domingo, 30 de setembro de 2012

A tentação da preguiça



Não, eu não sou preguiçosa. Nem tenho paciência para pessoas que se esquivam a qualquer esforço, físico ou mental.
E, no entanto, adoro dormir e, de vez em quando, entregar-me ao prazer de não ter horários nem obrigações, de quebrar a rotina e de me deixar guiar apenas pela vontade de cada momento.
É no prazer de fazer tudo mais devagar que me permito olhar o mundo à minha volta com mais atenção, passear sem rota nem destino, descobrir pequenas coisas quase como se as visse pela primeira vez. E, com isso, ganho uma alma nova.
Ontem, levantei-me mais cedo do que é hábito aos Sábados e deixei-me encantar pelo Outono à minha porta. Depois fui  caminhando por Lisboa, porque a luz, os cheiros e o ritmo das manhãs de Lisboa são inigualáveis. E reencontrei, assim, aquela serenidade que me permite concluir que tudo na vida faz sentido.
Na verdade sinto um prazer especial em ter férias "fora de época", como se ter tempo para usar como quiser quando a maior parte das pessoas está ocupada desse um sabor maior e melhor à minha preguiça. Até dia 7 de Outubro, são mais 7 dias, muitas horas, muitos momentos, para ser (ainda mais) feliz.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Dias de Outono




"Ô le bruit doux de la pluie
Par terre et sur les toits... "
                                     (Paul Verlaine)


Gosto das primeiras chuvas, do cheiro da terra molhada, dos dias que se fazem mais curtos e do aconchego da casa, da paisagem em tons dourados e castanhos, da mudança de estação...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Amor Perfeito



Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinicius de Moraes


Há dias assim, em que o sentimento se sobrepõe a tudo, em que só o amor importa...
E, na sensibilidade dos poetas, encontramos o eco do que nos vai na alma. Hoje é isto!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O que faz falta



Estamos todos no mesmo barco e a situação não é fácil. Isso já todos sabemos. As soluções podiam ser outras? Talvez.
Mas o que faz falta é principalmente um discurso assim, claro, rigoroso e organizado, como o de Paulo Portas ontem, que nos explique o que se passa de uma forma que todos possamos entender, que nos faça reganhar esperança, encontrar consensos e acreditar que, juntos, podemos  e havemos de sair disto. Para envolver as pessoas e comprometê-las no caminho traçado. Para as ouvir e lhes falar. Para lhes fazer sentir que as suas vidas importam,  e que não são apenas os números, na sua imensa frieza, que contam.
Não concordo nada com os que o acusam de "querer estar fora e estar dentro simultaneamente". Concordo que "uma coligação não é uma fusão", que as diferenças de opinião existem (e ainda bem) e podem, e devem, manifestar-se. Confio no seu sentido de estado, no patriotismo que põe o país à frente do partido e, por essa razão, honra os compromissos assumidos e os leva até ao fim.
Como sempre acontece, eu ouço-o e acredito. E percebo o que nos quer dizer. E não não posso estar mais de acordo. É por isso que acho, cada vez mais,  que Portugal precisa de políticos assim!...

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A moda do fashion's night out



Irritam-me aquelas coisas que ficam subitamente na moda e a que as pessoas aderem quase sem saber porquê, só porque sim, no melhor estilo "Maria vai com as outras."
Foi por isso que nunca li um livro de Dan Brown, que me recuso a ler José Rodrigues dos Santos (cruzes! com tanta coisa interessante para ler...), que apesar do ar chocado de quase todas as pessoas ainda não experimentei o sushi, nem faço férias na neve...
A última moda é a do Fashion's Night Out. A ideia até era engraçada à partida. Iniciativa da Vogue, o evento tem lugar em várias capitais internacionais que incluem Nova Iorque, Paris, Londres e Milão e pretende estimular o consumo, mantendo as lojas abertas até mais tarde, em clima de festa, acompanhado por música e celebrações várias.
Em Lisboa, a primeira edição foi em 2010 e pareceu-me uma iniciativa interessante e divertida. Mas entretanto virou moda. No pior sentido da palavra. Aquele que me faz fugir "a sete pés", pois  o que poderia ser uma noite animada e diferente, tem-se vindo a transformar, de ano para ano, numa insuportável enchente que torna as ruas do Chiado intransitáveis, com toneladas de lixo pelos cantos, com gente que aparentemente só vai à Baixa  naquele dia, nem que seja  para beber uns copos sem pagar nada. Torna-se pois impossível entrar onde quer que seja e, em determinadas zonas, entre atropelos e empurrões, chega mesmo a ser difícil conseguir  coisas tão simples como respirar. 
Ontem, foi a terceira edição. Mas, para mim, acredito que tenha sido a última. Para o ano duvido muito que volte.... 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Parabéns, Paulo!


Sempre gostei de pessoas controversas, daquelas que se amam ou odeiam mais ou menos com a mesma intensidade, mas que não deixam ninguém indiferente.
Naturalmente, gosto de Paulo Portas! É o político com o qual mais me identifico. Porque a política tem de ser assim, uma mistura de paixão e racionalidade. Somos da mesma geração. E, na vida, muitas vezes,  sentimo-nos imensamente próximos de pessoas que nem conhecemos, apenas porque temos muito em comum. Digam o que disserem, eu acredito em Paulo Portas, confio nele e partilho as suas ideias, embora possa às vezes discordar em alguns pontos, que nesto momento nem recordo.
Admiro-lhe  a inteligência e a capacidade de trabalho, a educação e os valores, o rigor das palavras, o fervor com que se entrega ao que faz e a força com que defende aquilo em que acredita.
O Paulo faz hoje 50 anos. E 50 anos é uma idade fantástica para se comemorar! São muitos anos de uma vida cheia, com virtudes e defeitos, como toda a gente,  mas certamente com muito, ainda, para (nos) dar. Espero que  um dia, num futuro não muito longínquo, o Paulo possa ocupar um dos lugares cimeiros à frente dos destinos deste país, como merece e (se calhar) deseja. E nós com ele...
Hoje é um dia de festa para todos os que, como eu, apoiam o Paulo e gostam dele. Hoje é dia de lhe dar os parabéns!...

domingo, 9 de setembro de 2012

Quinteto de Lisboa


Apresentado como "um novo género musical que surge de uma grande vontade de ser português", o Quinteto de Lisboa, que reune alguns dos melhores músicos portugueses e uma espanhola (basca) de voz excepcional, fez a sua estreia mundial, ontem, ao vivo, em Lisboa.
E foi um acontecimento! Mais um notável e excelente espectáculo, mais uma  noite inesquecível, com garantia de lugar reservado na extensa lista dos "concertos da minha vida".
Este é um projecto que tem tudo para dar certo: em primeiro lugar, tem o talento do João Gil, que, para mim, é um génio, e que impõe a tudo o que faz uma marca de qualidade extrema. Como se isto fosse pouco, junta-se-lhe João Monge, excepcional letrista, numa dupla antiga, com uma história feita de cumplicidades  e parcerias várias, responsável por algumas das mais bonitas canções da música portuguesa.  E depois, ainda, o virtuosismo do José Peixoto, o profissionalismo discreto, mas seguro, do Fernando Júdice, a voz grave e bem portuguesa do Hélder Moutinho e a singularidade da voz e da presença, simultaneamente forte e elegante, da Maria Berasarte, a provar que uma estrangeira também pode sentir e cantar o fado e que são na verdade muito mais ténues do que parecem as diferenças entre Portugal e Espanha.
Era, pois, à partida, um concerto que prometia... Mas a realidade superou as expectativas para lá do que é possível imaginar. Tudo foi perfeito, marcado pela sobriedade, pela elegância, pelo bom gosto, pelo lindíssimo cenário, pela teatralidade adequada,  pela mistura perfeita de alegria e tristeza, de flamenco e de fado.
Quinteto de Lisboa é um nome para fixar! O disco sai no início do próximo ano, (apesar das cinco músicas que já podem ouvir-se na internet) e tenho a certeza absoluta que vai dar muito que falar... A avaliar pelos nomes envolvidos e por aquilo a que assisti no concerto de ontem, o que vem aí só pode ser mesmo muito, muito bom! E recomenda-se!...

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

À beira-mar




Numa altura em que por todo o lado se ouvem queixas, porque a crise, os impostos, a vida mais cara, a falta de dinheiro ou a corrupção e mais não sei o quê, quando só se fala de um país que arde aos poucos e que às vezes nos deprime e outras nos desilude, também é bom pensarmos no que temos de bom como, por exemplo, a sorte de estarmos "à beira-mar plantados"...
Por mim, cada vez que passo na marginal de Cascais ao fim da tarde e vejo aquela magnífica luz do sol reflectida na água, não posso impedir-me de sentir uma enorme satisfação interior e de me considerar uma privilegiada.
Afinal, também há tantas coisas boas à nossa volta...

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua. ( Mar, de Sophia de Mello Breyner)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

La Rentrée



Com o mês de Setembro, chega  a rentrée.  Assim mesmo, em francês, porque não há na língua portuguesa nenhuma palavra capaz de transmitir de forma tão forte e abrangente a infinidade de sentidos que ela encerra.
Gosto muito desta época em que os dias sabem a recomeço, não com a alegria berrante e renovadora da Primavera, mas com os cheiros e as cores do Outono, na melancolia do fim de férias, mitigada pelo  entusiasmo de tudo o que começa outra vez e promete ser novo e melhor ainda.
Para mim, a vida toda, a rentrée  significava, acima de tudo, regressar à escola. Sempre  foi em Setembro  e não em Janeiro que senti que  (re)começava mais um ano. Época de cadernos a cheirar a novo e de canetas por estrear, de novos projectos e de inconfessadas intenções, da cabeça cheia de ideias para pôr em prática, da vontade de regressar a um mundo sempre igual e, ao mesmo tempo, sempre diferente.
Na minha escola, a abertura oficial de cada ano lectivo era um momento quase solene, que reunia no refeitório todos os professores, para ouvir o director. E esse era, para mim, um momento verdadeiramente especial, aguardado  com  grande expectativa, às vezes até com ansiedade. Porque o que nos dizia não eram palavras de circunstância, vazias de sentido, assinalando apenas a formalidade do momento. Eram palavras fortes e de significado profundo, uma espécie de leitmotiv que marcava o ano. Durante cerca de meia hora, ouvia atenta e emocionada um discurso onde se combinavam a inteligência e a sensibilidade de quem sabe o que quer e para onde vai. De quem ama profundamente o que faz. Era sempre diferente, mas semelhante no essencial, aliando o sentido da festa ao do compromisso, uma espécie de "yes we can" avant la lettre.  Dessa cerimónia inicial eu saía todos os anos com o orgulho de integrar uma equipa dinâmica e empenhada, disposta a dar o melhor de mim e a contribuir também para fazer daquela escola um lugar onde trabalho e prazer se confundiam com naturalidade.
Agora, que pelo terceiro ano consecutivo não estou na escola, o sentido e a importância da rentrée perderam-se um pouco. E, no entanto, não consigo deixar de sentir que hoje começa  mais um ano. Ainda compro cadernos e canetas novas (menos, é certo!). Ainda  tenho vontade de fazer coisas diferentes, modificações maiores ou menores, novidades do novo ano.
Lá bem no fundo, sinto que é na escola, na sala de aula, com os alunos, no meio dos cadernos e dos livros, das palavras e das línguas, da poesia e dos autores, que estou no meu mundo. E até o nervosismo do primeiro dia de aulas me faz falta.
Mas, hoje, entrar na escola é uma mistura de sentimentos, de amargura e de saudade, de nostalgia de um tempo que eu sei que não volta  e da certeza dolorosa de já não pertencer áquele lugar, ao qual me dei inteira e que durante tanto tempo foi uma grande parte da minha vida.