segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Um amor assim...


E havia também alturas em que tudo era só só corpo, cheiro e sabor, arrepio e prazer puro, numa festa de todos os sentidos misturados, na excitação da vontade física, na urgência do abraço apertado, do peito contra o peito, na explosão do desejo, em momentos perfeitos de entrega imoderada e total, sem mais mundo ou vida que não fossem os seus corpos abraçados, confundidos, estonteados e felizes.


(Fotografia do blogue iznotmeizyou)

domingo, 29 de novembro de 2015

E é isto!...


Recapitulemos. A 4 de Outubro, a vitória da coligação de "direita" e da "austeridade" provou que o povo é masoquista e retardado. Horas depois, ou o tempo necessário para contar os deputados, apurou-se que afinal a maioria do povo derrotou a "austeridade" nas urnas e concluiu-se, com alívio, que o povo masoquista e retardado é minoritário. O exercício, então, consistiu em parodiar na internet e na nobre arte do comentário político a falta de competência aritmética da "direita", já que 122 lugares na AR são mais do que 107 - "Qual é a parte que não percebem?", repetia-se por aí. Dada a suprema importância dos parlamentares exigia-se que o PR indigitasse a aliança de esquerda sem ouvir nenhum. Enquanto isso, insultava-se "o Cavaco", que por sua vez indigitou Passos Coelho. Derrubado Passos Coelho, reclamou-se a nomeação imediata do Dr. Costa, ameaçou-se com baderna pública e decidiu-se que "o Cavaco", entretanto ocupado a receber meio mundo, não respeita a Constituição e o eleitorado, embora o homem agisse de acordo com a primeira e tivesse sido eleito em duas ocasiões pelo segundo (a parcela masoquista e retardada). Tudo, da sagrada "lei fundamental" à plebe, existe apenas para ser torcido a benefício da vanguarda esclarecida.
Hoje, com a cedência do PR à piedosa mentira da "inevitabilidade" do governo PS, enterrou-se (entre insultos) "o Cavaco" e passou-se a biografar os membros da coisa como se os ditos fossem para levar a sério. Não são. Desde logo são, sem excepção ou duvida, cúmplices de uma golpadazita - inteiramente "conchcinal", dirá o Dr. Costa - , o que por si define o respectivo carácter. À lupa, são no máximo antigos serviçais da autarquia, zombies "socráticos", favores, flores, emissários de interesses, em suma ninguém. Dissecar o currículo formal de cada um , mesmo agrupando os diversos agregados familiares que por lá andam, tem uma utilidade reduzida e não será grande contributo para prever o futuro e a essência do novo tempo, do novo homem, enfim da nova ordem emergente. A nova ordem está nos pormenores, e nem se esgota no rancho que tomou posse há dias.
(...)
O único "princípio" do PS é a convicção profunda e feroz de que nasceu para mandar nisto, custe o que custar. E, se custa muito resignarmo-nos à arrogância de rústicos, a eles custa pouco partilhar o poder com quem partilha a descrença na democracia e a crença na superioridade inata. Só espanta que o arranque demorasse tanto. A nova ordem, feita de brutalidade, retórica de 4ª classe (sem exame), intolerância, comparsas, falências, delírios, respeitinho e a terminal anexação do país pelo Estado, é um projecto velho.
Este é apenas um excerto do artigo de opinião de Alberto Gonçalves, hoje, DN, Chama-se "A nova ordem nacional" e vale bem uma leitura na íntegra, para se perceber, uma vez mais, como estamos, de facto, "entregues à bicharada", para usar uma expressão prosaica e apropriada. De resto, se dúvidas restassem, bastaria ver por alguns segundos o vídeo abaixo, para se perceber o nível. Patético, no mínimo...

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O regresso da rebaldaria facilitista


A nova maioria parlamentar decidiu hoje acabar com os exames nacionais de Português e de Matemática do quarto ano, com efeito imediato no ano lectivo em curso. Parece-me um emblemático prenúncio do que aí vem.
A argumentação que defende a medida e a sua urgência é, no mínimo, reveladora de uma enorme ignorância sobre o que se passa de facto. Segundo uma deputada socialista cujo nome não retive, "os exames desvalorizam a avaliação contínua". Desconhece esta senhora, decerto, que a avaliação contínua (ou interna) tem um peso de setenta por cento na avaliação final de um aluno e o exame de apenas trinta.
Há depois aquele argumento, que é o meu preferido, da "violência" que é uma criança de dez anos ter que realizar uma prova, do "trauma" e da ansiedade que ela provoca, da tenra idade das crianças sujeitas a tanta "pressão", a qual pode até degenerar em depressões e outras maleitas afins.
Sem esquecer o Bloco de Esquerda, ou o PCP, tanto faz, que nunca se esquecem de associar os exames a "uma visão retrógrada e conservadora da educação". Enfim, a conversa já é conhecida, mas vai-se repetindo até à exaustão.
Acho que desta vez só faltou mesmo a comparação com a Finlândia, ou qualquer outro país nórdico, com uma realidade em tudo semelhante à nossa.
Estranho muito, ainda assim, que só se tenha decidido acabar com exames do 4º ano. Acabe-se também com os do 6º, do 9º, do 11º e 12º. Vivam as passagens administrativas!
Porque foi à custa de ideias peregrinas destas, de modas pedagógicas que mudavam a cada ano ou quase e das mais duvidosas experiências, que a educação chegou onde chegou. 
Assim, é tudo muito mais fácil: cada um faz o que quer, passam-se os meninos de qualquer maneira e voltará a haver alunos que estão no sétimo ou oitavo ano sem saber ler nem escrever (e eu conheci vários...). Mas isso não importa nada. É que passa a haver muito mais "sucesso", que é o que se pretende afinal.
Enfim, "a cereja no topo do bolo" será provavelmente o regresso das "Novas Oportunidades". Como se não tivéssemos  já a Lusófona...

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Para lá dos contratempos


É que no fundo a vida é muito mais simples e mais bonita que todos os estorvos, contrariedades e questões triviais, mas irrelevantes, que às vezes amesquinham e ensombram os dias que passam. E afinal há sempre o sol e o mar, a música e a poesia; e os abraços e mimos de quem nos quer bem...

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O dia do Represas


Tem uma voz de que gosto muito, que tem acompanhado a minha vida toda. E, digam o que disserem, para mim, como cantor, será sempre "o maior". 
Hoje, o dia é todo dele. Aqui fica um grande abraço e o meu reconhecimento por me ter embalado tantas horas, boas e más, tantos dias, tantos anos. Parabéns, Luís!


(Estive lá, sim, e até apareço no vídeo...)

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Dois filmes medianos



Não sei se tenho tido pouca sorte, feito más escolhas, ou se realmente não tem havido filmes em cartaz daqueles fantásticos, capazes de nos "encher as medidas".
Os dois últimos que vi, não sendo péssimos, são dos que não deixam marca, nem se recordam durante muito tempo.
She´s funny that way, traduzido por "Ela é mesmo o máximo", é uma comédia que assinala o regresso de Peter Bogdanovich, realizador que fizera algum furor em certos meios intelectuais nos anos 70 e 80, e conta com Owen Wilson e Jennifer Aniston no elenco, mas ainda assim não convence  inteiramente, apesar de algumas  piadas e situações mais ou menos inteligentes e engraçadas.
Já o filme de John Wells, cujo título original, Burnt, foi traduzido em português por "À procura de uma estrela" e tem como protagonista Bradley Cooper acompanhado por um leque de outros nomes igualmente sonantes como Sienna Miller, Uma Thurman, Emma Thompson, ou Omar Sy é interessante sem conseguir chegar a ser um grande filme. Tudo em "lume brando", portanto...

domingo, 22 de novembro de 2015

A força de um abraço


Hoje, no Notícias Magazine, minha leitura obrigatória de todos os Domingos, vinha uma crónica de José Luís Peixoto, um escritor que não aprecio. E, no entanto, gostei da crónica. Chamava-se "O que dizem os abraços" e falava de um em particular, que o pai lhe dera com nove ou dez anos.
Dizia isto, por exemplo: "Juntar as pontas dos ombros e dar algumas palmadinhas nas costas não é um abraço. Escrever "abraço" no fim de um e-mail também não é um abraço. Indiferente ao desenvolvimento social e tecnológico, um abraço continua a ser duas pessoas que se juntam e se apertam uma de encontro à outra.
Esses rapazes que aparecem com cartazes a oferecerem abraços nos festivais de Verão têm graça e talvez sejam bem-intencionados, mas fazem publicidade enganosa. Não são os abraços que provocam as ligações, são as ligações que provocam os abraços."
Por coincidência, hoje também, li um texto impressionante de um aluno, chamado "batalha perdida", que falava da mãe que morrera de cancro quando ele tinha apenas nove anos. E dizia assim, a certa altura: "Todos os dias me lembro do abraço aconchegante que só ela me sabia dar."
Fiquei a pensar nisto. Há, de facto, abraços que não podem esquecer-se. Eu também gosto muito de abraços, daqueles muito apertados, e de um em especial, que me vira do avesso e, por instantes, me faz ver "la vie en rose."

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

La plus belle ville du monde


Quem me conhece sabe desta minha paixão, de como eu amo esta cidade como se fosse minha, e a acho a mais bonita do mundo mesmo sem conhecer muitas das que também assim são consideradas. E também do meu sonho poder viver nela durante um ano, apenas para lhe descobrir os inúmeros encantos, ou os recantos e segredos mais secretos; ou de como de tempos em tempos tenho que correr para lá, porque tenho que matar as saudades, e a cada regresso é a alegria e a felicidade de quem abraça lenta e fortemente um amor antigo, que já se conhece mas não deixa de surpreender. 
É por isso que, mesmo se o que se passou e passa ali nestes dias tem uma dimensão que não é apenas da cidade, nem do país, mas do mundo inteiro, eu não tenho conseguido deixar de pensar neste lugar maravilhoso que me pertence e onde pertenço, onde eu queria e não queria estar agora.

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima) 


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Testemunhos




Enquanto Paris se reergue na dor e o mundo com ela se refaz do choque dos últimos dias, há mil histórias de resistência, de coragem, de emoção. E enquanto na minha cabeça ecoa repetidamente um poema de Sophia que marcou a minha adolescência - "vemos, ouvimos e lemos / não podemos ignorar" - destaco dois exemplos de entre muitos que me tocaram.
A carta de Antoine Leiris, que perdeu a mulher, e as palavras do menino que assiste com o pai às homenagens feitas de flores e de velas que enchem a Place de la République e outras  ruas e praças de Paris: "C'est pour nous protéger, les fleurs et les bougies..."
(Para ler "ci-dessous" e para ouvir aqui:)

“Vous n’aurez pas ma haine”
Vendredi soir vous avez volé la vie d’un être d’exception, l’amour de ma vie, la mère de mon fils mais vous n’aurez pas ma haine. Je ne sais pas qui vous êtes et je ne veux pas le savoir, vous êtes des âmes mortes. Si ce Dieu pour lequel vous tuez aveuglément nous a fait à son image, chaque balle dans le corps de ma femme aura été une blessure dans son coeur. 
Alors non je ne vous ferai pas ce cadeau de vous haïr. Vous l’avez bien cherché pourtant mais répondre à la haine par la colère ce serait céder à la même ignorance qui a fait de vous ce que vous êtes. Vous voulez que j’ai peur, que je regarde mes concitoyens avec un oeil méfiant, que je sacrifie ma liberté pour la sécurité. Perdu. Même joueur joue encore. (...) 
Nous sommes deux, mon fils et moi, mais nous sommes plus fort que toutes les armées du monde. Je n’ai d’ailleurs pas plus de temps à vous consacrer, je dois rejoindre Melvil qui se réveille de sa sieste. Il a 17 mois à peine, il va manger son goûter comme tous les jours, puis nous allons jouer comme tous les jours et toute sa vie ce petit garçon vous fera l’affront d’être heureux et libre. Car non, vous n’aurez pas sa haine non plus.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Jardins da minha vida (II)



Oferecido à cidade pela infanta Maria Luísa em 1893, foi aberto ao público em 1914 e depois alargado e modificado por ocasião da Exposição Ibero-americana de 1929. Hoje, estende-se por mais de trinta hectares e inclui no seu interior, ou nas imediações, vários edifícios e monumentos emblemáticos de Sevilha, entre os quais se destaca a que é, talvez, a mais original de todas as Praças de Espanha.
Mas o que há de mais cativante e sedutor no Parque María Luisa é o silêncio e o sossego das suas manhãs quase desertas, a frescura verdejante que ameniza os excessos de calor das tardes do sul, o som contínuo dos guizos e dos cascos dos cavalos em passo lento, um ou outro pássaro que se manifesta em exuberante alegria.
Aqui, a calma é tão profunda que de imediato nos invade uma sensação  de preguiça boa, e a serenidade que se instala faz-nos ter vontade de ficar. Ou de voltar.

sábado, 14 de novembro de 2015

En deuil


PARIS SERA TOUJOURS PARIS


C’est Paris ce théâtre d’ombres que je porte
Mon Paris qu’on ne peut tout à fait m’avoir pris
Pas plus qu’on ne peut prendre à des lèvres leurs cris
Que n’aura-t-il fallu pour m’en mettre à la porte
Arrachez-moi le cœur vous y verrez Paris

C’est de ce Paris-là que j’ai fait mes poèmes
Mes mots ont la couleur étrange de ses toits
La gorge des pigeons y roucoule et chatoie
J’ai plus écrit de toi Paris que de moi-même
Et plus que de vieillir souffert d’être sans toi.



Louis Aragon

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O melhor político


Por mim, só tenho a agradecer-lhe: o excelente trabalho destes quatro anos, o contributo para a boa imagem de Portugal, o patriotismo, a educação, a classe.

Indignação


Diante do que já se anunciava e hoje não fez mais que confirmar-se, faltam-me as palavras. Esta sede desmedida de poder, o princípio de que vale tudo e que não se olham a meios para atingir fins que assentam em pura ambição pessoal, a ideia de querer levar a sua vontade avante por cima de tudo e de todos é, no mínimo, vergonhoso, imoral e ultrajante.
Como disse Paulo Portas: "O secretário -geral do PS escolheu o caminho do que é matemático possível, formalmente constitucional, mas politicamente ilegítimo." Ou ainda: "Um dia acabará por suceder-lhe manobra igual ou semelhante. E de tão alto cairá como a tão alto se quis guindar, sem que para tal o povo o elevasse."
O discurso de Paulo Portas, tão brilhante como sempre, ou mais ainda desta vez, vale a pena ser ouvido na íntegra. Aqui.
Mas, mais cedo ou mais tarde, não serão apenas os que hoje cantaram vitória a pagar o preço desta fraude. Infelizmente, vamos todos pagar muito caro este triste episódio da nossa história.
Por ora, resta-nos manifestar bem alto a nossa imensa indignação...

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Prazer(es)


A revista Notícias Magazine, que leio todos os Domingos, apareceu esta semana renovada. Diferente. Com mais opiniões. Entre elas as de Júlio Machado Vaz e Marta Crawford, em versão quase epistolar, alternando os seus textos, numa crónica chamada "Na volta do correio". Desta vez, o texto dela diz uma coisa com a qual concordo inteiramente. Isto:
Para mim o sexo é muito mais do que penetração. Comparo-o a um menu de degustação em que cada prato deve ser saboreado sem pressas de se chegar ao fim. É esse o princípio do prazer. Mas será que sabemos realmente saborear o nosso caminho, aproveitar cada momento, tirar o maior partido do que temos?

domingo, 8 de novembro de 2015

Jardins da minha vida (I)



Mesmo quem, como eu, sofre de urbanidade aguda, encontra no espaço de um jardim em plena cidade um encanto muito peculiar. Há nele uma paz revigorante, um silêncio e um sossego que nos permitem descansar, uma magia de beleza e serenidade que nos fazem sentir um conforto semelhante ao de um colo grande e bom.
E então, é como se o tempo se suspendesse e pudéssemos parar e permanecer quietos, pensar em nada, deixando-nos simplesmente arrebatar pela perfeição de um momento puramente contemplativo e, naquela sensação de beatitude que nos dá uma alma nova, sentir como pode às vezes ser boa a preguiça. 
Destes lugares maravilhosos onde me sinto em harmonia com o mundo, o Luxembourg é talvez o mais especial de todos. Em traços gerais a história é mais ou menos assim: Marie de Médicis, a viúva de Henri IV e mãe de Louis XIII, farta das intrigas da corte, decidiu retirar-se para um pavilhão de caça (hoje Palais du Luxembourg, sede do Senado, no interior do Jardim), que mandou arranjar e, ao mesmo tempo, construir os jardins. Isto por volta de 1600 e tal. E, por isso, há no Jardim a Fontaine de Médicis.
O Jardin du Luxembourg, em pleno Quartier Latin, Paris, é para visitar sempre que se quiser, mas eu prefiro-o ao entardecer. Seja em que estação do ano for. Porque o entardecer, ali, é diferente. Os parisienses, que adoram abreviaturas, chamam-lhe, de modo familiar: “Le jardin du lugo”.
E contrariamente ao que se passa connosco, os franceses aproveitam de forma quase exaustiva os inúmeros e extensos espaços verdes da cidade. É comum encontrar os jardins cheios de gente, a qualquer hora. E também no Inverno, mesmo quando a temperatura não é superior a cinco graus. Ao final do dia, em todo o caso, quase ao pôr-do-sol, o “Lugo” costuma ser tranquilo e silencioso. Por isso me sabe tão bem sentar-me nas cadeiras de ferro verde e deixar-me estar, apreciando a luz e o sossego em volta. Ah, que saudades...

Il y avait un jardin qu'on appelait la terre,
Il brillait au soleil comme un fruit défendu.
Non, ce n'était pas le paradis ni l'enfer
Ni rien de déjà vu ou déjà entendu.

Il y avait un jardin, une maison, des arbres
Avec un lit de mousse pour y faire l'amour
Et un petit ruisseau roulant sans une vague
Venait le rafraîchir et poursuivait son cours

Il y avait un jardin grand comme une vallée
On pouvait s'y nourrir à toutes les saisons
Sur la terre brûlante ou sur l'herbe gelée
Et découvrir des fleurs qui n'avaient pas de nom.


sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Spectre: muito bom, mas...



Um filme de 007 vale sempre a pena ser visto. Mesmo para mim, que não sou fã de filmes de acção. Mas estes são suficientemente bem feitos, aliam qualidade e bom gosto, charme e adrenalina, argumento e ritmo intensos, efeitos especiais e humor, tudo nas doses certas.
Spectre tem uma sequência de abertura verdadeiramente arrebatadora e depois amolece e prolonga-se um pouco para lá da conta.
As "bond girls" de serviço cumprem o seu papel no essencial, com vantagem óbvia para Mónica Bellucci que mantém o "sex appeal", apesar das marcas visíveis da passagem dos anos (ou até por causa delas). Já Léa Seydou não consegue nunca parecer-me completamente convincente, neste como noutros filmes - La vie d'Adèle, por exemplo - mas deve ser problema meu, que nunca vejo nela garra suficiente para dar credibilidade aos papéis com que é presenteada.
Desta vez concordo com a crítica. O filme é muito bom. Mas o anterior é talvez ainda melhor. Até na música que o acompanha...

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Caminhos para Deus


O livro foi hoje posto à venda e eu tenho sobre ele uma imensa curiosidade. E, mesmo sem o ter lido, consigo antever a sua excepcionalidade. Sei que ao dizer isto posso ser considerada muito mais do que suspeita. Porque a Helena que todos conhecemos, que eu comecei por admirar como acontece com a maior parte da população portuguesa, pelo menos, que é um exemplo de força, de coragem e de alegria, é agora -  por um daqueles acasos do destino que se acredita estarem há muito escritos nas estrelas  - uma pessoa que faz parte da minha vida, uma amiga muito próxima e muito querida, a quem estou profundamente ligada por fortíssimos laços de amizade e estima.
Por isso já não consigo dissociar a Helena autora da "minha" Helena, que está para além dessa imagem comum, porque é a que tenho no coração. Por isso, também, tudo o que lhe diz respeito me interessa e me toca.
Mas este livro é diferente, eu sei. Mais íntimo e ousado. E sei muito de como ele surgiu e foi crescendo, o que aumenta a minha expectativa.
Já estava à venda no Corte Inglés, mas não o comprei ainda. Prefiro guardar-me para o lançamento, que será, de igual modo, um momento especial.
É uma livro sobre a espiritualidade e a fé, mas estou certa que é também um livro de amor e de afectos, onde todos nos poderemos rever e encontrar.
E, se alguém tem dúvidas, basta ouvi-la aqui, na primeira pessoa. Grande Helena!...

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Esta confusão em que estamos metidos




A propósito dos dias estranhos que temos vivido no último mês - e sabe Deus o que ainda vamos ver acontecer - tenho lido e ouvido muita coisa. Do mais interessante ao mais disparatado, opiniões com as quais concordo e outras de que discordo em absoluto, umas simples e outras muito rebuscadas, muito bem escritas, ou nem tanto.
Hoje, encontrei no "Observador" um texto de Rui Ramos de que gostei. Chama-se "A última golpada e não resisto a trazê-lo até aqui. Diz isto:

Em Portugal, não entrámos numa época de polarização política, mas de golpismo parlamentar e de confusão ideológica. O perigo não é a guerra civil, mas o apodrecimento do regime.
Vivemos há um mês no país dos cenários. Subitamente, tudo se tornou possível. Pela primeira vez, a democracia portuguesa pode ser governada por quem perdeu as eleições. Para chegarem ao poder, os derrotados de 4 de Outubro prestaram-se à mais extraordinária ginástica: António Costa esqueceu o seu precioso plano Centeno, o BE rifou a  intransigente oposição ao Tratado Orçamental, e o PCP pôs no sótão a sua implacável campanha contra o euro – em conjunto, renegaram todas as propostas e bandeiras com que pediram votos e convenceram os eleitores. Quem votou no PS porque era um “partido do centro”, vê-o agora a perfilhar as bolas que o BE e o PCP lhe atiram; quem votou no BE e no PCP porque eram “contra tudo”, vê-os agora a aceitar tudo. O poder corrompe, e o poder de uma maioria parlamentar forjada no desespero e no cinismo da derrota, corrompe muito mais. 
António Costa transformou um dos maiores fracassos da política portuguesa numa vitória: é como se D. Sebastião, depois de perder em Alcácer-Quibir, tivesse reaparecido como sultão de Marrocos. Ora, o que custa, nestas coisas, é a primeira vez. Uma golpada nunca é a última golpada. Qual é a próxima? O PCP e o BE vão “entalar” o PS? Ou é Costa quem vai “entalar” o PCP e o BE? As pensões e os salários sobem mesmo, ou isso é apenas outro embuste, para cair em Janeiro, a pretexto dos “mercados” e da “Europa”? Manter-se-á Costa fiel aos seus parceiros de ocasião, ou tentará mudar de montada e obrigar o PSD e o CDS, com a ajuda de Bruxelas e do próximo presidente da república, a assumir a “responsabilidade” de lhe viabilizar o governo? As esquerdas serviram-lhe para chegar ao poder; vai a direita servir-lhe para lá ficar? Ninguém sabe. Nada, a partir de agora, é impossível. 
Quem pensa que em Portugal entrámos numa época de polarização e de ideologia, está talvez enganado. Entrámos na época do golpismo parlamentar e da confusão ideológica. O perigo não é a guerra civil, mas o apodrecimento do regime através da quebra de todas as regras e da degradação de todos os projectos. A política desligou-se da sociedade. A velha regra do vencedor das eleições governar tinha uma razão de ser. Não era só permitir governos minoritários num sistema que dificulta maiorias absolutas. Era mais do que isso: era manter alguma relação, mesmo que esforçada, entre o voto e as soluções de governo. Quando, a meio da noite eleitoral, os resultados ficavam definidos, o eleitor podia ir para a cama, porque já sabia quem iria ser o primeiro-ministro. O cidadão tinha assim a sensação de haver decidido o governo. Isso acabou. A partir de agora, o eleitor vota, mas sem ideia nenhuma do que pode resultar desse voto: tudo dependerá das intrigas e das combinações dos chefes políticos. 
Entre o eleitor e o governo, a oligarquia inseriu o parlamento como uma camada intermédia de enredo e de manipulação, onde os derrotados se transformam em vencedores e os partidos anti-euro reaparecem como partidos do euro. Para a metamorfose da nossa política estar completa, falta apenas a atomização dos partidos em pequenos grupúsculos imprevisíveis. Então, as possibilidades de combinação serão ainda mais infinitas e vertiginosas. 
Em Portugal, a oligarquia libertou-se dos eleitores. Atreveu-se a isso, porque imagina que já não tem diante de si cidadãos, mas apenas dependentes do Estado, que pode rebaixar à vontade. No meio disto, estão os grandes interesses (empresariais, corporativos, sindicais), cuja margem de manobra vai aumentar, e os grandes ingénuos, convencidos que isto é a “democracia”, quando é apenas a podridão.

domingo, 1 de novembro de 2015

O que nos fica dos que partem


Não tenho de todo o culto dos mortos, não gosto de visitar cemitérios em circunstância alguma, e menos ainda nestes dias em que vai toda a gente. Respeito muito, no entanto, quem o faz.
E, contrariamente aos que conseguem encontrar beleza e paz nestes espaços, só vejo neles soturnidade, assim como, para mim, há em todos os rituais associados ao fim da vida terrena qualquer coisa de lúgubre que me impressiona e incomoda. 
Não sinto, por isso, necessidade ou desejo de levar flores aos mortos, porque é em vida que gosto de homenagear e mimar as pessoas a quem quero bem; nem é no cemitério que me sinto mais perto dos que já cá não estão, porque não os associo a tristeza nem a desconforto.
Dos que partiram ficam-me as recordações, as ideias, as acções, os ensinamentos e tudo o que de bom e mau fomos vivendo ao longo do tempo, que é a marca indelével que deixaram em mim. É com ela que vivo. É ela que, passada a surpresa inicial do momento da partida - a morte surpreende-nos sempre - a dor da perda, o momento do luto, no-los traz de volta, em lampejos fugazes que nos chegam através de um lugar, de um objecto, de uma palavra, de uma canção. E lembrá-los assim é a mais bonita e singela forma de os voltar a ter próximos, no pensamento e no coração.

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)