quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Fim de férias


Daqui a nada acabam as noites quentes e quietas, os dias que passam devagar, sem obrigações nem horas marcadas; e regressa a algazarra, a correria, a vida norteada pelos ponteiros do relógio e os toques de campainha(s). Volta o tempo de acordar sem ter dormido tudo, dos gestos repetidos numa rotina rigorosamente cronometrada, de fazer todas as manhãs o mesmo percurso de autocarro, observando as pessoas, na sua maior parte emudecidas e alheadas diante de um écran de telemóvel, e imaginando-lhes as história e as vidas.
Daqui a nada é outra vez Outono, que já se anuncia nos dias que vão ficando mais curtos, o sol há-de tornar-se mais baço e o tempo mais fresco; e virão o vento, a chuva e o frio. Mas com ele virá também a poética nostalgia dos tons dourados que enchem as árvores e o chão; e a vontade de recato, intimidade e aconchego, numa alternância que se sucede e anuncia novos caminhos e outros desafios, tudo sempre igual e ao mesmo tempo sempre distinto.
Daqui a nada volto ao meu quotidiano que se faz à volta das palavras e à aventura inesgotável e imensa de fazer ver como elas podem ser importantes e enfeitiçar-nos, de como cada texto tem uma sonoridade e um ritmo próprios, e de como a forma como isso nos toca pode também transformar-nos e pensar o mundo e conhecê-lo e conhecermo-nos de outra maneira. Vamos a isso!...

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Hampstead, ou mais um filme da treta


O Verão, já se sabe, é de uma enorme pobreza quanto a filmes  em cartaz. Mas a imagem de Diane Keaton está para mim ainda de tal maneira colada às boas memórias de "Annie Hall" e de "Manhattan", que achei que mesmo assim valia a pena correr o risco de ir ver "Hampstead", mesmo se o título em português "Nunca é tarde para amar" indiciava já a temática demasiado batida do amor em idade avançada.
A história, baseada num caso verídico, como vem sendo hábito ultimamente, é mais do que previsível: a "tia" infeliz que se encanta com um "bom selvagem" com direito a um cheirinho de ecologia e defesa da vida "em contacto da natureza", para terminar no mais alto estilo do "felizes para sempre."
Enfim, nem Diane Keaton e Brendan Gleeson chegam para salvar o filme, que nunca nos consegue tocar verdadeiramente sob nenhum ponto de vista, e que é francamente muito "poucochinho".
E enquanto se espera que a rentrée traga de volta o bom cinema, o melhor é ir ficando por casa, ou, sei lá, ir ver o mar...

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Vulnerabilidade(s)


Por mais que me custe admiti-lo, a verdade é que na presença de um médico, qualquer que ele seja, me sinto de algum modo intimidada. É inevitável. De todas as vezes, toma-me uma estranha sensação que nem sei explicar bem. Talvez seja a inquietação diante de um veredicto que se espera sempre feliz, o nervoso miudinho que traz o desconforto do que não é certo nem visível, a intuição de que sabem mais do que querem dizer(nos) temendo que não o possamos entender, ou a esperança no bom resultado do que advém dos seus diagnósticos, das suas decisões, do trabalho preciso das suas mãos.
Veja-se o caso do dentista: como podemos não nos sentir diminuídos e especialmente frágeis quando estamos em posição inferior, no sentido literal, com um "guardanapo" ao peito e o médico inclinado sobre a  nossa boca escancarada e cheia de tubos e os mais diversos instrumentos, que nos impedem de dizer o que quer seja? Não me parece que alguém possa sentir-se confortável nesta situação, sempre constrangedora, quase humilhante. Enfim, podia dar outros exemplos, mas não me parece necessário. 
Precisamos dos médicos, hélas, dependemos deles até para grande parte do que é o nosso bem-estar e a nossa saúde (o mais precioso de todos os bens), mas eu não consigo livrar-me desta coisa assim meio infantil de estar sempre a querer fugir deles.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Sin ganas de na'


Hoje, faltam-me as palavras. E, quando é assim, a música chega-me... Pode ser esta:


Ou esta:


Ou...

Ou...
Ou...

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Cidades com alma





Tenho, na minha vida, pessoas e lugares que me são essenciais, porque amo cada um de uma forma distinta dos demais, e porque encontro em todas(os) singularidades que as(os) tornam únicas(os) e me enriquecem, encantam, tornam mais feliz.
As cidades são um pouco como as pessoas: às vezes enamoram-nos ao primeiro olhar; e depois, aos poucos, vã-se-nos revelando, podendo o tempo confirmar o arrebatamento inicial, ou  mostrarem-se, afinal, decepcionantes. 
Pude, há dias, acrescentar à minha lista mais uma cidade maravilhosamente complexa, que não esconde as suas feridas e consegue, ainda assim, para lá das cicatrizes, ter qualquer coisa que nos toca e que é uma forma muito própria de existir, exuberante e discreta, próxima e distante, dinâmica e sossegada.
Volto de Berlim fascinada com o nosso primeiro encontro, de alma cheia, agradavelmente surpreendida e com vontade de um dia voltar, para confirmar este apego e deixar-me seduzir como eu gosto, assim, devagar...

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Filmes de férias


"A fabulosa Gilly Hopkins" (The Great Gilly Hopkins no original - por uma vez um título traduzido à letra) é um daqueles filmes que sem ser extraordinário, acaba por revelar-se uma agradável surpresa. 
Face à escassa oferta de alguma coisinha de jeito em período estival, achei que um filme que incluía no elenco Glenn Close poderia ser uma boa aposta. Não me enganei. 
A actriz principal, soube-o depois, afinal também era uma "velha" conhecida minha: Sophie Nélisse, que eu vira bem mais nova no fantástico Monsieur Lazhar, há três ou quatro anos.
A história é relativamente banal e trata sobretudo do que, de uma forma ou de outra, já todos sentimos: que no que nos liga aos outros, no domínio dos afectos, nem sempre os laços de sangue são os mais consistentes e profundos.
Claro que o filme apela fortemente ao sentimento, mas na verdade consegue em simultâneo divertir-nos e comover-nos, porque é um filme acima de tudo enternecedor, e porque há em Sophie Nélisse aquele não sei quê de que só os grandes actores são feitos, que nos envolve, e nos agarra à personagem e à história. Vale a pena ver...

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Comédias de Verão


Este é um daqueles filmes de "usar e deitar fora", mesmo típico da silly season, mas que ainda assim nos fazem passar duas horas divertidas e dar umas boas gargalhadas, o que combina muito bem com os dias despreocupados e pachorrentos do mês de Agosto. E, além disso, é falado em francês, o que para mim, que adoro esta língua, é sempre um extra muito positivo.
De resto, "sous le même toit" é a história banal de um casal que apesar do divórcio se vê forçado a partilhar o mesmo espaço por razões económicas, acima de tudo, o que origina as mais hilariantes situações, com Gilles Lelouch como palhaço de serviço. Vê-se bem, mas é só isso...