quinta-feira, 30 de abril de 2015

Esquisitices


Detenho-me às vezes a observar atitudes e maneiras de viver que me parecem estranhas ou pelo menos incompreensíveis aos meus olhos e entendimento, mas logo desisto, porque só com as minhas já tenho muito de que me ocupar. Provavelmente,  eu é que sou esquisita...

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Canções da minha vida (XII)


 
Não sei bem por que razão me fui lembrar agora desta canção, que marcou a minha adolescência e juventude, num tempo em que, com a irreverência própria da idade, Brassens não podia faltar nos animadíssimos serões do meu grupo de amigos. Era a época em que cantávamos todos aos berros "quand je pense à Fernande, je bande, je bande, quand je pense à Félicie, je bande aussi..." e nos deliciava e envaidecia até ligeiramente saber que muita gente não percebia o que aquelas palavras queriam dizer.
Havia também os Moustakis, Ferrés, e  companhia. Havia, sobretudo, em todos estes hinos, entoados na alegria ingénua e na despreocupação com que vivíamos, a vontade de quem quer e pode tudo, misturada com sonhos de amores  eternos, corações palpitantes, paixões mais ou menos assolapadas, e a cabeça cheia de fantasias, hesitando diante de um sem fim de caminhos para experimentar e mundos para percorrer, na avidez e na surpresa da primeira vez.
Anos mais tarde, aluna do Institut Français, conheci Brassens de outra maneira, na sua vertente mais literária, de compositor-poeta.  E aí era já uma visão mais séria, ou quase isso.
Esta canção - "quatre vingt quinze foi sur cent" -, há anos que não a ouvia, mas o refrão ainda o sei de cor; e hoje, não pude deixar de sorrir às muitas memórias boas que me trouxe. Tem uma letra deliciosa, "à  Brassens". Aqui fica um bocadinho:
 
 
La femme qui possède tout en elle
Pour donner le goût des fêtes charnelles
La femme qui suscite en nous tant de passion brutale
La femme est avant tout sentimentale
Main dans la main les longues promenades
Les fleurs, les billets doux, les sérénades
Les crimes, les folies que pour ses beaux yeux l'on commet
La transportent, mais...

{Refrain:}
Quatre-vingt-quinze fois sur cent
La femme s'emmerde en baisant
Qu'elle le taise ou qu'elle le confesse
C'est pas tous les jours qu'on lui déride les fesses
Les pauvres bougres convaincus
Du contraire sont des cocus
A l'heure de l'œuvre de chair
Elle est souvent triste, peu chère
S'il n'entend le cœur qui bat
Le corps non plus ne bronche pas


Sauf quand elle aime un homme avec tendresse
Toujours sensible alors à ses caresses
Toujours bien disposée, toujours encline à s'émouvoir
Ell' s'emmerd' sans s'en apercevoir
Ou quand elle a des besoins tyranniques
Qu'elle souffre de nymphomanie chronique
C'est ell' qui fait alors passer à ses adorateurs
De fichus quarts d'heure

{au Refrain}
 

segunda-feira, 27 de abril de 2015

A falta que o Vasco nos faz...

 
Faz um ano, foi um dia triste. Vasco Graça Moura deixou de estar connosco neste mundo, embora tenham ficado  para sempre as suas palavras, as quais perdurarão até para além de nós.
Por mim, fazem-me agora muita falta as crónicas do DN (como esta, de Março de 2014 e ainda tão actual) e as quartas-feiras nunca mais foram iguais.
Diz Maria Alzira Seixo, uma das suas melhores amigas, que ele estará feliz onde estiver. Mas aqui, onde já não está, sobra a saudade.
 
Blues da Morte de Amor 
 
já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim.
 

domingo, 26 de abril de 2015

Ruptura

(Étienne Cabran)

Soneto do amor difícil

A praia abandonada recomeça,
logo que o mar se vai, a desejá-lo:
é como o nosso amor, somente embalo
enquanto não é mais que uma promessa...

Mas se na praia a onda se espedaça,
há logo a nostalgia duma flor
que ali devia estar para compor
a vaga em seu rumor de fim de raça.

Bruscos e doloridos, refulgimos
no silêncio de morte que nos tolhe,
como entre o mar e a praia um longo molhe
de súbito surgido à flor dos limos.

E deste amor difícil só nasceu
Desencanto na curva do teu céu.


                                                           (David Mourão-Ferreira)

sábado, 25 de abril de 2015

Mal menor


Sinceramente, eu não gosto do PSD. Como a maior parte das pessoas do CDS, também preferia que esta coligação não existisse. No entanto, na actual conjuntura, ela era inevitável. E  qualquer coisa é preferível a ver os socialistas deitar tudo a perder. Por mim, tenho a certeza absoluta que não quero voltar ao passado. E, como sempre, acredito em Paulo Portas.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Consolo


É assim há anos. A Sexta-feira é claramente o meu dia, uma espécie de oásis da semana, tempo de lentidão, de prazer e de encantos vários, com o fim de semana no horizonte e a possibilidade de corporizar vontades, ou de deixar as horas fluir, e sentir a alegria de saboreá-las sem pressa.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

O amor, sempre!...


Mesmo correndo o risco de poder ser considerada "suspeita", não posso deixar de falar aqui, uma vez mais, de Helena Sacadura Cabral.
Comecei por admirá-la à distância, mas hoje, por um daqueles inexplicáveis acasos que gostamos de considerar que estavam de algum modo "escritos na estrelas", tenho o prazer e o privilégio de a ter como uma amiga muito querida, de quem me sinto muito próxima e cúmplice, uma espécie de irmã mais velha com quem me entendo lindamente e me sabe muito bem rir, conversar, ou apenas estar.
Devo-lhe, já o disse muitas vezes, a minha iniciação no mudo dos blogues e tudo o que de bom essa novidade me revelou e acrescentou à minha existência. E muitas outras coisas que tenho aprendido com as suas palavras e o seu exemplo, embora possamos também muitas vezes discordar, o que é  natural. E saudável. Senão seria demasiado "enjoativo".
Helena é, de facto, uma pessoa especial, cheia de força e de energia, transbordante de vida. É sobretudo uma pessoas de afectos que, como ela própria diz, é o que todos procuramos, é nosso maior património e é o que nos salva quando tudo parece perdido. Porque afinal, para além da saúde, o que pode haver de mais importante que o amor, a amizade, a estima, o afecto, o carinho
A propósito do seu mais recente livro, que acaba de chegar às livrarias, esteve na televisão com a alegria e a naturalidade que a caracterizam e, como sempre, vale a pena ouvi-la.
Aqui:
http://www.tvi.iol.pt/programa/a-tarde-e-sua/53c6b3883004dc006243ce59/videos/--/ates--videos/video/5537d9620cf29846bc28b4a1/1

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Constatação


 
Tendemos, com frequência, a complicar o que é simples, em vez de seguir o coração e, simplesmente, deixarmo-nos levar...

terça-feira, 21 de abril de 2015

Memória(s)


A vida dura a vida inteira, o amor não. 
                                                                                       
                                                                                  (Miguel Esteves Cardoso)
 

domingo, 19 de abril de 2015

Feria de Abril





Depois da Semana Santa, a Feria de Abril é o momento mais alto do ano na cidade de Sevilha e tem lugar, geralmente, duas semanas depois da Páscoa.
Este ano será, tal como de costume, à meia-noite em ponto de terça-feira, dia 21 de Abril, que o alcalde dará início à festa com a cerimónia do "alumbrao", que é quando se ilumina a "portada" e se acendem todas as luzes do recinto, situado no bairro de Los Remedios, num espaço com cerca de 1.000.000 m2, que conta com 1047 casetas, distribuídas por 15 ruas.
A noite de segunda para terça é conhecida pela noite do "pescaíto", quando os sócios das casetas se reúnem para comer os tradicionais "pescados" (calamaresboquerones, pijotas, adobo, etc.) e dar início à festa que se prolonga pela semana toda, até à meia-noite de segunda (27 de Abril, desta vez) quando os farolillos se apagam e um espectáculo de fogo de artifício cobre o céu e anuncia o fim da Feria
Esta celebração, que marca profundamente a vida da cidade, existe desde 1847 e começou por ser uma feira de gado, que hoje ainda persiste, mas é acima de tudo um momento de convívio e de festa, ao som das sevilhanas, entre touros, cavalos, fatos camperos e de flamenca, passeios em carroça pelo "Real de la Feria", música, palmas, muitas cervejas e rebujitos  e  aquela alegria tão típica da gente do sul.
Para o ano, está prometido, quero estar em Sevilha nesta altura, para poder viver de perto toda esta explosão de brilho e cor, e para sentir na pele a exuberância  da Feria.



sábado, 18 de abril de 2015

Satisfação


Se tivesse que escolher o que há de melhor na minha vida não sei se saberia fazê-lo com rigor, que tenho sempre dificuldade em estabelecer hierarquias e dizer exactamente o que mais e o que menos. Mas não tenho dúvida que, nesse caso, os amigos ocupariam um lugar cimeiro. Porque só eu sei como me são fundamentais; e como em momentos de desânimo, de cansaço, ou de tristeza, há sempre alguém atento, com uma palavra de conforto, um riso, uma mão, ou um abraço, capazes de suavizar o desgosto e voltar a pôr tudo no seu lugar. Parece pouco, mas é imenso; porque é muitas vezes na simplicidade dos pequenos gestos que a vida se revela e nos mostra o seu lado mais bonito. 

terça-feira, 14 de abril de 2015

"Enquanto há língua há esperança"


O Anfiteatro 1 da Faculdade de Letras foi hoje demasiado pequeno para acolher todos os que quiseram estar presentes no Fórum/Debate pela defesa da Língua Portuguesa e contra a aberração do AO de 1990.
Durante mais de três horas foram muitos os escritores, jornalistas, professores e alunos dos ensinos universitário e secundário, tradutores, intérpretes, cidadãos, que se manifestaram contra este aviltamento da língua e as suas consequências. Foram muitos, de igual modo, os que não podendo estar presentes, fizeram chegar a sua opinião e adesão à iniciativa, como João Braga, Bagão Félix, ou Garcia Pereira, por exemplo. Naturalmente, Vasco Graça Moura foi  um nome muito citado. Nada mais justo! É por isso que o título deste post lhe presta também homenagem, citando as suas palavras, sempre certeiras.
Na impossibilidade de dar conta de tudo o que ali que foi dito, nas mais diversas e pertinentes intervenções, e enquanto aguardamos que o filme do encontro chegue ao Youtube, aqui fica a moção hoje aprovada:
O chamado "Acordo Ortográfico" ("AO") contradiz-se já na sua designação, porque nem é acordo (só válido se ratificado por todas as partes assinantes) nem ortográfico (uma vez que o seu texto prevê a existência de facultatividades). Implementado sem discussão pública, contra o parecer de conceituados linguistas e docentes de língua e literatura portuguesa, só por via de uma imposição autoritária é que tem sido possível a sua adopção, nunca consequente devido à destruição de uma normatividade articulada com a herança etimológica.
Após três anos e três meses da sua imposição no ensino e na administração Pública, os resultados estão à vista, traduzindo-se numa arbitrariedade de cortes de consoantes mesmo quando são pronunciadas. O chamado "AO" falhou assim os seus autoproclamados objectivos, nomeadamente a unificação das variantes do Português e uma alegada "simplificação" que corresponde a uma total insegurança ortográfica.
Por isso, os cidadãos reunidos no Fórum organizado por um grupo de docentes e alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 14 de Abril de 2015, exigem a imediata suspensão da obrigatoriedade do uso do "AO" nas escolas e na Administração Pública, bem como a organização de um referendo cujos resultados reflictam o modo como todos os utentes da língua pensam qual a opção ortográfica que melhor corresponde a um uso sustentado da mesma, no quadro das línguas europeias da mesma família.
Enfim, por enquanto, a todos quantos gostamos suficientemente da nossa língua para não poder aceitar vê-la assim maltratada e destruída, e colaborar nisso, resta-nos o direito à objecção de consciência e a resistência activa a esta ignomínia. Por mim, sei muito bem o que fazer; e manter-me-ei fiel àquilo em que acredito.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Desconcerto

 
Hoy quiero estar a oscuras /Para encender las luces del alma diz a letra de uma sevilhana que me vem à cabeça de repente, enquanto penso como certos momentos de incerteza, de mágoa, ou de decepção  parecem contaminar tudo até deixar que a tristeza e o desalento  se instalem, ganhem espaço e nos derrubem. Mas às vezes, só às vezes, também é preciso perdermo-nos para nos voltarmos a encontrar. 


domingo, 12 de abril de 2015

O fim do Institut Français de Lisbonne: escândalo e vergonha



Fui aluna do Instituto Francês quando ele ainda funcionava no Lycée Français Charles Lepierre. Guardo desses anos excelentes recordações, amigos que mantenho até hoje, e um vasto leque de professores que foram um exemplo e uma inspiração. Foi no Instituto Francês que fiz o meu verdadeiro estágio, que aprendi com o rigor de quem sabe o que faz a língua e a cultura francesas, que me apaixonei ainda mais por elas, que comecei a pensar em francês.
Quando o Instituto se mudou para a frente da minha casa e passou a chamar-se Franco-Portugais, deixei de ir à biblioteca da António Augusto Aguiar, onde passara muitas tardes a estudar, e tornei-me frequentadora assídua deste novo espaço, com uma oferta cultural interessante e diversificada, onde pude assistir a todo o tipo de eventos e fazer os mais criativos e inimagináveis cursos livres, como o de gastronomia francesa através das particularidades da diferentes regiões. E é apenas um exemplo. Há muitos mais.
Sobre a Mediateca do Instituto podia ler-se no site da CML o seguinte:
A Mediateca do Instituto franco-português propõe-lhe o acesso aos diversos aspectos da língua e cultura francesas. Distribuída por dois pisos, abriga a mais importante colecção documental sobre a civilização francesa existente em Portugal : 35.000 documentos dos quais 20.000 livros, 2.200 CDs, 1.900 vídeos, 200 DVDs e CD-ROMs, 80 títulos de revistas e 10.000 revistas antigas. Pode consultar-se livremente todas as colecções no local. O pagamento de inscrição só é exigido no caso de empréstimo domiciliário. Na qualidade de sócio, pode pedir emprestados livros, revistas, CDs, vídeos, DVDs e CD-ROMs à sua escolha.Certas colecções são particularmente ricas e englobam áreas de crucial importância, como sejam : As ciências humanas e sociais: 6.000 documentos essenciais sobre filosofia, psicologia, psicanálise, sociologia, ciência política e história. As artes: 5.000 livros, CDs, CD-ROMs e vídeos sobre cinema, teatro, dança, música, artes plásticas, arquitectura, moda e banda desenhada. A literatura: 6.000 romances, novelas, policiais, antologias poéticas, ensaios, críticas e biografias de escritores oferecem um vasto panorama da literatura francófona. A informação: 80 títulos de jornais, revistas e magazines abordam todos os aspectos da actualidade francesa e internacional.
O ensino da língua francesa: 3.000 livros, cassetes e vídeos destinados aos professores de francês e respectivos alunos. Finalmente, as crianças são objecto de uma atenção especial, tendo sido criado um espaço específico para elas, recheado de livros, revistas e banda desenhada.
Pois tudo isto está em vias de terminar, - parece que já em Maio ou Junho - sem que se perceba que  política cultural  e de língua é esta, que corta um laço tão fundo e tão antigo entre estes dois países e os afasta ainda mais, numa altura em que o Inglês vai ganhando espaço e assumindo uma hegemonia quase dictatorial, e na escola os alunos tendem a escolher o Espanhol como segunda língua em detrimento do Francês.
Completamente por acaso, encontrei hoje uma professora do Instituto, daquelas que marcam a nossa vida para sempre, e falámos também sobre isto longamente. Explicou-me que a tendência é agora, sabe-se lá porquê, virar um pouco costas à Europa e apostar no leste e na Ásia, para difundir a língua e a cultura francesas. Disse-me que em Berlim, um movimento de cidadãos conseguiu impedir o encerramento do Instituto Francês, mas que aqui, além da petição que já tem 6000 assinaturas, (https://www.change.org/p/sauvonsifp) há pouca mobilização da opinião pública, no nosso habitual conformismo, que nos leva a encolher os ombros diante de praticamente tudo.
Mas em França também há quem fale nisto: o Canard Enchaîné publicou esta semana um artigo sobre o assunto. O texto, de David Fontaine, diz assim:

Begag: bad gag à Lisbonne
À l'invitation de la chambre de commerce luso-française, Manuel Valls doit prononcer, ce vendredi 10 avril à Lisbonne, une conférence prometteuse: "France-Portugal: agir pour la croissance en Europe". Ou pour la décroissance culturelle de la France au Portugal? Car le Quay d'Orsay a décidé cet automne de fermer, pardon, de "restructurer" l'Institut Français de Lisbonne pourtant situé dans un bâtiment ad hoc construit en plein centre-ville en 1984, mais qui va être revendu... Adieu auditorium de 270 places, salles de cours, médiathèque!
Retour à la case départ: l'Institut, ou le peu qu'il en reste, sera repatrié dans des locaux plus exigus sur le site verrouillé de l'ambassade, située dans un quartier excentré. Avant de mourir, le doyen du cinéma mondial, le réalisateur Manoel de Oliveira, 106 ans, a eu le temps de parapher la pétition signée depuis décembre par tout le gratin portugais: 5400 noms, dont trois anciens ministres, les écrivains António Lobo Antunes et Lídia Jorge ou l'actrice Maria de Medeiros. La pétition assène ce coup de pied de l'âne: "En dépit de la gravité de la crise au Portugal, la fermeture du centre culturel portugais à Paris, l'Institut Camões, n'est pas à l'ordre du jour."
Recasé conseiller culturel et directeur de l'Institut Français de Lisbonne en décembre 2013, l'ancien sous-ministre de Villepin Azouz Begag s'avère un liquidateur zélé. Il s'apprête à virer six membres du personnel portugais, malgré des dizaines d'années d'ancienneté... Il a aussi fait supprimer en cours de route le poste de directeur adjoint et attaché de coopération, sous pretexte que sa titulaire lui déplaisait. Et il n'a plus adressé la parole à son attachée culturelle, tout en écourtant la mission de l'attaché audiovisuel.
Begag ne rigole pas et boycotte nombre de manifestations de ses services. Après avoir "reorganisé" le festival du cinéma français à sa façon, il propose désormais, faute d'auditorium, d'installer un "écran gonflable" devant la Cinémathèque portugaise! Ou de faire don des livres de sciences humaines de la médiathèque à différentes bibliothèques portugaises, en raison du manque de place dans les nouveaux locaux de l'ambassade. L'an dernier, il s'était mis en tête de brader une partie des bouquins du fonds, propoposés à la cafète de l'Institut pour une obole de 2 euros reversée à l'église du coin!
Girouette politique passée de Villepin à Hollande en passant par Bayrou, Begag au fil de ses interviews se voyait déjà conseiller culturel au Brésil ou défenseur des droits... Dans "Le Petit Journal" (27/02) il vante en bon fayot de Hollande son action à Lisbonne: "Le changement, c'est maintenant! L'Institut Français du Portugal revient par les portes du futur!"
Mais dans quel état...

Muito mais que lamentável, esta decisão é escandalosamente vergonhosa e acabará por prejudicar de maneira profunda os dois países.

sábado, 11 de abril de 2015

O avesso do avesso do avesso


Não tenho para ti quotidiano
mais que a polpa seca ou vento grosso,
ter existido e existir ainda,
querer a mais a mola que tu sejas,
saber que te conheço e vai chegar
a mão rasa de lona para amar.
 
Não tenho braço livre mais que olhar
para ele, e o que faz que tu não queiras.
Tenho um tremido leito em vala aberta,
olhos maduros, cartas e certezas.
 
Neste comboio longo, surdo e quente,
vou lá ao fundo, marco o Ocupado.
Penso em ti, meu amor, em qualquer lado.
Batem-me à porta e digo que está gente

                                                                        Pedro Tamen


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Papa ou Maman


Não será um grande filme, mas é daqueles que nos fazem passar uma hora e meia divertida e que são óptimos para "desopilar" (adoro esta palavra!). Ser um filme francês e ter, além disso, o charme de Laurent Lafitte que já vira pelo menos em "Les Petits Mouchoirs" fez-me correr o risco. Sem me arrepender.
A história começa por ser banal: um divórcio, decidido de mútuo acordo e tratado de forma "civilizada", mas que foge depois aos estereótipos do género, na medida em que, contrariamente ao que seria expectável, nem pai nem mãe querem a guarda dos filhos, o que desencadeia uma contenda levada quase aos limites,  - a lembrar a "Guerra das Rosas", -  sem nunca perder ritmo e a ser capaz de nos prender do princípio ao fim.
Consta ser a primeira longa-metragem de um tal Martin Bourboulon, de quem confesso nunca ter ouvido falar. Para o resultado final muito contribuem os actores, com especial destaque para os pais (Marina Foïs e Laurent Lafitte), e também para os filhos (Alexandre Desrousseaux, Anna  Lemarchand, Achille Potier). Apenas o final é demasiado "cor de rosa" e nesse sentido desilude um pouco. Mas saí muito bem-disposta. E afinal também é essa a função do cinema...


quarta-feira, 8 de abril de 2015

Para ouvir, sempre!

 

Dizem que "gostos não se discutem", mas eu acho que se discutem sim, embora cada um tenha os seus.
Luís Represas, já se sabe, é para mim "a voz". Tem acompanhado a minha vida toda e, às vezes, lembro com saudade tempos antigos em que ia ouvi-lo e vê-lo cantar todas as semanas, três dias seguidos, se calhasse.
Hoje já não é assim, mas continuo a gostar muito de o ouvir e faço-o frequentemente, sem nunca me cansar.
 
(Fotografia de Mónica Joady)
 
 

terça-feira, 7 de abril de 2015

O lado bom de todas as coisas


Um acaso menos feliz fez-me hoje ir ao Estoril ao fim do dia. Pude assim, inesperadamente, deter-me uns minutos silenciosa e quieta no azul acinzentado da quase noite, olhar a imensidão do horizonte, respirar o mar. Foi um momento muito breve, mas bastou para me apaziguar das atribulações que o antecederam e tudo me parecer, então, voltar ao seu lugar.
E pensei que  no fundo há sempre um lado bom, e que é sem dúvida também por herança materna que consigo descobri-lo com facilidade em todas as coisas e em  todos os instantes. Ou quase todos...

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Canções da minha vida (XI)


 
Houve uma época, pelos anos oitenta, em que me apaixonei seriamente pela música brasileira. Vi, ao vivo, os maiores cantores/compositores e até outros, menos bons: Chico, Caetano, Milton, João Gilberto, Simone, Gal, Bethânia, Nara Leão; e também Ney, Alceu Valença, Djavan... Alguns mais que uma vez.
Já não fui a tempo de Elis Regina, nem de Vinícius, mas nem por isso os ouvi menos. Há pois muitas canções com sotaque brasileiro que marcam a minha vida. Esta é apenas uma delas. E a voz de Elis torna-a inigualável.
No fundo, todos temos, tivemos, teremos na(s) nossa(s) história(s) momentos em que descobrimos  um sorriso quente que inebria, entontece, e nos deixamos fascinar.

domingo, 5 de abril de 2015

A alegria da Páscoa


Uma Páscoa assim, cheia de luz e de sol como esta, enche-me o coração. E, no entanto, todos os anos ela se assemelha e se distingue das Páscoas anteriores. Há os rituais e  as contingências, que podem ir variando com o tempo. O essencial mantem-se: emocionam-me as velas, os sinos, os glórias e as  aleluias, os cânticos plenos de júbilo e de exultação. Comovem-me e enternecem-me os afectos, os beijos e abraços, os bons sentimentos. A Páscoa toca-me muito mais que o Natal. E não está tão corrompida pelo consumo.
Não é por acaso que ela coincide com a Primavera, a renovação e a plenitude do recomeço, de que os ovos e os coelhos são os símbolos pagãos, em harmoniosa coexistência com o triunfo sobre a morte e o lado mais espiritual das celebrações.
Mas todos os momentos intensos da vida sentem-se sobretudo pelo lado de  dentro; e nunca precisam de muitas palavras.

sábado, 4 de abril de 2015

Ousar

 
Muere lentamente quien no viaja,
quien no lee, quien no escucha música,
quien no halla encanto en si mismo.

Muere lentamente quien destruye su amor propio,
quien no se deja ayudar.

Muere lentamente quien se transforma en esclavo del habito,

repitiendo todos los días los mismos senderos,
quien no cambia de rutina,
no se arriesga a vestir un nuevo color
o no conversa con desconocidos.

Muere lentamente quien evita una pasión
Y su remolino de emociones,
Aquellas que rescatan el brillo en los ojos
y los corazones decaidos.

Muere lentamente quien no cambia de vida

cuando está insatisfecho con su trabajo o su amor,
Quien no arriesga lo seguro por lo incierto
para ir detrás de un sueño,
quien no se permite al menos una vez en la vida

 huir de los consejos sensatos…

¡Vive hoy! - ¡Haz hoy!
¡Ariesga hoy!
¡No te dejes morir lentamente!
¡No te olvides de ser feliz!



                                                          Pablo Neruda

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Deus feito homem

Gauguin_Il_Cristo_giallo[1].jpg
O Cristo Amarelo, de Paul Gauguin (1889)

É o mais bonito texto que li hoje. De Pedro Correia, no "Delito de Opinião". E porque me parece que vale mesmo a pena conhecê-lo, aqui o deixa na íntegra:


Deus feito homem da gruta à cruz
 
 
por Pedro Correia, em 03.04.15
 
 
«Jesus chorou.»
João, 11-35 (o versículo mais curto da Bíblia)
 
A mensagem arrebatadora do Evangelho - e aquela que resume toda a essência do cristianismo - é a de um Deus que assume a plenitude da condição humana. Com os seus luminosos momentos de alegria, os seus lampejos de júbilo, as suas inevitáveis dores, a sua irrenunciável agonia. Como se a missão do criador ficasse incompleta sem esta experiência radical de abraçar por inteiro o ser débil, indeciso e angustiado que o barro divino moldou.
Até ao fim dos séculos, Jesus será inseparável da circunstância deste percurso terreno em que voluntariamente se irmana ao mais comum dos homens. Nasce pobre, numa gruta. Enaltece os humildes. Elege simples trabalhadores como discípulos. Rejeita sem vacilar o ilusório fulgor dos bens materiais. Perdoa os pecadores: «Eu não vim para condenar o mundo, mas para o salvar.» (João, 12-47). Enfrenta os fariseus com palavras tão actuais na manhã de hoje como há dois mil anos: «Vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e de maldade.» (Lucas, 11-39). E não hesita em dar a mais humana das interpretações à pétrea Lei de Moisés: «O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado.» (Marcos, 2-27).
Condenado sem apelo nem recurso, renegado pelos seus, vilipendiado pela multidão que aclama Barrabás, confrontado perante a prepotência de Caifás e a cobardia moral de Pilatos, crucificado entre dois salteadores como um delinquente pelo crime de blasfémia. Deus feito homem num mundo de homens que sonham ser deuses.
Pouco antes confessara aos discípulos em Getsemani que sentia «uma tristeza de morte». E ali mesmo implora numa prece que poderia brotar da voz interior de qualquer de nós: «Pai, tudo Te é possível, afasta de Mim este cálice!» (Marcos, 14-36).
Um cálice que, no entanto, beberá até ao fim. Imerso na condição humana da gruta à cruz.

Recolhimento

A Semana Santa atinge agora o seu momento mais significativo, misto de silêncio, solenidade e reflexão.
E comigo, em momentos assim, em que a fé se vive de maneira mais intensa, como em todos os outros, está a Virgem do Rocío, que sempre me guia e me acompanha.
 

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Abril

 
Aparte de otras cosas, en abril las lilas y en mayo las rosas
 
Agora sim, aí está a Primavera, toda esplendor e deslumbramento. Este é, mais que qualquer outro, o tempo de acreditar. De ser feliz...
 
(Fotografia de Juan José Troyano)