sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Filmes que não deixam marca




Não sei se Kate Winslet é uma grande actriz, mas na verdade não me convencem muito as sua interpretações, nem aquela mistura de mulher banal com um ar levemente retro e sonhador, qual heroína do século XIX.
O defeito será provavelmente meu, que depois de Titanic - um filme que detestei - não consigo vê-la sem evocar de imediato a famosa imagem, pretensamente romântica, de braços abertos na proa do navio, com Céline Dion em fundo, aos guinchos. Uma piroseira!...
E, mesmo assim, fui ver o filme "Um segredo do passado", Labor Day no original, em que apenas o seu nome me era familiar. Tem algum interesse, mas não lhe daria mais de seis, numa escala de um a dez.
Enfim, é um filme daqueles que se vê e se esquece em pouco tempo. Apesar de ter ingredientes que são meio caminho andado para o sucesso: o amor improvável e inesperado, os dramas do passado a ensombrar o presente, o suspense, o amor que é simultaneamente prisão e redenção, o final feliz. Apesar de Kate Winslet ser mais ou menos convincente na construção da sua personagem, frágil e densa, e de ter na relação de silêncios e cumplicidades, de papéis invertidos, até, de certo modo, que estabelece com o filho (pelos olhos de quem a história nos é narrada), os momentos mais conseguidos.
Mas, pior ainda, foi o filme que vi antes deste. Não me acontece muito, mas às vezes também me dá para escolher um filme apenas porque o título me parece sugestivo. Sem saber mais nada, sem qualquer outra referência.
Foi isso que me levou a ir ver Endless love (Amor Infinito), num daqueles momentos em que o que há em mim de mais romântico vem ao de cima.
É um remake de um filme de 1981 (sei-o agora!), esse de Franco Zeffirelli, com Brooke Shields e também, tal como este, desconsiderado pela crítica. Com razão.
Sem emoção nem garra, trata-se de uma daquelas histórias pobrezinhas de banais amores juvenis, que vencem todos os obstáculos, e que me recordou os filmes que todos víamos quando éramos adolescentes. Uma verdadeira xaropada!
Dir-se-ia, pois, que as minhas duas últimas escolhas cinematográficas não foram grande coisa. Acontece...

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Os grandes nunca morrem

Foi também a ouvir a guitarra de Paco de Lucía que o meu amor pelo Flamenco se acentuou e cresceu.
Hoje, dia triste para quem gosta de música, e em particular de Flamenco, lembro-me de Camões e de aqueles que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando...

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A hora de dizer não ao AO!



Ainda a propósito da discussão da "Petição pela desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990", que terá lugar dentro de três dias, a 28 de Fevereiro, na Assembleia da República, e à qual estranhamente (ou talvez não) a comunicação social quase não se refere, mas que suscitou ontem um post de HSC no seu "Fio de Prumo", o Público de hoje traz um texto de Maria Alzira Seixo, professora da Faculdade de Letras de Lisboa, que vale a pena ler e do qual transcrevo apenas um excerto.
E porque este é um assunto que diz respeito ao país inteiro e não apenas aos especialistas da área, com implicações e consequência na vida de todos nós, aconselho a leitura integral do artigo, aqui. É que esta é, acima de tudo, uma questão de patriotismo e, como tão bem diz o texto ainda é tempo, ou citando Fernando Pessoa, é a Hora!

(...) As palavras são manancial de riqueza: juntam a criatividade de "crescer" em diversos sentidos, a partir das suas raízes fortes, em lógica de desenvolvimento que é tanto delas mesmas como dos que as usam, quando respeitam o seu étimo. E reúnem-se na família vocabular que é a Língua. (...) Ora já sabemos como o chamado Acordo Ortográfico as veio maltratar, como as cortou das raízes da sua proveniência, como lhes decepou ligações de vizinhança com línguas europeias (...) o Acordo Ortográfico desfigura a linguagem: desmembra famílias de palavras, estraçalha vocábulos (que parecem outros com os quais os falantes os confundem), isola termos que ficam lexicalmente à deriva, num oceano de incongruências, arbitrariedades, confusões, deslocalização do sentido original, que já não é possível perceber para se atinar de imediato com o sentido. Um desatino!
Ficámos aleijados a escrever em português. Por determinação da lei que impôs o Acordo Ortográfico como medida política de aproximação com os países de língua oficial portuguesa. Os quais, afinal, enjeitam tal medida, pois não o adoptaram! E aleijados também porque porque ninguém entre nós sabe escrever segundo o Acordo, tão impossível de fixar ele é, ilógico nas suas regras, infinidade de excepções e hipóteses de escrita múltipla. (...) 
Não vale a pena exibir mais agravos do Acordo Ortográfico: as críticas que lhe têm sido feitas chegam e sobejam para entendermos o seu alcance de danificação, em expressão e raciocínio, a curto prazo (e já actual!), no falante luso. E as implicações a vir na descida do nosso nível cultural, profissional e económico, no futuro. É uma amputação! Quem aprovou a lei não o supunha, talvez. Embora tenha havido claros pareceres e advertências, na altura devida - e os responsáveis fizeram, no sentido mais próprio, ouvidos de mercador. 
Mas ainda é tempo! A Assembleia da República que aprovou esse instrumento de atraso mental não é hoje a mesma, e os que nela permanecem, do grupo anterior, tiveram entretanto ensejo de reflectir, de compreender. Tenhamos esperança! Os portugueses que formam esta AR podem mostrar-se cidadãos responsáveis, que não querem depender, durante o resto da vida, de conversores automáticos colocados em computadores, os quais ainda por cima erram na aplicação do próprio Acordo, e o resultado é que não se fica a escrever nem em Português nem na ortografia imposta, escreve-se em língua que não existe, não é a da lei, nem a usual! Os deputados não serão indiferentes à ideia de seus filhos e netos, e todos os portugueses, se tornarem deficientes linguísticos ad aeternum, com os custos que isso acarretará, em atraso e marginalidade decorrente, para Portugal.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Aselhice e amizade

Sem presunção excessiva e apenas porque conheço bem as minhas capacidades e limitações, tenho-me na conta de pessoa inteligente, perspicaz e decidida.
Mas há também os assuntos nos quais admito ser especialmente inábil. Cito dois, que podem servir de exemplo - e já nem vou falar da condução: o bricolage e as tecnologias.
Num e noutro domínios colecciono histórias fantásticas, que são verdadeiras pérolas, para não dizer anedotas, ilustrativas da minha proverbial faltinha de jeito para certas coisas. Conto uma, muito antiga, de quando ainda dava aulas há poucos anos. Um dia, quis usar um gravador, que não funcionava nem depois de verificar todas as tomadas da sala de aula e quase a instalação eléctrica da escola inteira. Nada a fazer. O gravador mantinha-se mudo. Até que um aluno, solícito, me ofereceu ajuda. Aproximou-se, olhou para o gravador e disse, sem se rir: é natural que não funcione, professora. Está em versão "pausa". Rimo-nos todos.
Penso que me valeu o facto de se tratar de uma turma de secundário e de os alunos serem, naquela altura, pouco mais novos que eu e, talvez por isso, mais compreensivos. Acho que foi o que atenuou o tamanho do vexame.
Mas porque tudo tem também um lado bom, tenho conseguido encontrar sempre alguém, tal como aquele aluno, disposto a ajudar-me a resolver o que não sou capaz de fazer, nas mais diversas circunstâncias, que podem ir de instalar um candeeiro no tecto, a (re)encontrar um post do blogue, misteriosa e subitamente perdido.
Tenho de facto muito bons amigos, alguns (poucos) encontrados aqui mesmo, na blogosfera, com quem aprendo imenso; e sou feliz por isso. Creio, até, que esse é talvez o meu bem mais precioso.
Às vezes ainda ouço a voz da minha mãe, que quando se zangava comigo me falava sempre da minha "mania que és independente". Ou relembro os que me repetem a toda a hora os perigos deste mundo virtual, onde julgam haver apenas psicopatas e perseguidores tarados. Haverá gente louca e perturbada, decerto, mas também gente impecável, decente e encantadora, tal como na vida.
A todos, apetece-me falar de amizade. E de como ela me é fundamental. E dizer-lhes que nunca vou conseguir agradecer aos meus amigos o bom que é poder contar com eles, nem explicar-lhes a importância que têm para mim. E, acima de tudo, como e quanto lhes quero bem.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Desfazer ideias feitas



Durante sete Sábados, tive o prazer e o privilégio de ouvir, de aprender, de ler e de pensar sobre Mário Dionísio e o Neo-Realismo, num curso com o extraordinário nome "Mãos que constroem sonhos", conduzido pelo saber e a generosidade da que foi (e é ainda) a melhor professora da minha vida, Maria Alzira Seixo, de quem já falei aqui mais de uma vez e que modificou a minha maneira de ver a literatura, de a perceber e de gostar dela. Que, acima de tudo, me ensinou a pensar.
Foi assim que pude descobrir em Mário Dionísio um interessantíssimo e fascinante escritor de personalidade vincada e obra diversa  e muito abrangente; e que o Neo-Realismo é mais que uma corrente simplista de cunho fortemente social, como tantas vezes ouvimos dizer, mas é também um movimento modernista, através de uma nova concepção concreta das coisas, da palavra pragmática, que apela à acção, em que as questões sociais importam, mas também as emoções e os sentimentos. Há o homem que luta por melhores condições de vida, mas igualmente pela libertação psicológica e cultural, e a arte como uma maneira de conceber um mundo melhor, a concretização de um sonho, uma espécie de redenção.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Tardes de Lisboa



Para meu prazer e benefício, há também os dias em que a vida abranda o ritmo e o tempo parece correr mais devagar.
Nessas horas em que o relógio aparentemente se demora um pouco mais, esqueço as rotinas e desacelero os passos, solto o cabelo no vento e sigo errante pelas ruas, atenta às gaivotas que cruzam o azul do céu em direcção ao rio, às vozes e risos de quem passa a caminho de não sei onde, como eu, que me distraem dos pensamentos a querer fugir para outros lugares, e me despertam os sentidos para  tantos cheiros, cores, luz, e vida à minha volta.
Quando me dou assim, ela retribui, vaidosa e sedutora, confiando-me os seus segredos em novos detalhes que julgo ver pela primeira vez. E respiro o ar de maresia que me chega ao fundo da alma e  me traz uma nostálgica e romântica serenidade, eu e a cidade, enlaçadas e  confundidas,  como quem se ama.
É então que sinto que este é o meu lugar, porque é em dias assim, de gestos lentos e de vontades à solta, que Lisboa é  mais minha. E que volto a apaixonar-me  por ela. 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Filosofia



http://www.youtube.com/watch?v=qhV9bTNsq4I

Há quem diga que rir é o melhor remédio. Será. A vida levada com bom humor pode ser mais leve, sem dúvida. Sobretudo se soubermos não nos levar demasiado a sério e se nos rirmos também, antes de mais, de nós mesmos. 
Mas hoje prefiro dar destaque à  música e a tudo o que ela nos traz de bom. Porque, como ouvi um dia destes, a música é "a arte do significante absoluto", a única que não tem referente. E  o do be do be do, que  combina harmoniosamente sons e silêncios, é como voz sem palavras, com todos os sentidos em aberto e permitindo-nos todas as emoções. Basta ouvir. E deixar-se embalar. Shhh!...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Singularidade(s)




http://www.youtube.com/watch?v=CoxZWe6sAK4

Há lugares especiais, como este, com uma magia qualquer que nos leva a crer que nos pertencem, tal como há pessoas das quais nos sentimos imensamente próximos, até quando estamos longe, e com quem nos entendemos sem precisar de muitas palavras ou, sobretudo, para além delas.
Ambos sabemos disto, e de como é peculiar, e forte, e abençoada, a natureza do que nos une e nos separa e a certeza de nos termos um ao outro em total liberdade.
E um dia, não importa quando, nem onde, num lugar como este ou noutro lugar qualquer, voltaremos certamente a encontrar-nos.
Não costumo personalizar os meus textos e, no entanto, abro aqui uma excepção. Mas deixa-te de peneiras! Às vezes, só mesmo às vezes, penso em ti. Hoje, tu e eu sabemos porquê...

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Amuos e Exaltações



Não sei se é impressão minha, se as motivações estão no cansaço, na crise, no excesso de dias cinzentos, ou numa conjugação perniciosa dos astros, mas a ideia que me fica de uma sequência de acontecimentos recentes, sem qualquer ligação entre eles, é que de um modo geral os ânimos andam mais exaltados e as irritações mais à flor da pele, prontas a rebentar à mínima contrariedade ou arrelia.
E detive-me a pensar um pouco sobre isto, perguntando-me por que nos zangamos tanto em certas ocasiões, por assuntos de grandeza relativa. Falo por mim, antes de mais. Também tenho o "meu feitio" e exalto-me e aborreço-me por coisas pequenas, daquelas que, vendo bem, não têm assim tanta importância.
Todas as pessoas, mesmo as que mais amamos ou admiramos, nos desiludem e magoam, às vezes. E quantas pessoas, das que nos são queridas, não nos foram já ficando pelo caminho, porque a determinada altura nos afastámos sem uma razão óbvia, ou sem conseguirmos encontrar um motivo suficientemente válido e forte que o pudesse explicar. Não sou muito dada a amuos, nem a ressentimentos, não sou capaz de fazer birra durante muito tempo e uma das minhas maiores fraquezas é a incapacidade de prolongar uma zanga com as pessoas de quem gosto e que me importam. Fica um incómodo que me sufoca e quero logo fazer as pazes. Até quando acho que tenho razão. Se uma pessoa me ofende, prefiro dizer-lho, ainda que isso implique uma discussão mais ou menos acalorada.
E, apesar de difícil,  tentar pôr-se no lugar do outro e percebê-lo pode ser um interessante exercício. É que há tanta coisa que uma boa conversa, olhos nos olhos, permite esclarecer...
Enfim, a vida é demasiado curta e, no fundo, o mais importante são os afectos: guardar os amigos verdadeiros coladinhos ao coração e levá-los connosco vida fora. E acreditar que tudo na vida pode ser sempre melhor. E ter quem acredite connosco.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

O poder da poesia



Concha que se fecha devagar
só de névoa cercada
Vultos e vozes recuando
em espaço já não seu
O como ou quando
igual a nada
Concha quase fechada
mergulhando
no silêncio e no mar
de que nasceu
                          Mário Dionísio
Pela mão e pela sabedoria da minha querida professora Maria Alzira Seixo tenho vindo a descobrir em Mário Dionísio um escritor fascinante, apesar de pouco lido.
E também, de forma ainda mais clara, a importância das palavras, da literatura e da poesia; e como elas podem fazer-nos pensar, modificar-nos, mudar a nossa vida ajudar-nos  a viver melhor. Porque "um poema é sempre uma proposta de leitura de aspectos do mundo", mas apresentada de uma forma que nos "ilumina por dentro".
  
(Fotografia de mfc, do blogue Pé-de-Meia)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

A felicidade é tanta coisa...




Tendemos a dizer-nos e mostrarmo-nos muito tolerantes, por uma questão de hipocrisia social, quase inconsciente, mas no fundo todos achamos que ser feliz é o que corresponde à nossa ideia e que quem não é feliz como nós somos, ou com o que nós somos, é um bocadinho mais parvo, ou incompleto. Ou infeliz.
A mim, há muita coisa que me faz feliz, mas nada como ter-te na minha vida; porque o amor pode existir de muitas maneiras... E,  apesar de todas as suas sinuosidades e reviravoltas, os grandes amores nunca morrem. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O amor por imposição



Se eu não fizer
assim (como hei-de 
dizer?) amor 
sim amor contigo 
muitas (meudeus!) vezes 
com preguicinhas boas 
tolices ao ouvido 
revoadas de beijos 
repentes dentes 
olhares pestanejados com carinho 
oh 
nem terei nome 
serei "o coiso" "esse aí" o "como 
é que ele se chama?" 
o que dorme singelo 
o que ninguém ( ai ai) ama. 

                                    Alexandre O'Neill

(Lembrei-me deste poema de O'Neill a propósito do irritante dia de hoje e de toda a piroseira que lhe está associada.
Não é querer ser do contra, mas gosto, muitas vezes, de não seguir a tendência. E há certas convenções que não me fazem sentido algum.
E porque sou muito mais Cupido que São Valentim, prefiro celebrar o amor nos outros dias todos do ano, e em especial no assombro do inesperado que surge sem aviso prévio e me vira do avesso, do que ceder a fazer como os outros fazem, aos mil coraçõezinhos iguais, aos beijos obrigatórios só porque "é dia disso", ao anel no dedo ou uma rosa patética igual à de toda a gente, com se o amor pudesse marcar-se na agenda, com dia e hora, como uma tarefa mais. 
Por isso, hoje, ponho o amor entre parênteses e deixo as comemorações para os gestos e momentos imprevistos, sem exibicionismos, vindo do mais fundo do afecto e do sentimento, e vividos no secretismo de uma intimidade só nossa...)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Os caprichos do Anticiclone



Como acontece provavelmente com toda a gente, há palavras de que eu gosto e outras de que não gosto nada, as quais me recuso a utilizar ou, pelo menos, evito. 
Gosto, por exemplo, da palavra "desmazelo". Talvez porque, para além da sua sonoridade, me lembra o empenho com que a minha mãe nos ensinava a andar arranjadas em todas as ocasiões, adequando o modo como nos apresentamos a cada circunstância, como forma de respeito por si próprio, antes de mais, e pelos outros também. E reprovava vivamente tudo o lhe parecia o mínimo sinal de desleixo. Habituei-me, por isso, a achar, tal como ela, que é de muito mau tom parecer uma "desmazelada". 
Vem tudo isto a propósito do tempo. Porque hoje, no meu percurso matinal mais lento do que o habitual por causa da chuva, perdida em mil pensamentos, como de costume, achei que apesar de estarmos no Inverno, tantos dias cinzentos de seguida só podem ser "desmazelo" do Anticlone dos Açores, que parece ter-se escondido não sei onde, a fazer uma birra. 
Dizem os entendidos que o que justifica o actual estado do tempo é o facto de o Anticlone se ter deslocado para sudoeste, não bloqueando os temporais e deixando passar tudo o que é sistema frontal, o que nos leva o sol para outras paragens e nos impede de desfrutar do céu limpo e dos dias luminosos a que estamos tão habituados. Há quem se apresse, também, a falar em consequências do aquecimento global e blablabla. Não me interessa!...
O que sei é que tantas horas, dias, meses, de negrume e de céu baixo me influenciam o humor e me deixam mais nostálgica e desconsolada, ainda que sem motivo(s). 
E lembro-me de Cesário Verde, porque esta cor monótona e londrina (...) desperta-me um desejo absurdo de sofrer
Mas, no fundo, sou uma optimista. E acredito que depois disto, daqui a pouco mais de uma mês, vamos ter este ano uma Primavera verdadeiramente esplendorosa. 

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Outro filme com interesse




Há actores de que eu não gosto nada. É o caso, entre outros, de Leonardo Dicaprio, de Kevin Costner, ou de Mel Gibson. E também de Tom Hanks. Nunca seria pois por causa dele que iria ver este filme. Seria até razão suficiente para me demover.
Mas havia Emma Thompson. E havia também Mary Poppins que, pelo menos para as pessoas que têm mais ou menos a mesma idade que eu, faz parte do nosso imaginário infantil.
Este foi um fim de semana especialmente cinéfilo, com o tempo a convidar ao recolhimento e o ambiente escuro, quente e acolhedor da sala de cinema a levar-nos para outro tempo, contando-nos uma boa história.
Vi dois filmes. Ambos marcados pela fortíssima presença de duas excelentes actrizes, num e noutro caso figuras centrais da narrativa. Ambos baseados em factos verídicos. E, apesar da singularidade de cada história, os dois abordam o tema do perdão e da relação com um passado que de certa maneira constrange e atormenta o presente. E a forma de se libertar disso.
Saving Mr. Banks ("Ao encontro de Mr. Banks", em português) situa-nos no início dos anos sessenta e conta o processo da adaptação ao cinema de Mary Poppins, um clássico da história do cinema, e em particular da prolongada e difícil luta de Walt Disney pelos direitos de autor.
Emma Thompson é genial na construção da personagem de Pamela Lyndon Travers, misteriosa e complexa como todas as mulheres, assombrada pela sua história de infância, que surge em narrativa paralela através de constantes e por vezes demasiado pormenorizados flasbacks, capaz de se enternecer e sonhar para lá da sua apenas aparente rispidez e inflexibilidade. (É deliciosa a relação de empatia que estabelece com Ralph, - e que consegue levar-nos atrás - o inesquecível motorista, interpretado por Paul Giamatti).
O filme de John Lee Hancock não se compara a Philomena. Não é um grande filme, mas não deixa de ser interessante, de nos fazer sorrir e de nos distrair durante duas horas. Por isso vale a pena vê-lo, quanto mais não seja pela excelente interpretação de Emma Thompson que, apesar de muitas provas dadas, demonstra aqui, uma vez mais, a força do seu enorme talento.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Vale a pena ver...



Judi Dench é uma daquelas admiráveis actrizes que fazem qualquer filme valer a pena. Já a vi muitas outras vezes. Lembro-me das duas últimas, por exemplo: Skyfall e Marigold hotel. E gostei sempre muito.
Volta agora com Philomena, um filme magnífico, para guardar na gaveta dos imperdíveis. E tem a assinatura de Stephen Frears, que também traz consigo a marca da qualidade. O que há nele de mais tocante é, talvez, em grande parte, o facto de sabermos que a história do filme não é uma ficção com um grau de mimetismo mais ou menos acentuado, como a maior parte dos filmes que vemos, mas que tudo aquilo a que assistimos aconteceu realmente a alguém.
Há a história do segredo, calado durante cinquenta anos, e de uma mãe que não desiste de procurar o filho do qual fora forçada a separar-se, e cuja dor, simultaneamente pungente e contida, vamos acompanhando a par e passo, conseguindo rir e chorar com ela, ou enternecer-nos com a sua doçura, com a sua capacidade de resignação fundada na fé, com uma certa serenidade na sua maneira de estar.
Mas o filme é também sobre o perdão e a culpa, sobre a cumplicidade que pode ir nascendo entre pessoas muito diferentes, sobre uma igreja excessivamente moralista e até desumana (é fabulosa a cena da confissão).
E tudo isto  se deve acima de tudo ao talento de Judi Dench, muito bem acompanhada por Steve Coogan (que é também co-autor do guião), no papel de  Martin Sixsmith. Ambos conseguem denunciar uma situação chocante e verídica e, ainda assim, fazer deste filme um filme encantador.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Escrever de forma simples



Uma vez mais, encontro no "Delito de Opinião" um extraordinário post de Pedro Correia, que Helena Sacadura Cabral republicou depois em parte no seu "Fio de Prumo" e do qual transcrevo aqui, também, apenas um excerto:

Decifre se quiser 
Escrever bem, de acordo com a técnica jornalística, é adoptar a regra dos três C: de forma clara, concisa e compreensível.
O leitor não tem tempo nem paciência para voltar atrás porque não entendeu o significado daquilo que acabou de ler nem paga um jornal para decifrar charadas que lhe são servidas em forma de notícia.
Um excelente exemplo surgiu esta segunda-feira, no diário espanhol El Mundo, em texto assinado pela correspondente do jornal em Nova Iorque, María Ramírez, a propósito da súbita morte de um dos mais célebres nomes popularizados por Hollywood.
O primeiro parágrafo da notícia é um modelo de concisão e limpidez: "O actor Philip Seymour Hoffman, de 46 anos, foi encontrado morto este domingo no seu apartamento de Manhattan com uma seringa espetada no braço."
Pelo contrário, são cada vez mais frequentes as frases incompreensíveis na nossa imprensa - até em títulos. Frases codificadas, oriundas de um jargão tecnicista ou empresarial e polvilhadas de estrangeirismos que certos jornalistas pretendem à viva força incorporar no vocabulário comum. Esquecendo que devem ser eles a descodificar a mensagem e não o leitor a esforçar-se por tentar decifrar aquilo que se pretende comunicar.
Deparo todos os dias com frases em que prevalece o tom charadístico, numa espécie de caricatura involuntária do que não deve ser a escrita usada em jornalismo: opaca, inexpressiva, indecifrável. Ao falar-se na crise do jornalismo contemporâneo omite-se com frequência este aspecto: a falta de capacidade para comunicar. Quando iniciei a actividade jornalística, na década de 80, os velhos tarimbeiros da redacção costumavam dizer aos novatos como eu: "Escreve de maneira a que possas ser entendido não pelo físico nuclear mas pela empregada doméstica." Utilizando, desde logo, um vocabulário acessível a todos. Precisamente ao contrário daquilo em que que tantas vezes reparo agora. Como se o mais difícil fosse escrever de forma simples. (...) 

De facto, há hoje um tendência crescente para complicar o discurso, como se isso fosse um sinal inequívoco de maior erudição, quando é justamente o contrário.
E, no entanto, tal como diz o Pedro, este tem sido um assunto pouco debatido, que vai alastrando qual epidemia e, infelizmente, não atinge apenas o meio jornalístico, mas está um pouco por toda a parte.
Em Portugal, e nos últimos tempos mais ainda, com a facilidade que a tecnologia trouxe à circulação da palavra escrita, toda a gente acha que "escreve". Pior: que quanto mais rebuscado e ininteligível, ou obscuro, for o texto, mais qualidade se demonstra.
Na verdade, todos os que apenas por escreverem aqui ou ali já se consideram "escritores", tendo maior ou menor habilidade para o fazer, esquecem uma coisa essencial: os grandes escritores são os que têm textos claríssimos e de um simplicidade imensa. A diferença está na maneira que encontraram para dizer/ escrever o que dizem e escrevem, escolhendo as palavras e a sintaxe adequadas, através de uma sonoridade e de um ritmo próprios, que é o que nos toca.
De resto, é conhecida aquela frase tão típica: "Eu não leio muito. Eu gosto é de escrever." Como se uma coisa pudesse existir sem a outra.
A todos estes jornalistas de pacotilha e pseudo-escritores eu aconselharia, antes de qualquer outra coisa, a ler, a ler muito, começando pelos clássicos. Porque gostar de escrever é uma coisa, saber escrever é outra. E ser um escritor é outra ainda...

(Fotografia de mfc, do blogue Pé-de-Meia)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Dos amores







Depois de Lisboa, esta é a minha cidade, pela qual vivo eterna e permanentemente apaixonada. 
E há certos dias, como hoje, em que me dá uma saudade enorme, inexprimível, daquelas que só se conseguem sentir, entre suspiros, memórias e anseios. 
Ah Paris, Paris... 

(Fotografias retiradas de pariszigzag.fr)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Grandiosidade(s) ou a força da natureza


Como pode ser belo o mar em fúria... O que será que nos seduz neste espectáculo de impetuosidade avassaladora, que corta a respiração e faz emudecer? Atracção do abismo, ou repentina tomada de consciência da nossa pequenez diante dos milagres e maravilhas da natureza, há decerto alguma coisa singular e inexprimível nesta imagem de um mar imponente e majestoso, um magnetismo qualquer que nos toca e nos deslumbra de forma muito especial. 

(Não vi nada disto ao vivo, mas as imagens deixaram-me impressionada. Por isso "roubei" esta, mas há mais para ver no blogue Assim na Terra como no Céu, que continua no primeiro lugar das minhas preferências. E afinal o que é que um blogue pode ter melhor que o que nos dá a conhecer e o que nos faz pensar? Para visitar muitas vezes, pois. 
A fotografia é de Paulo Abreu e Lima, naturalmente).

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A opinião dos outros

 
Não sei por que ainda me espanto. Na verdade sempre fomos um povo demasiado sensível a tudo o que vem "lá de fora". Vê-se nos modos  subservientes com que os portugueses ficam em êxtase perante um estrangeiro, ansiosos por agradar-lhe, apressando-se em mostrar que "falamos línguas estrangeiras" e tudo, mesmo que ninguém nos tenha perguntado nada, ou respondendo em inglês automaticamente, mal detectamos um qualquer sotaque, nem que seja o dos Açores. 
Estou a exagerar, eu sei! Mas faz-me confusão a nossa autoestima sempre em níveis tão baixos, a dependência da opinião alheia, que ganha contornos de verdadeiro delírio nacional se algum estrangeiro ousa dizer bem de nós. Do tipo: eles até sabem quem nós somos...
Mas, ainda assim, pergunto-me porquê tanto alarido na comunicação social e afins só porque uma jornalista com nome de princesa de desenho animado e de marca de pneus se lembrou de dizer que Lisboa era a cidade mais cool da Europa. Porque ela é da CNN (muito importante!) e porque diz coisas extraordinárias como "olhamos para o rio e parece que estamos a ver o resto do mundo", ou "Lisboa é uma cidade com um estilo antigo e elegante" ou ainda "não consigo criticar nada em Portugal" - o que só prova que não conhece bem o país.
Porque quanto ao resto, e em particular ao que diz sobre Lisboa, apetece gritar-lhe: Ó Fiona Dunlop, isso já nós sabemos!...
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima, ao jeito de "toma lá mais esta, ó Fiona!")

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

(In)certeza(s)

 
À medida que o tempo passava, ia percebendo com mais clareza que não havia volta a dar, que o fim tinha chegado e que tudo estava decidida e definitivamente perdido, colado a um passado a que era impossível regressar.
Agora sabia que não queria arrastar aquela história para além do que ela podia durar, sabia que ela se desvanecera na espuma dos dias e deixara de pertencer-lhe sem que pudesse sequer ir percebendo os sinais, pequenos e quase imperceptíveis, a anunciar  a morte lenta de uma despedida assim, demorada, prolongando-se, agonizante e vagarosa, pelos dias e pelas noites fora.
Sabia que não podia suportar a ideia de perdê-lo deveras, do mesmo modo que lhe era às vezes  doloroso e outras vezes lhe parecia até patético tentar remediar o irremediável e persistir no que não eram mais que reminiscências de um tempo feliz e bom, de um amor enorme em que os dois continuamente ganhavam e perdiam e que, ainda que nunca tivesse sido simples, nem tranquilo, nada nem ninguém parecia poder derrubar ou destruir; e que fora o melhor e o pior da sua vida, mas se fora desfazendo aos poucos, extinguindo-se como o lume que se apaga em silêncio e deixando um nó na alma e um buraco no lugar do coração.
Na verdade, havia muito que se tinham perdido um ao outro sem se aperceber e apenas nos olhares ausentes e em incómodos silêncios entendiam que eram os mesmos e  já eram outros, que o entusiasmo e a paixão já se haviam extinguido, e que o amor algures se quebrara  e dele já só restavam memórias de um caminho antigo, onde não havia sequer lugar a confissões, nem a desculpas, nem arrependimentos, nem coisa alguma. E que se durante muito tempo tinham protegido os seus pensamentos e sentimentos mais secretos, até de si mesmos, na esperança inconsciente de que desaparecessem e que tudo aquilo não fosse mais que um sonho mau, agora o que ia ficando cada vez maior era o vazio que já nem fazia doer, era só vazio, sem mais nada.
Conhecia de cor os momentos de maior vulnerabilidade em que tudo se define e se decide a sós connosco e  essa certeza tolhia-lhe  os movimentos, mesmo sabendo que era importante e urgente mudar de rumo por mais incerto que lhe pudesse parecer o caminho,  com todo o risco e o medo associados a novos começos, a inquietação do que fica para lá do horizonte visível e se pressente antes de ser real, entre o desejo de se lançar e o susto do desconhecido, que ora lhe faziam desejar  os abraços de uns braços que se lhe estendiam e que queria e não queria agarrar, ora  se virava para dentro e deixava que o desgosto se lhe prendesse à pele e lhe enchesse os dias, e a dominava o silêncio pesado do que nunca chegaria a ser dito e permaneceria na sombra até desaparecer, desfeito na claridade ainda imprecisa dos dias que iam ficando maiores e deixavam antever uma vida nova a querer (re)começar.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Uma homenagem merecida


Gosto muito de Vasco Graça Moura. Admiro-lhe a inteligência e o bom senso, o talento e a frontalidade, além do vasto conhecimento. Gosto da maneira como escreve, da veemência com que defende as suas convicções e, em geral, costumo concordar com o que diz, em particular sobre o ensino da literatura ou, mais ainda, com as posições públicas que tem assumido contra essa aberração chamada "Acordo Ortográfico" e as suas nefastas e imprevisíveis consequências.
Por isso tive pena de não ter podido estar presente na homenagem que lhe fizeram há dois dias na Gulbenkian, num colóquio que tinha como comissário Eduardo Lourenço, que contou com comunicações de Nuno Judice, Maria Alzira Seixo ou Ruy Vieira Nery, entre outros, e que culminou com a atribuição da Grã-Cruz da Ordem de Santiago e Espada, pelo Presidente da República.
Nada mais justo! Vasco Graça Moura, que completou no ano passado 50 anos de vida literária, tem uma obra vasta e diversificada, que abrange a poesia, o romance, a crónica, o ensaio, a crítica, a tradução. Defensor da língua, da cultura e da literatura portuguesas, é um homem das letras por excelência,  exemplar perfeito do humanista, como disse Eduardo Lourenço. Por isso, todas as homenagens que lhe fizerem não serão demais. Afinal, temos tanto para lhe agradecer...

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Crepúsculo


Há um ar de prodígio alguns minutos antes do sol-pôr
Tudo se impõe serenamente na sua própria nitidez
A verdade das coisas aparece ao menos uma vez
Nenhuma sombra à volta seja do que for

Não se perde migalha   Qualquer pouco nos é muito então
Estamos sentados sós cobertos de silêncio gravemente olhando
o que de tantos anos gentes e lugares ali se vão juntando
numa presença  oculta e muda onde começa agora sim a solidão

                                                   (Mário Dionísio)