora recordo muitas vezes, sobretudo aos Domingos, quando tenho que cuidar da minha mãe com o mesmo carinho e cuidado com que ela cuidou de mim. O que ele disse foi mais ou menos isto: temos que aceitar que vida muda e transforma muita coisa; e que chega uma altura em que nos cabe a nós pegar na mão dos nossos pais e conduzi-los e ampará-los como um dia eles também fizeram connosco.
 O mesmo filho de Adolfo Suárez, o habitual porta-voz da família,  anunciou ontem em conferência de imprensa o fim iminente do seu pai. E, emocionando-se, disse: está en manos de Dios
Suárez é um exemplo de classe e de lealdade ao Rei, que um dia disse dele: Sin su ayuda, seguramente España no habría volado ni tan alto ni tan lejos.
Dizem também os que com ele privaram que tinha uma grande sentido de Estado e que era um conciliador, generoso, inteligente e decidido. Um referência, pois, -  em tudo tão diferente do seu homónimo português...
Com o desaparecimento de Adolfo Suárez, cuja ligação à vida é neste momento muito ténue, perde-se uma das grandes figuras do século XX, não apenas de Espanha, mas da Europa e do mundo.
Espanha vive este exacto instante expectante, emocionada e quase incrédula, pendiente  desta notícia que ninguém gostaria de receber.
E eu, hoje, sou espanhola também. E como li num jornal espanhol: Lo único que puedo decirle a Adolfo, su hijo, es que su padre hizo lo más difícil: elevar la mirada por encima de si mismo. Que es mucho más de lo que jamás harán algunos. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Poesia


Énivrez-vous 

Il faut être toujours ivre. 
Tout est là : c'est l'unique question. 
Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps 
qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, 
il faut vous enivrer sans trêve. 
Mais de quoi ?
De vin, de poésie, ou de vertu, à votre guise. 

Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, 
sur l'herbe verte d'un fossé,
dans la solitude morne de votre chambre,
vous vous réveillez,
l'ivresse déjà diminuée ou disparue, 
demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, 
à tout ce rit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui fuit
à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, 
demandez quelle heure il est ; 
et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront : 
"Il est l'heure de s'enivrer ! "
Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, 
enivrez-vous ; enivrez-vous sans trêve! 
De vin, de poésie, d'amour, ou de vertu, à votre guise. 

                                      Charles Baudelaire




quinta-feira, 20 de março de 2014

Já chegou a Primavera!




É oficial: há pouco mais de uma hora, às dezasseis horas e cinquenta e sete exactas, segundo os entendidos, começou a Primavera. No calendário, claro está. Porque na realidade desta vez ela antecipou-se, decidindo-se, magnanimemente, a satisfazer vontades alardeadas e inconfessados desejos e, após as inclemências e rigores do Inverno mais cinzento dos últimos anos, irrompeu de súbito há duas semanas, mesmo a tempo de festejar os meus anos na alegria imensa dessa chegada imprevista e no encantamento dos primeiros dias de sol e temperatura amena.
Hoje, dizem, o sol cruza o equador e o dia é do mesmo tamanho que a noite. Não sei bem se são dados científicos, mas sei que agora se dissipam as sombras e começa a que é para mim a melhor época do ano. Agora, são três meses bons, de possibilidades infinitas, em que melhora a disposição e tudo se anima e brilha mais, e cresce a vontade de fazer imensas coisas, na luz do sol sem excessos, na claridade dos dias cheios de cores e perfumes fortes de flores, de cantos vibrantes de pássaros, de sorrisos radiosos e de momentos perfeitos de puro prazer, o coração ao alto e a vida a (re)começar.

 (Fotografias de José Manuel Durão)

quarta-feira, 19 de março de 2014

Quando íamos ver passar os comboios



Não sou nada adepta dos "dias de". O meu pai também não era. Quem olha para esta fotografia facilmente imagina um pai de colo enorme onde cabíamos as duas ao mesmo tempo, quando, na verdade,  eram raros estes momentos.
Tinha um feitio difícil e não especialmente afectuoso. Por educação e maneira de ser, era às vezes um pouco distante e quase sempre muito distraído,  pouco dado a colos, a  abraços e a beijinhos.
O seu modo de gostar manifestava-se de uma forma muito mais subtil, nos longos passeios que dávamos por Lisboa todas as tardes, na forma discreta como nos ia ensinando a conhecer e a amar a nossa cidade; ou quando nos levava a ver passar os comboios, que tanto o fascinavam; e em tantas outras recordações de um tempo já muito antigo, que fazem parte da nossa história.

terça-feira, 18 de março de 2014

A temporada da dieta




É um facto ineludível, quase uma fatalidade, que se repete ciclicamente.  Nesta altura do ano, já se sabe, mal chegam os primeiros raios de sol e surge no horizonte a promessa de dias longos, a antecipar o desejo de férias, de ócio e liberdade, de pele destapada e de corpos estendidos ao sol, enchem-se de gente os ginásios, tudo cheio de vontade de "trabalhar o corpo" e de perder o máximo de peso no mínimo de tempo, e vendem-se toda a espécie de produtos, cremes, comprimidos, chás, o que quer que seja que dê para emagrecer, em tentativas mais ou menos desesperadas de remediar os excessos cometidos no Inverno. Como quem espera um milagre.
A obsessão da dieta tem uma época própria, quase semelhante à época de caça. A comunicação social e a publicidade não nos permitem sequer a mais pequena distracção, bombardeando-nos de modo exaustivo com as últimas modas, os segredos das "estrelas" e descobertas comprovadamente infalíveis. A última, a deste ano, é a dieta Detox, que consiste em levar não sei quantos dias só a beber batidos e outros líquidos. Ou, numa versão alternativa, ou mesmo combinada,  pode também passar por vestir o fato de treino, pôr os phones  para compor o look e ir correr furiosamente ao "ar livre", nem que seja entre os escapes dos automóveis, em plena Avenida da República, à hora de ponta.
Enfim, vivemos muito em função de aparências, numa época que tende a valorizar, talvez demasiado, a imagem, o culto do corpo e o mito da eterna juventude. E, por muito que digamos que isso não é o mais importante, ninguém está imune. No fundo todos gostamos de nos sentir bem na nossa pele, todos somos  vaidosos, nem que seja só um bocadinho, todos somos sensíveis ao olhares alheios e gostamos de agradar.
As mulheres, quase todas, mesmo as que são esqueléticas, acham sempre que nunca estão suficientemente magras. Não fujo à regra: como qualquer mulher,  também tenho tendência a achar que o ideal era perder dois ou três quilos; mas não vivo obcecada com essa ideia de perfeição, mais ou menos inatingível. Tenho, pois, as preocupações normais: faço exercício o ano inteiro (para me sentir bem, mais do que para estar magra) e porque me habituei a fazê-lo a vida toda e já não consigo passar sem ele. E tenho cuidado com o que como, porque sou gulosa por natureza. Mas não evito uma bela sobremesa, ou um bom vinho, se vou jantar fora, por exemplo; e permito-me aqui e ali aquelas transgressões que dão sempre tanto prazer e sem as quais a vida não teria graça nenhuma!

segunda-feira, 17 de março de 2014

Atrás da porta


Completamente por acaso, soube que Elis Regina faria hoje 69 anos. Não me admira que fosse do signo Peixes, aquele que, segundo dizem, tem as mulheres mais excessivas, desconcertantes e misteriosas, ostentando emoção e sensibilidade imoderadamente.
Não sei se acredito muito nestas coisas. O que sei é que Elis Regina é única; e que ouvi-la  é sempre impressionante. E depois,  juntar um compositor como Chico Buarque com uma intérprete e uma voz assim, tinha que dar nisto.
Esta é uma das minhas canções preferidas. Para ouvir muitas vezes...

domingo, 16 de março de 2014

À volta das palavras




Procuro palavras originais,  fortes e autênticas, mas nem sempre elas chegam para dizer tudo que penso e sinto. E sobra o desconforto do que não pode calar-se, e não é redutível às palavras, e existe apenas no mais fundo de nós.

sábado, 15 de março de 2014

Ode Marítima



Esta é a história de um tipo que vê um paquete e se vira do avesso, vai para fora da zona do conforto, mergulha em si próprio (...) Eu subscrevo emocionalmente a viagem, vou como um barco de papel num ribeiro, perco o controlo de mim. É uma sensação estranha, mas boa. Não sou este homem, mas procurei-o em mim. Não tanto uma personagem, mas uma determinada energia. (...). As referências são-me familiares. Também conheço a dor e a mágoa e a angústia. (...) É a grande epopeia da humanidade, a necessidade desesperada de sentir alguma coisa.

São palavras de Diogo Infante, a propósito da interpretação da Ode Marítima. Uma interpretação sublime e inesquecível, a confirmar uma vez mais, e  aqui de maneira inequívoca, incontestável, a genialidade do seu enormíssimo talento.
Durante uma hora e um quarto vemos o texto ganhar vida e acompanhamos esta viagem dentro de si, que é também viagem dentro de nós, do nosso imaginário marítimo e da alma portuguesa, feita de saudade dorida e da ânsia de  descoberta.
Num cenário de extrema beleza e sobriedade, há ainda a presença discreta e marcante de João Gil e da sua guitarra, companheiro e cúmplice deste longo grito interior, naquela força imensa que é raiva e desespero, mas também contenção e memória.
Mesmo para quem, como eu, conhece o texto, ouvi-lo e vê-lo assim é um momento raro e emocionante, que lhe dá uma outra dimensão e grandiosidade e inevitavelmente nos toca de maneira especial. E voltamos à realidade com palavras ainda a ecoar dentro de nós:
E a hora real e nua como um cais já sem navios
E o giro lento do guindaste que, como um compasso que gira,
Traça um semicírculo de não sei que emoção
No silêncio comovido da minh'alma...
Como disse João Gil, todos os portugueses deviam ver a Ode Marítima. E eu concordo. Porque é comovente e enriquecedor. Mais que isso: é avassaladoramente desafiante. E faz-nos sentir implicados.
Já vi o Diogo Infante e o João Gil muitas vezes e acompanho de muito perto o trabalho de ambos. Sei  que tudo o que fazem é sempre muito bom. Posso pois parecer suspeita, porque gosto muito dos dois, que são artistas maiores, com muitas provas dadas.
Mas ontem, vi-os como nunca os tinha visto antes e, por isso, quando o espectáculo terminou, tive vontade de lhes dar um grande abraço para lhes agradecer esta imperdível e admirável Ode Marítima, que me fez sentir tanta coisa.
E que recomendo vivamente!

sexta-feira, 14 de março de 2014

Junto ao mar




É uma das minhas paixões. Reequilibra-me e pacifica-me, atrai-me e seduz-me. Por isso, às vezes, preciso de me sentar na sua frente, quieta e calada, e de olhá-lo demoradamente. Mas não agora, não hoje, nem amanhã, que também gosto de evitar as enchentes e o demasiado óbvio. Basta-me sabê-lo aqui perto, ou vê-lo em imagens belíssimas, assim, diante das quais emudecemos e sonhamos. E um dia, que estará para breve, sei que nos vamos enfim (re)encontrar. 

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Tão perto e cada vez mais longe...




Viviam vidas separadas, mas encontravam-se às vezes ao meio do caminho, numa existência exclusiva, um segredo que apenas eles os dois conheciam, difícil de aceitar e de entender pelo resto do mundo,  que não sabia nada sobre o começo daquele amor quase clandestino, que surgira nas suas vidas como uma inevitabilidade pressentida desde o primeiro instante, confirmada no tempo que separou o primeiro olhar do primeiro toque, no desejo que não pôde refrear-se e  no arrepio da pele a estremecer, primeiro, e a explodir depois em prazer incontido, até à saciedade; quando tudo parecia ser só corpo,  na excitação da vontade física a transbordar dos olhos e na urgência do abraço apertado, almas a nu e carícias demoradas, quando esquecidos de tudo se entregavam ao prazer e se demoravam um com o outro e um no outro, num consentimento mútuo feito mais de gestos do que de palavras, no aconchego do seu amor, que tinha uma aura romanesca e parecia existir de uma forma difusa, fora da vida real, mas era ao mesmo tempo tão diferente e maior e melhor que o que estava aquém e além dele  e os marcava profunda e definitivamente; e eram um do outro sem ser; e estavam perto mesmo quando estavam longe; e deslumbravam-se e entonteciam  com a certeza de se terem um ao outro e de se conhecerem de cor e não poderem  nunca separar-se ou esquecer-se, nem sequer em momentos de dor e de desânimo.
Depois tudo fora mudando  lentamente, sem aviso nem sinais de alerta. Ainda se encontravam, mas não era já a mesma festa; já não havia aquele loucura do coração a saltar no peito e do corpo a arder de desejo, como nos momentos em que não havia mundo, nem vida, para além deles os dois. Havia dias em que ainda se perdiam no fundo dos olhos um do outro e se emocionavam e enterneciam; e havia os outros, em que a distracção do quotidiano dissimulava o facto de na verdade já pouco restar dos momentos de magia, de cumplicidade secreta e de entendimento total.
Agora, eram cada vez maiores os recantos de silêncio e os mistérios impenetráveis das suas vidas, que já raramente partilhavam; e crescia a distância que os ia separando mais e mais, até serem quase como dois estranhos que apenas tiveram um passado em comum. Agora, até quando estavam perto estavam cada vez mais longe e o que os unia era também o que os separava, o que queriam e não queriam esquecer.
E ela pensava, às vezes, quando  a nostalgia a invadia desde dentro até chegar à superfície da pele e  tomar conta de tudo - coração, cabeça, corpo, vida - que lhe parecia não haver mais remédio que virar costas e partir de vez, perguntando-se o que acontecera afinal: se é apenas o tempo que destrói tudo, ou se pode um amor daquele tamanho morrer assim, ficando cada vez mais afastado, emudecendo e apagando-se devagar.
Mas em momentos de abandono e lágrimas silenciosas correndo à solta, ou em noites de solidão e desamparo, quando estava cansada, farta, triste, ainda sonhava com os seus corpos agarrados um contra o outro, em longos abraços, no doce embalo da brisa suave e na luz do fim da tarde sobre um rio qualquer...
Porque havia os dias em que ele lhe faltava sem doer, e  havia também as horas e os dias  em que lhe doía a imensa falta  que lhe faziam o seu olhar silencioso, o seu cheiro, a sua voz, a mão, o colo, ou o corpo inteiro.
E vinha a saudade de um tempo em que o desejo de ser livre coexistia com  afectos que julgava atados ao peito para sempre, quando  afinal para sempre poderia não ser mais que uma miragem. E aquela canção ao som da qual se haviam amado pela primeiro vez voltava a tocar na sua cabeça, repetindo-se sem cessar: maybe it's just the way it is and there's nothing I can do it's just the way it is...

terça-feira, 11 de março de 2014

Patetices...




A Primavera repentina e antecipada também tem destas coisas.


(Fotografia de mfc do blogue Pé-de-Meia (a primeira) e minha (a outra), ou a diferença entre quem sabe e quem nem tanto...)

segunda-feira, 10 de março de 2014

O Jardim da Gulbenkian






O Jardim da Gulbenkian é meu. Às vezes até me esqueço um bocadinho que ele existe. Mas quando chega a Primavera e passo perto, há sempre um perfume qualquer que me faz ter vontade de transpor o portão e entrar.  
Conheço-o bem, pelo lado de fora e de dentro, de dia e de noite, em cada recanto ou degrau, nos extensos relvados ou no Anfiteatro ao ar livre, onde já fui imensas vezes espectadora (Jazz em Agosto, bailado, concerto) e uma vez também "artista". E mesmo se agora o visito raramente, conservo vivas as memórias de ínfimos detalhes e uma imagem muito nítida daquela espécie de oásis no meio da cidade, tão acolhedor, todo só sombras,  silêncio e frescura.
É que durante a minha infância e juventude o Jardim da Gulbenkian era muito perto de casa. Por isso,  é um dos lugares da minha vida. Que me pertence, porque, de certo modo, cresci nele.
Lembro-me de quando ia para o liceu com a minha irmã, a pé, e desistíamos do caminho mais curto só pelo prazer de passar por dentro do jardim. E de brincadeiras de infância, mais antigas ainda: de jogar Badmington e o "volante" ficar preso nas árvores, de saltar entre as pedras, ou de procurar o melhor sítio para me esconder. E havia tantos e tão bons esconderijos... 
Depois, foi também cenário idílico e secreto de amores pueris, de beijos ardentes  e apaixonados, que nos tiravam o fôlego e faziam acreditar  que deviam ser assim o paraíso e a eternidade. Ou de tardes de ócio passadas em confidências e conversas com amigos, num tempo em que achávamos que tudo era possível e que havíamos de conseguir transformar o mundo e torná-lo melhor e mais justo, quase tão bonito como aquele nosso jardim.
Hoje, sem estar previsto e por razões que não importam, voltei ao meu Jardim da Gulbenkian na quietude de uma manhã de segunda-feira. Emocionei-me e  deixei-me arrebatar por aquela tranquilidade silenciosa de águas rumorejantes e cantos de pássaros, pelo sossego e a enorme paz  à minha volta.  E, sem saber ainda a tarde atribulada que me esperava, apeteceu-me esquecer os deveres e as obrigações e estender-me ao sol, a ler, sem pensar em mais nada.

domingo, 9 de março de 2014

(In)certezas


O tempo que passa também traz coisas boas: vive-se tudo mais tranquilamente, desvaloriza-se o que não é verdadeiramente importante e dissipam-se, ou esbatem-se, muitas certezas absolutas...

sábado, 8 de março de 2014

Dias de descanso


Há também os dias assim, em que sabe bem ficar em casa e não fazer nada de especial; deixar tudo para depois e dar-se apenas a uma doce e sonhadora preguiça, embalada por música suave...
(Fotografia do blogue E Deus criou a mulher)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Hoje



Gosto de ter nascido à beira da Primavera, num dia tão perfeito e poderoso, com toda a magia que tem o número sete. Para mim, é sempre marcante, assinalável. Dou-lhe importância e destaque. Não é nunca um dia como outro qualquer.
Os anos vão passando, na fluidez do tempo, um dia de cada vez. Quase não se dá por isso. E de repente apercebemo-nos do caminho percorrido, marcado aqui e ali pelas rugas que vão surgindo no canto dos olhos e outros sinais exteriores, que só a serenidade e a sabedoria atenuam e compensam. 
Dos quinze aos oitenta, eu tenho todas as idades. E só raramente a que está no bilhete de identidade. Não me aflijo: sinto-me bem com o que sou e o que tenho, não me posso queixar de nada e acho-me muito mais interessante agora do que quando era mais nova. Porque trago comigo tudo o que já vivi e o que isso me acrescenta e enriquece.  E porque sei que nunca nada está completo. Porque permanece a inquietação e a procura constante de uma plenitude maior. É que é sempre possível fazer mais. Ir mais além. E ainda há imensa coisa para ver e experimentar. E aprender. Aprende-se sempre... 
Mas não há nada melhor que a vida partilhada. Hoje, com tanto que há para festejar, o meu dia é passado entre cumplicidades e afectos, cheio de amor e de amigos. E quero todos os abraços, todos os beijinhos e  mimos de quem me quer bem. É que quem me conhece sabe bem quanto isso me importa e que esse será sempre, na verdade, o melhor presente que me podem dar.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Enfim, a Primavera...



http://www.youtube.com/watch?v=svmf-IVxBxI

Depois do Inverno, morte figurada
A Primavera, uma assunção de flores 
A vida 
Renascida 
 E celebrada 
Num festival de pétalas e cores. 
Miguel Torga 


Não sei se acontece com toda a gente, mas eu preciso do sol. Habitualmente, por esta altura do ano, costuma anunciar-se uma Primavera como a de hoje, antecipada e deslumbrante, que me dá uma alma nova e me acentua a alegria de viver.
E, mesmo não sendo verdade, agrada-me pensar que é em minha honra... Coisas de menina mimada!

(Fotografia de mfc, do blogue Pé-de-Meia)

quarta-feira, 5 de março de 2014

O aviltamento da língua



Não posso deixar de voltar ao assunto do Acordo Ortográfico que, contariamente ao que muitos nos querem fazer crer, é importante e diz-nos respeito, a todos - e não apenas a especialistas da área, ou a escritores, jornalistas e professores (como já ouvi).
Vasco Graça Moura, que eu muito admiro e que tem sido um dos maiores defensores da Língua Portuguesa, volta também a referir-se-lhe, hoje, na sua habitual coluna de opinião no DN, que, como sempre, vale a pena ler
Não resisto, ainda assim, a deixar aqui um excerto: 
(...) aí vai a conclusão que tirei e que tem o seu quê de melancolicamente lesivo da língua que falamos: nenhum ou quase nenhum dos deputados está de acordo com o acordo! Houve quem se pusesse de acordo para salvar internacionalmente a face, quem se pusesse de acordo para proteger o negócio da edição escolar, quem o fizesse em nome dos ritmos de adopção do dito nos outros países, quem o fizesse em nome dos mais variados interesses. Mas não houve ninguém com peso significativo no Parlamento que fizesse oscilar a balança a seu favor pondo-se de acordo contra o acordo através do seu voto.(...) É assim que se manifesta na Assembleia da República a vontade do povo português? (...) Infelizmente é a uma situação de surrealismo delirante que se está a chegar. A língua está a ser destruída. Não conheço hoje muitos políticos que sejam a favor disso. Se falarmos de outros utentes qualificados, também não, salvas as excepções menores do costume e as propensões para a cedência do costume. E estamos a falar de Portugal. Se passarmos a Angola temos uma noção de como se pode e deve defender a língua de um país, das suas tradições, da sua cultura, das suas relações humanas e sociopolíticas, enfim, da sua identidade. Quanto ao Brasil, faz o que entende e não se sente vinculado por uma série de baboseiras que, está mais do que demonstrado, são perfeitamente inconstitucionais no nosso país.
Tudo isto não podia vir mais a propósito do que ontem me deixou em verdadeiro estado de choque: a declaração de um deputado (do meu partido, o que ainda me envergonha mais!) na Assembleia da República.
Apesar de muito triste, é necessário vê-la para se ter a noção clara de quem nos representa.
Há nesta declaração uma frase lapidar, que verdadeiramente me "mata". Esta:"Este Acordo é sobre a ortografia portuguesa e não sobre a língua portuguesa".
Prefiro nem a comentar!
Mas persistir num erro apenas porque "o acordo foi aprovado" e por causa do "longo esforço de editores e todo um percurso" parece-me, isso sim, uma "cegueira", para não dizer pior, ou pelo menos revelador de uma visão de horizontes demasiado limitados. Se não percebem nada do assunto, perguntem a quem sabe. Informem-se, leiam e - se for possível - pensem!
Isto não é irrelevante, como muitos julgam. Afinal a língua é o que nos estrutura o pensamento, a forma de o comunicar, o que nos define enquanto povo, o nosso património cultural.
A este deputado, em particular, apetecia-me oferecer o livro de Pedro Correia que já muitas vezes referi: "Vogais e Consoantes politicamente incorrectas do Acordo Ortográfico", o qual esclarece tudo muito bem, em linguagem acessível.
Mas acho que não valeria pena. Estou certa de que não o leria, alegando "falta de tempo". O típico!...
Enfim, como dizia o editorial do Público de 28 de Fevereiro, o dia em que a AR decidiu, uma vez mais, fazer "coisa nenhuma": O AO é, desde o seu início, uma enorme ilusão e um gigantesco erro. À falta de coragem para lhe pôr termo, estamos condenados a ver arrastar, penosamente, o seu cadáver adiado.
É uma infeliz realidade mas, na sua pequenez e tacanhice, o meu país, muitas vezes, entristece-me e envergonha-me!

terça-feira, 4 de março de 2014

Só corpo


Será este tempo de excessos e euforia que me faz de súbito querer o teu corpo, prendê-lo nos braços, apertá-lo contra o peito e dar-me  inteira ao desejo físico, na excitação do que há nisso de mais carnal e lascivo, essa vontade que trazemos connosco, atravessada em corpo e espírito desde o início, atracção e abismo, sim e não, feita de vontades fortes e fundas que nos  revolvem entranhas e arrepiam a pele, e se desatam de repente em sintonia, como uma fatalidade a que não  podemos escapar.
 Não sei se queria ter-te sempre comigo, mas hoje, que é Carnaval no calendário e tudo é mais corpo e fantasia, quanto não dava para  abraçar-te já e aqui, e perder-me no teu colo,  entregue à exaltação dos sentidos, na volúpia incontida de ser inteiramente tua, um só corpo em fusão total, momento sublime que se eterniza em prazer imoderado, todo superlativo, num exagero que é talvez paixão, nos corpos que se procuram, se juntam e se confundem, sem antes nem depois, sem passado nem futuro, apenas nós dois agora, na simplicidade de quem se dá  sem constrangimentos nem distância, sem haver o que nos separe ou detenha, nem tempo, nem espaço, nem nada nem ninguém, na insensatez de instantes só nossos em que, arrebatadoramente, apenas nós existimos. E nada mais importa...

segunda-feira, 3 de março de 2014

Desejo(s)


Un jour pourtant, un jour viendra couleur d'orange 
Un jour de palme un jour de feuillages au front 
Un jour d'épaule nue où les gens s'aimeront 
Un jour comme un oiseau sur la plus haute branche         
                 
                           Louis Aragon

 (Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

domingo, 2 de março de 2014

Um talento portentoso



Fui ver o filme de que toda a gente fala. Não por esse motivo. Simplesmente porque não  perco nada do que Meryl Streep faz. E, apesar de não gostar muito de listas de mais e menos, posso dizer que ela é talvez a minha actriz preferida. Acho mesmo que devo ter  visto tudo o que  fez, ou quase tudo. E sempre me encantou a sua genial versatilidade, que vai de Mamma Mia! à magnífica The Iron Lady, por exemplo.
Meryl Streep é uma daquelas actrizes que faz um filme valer a pena, somente pela força do seu talento. E isso é tão raro!... São com ela alguns dos que, por motivos vários, e em diferentes fases da vida, me marcaram: "África Minha", "As pontes de Madison County" ou "A amante do Tenente Francês".
Que dizer deste filme? August: osage county ("Um quente Agosto", em português) não deixou de ser uma ligeira desilusão. Tinha ouvido falar muito dele e, talvez por isso, as expectativas eram demasiado elevadas. Poderá ter sido isso...
 Tem Meryl Streep em mais uma interpretação que ficará certamente para a história do cinema, acompanhada por um elenco de luxo, apesar de o filme se centrar sobretudo nela e em Julia Roberts, de quem não sou grande fã, mas que nem vai mal de todo ainda que, na minha opinião, o seu papel não valha um Óscar.
É um filme amargo, de alguma dureza emocional, que gostei de ver, mais pelas interpretações que  por outra coisa qualquer. Não achei que fosse um grande filme. Mas vale a pena vê-lo, ainda assim.
Sei que se tivesse que ser eu a escolher a quem dar o Óscar esta noite, hesitaria muito: mas quer seja Meryl Streep, Cate Blanchett ou Judi Dench, ficará bem entregue. Todas o merecem!

sábado, 1 de março de 2014

Março é o nosso mês!



Se tivesse que escolher um mês e uma estação, não hesitaria: seria Março, o mês que nos deu vida, a mim e à Primavera. Por isso o sinto sempre tão meu,- eu que nem sou muito possessiva,  - e me alegro em cada ano quando o vejo regressar, pujante, inovador e arrebatado, a fazer Fevereiro terminar antes do fim.
Com ele, é como se tudo começasse outra vez e a vida se manifestasse de novo em plenitude e em graça, aberta a uma imensidão de caminhos e  possibilidades,  em exuberantes promessas de felicidade renovada.
Março sabe-me a princípio. Escreve-se com M de Mãe e de Mouzinho, que também é meu nome e minha marca forte, coladinha a mim que nem impressão digital.
Março é azul, cor do céu e do mar. É luz, cor e festa. É a serenidade da brisa da tarde na claridade que se prolonga, que cresce dia após dia um pouco mais, empurrando a noite.
É o esplendor da natureza a renascer em efusiva e contagiante ostentação. São perfumes de flores e cheiros frescos e intensos, sentidos despertos que facilmente se deixam inebriar,  e pele que se destapa, e vontade de passear ao sol.
E é também o som do canto dos pássaros, o melro preto de bico muito amarelo que me visita todas as manhãs, e os chilreios na minha varanda ao amanhecer, para anunciar o nascimento de mais um dia.
Março convida ao amor e à ousadia, revitaliza a alma e traz boa disposição e energia em doses reforçadas, a cada novo despertar.
E  eis que chega Março, este nosso mês que já está aqui, de que eu tanto gosto e que,  mais que nenhum outro, é tempo de me sentir (mais) feliz!