sexta-feira, 31 de julho de 2020

Vantagens do teletrabalho


Veio com a pandemia e não se percebeu ainda se é apenas passageiro, em consequência das actuais circunstâncias, ou se veio para ficar, impondo novas maneiras de funcionar a adoptar para sempre.
E, apesar das dificuldades iniciais de ligação e de adaptação a novos métodos de trabalho por via remota, devo dizer que sou uma das suas mais fervorosas defensoras.
É verdade que não pode aplicar-se a todos os sectores e actividades, que se perde o lado da socialização, tornando-se assim mais individualizado e até de certo modo solitário, mas permite de igual modo uma melhor gestão do tempo, uma maior calma por se evitar o stress do trânsito, dos transportes e de todas as deslocações associadas ao trabalho presencial, as conversas que não interessam nada e só servem para perder tempo, o desgaste psicológico de todas as rotinas do ir e do voltar e um ambiente mais ou menos desagradável, consoante os casos e as pessoas.
Falo apenas por mim. O trabalho que faço não necessita de modo algum de ser feito presencialmente. Agora a funcionar em versão metade/metade, alternando uma semana presencial e uma semana em teletrabalho, posso afirmar com certeza absoluta que faço exactamente o mesmo em casa, mas que posso gerir melhor os horários e as tarefas, que tenho mais sossego e mais vontade, o que acaba por resultar, seguramente, em maior produtividade. Por isso gostaria muito que, mesmo quando isto tudo acabar, pudesse continuar a ser assim.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

A justa medida




Em todas as circunstâncias e situações é difícil encontrar o equilíbrio entre o que está certo e errado, o que é insuficiente ou excessivo, o que deve ser dito ou calado, feito ou desfeito, numa infinidade de caminhos e possibilidades, que implicam escolhas e decisões e as suas respectivas consequências.
O tema é complexo e delicado. O impacto da proibição das visitas de amigos e familiares a lares de idosos levanta questões de difícil resolução. Se é verdade que se evita, por um lado, a propagação do contágio numa população especialmente vulnerável, há que ter em conta, também, as fragilidades de todo o tipo inerentes a esta faixa etária, o que implica não apenas as satisfação das necessidades mais básicas, de higiene, alimentação e cuidados de saúde, mas tudo o que tem a ver com o bem-estar, a dignidade e os afectos, que não é menos importante. Porque é em situações de extrema debilidade que um abraço, um beijo, ou qualquer outra manifestação de meiguice e de amor pode fazer toda a diferença.
Assim, mais do que partir para a proibição dos contactos de forma generalizada, haverá, julgo eu, que ver a questão caso a caso, abrindo excepções, com todos os cuidados necessários, mas que permitam, de igual modo, minorar os efeitos psicológicos do isolamento obrigatório e do sentimento de abandono e distância a que estão sujeitos todos os que vivem nessas circunstâncias tão difíceis, privados por demasiado tempo da presença dos que lhes são queridos.
E porque ninguém pode saber com exactidão o tempo que tudo isto ainda vai durar, encontrar soluções pontuais e quase cirúrgicas é a única hipótese de minorar o risco de, para os poupar a  um morte causada pelo coronavirus, os matar aos poucos, de uma forma mais lenta e mais cruel, de solidão, de desamparo, de saudade, de tristeza, de desconsolo, de aflição e de desgosto.
Mas disto, infelizmente, quase não se fala...

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Ir por aí...





Neste ano em que o lema é "ir para fora cá dentro", podemos enfim aproveitar para ver, ou rever, o que está mais perto de nós e também vale muito a pena ser visitado.
Há já muitos anos tinha estado por aqui, mas foi há tanto tempo que pouca coisa recordo. Por isso, esta visita teve o sabor de uma primeira vez, embora isso não fosse totalmente verdade.
Naquele nosso vício de fazer comparações, há quem diga que Braga é a "Roma portuguesa", como há quem tente aproximar Aveiro de Veneza. Percebo a ideia, mas parece-me, ainda assim, desajustada. Porque não se comparam lugares, como não se comparam pessoas. Cada uma tem uma individualidade própria, que a torna diferente das demais e essa singularidade é, em parte, o que faz o seu encanto. Assim, eu que não gosto nada do Porto, tive em Braga uma agradável surpresa, tal como em Março me acontecera em Aveiro, ou em 2016 em Viana do Castelo.
Braga é uma cidade magnífica, antiga e moderna ao mesmo tempo, animada, cheia de luz, de história e de vida, com um forte cunho religioso, não só pelo grande número de igrejas, por ter a mais antiga diocese de Portugal, que data do século XI, o que está na origem da expressão "isso é mais velho que a Sé de Braga" como também pelos dois santuários relativamente próximos do centro da cidade, o do "Bom Jesus do Monte" e o do "Sameiro".
E porque o número de turistas se reduziu drasticamente, agora sabe ainda melhor visitar estes lugares de paz e de silêncio, situados no alto de  um monte verdejante e de onde, olhando a cidade lá em baixo, se tem um pouco a sensação de pairar sobre o tumulto citadino, ou de estar mais perto do céu e recuperar a tranquilidade que apazigua todos os males.
E mesmo para quem, como eu, gosta muito da sua cidade e nunca se cansa de passear pelas suas ruas, praças e jardins, é bom de vez em quando deixar-se seduzir pela beleza de outros lugares, respirar outro ar, conhecer pessoas, ver como se vive noutros sítios. E voltar renovado, com mais vontade e alento para enfrentar todas as contrariedades deste novo quotidiano tão estranho, desconcertante e insólito a que temos de nos habituar e ajustar, com toda a paciência do mundo.
E eu que tenho a  mania da Europa e das suas cidades cosmopolitas, que adoro França e Espanha de diferentes maneiras e por razões diversas, posso agora - porque não há muitas alternativas - aproveitar para conhecer um pouco melhor o meu país, o que acaba por ser, também, uma interessante descoberta. 

domingo, 19 de julho de 2020

Inconcebível


Que há pessoas em Portugal a passar por enormes dificuldades, que incluem o mais básico, que a ninguém devia faltar é, infelizmente, uma realidade que não é nova, mas que a pandemia e o confinamento vieram potenciar.
De então para cá, perto de mim, forma-se uma enorme fila à porta da Academia Militar para recolher comida à hora de almoço e de jantar. Quando, da minha janela, vejo toda aquela gente à espera de recolher uma refeição, arrepio-me sempre a imaginar como deve ser duro viver assim e quase me sinto mal de reclamar pelas limitações do nosso quotidiano actual, pelo tédio de não poder ir onde quero livremente, ou de estar há muito tempo sem ver pessoas de quem gosto muito, por força das circunstâncias. E então, tomo consciência de forma mais clara de que sou uma privilegiada e de como, tantas vezes, me queixo, ou aborreço, "de barriga cheia".
No entanto, há uns tempos, encontro com frequência na minha rua, e nas imediações da Academia Militar, pães, sopas e pequenas caixas plásticas com comida, junto dos caixotes de lixo, na beira dos passeios, ao pé das árvores, ou largadas de qualquer maneira, um pouco por todo o lado. E pergunto-me o sentido que faz ir buscar comida para depois a deixar pela rua, desperdiçando aquilo que seguramente fará falta a tantas outras pessoas que não o conseguem ter.
Enfim, tratando-se de situação tão recorrente, deveria ser de algum modo controlada, porque é um verdadeiro escândalo e uma imoralidade, que não pode deixar de indignar-nos.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Vive la France!


É um país que me apaixona, um dos meus amores da vida toda. Pela língua, antes de mais, pela cultura, pelas cidades, pela organização e pelo requinte, por essa mistura de "ordre, beauté, luxe, calme et volupté" de que falava Baudelaire noutro contexto (L'invitation au voyage) e que o tornam um país único, familiar e diferente, em simultâneo.
Não sei explicar: há nas ruas, praças e jardins de todas as cidades francesas, na arquitectura dos edifícios, na tranquilidade quieta e silenciosa das águas dos rios e fontes, um não sei quê, uma alma própria, que me seduz e me faz sentir  bem. Por isso digo às vezes, mais ou menos a brincar, que se acreditasse na reencarnação teria a certeza de ter sido francesa noutra vida.
E depois, tem Paris, que é para mim a mais bonita cidade do mundo, cheia de luz e de vida, sempre em inovação e em festa permanentes, grandiosa, romântica e fascinante como nenhuma outra.
Em França celebra-se hoje a festa nacional, em circunstâncias específicas decorrentes do tempo estranho que nos foi dado viver, por causa da pandemia.
Por isso, para já, não posso fazer mais do que esperar poder um dia voltar aos lugares que conheço e de que gosto tanto (Paris, Nice, Strasbourg, por exemplo) e conhecer outros onde ainda não estive, mas que possam, também, encantar-me sem conseguir resistir-lhes.

domingo, 5 de julho de 2020

Umas férias muito sui generis



Não é a minha estação preferida. Sempre me incomodaram um pouco os calores desmedidos do Verão e todas as imagens mais ou menos deprimentes que lhe associo, de que as praias cheias de gente são apenas um exemplo. Mas o Verão é também sinónimo de lazer, de bebidas frescas na brisa do fim da tarde, de poder olhar o mundo com mais calma, de pintar a vida em tons de azul, de inebriar-se de sol e mar, de viver sem pressa nem horários, na quietude serena e preguiçosa de se deixar levar pela vontade de cada momento.
Aqueles que, como eu, precisam com frequência de "arejamento", perguntam-se por estes dias o que fazer: se será seguro ir de férias, para onde ir, como, ou com que limitações e cuidados.
Que estranhos e inquietantes tempos vivemos, com medo de tudo, com precauções que nunca sabemos se serão excessivas ou insuficientes.
Mas, até por uma questão de "sanidade mental", o afastamento das todas as rotinas é fundamental. É preciso, pois, de vez em quando, respirar outros ares, ver outras pessoas e conhecer sítios novos, renovar-se, serenar, sentir-se em paz.
E porque tudo tem também um lado positivo e é a isso que temos de agarrar-nos, apesar das saudades de Espanha e de França, apesar de não poder este ano ir onde eu quero e posso, tenho agora a oportunidade de conhecer mais do meu país, onde também há, sem dúvida, muito que ver, e onde também posso conhecer melhor as cidades, caminhar sem rumo, deixar-me arrebatar.