domingo, 27 de março de 2016

Recomeçar


A Páscoa é, desde sempre, uma época de que gosto muito. Mas este ano, para além dos coelhinhos, dos ovos, das amêndoas, dos sinos, das aleluias, para além do renascimento que ela pressupõe, para além da natureza a despertar em plenitude e energia boa, deslumbrante de luz e cor, ela traz-me também a chegada de um tempo novo, em que sinto que a minha vida recomeça, de facto, outra vez. E isso é tão bom...

quarta-feira, 23 de março de 2016

Une profonde tristesse


Às vezes,  as palavras não chegam. Outras vezes não são necessárias. E ainda, outras vezes,  as duas coisas....

segunda-feira, 21 de março de 2016

Leitores de Poesia


Apesar de ser um pouco avessa aos dias disto e daquilo que, dos mais ridículos aos mais pirosos, se tornaram já uma verdadeira praga, abro aqui uma excepção para referir a iniciativa do DN na comemoração do dia de hoje, a qual consistia em perguntar a seis poetas "o que espera um poeta de um leitor?". Gostei, em particular, da resposta de José Tolentino de Mendonça. Dizia assim:
O poeta não espera nada, e só assim está certo. Aquela experiência de solidão e graça, aquele misto de façanha e medo que se prova na construção de um poema pede esse absoluto desprendimento. O poeta não espera nada, portanto. Mas o poema espera tudo. Poder-se-ia dizer que espera ser lido, escutado mesmo que de passagem, criticado, analisado, reencontrado, refeito numa labareda ou até esquecido. Tudo isso. Creio, porém, que o poema talvez espere simplesmente um amigo que de longe venha, como diria Ruy Belo.
Ou, como diz Nuno Júdice: (...) a poesia continua a abrir horizontes surpreendentes num permanente convite à viagem para dentro e para fora de nós.

domingo, 20 de março de 2016

Começou o tempo de felicidade


És tu a Primavera que eu esperava
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante!

                                         (Sophia de Mello Breyner)

(Fotografia do blogue À esquina da tecla

sábado, 19 de março de 2016

As casas, as casas, as casas...



As casas onde vivemos guardam pedaços de nós, são testemunhas silenciosas do que aí passamos, lugares que fazem a nossa história. Tenho uma amiga que diz que levar alguém a sua casa é sinal de grande intimidade. E tem razão. A nossa casa é o lugar onde somos mais nós. Talvez por isso, as casas onde vivemos pegam-se-nos para sempre.

(...)
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
(...)
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei (...)
Oh as casas as casas as casas

                                               (Ruy Belo)

sexta-feira, 18 de março de 2016

Nuno Melo


No início, confesso, passou-me quase despercebido. Talvez porque aquele que ele próprio designou como "o melhor de nós" tinha uma luz que brilhava com demasiada intensidade, e um magnetismo tão especial que quase eclipsava quem quer que estivesse perto. Mas depois, aos poucos, fui-lhe percebendo o charme discreto e aquele "je ne sais quoi" que faz a diferença, misto de "enfant gâté" e homem de garra, de paixão e de racionalidade, que é, acho eu, a melhor maneira de estar na vida. A comissão de inquérito do BPN e o facebook  fizeram o resto, ajudando muito a que se tenha tornado uma das figuras do meu partido que mais prezo e em quem mais acredito.
Não importa. A verdade é que há muitas coisas que não se explicam e que são mesmo assim: sentimo-nos, às vezes, imensamente próximos de pessoas que mal conhecemos, apenas porque temos muito em comum, ou pela intuição de que alguma coisa nos liga, ideias, empatias, laços vários de emoção e de afecto. E gostamos delas só porque sim. E isso é tão bom, que deve ser dito.
Eu gosto muito de Nuno Melo, que faz hoje 50 anos, uma idade fantástica para ser celebrada. Por isso, este é um dia de festa para todos os que, como eu, gostam dele. Aqui fica, pois, um enorme abraço de parabéns!... 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Tempo


Poder enfim ter tempo. Ver e sentir tudo melhor.  Deixar que as horas passem vagarosas, inebriar-me de azul e de mar, e dar-me ao luxo de muitas preguiças boas, de gestos lentos, sentidos despertos, vontades à solta.
Agora, são mais dois dias, quatro, para ser mais rigorosa, e depois duas semanas na felicidade de esquecer o despertador e de preencher todos os minutos, e horas, e dias, com o que eu quiser.  
E então, simplesmente, perder-me a sonhar, esquecida das horas, ou maravilhar-me uma vez mais diante da beleza sublime das flores, do canto dos pássaros, dos aromas fortes da natureza a despertar, e do milagre da vida que é, afinal, tão bonita. 
As férias da Páscoa são desde sempre as minhas preferidas. E estas são mais especiais ainda: têm o sabor de uma vida nova e de tudo a (re)começar com a Primavera.

segunda-feira, 14 de março de 2016

O Senhor Contente


A minha primeira memória de Nicolau Breyner é a do "Senhor Contente", personagem que se lhe colou à pele, talvez por se adequar também à sua personalidade e maneira de viver.
E tanto, que nem imaginávamos que um dia pudesse morrer, ainda mais assim, de surpresa, deixando tudo e todos em suspenso.
O Pedro Correia tem aquela capacidade invejável de dizer em palavras claras e sentidas, sem lamechices nem rococós, o que muitos sentimos e não sabemos dizer tão bem.
Por isso, hoje, tal como já fiz outras vezes, "roubo-lhe" as palavras e trago-as para aqui. Estão no Delito de Opinião, um blogue que é também um pouco meu. O texto chama-se "Um triste adeus ao Senhor Contente". Obrigada, Pedro.

ng1319309[1].jpg
Grande actor – de teatro, cinema e televisão – Nicolau Breyner era uma das raras figuras de indiscutível dimensão nacional: tornou-se popular junto de portugueses das mais diversas gerações. Começou a trabalhar muito cedo, no início da década de 60, e ainda coexistiu nos palcos com gigantes da arte de representar, como António Silva e Ribeirinho. E trabalhou até ao fim, com jovens colegas que tinham idade para serem seus netos.
Artista multifacetado, tão à vontade na comédia como no drama, também evidenciava qualidades humanas que amigos e colegas têm recordado desde que, há um par de horas, soubemos todos da inesperada notícia do seu falecimento. Num meio muito fértil em invejas e rivalidades de todo o tipo, poucos conseguiram ser tão consensuais como ele. Apesar de estar nos antípodas da correcção política e nunca ter escondido as suas convicções – no plano estético, ideológico e até religioso.


Como tantos de nós, lembro-me dele desde sempre. Na televisão (onde em 1975 fez parar o País com o seu programa Nicolau no País das Maravilhas, em que popularizou o duo “Sr. Feliz e Sr. Contente”, ao lado de um Herman José em início de carreira). Na telenovela (onde foi pioneiro em 1982, como autor e actor, com a sua Vila Faia, que rompeu o monopólio brasileiro). No teatro (não esqueço a magnífica actuação dele em 2005 na peça Esta Noite Choveu Prata, monólogo de Pedro Bloch, em que se repartia por três personagens). E no cinema, em filmes tão diversos como A Vida é Bela?! (de Luís Galvão Teles, 1982), a cuja estreia assisti, e Os Imortais (de António-Pedro Vasconcelos, 2003), com um inesquecível desempenho no papel do inspector Joaquim Malarranha. O último foi há pouco mais de um ano, noutro filme de Vasconcelos, Os Gatos Não Têm Vertigens, em que fazia um papel emocionado e emocionante ao lado de Maria do Céu Guerra.
Fiz-lhe duas entrevistas, uma delas durante um jantar que partilhámos há uma década no Estoril em que deixou bem evidente outra faceta que tantos têm sublinhado: era um magnífico conversador. E um homem gentil, que também sabia escutar.


Nicolau, o Sr. Contente, teve uma vida cheia, repleta de episódios que dariam para vários livros e muitos filmes. Partiu hoje sem avisar, como por vezes lhe sucedeu em vida quando decidia pôr fim a uma etapa e iniciar outra. Para ele o tédio era uma espécie de pecado mortal.
Deixa-nos um pouco mais pobres e muito mais tristes. Mas com a recordação inapagável do seu talento, capaz de suscitar lágrimas e provocar sorrisos – numa perfeita simbiose da dualidade humana.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Despedida


E pronto. Paulo Portas despede-se este fim de semana do CDS. Foi um percurso longo e é certo que tudo tem um tempo. Mas eu não gosto de despedidas. E, contrariamente à voz corrente, acho que ninguém é substituível. Ainda que consiga entender tudo, e compreender racionalmente que é o momento certo para procurar outros caminhos, tenho pena. É inevitável.
Paulo Portas tem uma marca fortíssima. Por isso suscita amores e ódios quase iguais em grau de intensidade e opiniões inflamadas a favor ou contra. Seja o que for que venha a fazer a seguir, estou certa que o fará bem, como sempre. Com garra, com inteligência e com a mesma determinação apaixonada que o caracterizam. Portugal tem muito a agradecer-lhe. Mas, ingrato e medíocre, não o soube merecer.
Quando amanhã, em Gondomar, ouvirmos, emocionados e atentos, o seu último discurso de líder, teremos a certeza de que se encerra um ciclo e se inicia uma mudança de estilo e de rumo. E estou certa que, como ele disse, com o habitual sentido de humor que é herança materna, não será um "adeus", nem um "até amanhã, camaradas". Será um "até sempre".
O futuro do CDS é ainda uma incógnita. Quem lhe sucede não tem, decerto, uma tarefa fácil. O CDS pós-Portas pode ser pior, ou melhor, não sei, (tenho dúvidas, mesmo eu, que sou uma optimista), mas será seguramente diferente. Porque Paulo Portas é inigualável. E qualquer cópia seria sempre mais imperfeita que o original. Mas seja como for, para mim, tenho a certeza absoluta que, venha quem vier, Paulo Portas continuará sempre a ser, destacadamente, o melhor de todos!...

(Fotografia de Isabel Santiago Henriques)

segunda-feira, 7 de março de 2016

O dia em que vi o mundo pela primeira vez

Há pessoas que não gostam de fazer anos. Eu sou o oposto. Dispenso o bolo de velas e os "parabéns a você", que é a canção mais abominável que conheço. Mas gosto dos festejos, dos abraços e dos mimos, e de todas as celebrações. Porque a vida é uma maravilhosa dádiva de amor, que deve ser celebrada no milagre de cada novo dia, e em todas as datas festivas. As nossas, sobretudo.
Gosto de ter nascido num ano bissexto, num dia 7, com toda a simbologia que ele encerra, e no mês da Primavera, que é definitivamente a minha estação.
Foi no colo da minha mãe que conheci o mundo e dela herdei, também, entre muitas outras coisas, o amor a Lisboa e a paixão do mar. Por isso, neste dia, preciso de ambos. E de todas as pessoas a quem quero bem. Porque os afectos são o meu melhor e maior tesouro. E porque, em dias assim, sinto ainda mais que a vida é maravilhosa, e que tenho mil razões para me sentir feliz.

sábado, 5 de março de 2016

Mustang: um filme a ver


Tal como os cavalos selvagens em que o título se inspira, Mustang, primeira longa-metragem da turca Deniz Gamze Erguven, é um filme em que a exuberância, a sensualidade e a alegria de viver das suas jovens protagonistas se opõe às limitações de uma sociedade presa a tradições e preconceitos.
É um filme sobre o estatuto da mulher numa sociedade demasiado fechada, sobre liberdade e punição, mas é também um filme doce, enérgico e de uma frescura quase poética. 
Candidato ao Óscar do melhor filme estrangeiro, pela França, ganhou o Goya do melhor filme europeu, e os Césares da melhor montagem, do melhor roteiro original, da melhor música europeia e do melhor primeiro filme. Não será, decerto, uma obra-prima; mas ainda assim vale a pena vê-lo. Eu gostei.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Regressar onde se pertence


Não sei se só acontece comigo, ou se ficamos todos para sempre irremediavelmente ligados ao bairro em que crescemos, lugar de pertença, onde mesmo muito anos depois é impossível regressar sem o sentimentos de que ali continua a ser, de certo modo, a nossa casa.
Como explicar, então, a magia e a felicidade de poder voltar a morar perto do que nunca esteve longe, e redescobrir no movimento das ruas, nos passos apressados ou lentos de quem cruzamos, em novas rotinas e errâncias, o encanto de uma cidade que jamais se revela inteira, que muda com o tempo apesar de se manter a mesma, que se multiplica em cores, cheiros, luz e sedução?
Por aquelas voltas da vida que constantemente nos desconcertam e surpreendem, por um conjunto de ditosos acasos, posso em breve morar outra vez no coração da minha cidade, de onde na verdade nunca cheguei a sair, confundindo ainda mais as nossas existências, como acontece com quem se ama.
Voltar a viver no centro de Lisboa, num daqueles bairros típicos onde o antigo e o moderno coexistem em serena harmonia, é um sonho antigo que de repente se tornou real e, por isso, preparo-o com gestos vagarosos e cuidados,  entre a solenidade que associamos aos grandes momentos e a alegria um pouco pueril que têm todos os (re)começos.

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

terça-feira, 1 de março de 2016

A chegada do sol


Gosto muito dos dias que agora começam. quando devagar o tempo aquece, os dias se iluminam, as cores se intensificam e tudo parece adquirir um novo brilho.
São as flores amarelas e perfumadas do (meu) mês de Março que anunciam a Primavera e a vida nova que ela traz consigo. E o sabor dos primeiros morangos. E o dia dos meus anos...
É nesta época que ganho sempre, também, uma alma nova, que me apetece ir por aí, sem destino certo, com os cabelos ao vento, os sonhos à solta e o coração ao alto, a sentir que o mundo é todo meu.

(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)