terça-feira, 27 de outubro de 2015

Cansaço...


Às vezes também só isto: em silêncio e em sossego, ouvir música. Ouvir mesmo. E não dizer nada...

domingo, 25 de outubro de 2015

Mudou a hora


É quando muda a hora que o Outono assume toda a sua plenitude, na beleza nostálgica dos caminhos cobertos de folhas, nos tons dourados e castanhos das árvores que dominam as ruas, as praças e os jardins, na aragem dos dias que vão ficando mais frios, ou nas noites que chegam demasiado cedo; e também nos tons escuros ou cinzentos das roupas, na alegria que parece esmorecer, como se até a vida se virasse um pouco mais para dentro.
Mas, no fundo, todas as estações têm o seu encanto e significado próprios e é essa alternância que as torna maravilhosas. Eu prefiro a Primavera, explosão de cor, de luz e de alegria, mas logo depois o Outono, todo tristeza, contenção, recato, poesia. 

 (Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

sábado, 24 de outubro de 2015

Simplesmente confiar


Embora eu seja de um signo associado à inconstância - ainda que não acredite nada nessas coisas - sou muito mais dada à duração e à fidelidade do que posso parecer, até porque o definitivo também não é bem comigo.
E é por causa do sossego de conhecer e confiar, que conservo há anos a mesma cabeleireira, a mesma esteticista, a mesma manicure, o mesmo café de todas as manhãs. 
Pensei nisto hoje, enquanto lia revistas descontraidamente e a Sandra me cortava o cabelo. Que luxo tão bom, esta sensação de que ela sabe o que eu quero e a certeza de que no final fico satisfeita; e poder pensar no que quiser, sem o mínimo temor dos excessos da tesoura, ou de um pincel mais ousado que de repente me deixe loura.
Tal e qual como no amor. Pode o corpo animar-se com vontades várias na vertigem do desconhecido e na luz de novos olhares, mas há lá prazer maior e  melhor do que um cheiro e uma pele que se conhecem de cor, e aquele ombro ou colo da vida toda, onde se pode deitar a cabeça e, em silêncio, descansar...

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Certeza(s)


À vezes bastava-lhe vê-lo chegar para tudo voltar a ser verdade, o coração disparado a querer saltar do peito, o arrepio de pele  a denunciar vontades escritas no fundo dos olhos, que eram as mesmas de sempre e eram também sempre outras. Quem disse que tudo passa?

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Os gabarolas


Talvez por excesso de frontalidade ou seja lá pelo que for, tenho pouco paciência para quem quer parecer alguma coisa diferente do que realmente é, e vai ziguezagueando vida fora, de contradição em contradição, dizendo-se e desdizendo-se, tentando dar de si uma imagem que, acima de tudo, soa a falso.
Desconfio sempre de quem se acha "o máximo", tem uma opinião sobre tudo e mais alguma coisa como se fosse especialista de todos os assuntos, mesmos os mais inimagináveis, e não perde uma oportunidade para, de forma mais óbvia ou mais dissimulada, se auto-elogiar. Embora a falsa modéstia seja de igual modo insuportável. Enfim, por trás de tanta soberba e prosápia quanta insegurança não se esconderá?
São cheias de defeitos e imperfeições as pessoas que eu amo, mas gostam suficientemente de si para não necessitarem de se engrandecer aos olhos dos outros; e é também por causa disso que eu gosto tanto delas.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Saravá


Os amigos, como os amores, passam por nós ou vêm para ficar. Às vezes, por razões várias, e até sem razão nenhuma, parecem distanciar-se e, nas voltas da vida, perder-se a cumplicidade e a partilha. Mas, quando é genuíno, forte, e sério o que nos une, sobrevivem ao afastamento e ao tempo, ao silêncio e  às mágoas, e a tudo o que não se sabe ou não consegue entender-se. 
E enquanto hoje pensava nisto, lembrei-me que Vinicius de Moraes, nas suas próprias palavras o "capitão do mato (...) poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil",  faria 102 anos. E que mesmo não chegando a fazê-los, permanece ainda muito vivo.
Por isso, parafraseando-o em jeito de homenagem num dia que também é seu, aqui deixo aquela máxima do "Samba da Benção" que diz: "a vida é a arte do encontro /embora haja tanto desencontro nessa vida".
Ou, como diria Miguel Esteves Cardoso, "a glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas, nem planos, nem ansiedade."

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)


domingo, 18 de outubro de 2015

Simplicidade


No fundo, o que verdadeiramente importa é muito simples e natural. Nós é que temos a mania de complicar tudo...

sábado, 17 de outubro de 2015

Voluptuosamente


Quantas vezes não sentimos que é no toque da pele que melhor nos entendemos, nos instantes em que os corpos se encontram e os sentidos se confundem que tudo faz verdadeiramente sentido, e é emoção pura, sem precisar de palavras...

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Privilégio(s)


Como a maior parte das pessoas, gosto de dar e de receber presentes. De todo o tipo: simples ou requintados, banais ou originais, inesperados ou desejados, comprados ou caseiros. Por causa deles em si mesmos, mas sobretudo pelo afecto que lhes está associado. Porque é completamente diferente comprarmos uma coisa qualquer que queremos, ou recebê-la de alguém de quem gostamos e que gosta de nós.
Hoje, deram-me este livro. É o texto de uma palestra de Mário Dionísio na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, em finais de 1957, enquanto estava a escrever e publicar A Paleta e o Mundo, e reeditado agora pela Casa da Achada, por serem ainda actuais as questões que ele coloca, e em edição bilingue, para poderem ser conhecidas e discutidas também em universo francófono.
Deu-mo uma pessoa que me é muito querida, que marcou muito a minha vida, e de quem já aqui falei, na última sessão de mais um curso seu a que tive o prazer e o privilégio de assistir, que fala de literatura como ninguém, que me ensinou imenso sobre os livros e a sua relação com a (nossa) vida e a quem me liga hoje uma enorme amizade, que é também gratidão por ter sido a melhor professora que tive, e por tudo o que continua a fazer-me pensar. Uma honra, pois claro!...

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Vale Tudo?



De tudo o que tenho visto e ouvido nos últimos dias sobre a inenarrável situação que estamos a viver, e que diz tanto sobre o mais mesquinho e desprezível que pode haver nas pessoas, destaco o texto de Maria João Avillez, hoje, no "Observador".
Não sei o que me espanta mais: se é o descaramento que ouço agora mesmo Bagão Félix qualificar como falta de ética, se é haver algumas de vozes a defender a legitimidade deste oportunismo, a todos os títulos inaceitável, e a ambição absolutamente vergonhosa, que justifica todos os meios para atingir um fim pessoal.
O texto chama-se "O usurpador", e o título já diz tudo. E diz, por exemplo, isto:
(...) uma estreia absoluta em Portugal mas, hélas, fornecida por uma realidade, que embora enviezada e politicamente ilegítima é concreta, de carne e osso. Razões: nenhumas a não ser o pior da natureza humana.
(...) O país sabe que se trataria de uma usurpação, a Europa também, o mundo também. E "last but not least", os portugueses também sabem. Mesmo que fazendo deles parvos-parvíssimos se evoque "a Constituição" como fonte legitimadora de um governo eleitoralmente anormal.
(...) é preciso ir buscar a chave deste alarmante comportamento de António Costa ao pior que pode haver dentro de alguém.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Sossego e encantamento


Esta é a minha mais recente descoberta, um oásis de paz no meio da cidade, lugar tranquilo e quase silencioso onde me "sento e descanso", deixando os olhos e o pensamento vaguear sem pressa nem amarras, o cabelo à solta na brisa suave das tardes de Outono,  haja sol ou venham as nuvens alterar-lhe os brilhos e as cores, e permitir-me descobrir novos recantos e matizes, esquecida do tempo e de tudo, desfrutando do luxo que são estas pequenas pausas em  dias repletos de intensa actividade, e tão cheios de sons e de vozes, de horas certas e de deveres a cumprir.
Daqui saio sempre refeita e (re)conciliada com a vida, na mesma mansidão interior com que regresso das aulas de Pilates, em perfeita sintonia com o mundo, serena e feliz.
Conheço-o há muito, na verdade, mas só agora se me revela assim, no seu imenso esplendor e na discrição do seu encanto.Tudo leva a crer, pois, que este será um daqueles lugares, como outros, que em breve sentirei um pouco meu, porque o que entre nós existe é já promissora sedução, e está prestes a tornar-se um caso sério.

domingo, 11 de outubro de 2015

Contrariedade(s)


Há alturas em que os elementos parecem conspirar contra nós para que os contratempos surjam uns atrás dos outros em catadupa, numa espécie de maré de azar.
Foi mais ou menos o que me aconteceu este fim de semana, que foi exactamente o contrário do que deve ser: tempo de descanso e de lazer.
Mas, com calma, tudo acaba por resolver-se. E, no fundo, há que saber relativizar, porque as coisas têm, quase todas, muito menos importância do a que lhes queremos dar.

(Fotografia de Maria Cristina Guerra)


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

lugares para viver



Tenho com quase todos os lugares que habito uma relação de proximidade semelhante à que tenho com as pessoas: agradam-me muito ou nada, mas se gosto é sempre muito, sinto-lhes a falta, afeiçoo-me e, se por acaso tenho de os deixar, guardo-os no coração para sempre, porque são parte da minha história.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Encanto(s) do amanhecer


Agora, cada manhã é um pouco mais escura que a manhã anterior, o Outono instala-se e, aos poucos, vão-se adensando os cheiros, as  sombras e as cores próprias da época.
Mas há uma espécie de magia no silêncio e na quietude dos momentos que antecedem o sol, como se o mundo assistisse espantado e reverente ao milagre de mais um dia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Surpresa e confirmação


Tenho por Diogo Infante uma admiração desmedida, já se sabe; e, por isso, raramente perco o que ele faz. É que, seja lá o que for, tenho a certeza que será muito bem feito. Não há em Portugal, na minha opinião, nenhum actor que seja tão excepcional e multifacetado, mesmo sendo verdade há alguns outros que são também muito bons.
Mas é de igual modo verdade que prefiro vê-lo a solo, porque às vezes quem contracena com ele não consegue acompanhá-lo ao mesmo nível. Foi um pouco isto que senti na última peça a que assisti: Cyrano de Bergerac.
Desta vez tratava-se de uma comédia, o que fazia aumentar o risco. Gosto de comédia, mas é um género complexo, que apenas me entusiasma verdadeiramente quando é feito com humor inteligente e não se cinge a um apelo ao riso fácil e alarve, que é bem mais comum, e faz qualquer boa ideia degenerar facilmente num autêntico desastre. 
Sabia que, neste caso, seria Alexandra Lencastre a acompanhar Diogo Infante, o que adensava a minha expectativa. Nunca a tinha visto no teatro e como não vejo as telenovelas portuguesas (nem as outras) tinha apenas uma vaga ideia do que ela seria capaz de fazer. E que, confesso, não lhe era muito favorável pelas mais variadas razões. Pois bem: tenho de me penitenciar por este preconceito parvo. Alexandra Lencastre é uma surpresa e, para mim, também uma revelação, em perfeita sintonia com Diogo Infante - sempre genial -, com quem consegue fazer uma dupla sólida, coesa e equilibrada, que muito contribui para o sucesso da peça, chamada Plaza Suite, em cena no Tivoli, sobre o casamento e a(s) sua(s) crise(s) e para as duas horas divertidas que ela nos proporciona.
A minha amiga Helena bem me avisara. E não é que não acredite nela; muito pelo contrário! Mas, nesta como noutras coisas, nada como confirmar com os nossos olhos e ouvidos...