sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Lua Cheia



"São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Deve andar perto uma mulher
Que é feita de música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua. "  (Soneto do Corifeu, de Vinicius de Moraes)

Esta noite é  lua cheia, pela segunda vez este mês. E, quando isso acontece, chama-se lua azul (Blue Moon). 
Misteriosa, sedutora, inspiradora, aconchegante, romântica; quem é que nunca sonhou ao olhá-la?

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Calma!



No blog da Helena Sacadura Cabral, que sigo atenta e fielmente, havia ontem um post chamado "Tentar ser feliz" que parecia ter sido escrito para mim.
A propósito da nossa capacidade de "distinguir o essencial do acessório", dizia: "Se todos fossemos preparados para gerir as emoções ( ...) eramos  de certeza mais felizes".
A verdade é que na última semana me tenho sentido um pouco mais infeliz (bom, reconheço que o termo é demasiado forte para a situação), mas pelo menos desalentada com a mudança de espaço de trabalho de uma sala luminosa e com vista para a Av. de Roma, de um gabinete com mais duas pessoas, para uma espécie de "sótão", de tecto baixo e paredes cinzentas, de onde só vejo uma nesga de céu,  com nove pessoas barulhentas e desarrumadas à minha volta, que têm pouco a ver comigo.
No fundo, sei que isto é uma questão menor, que provavelmente vou habituar-me à nova realidade, que apesar de tudo prefiro estar aqui do que numa escola onde sei que o meu quotidiano seria ainda mais intranquilo.
Enfim, vou ter de recorrer ao meu lado mais "zen"...
E, como diz a Helena, "tudo o que é bom deve ser feito devagar, sentido devagar, gozado devagar". Mas essa é uma aprendizagem que se vai fazendo em cada dia, porque a serenidade vai-se refinando com o tempo.


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Mãe




Para mim, este é o mais bonito de todos os sorrisos, o que sempre me serenou nos momentos de fragilidade ou tristeza. Foi este sorriso que me ensinou, sem palavras, que a vida deve encarar-se com alegria e boa disposição.
Por isso, seja como for, a  minha mãe, para mim, será sempre este sorriso tranquilo e esta imagem de felicidade.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cidade maravilhosa


Abriu a janela e respirou fundo. Sorriu. Conhecia bem a cidade. Sentia-se em casa. E, na verdade, apesar de também a atrair o mistério do desconhecido total, gostava de regressar aos lugares que lhe davam aquela sensação de aconchego e segurança, sabendo como e por onde mover-se, repetindo percursos, refazendo caminhos que já lhe eram familiares de tanto os ter feito, relembrando todas as vezes em que  passara naquelas ruas, praças, ou jardins, nas mais diversas companhias e em todas as estações do ano.
Mas desta vez era diferente: era a primeira vez que estava sozinha, longe de tudo, longe de todos, a sós consigo e com os seus pensamentos, dona do tempo, deixando-se guiar exclusivamente pela sua vontade.
Depois saiu para caminhar pelas ruas, sem destino nem motivo que não fosse o prazer de ter a cidade só para si e deliciar-se como quisesse. Quase sem pensar, dirigiu-se para o centro, para a zona da catedral e do Bairro de Santa Cruz, como sempre fazia, talvez porque  era o sítio onde se tornava mais intenso o inconfundível cheiro a flor de laranjeira, tão característico.
Havia naquela cidade, sempre acolhedora e calorosa, uma magia e um encantamento que a faziam sentir-se bem. E, pelo menos uma vez por ano, ter vontade de voltar.  Dois ou três dias bastavam. Não sabia explicar o que havia ali de tão especial: o sol, o clima de festa, entre "tapas" e "copas", as ruas a fervilhar de gente ao fim do dia, em contraste com a tranquilidade da  hora da sesta, a alegria da música "a compas de sevillanas", misturada com um acentuado fervor religioso... Tanta coisa que a fazia feliz....
Parou na ponte e olhou longamente o rio, sereno, imenso, lindo. Pensou que aquele encontro com o mais fundo si era uma coisa que lhe faltava fazer. Lembrou-se  do mundo que deixara para trás e por instantes apeteceu-lhe ter consigo a  companhia da pessoa que mais queria. Mas sabia que ninguém é de ninguém, porque a vida lho ensinara, e que o ideal é aproveitar ao máximo tudo o que temos de bom e que, às vezes, nem nos damos conta, ou tomamos como garantido.
Atravessou a ponte em direcção a Triana, o  lado mais popular e boémio da cidade, e caminhou pela calle Bétis, junto ao Guadalquivir. Sentia-se livre, capaz de enfrentar qualquer desafio, capaz de viver tudo outra vez, mas de outra maneira, reconciliada com o mundo e com a vida, naquela cidade distante e ainda assim tão próxima, apenas à distância da vontade de ir, onde se sentia em paz. Na cidade que lhe parecia estar sempre à sua espera.
Sorriu de novo, pensando que a sabedoria suprema reside na forma como se vive a vida. E, adentrando-se pela ruas do bairro, continuou a caminhar...

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Poesia



É um dos grandes poetas da língua portuguesa, talvez pouco divulgado entre nós.
Na minha sala de aula, o seu poema "Para sempre",  sobre as mães, era leitura obrigatória,  em comparação com o "Poema à mãe" de Eugénio de Andrade.
Era:

"Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
É tempo sem hora,
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E a chuva desaba (...) "

E

"No mais fundo de ti
Eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O retrato adormecido
No fundo dos teus olhos (...) "

Drummond de Andrade morreu há 25 anos. Aqui fica um bocadinho da sua poesia:

O Chão é Cama para o Amor Urgente

O chão é cama para o amor urgente
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama

E para repousar do amor, vamos à cama.
(Carlos Drummond de Andrade)

Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Perto da perfeição



A luz do fim da tarde sobre o rio, uma brisa suave, a esplanada quase vazia, em tons de azul e branco, a cidade semi-adormecida na preguiça do calor do Verão... Há poucos prazeres assim...
Isto é Lisboa em Agosto.
E de que é que eu preciso mais para ser feliz?

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Cartas de amor



Ando a ler este livro: "Cartas de Amor de Fernando Pessoa e Ofélia Queiroz".  E, a propósito dele, tenho reflectido sobre uma série de questões relacionadas com o  interesse que pode ter, ou não, este tipo de textos.
Ainda há pouco tempo, a Helena Sacadura Cabral de quem sou uma fã cada vez mais incondicional, publicava no seu blog um post onde dizia: "As cartas são bocados de nós e contam histórias de um tempo que passou. O seu valor reside  no olhar de quem as recebeu e naquele de quem as escreveu. Deixá-las cá ficar, significa que outros olhares se debruçarão, impiamente, sobre elas. E, a mim, isso passou a desagradar-me.
Neste momento, ando a preparar-me para queimar as cartas que, ao longo da sua vida, o meu filho Miguel me enviou e que contam um amor que é nosso e só nosso. Admitir que, um dia, alguém que não eu ou ele as leria é impensável.
Depois hei-de abalançar-me a outras missivas que conservei e que não quero nem devo partilhar com quem cá fica. Todas elas tiveram um tempo, que foi meu. E que guardei, na ilusão de que o tempo também se guarda. Não é verdade!"
Nunca pensara a fundo nesta questão e confesso que tenho tendência para guardar papéis, em especial aqueles que têm para mim algum significado. Ma é verdade que o tempo não se guarda e que há certas coisas e certas palavras que deveriam ser exclusivas das pessoas a quem dizem respeito. Porque apenas têm a ver com a intimidade de quem as vive.
Ora, não é por Fernando Pessoa ser a figura de vulto que é na literatura portuguesa, e mesmo mundial, que, a pretexto de o conhecer melhor, devemos ler tudo o que escreveu, incluindo as suas cartas pessoais, ou a lista de compras do supermercado. Estas cartas, organizadas cronologicamente numa sucessão de pergunta/resposta como se de um romance epistolar se tratasse, não têm, na minha opinião, qualquer valor literário, nem esclarecem nada relativamente à obra do autor. São apenas o testemunho remanescente de uma história de amor, feliz ou infeliz, pouco importa, mas que não nos pertence, nem deveria interessar-nos.
Ler este livro tem pois, para mim, qualquer coisa de "Janela indiscreta" que me choca, no sentido em que não deixa de ser uma devassa da vida privada. Pergunto-me se o Fernando Pessoa e a Ofélia Queiroz gostariam de ver estes seus textos publicados e alvo dos olhares e comentários indiscretos e coscuvilheiros do mundo.
E penso como é maravilhoso não ser ninguém conhecido e a minha vida privada não sucitar  interesse público algum.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Em casa, no Saldanha



Sou filha das Avenidas Novas. Foi o bairro onde nasci, onde cresci e onde vivi os primeiros vinte anos da minha vida. Nesta rua, que continua a ser "a minha rua"; neste jardim, onde brinquei tantas tardes, inocente e despreocupada, num tempo em que o meu mundo ia pouco mais além  da meia dúzia de ruas que conhecia de cor, com nomes de condes, duques e viscondes, que confundiam tanta gente: Visconde Valmor ou Conde Valbom? Marquês de Tomar ou Duque d'Ávila?
Estranhamente, ou talvez não, passados já mais de vinte anos sobre  a mudança de casa e de bairro, continua  a ser aqui, nas Avenidas Novas e em particular no Saldanha, que me sinto em casa. Mesmo que o bairro já pouco se assemelhe ao que era naquela altura. Os cafés e as lojas já não são os mesmos, o padeiro e o leiteiro já não vêm de porta em porta, já não há o Val do Rio, nem a drogaria, nem a sapataria na esquina, ou o Alberto confecções.  Na Duque d'Ávila, já não passam os eléctricos. Muitos prédios, incluíndo o meu, desapareceram e foram substituídos por outros, novos e modernos, ocupados em grande parte por  escritórios e serviços. E, assim, pouco a pouco, o bairro tornou-se mais impessoal e incaracterístico. Na minha rua, apenas o prédio das tintas, na esquina, é hoje a única reminiscência de um tempo que  não volta. E já há poucos prédios como o meu. Era um daqueles edifícios antigos, revestido com azulejos verdes e brancos, de cinco andares, sem elevador. A casa era enorme, com soalho de compridas tábuas de madeira, a cheirar a cera, nove divisões e  um corredor de dez metros no meio, cenário de toda a espécie de correrias e brincadeiras, transformando-se sucessivamente em avenida, pista, palco, ou qualquer outro lugar onde nos levasse a nossa imaginação.
Ainda me lembro de como nos custou, a todos, sair  daquele prédio que simbolizava toda a nossa vida, onde a minha mãe tinha nascido e onde morava uma parte da família. Do nó no estômago quando, depois do prédio demolido, passávamos pelo enorme buraco que até então tinha sido a nossa casa. De como evitávamos, até, passar ali. Para não sofrer. E de como, apesar de tudo, a nossa vida continuou a centrar-se no Saldanha, porque aquele era (e é) o nosso mundo. No início, para ir a qualquer lado, íamos sempre primeiro ao Saldanha. E, até há muito pouco tempo, o lanche com a minha mãe, na Versailles, fazia parte dos nossos rituais dos Domingos à tarde.
Só em Alfragide, onde vivo há quase tanto tempo como vivi aqui, neste lugar da minha infância e adolescência, voltei a encontrar algo parecido com este sentimento de pertença, voltei a conseguir sentir e dizer "a minha casa". Mas, ainda assim, quando à noite sonho com uma casa, é sempre a grande casa antiga da minha infância que surge, imponente e acolhedora. Hoje, gosto de viver em Alfragide. Mas não é a mesma coisa. Às vezes, dá-me ainda a nostalgia deste lugar; então volto a passar na minha rua, no meu jardim. E, apesar de todas as diferenças, continuo a sentir que este é o lugar onde eu pertenço. 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Como o vinho do Porto


É um dos grandes autores da música feita em Língua Portuguesa. E está entre os meus preferidos!
Quem diria que faz hoje 70 anos? De facto, há pessoas a quem a idade só faz bem...

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A dor do dia seguinte





Não é  de nenhum desgosto que se trata, nem de tristeza, ou de qualquer desses nobres sentimentos que nos enchem a alma e ocupam o e espírito e a vida, de vez em quando.
É mesmo de músculos doridos e da sensação do corpo todo partido que me ocupo hoje. Porque esta tem sido a minha realidade mais recente.
Durante muito tempo fui resistindo, deixando a preguiça tomar conta de mim, com as desculpas do costume: o tempo, a falta de interesse, o exercício que já faço, o Pilates, o Flamenco, o que eu ando a pé e blábláblá...
Mas agora tive vontade de mudar e fazer uma coisa diferente. E assim, na verdade, rendi-me também ao culto do corpo e aderi à moda do ginásio. É quase um reencontro com a minha adolescência e os dez anos em que fiz ginástica no Sporting. Com as inevitáveis diferenças e as devidas distâncias, estou de volta ao treino intensivo, desta vez com a novidade das máquinas, quatro dias por semana, uma hora e meia de cada vez. É duro! Mas sabe bem...
Ouvimos dizer, frequentemente, que a "beleza interior" é a que realmente conta. Mas demora a revelar-se. E, apesar de poder ser uma descoberta apaixonante, que se vai construindo no tempo, também é bom, às vezes, deixarmo-nos guiar pelo imediato e pelo que há em nós de mais físico, deixando a alma um pouco de lado.
Impossibilidade de fugir à tirania da imagem,  a vaidade a crescer, maior sensibilidade aos olhares alheios? Nada disso, ou, se calhar, um pouco de cada. Enfim, tudo isto é ainda muito incipiente, mas nos últimos dias tem sido motivo de grande entusiasmo, mais um desafio, mais metas para cumprir e uma nova maneira de me pôr à prova. Sem qualquer recompensa que não seja sentir-me bem na minha pele e gostar do que vejo. Parece pouco, mas é o muito que faz toda a diferença!

"Quero ser assim
Senhora das minhas vontades  e dona de mim
Que venha de dentro de mim ou de onde vier
Com toda a malícia e segredos que eu não souber
Que venha essa nova mulher..." (Uma nova mulher, de Simone)


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Distância



O meu primeiro beijo, o meu primeiro pensamento, hoje,  é para ti!
Por todas as que vezes em que me fazes falta. Por todas as horas em que não te vejo e não sei o que é feito de ti. Por todos os instantes em que me apetecia agarrar-te e apertar-te contra o peito. Por esta saudade boa, que não dói e não pesa, que se deixa ir no vento, sem pressa nem amarras.
Aqui, agora, longe de ti no espaço e no tempo, vou cruzando mil pensamentos, sentimentos, emoções, memórias, alegrias e vontades, à procura das palavras certas. Mas sei que não é preciso. Sei que, no silêncio do teu coração, sabes ler as palavras que me faltam e entender perfeitamente o que nem chego a dizer-te. Porque os amigos sabem quem somos e do que somos capazes. Porque na amizade cabe tudo.  Porque só as amizades verdadeiras dão sentido à vida e nos ajudam a acreditar em tudo o que é bom. Porque estar distante é não ver, mas não é não sentir.
A distância é azul, da cor do mar e do céu, é azul como a saudade. A distância afasta e aproxima, é longe  e perto, não e sim.
Há dias em que a distância se faz ausência e esquecimento. Noutros, faz-se presença silenciosa, em imagens fragmentadas, em lembranças que surgem com uma paisagem, um cheiro, uma cor, uma palavra, ou uma canção. E depois, às vezes,  a distância também se atenua e se desfaz completamente, quando estás de novo aqui comigo, tão perto de mim, tão colado à minha cabeça e ao meu coração, nas palavras escritas com o som da tua voz, em conversas só nossas, nos nossos momentos mais perfeitos, em tantas noites passadas em claro ou em tardes de puro encantamento, ligados por um fio invisível, mergulhando no mar sem fundo e voando a grandes altitudes,  levados pelo vento, muito para lá do horizonte, sem destino certo,  por caminhos que nem precisamos de saber onde vão dar.
O tempo é um aliado bom. Dá-nos serenidade, dá-nos maturidade, ensina-nos a distinguir o que é mesmo importante do que não tem assim muito valor.  Mostra-nos quem são os nossos verdadeiros amigos. Os amigos são aqueles de quem nos lembramos. Aqueles com quem partilhamos momentos e canções. Os que são sempre capazes de nos surpreender. São eles que andam connosco para todo o lado, mesmo quando estão um pouco ausentes,  e nos fazem ter a certeza de poder contar com eles se precisamos de uma voz, de uma mão, de um ombro, de um corpo. E isso é tão tranquilizador!
Afinal, o mais importante é a verdade dos afectos e é nela que temos que acreditar. Não há nada que me ligue a ti, a não ser o coração. E o mais importante é o que se vive no coração. No coração, eu estou sempre contigo. Não importa a distância que nos separa, o que importa mesmo é o que o tempo não mata e a distância não destrói, o que vale verdadeiramente a pena  e torna a nossa vida mais bonita e ainda mais luminosa ...

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mês de Agosto



E pronto! Chegou o mês de Agosto. Desde pequena que tenho um problema com este mês, que é aquele de que menos gosto e que, durante muito tempo, me pareceu um imenso e entediante Domingo. Divergindo relativamente à opinião da maioria das pessoas, Agosto nunca significou para mim praia, nem Verão, ou  férias. Pelo contrário: sempre me sugeriu imagens deprimentes de gente demasiado desleixada, a transpirar, de praias apinhadas, de chungas de chinelos e camisola de alças, a ouvir música em altos berros, de moscas, de calor excessivo.
E, no entanto, por trabalhar  na escola, nunca tive outra alternativa que não fosse a de ter férias neste mês tão insuportavelmente aborrecido.  Ainda assim, achando que em Agosto o melhor sítio onde se pode estar é em casa, dedicava a ela grande parte desse tempo, aproveitando para a limpar e arrumar com rigor e minúcia, para a redecorar, virada mais  para dentro de mim e desse mundo tão meu, fazendo balanços e projectos, preparando o novo ano, que começava no ínício de Setembro. E sonhava poder um dia ter  as férias divididas por outras alturas do ano, menos óbvias, nos meses de  que mais gosto, na Primavera e no Outono.
Finalmente, nos dois últimos anos, isso aconteceu. Faço férias quando quero. É maravilhoso! E enquanto o país inteiro, ou quase, fecha para férias e está "a banhos" no Algarve e em sítios afins, eu aproveito para trabalhar numa cidade semi-deserta e deixo-me encantar pela magnífica tranquilidade de Lisboa em Agosto.
Parece outra cidade, mais preguiçosa e delicada, que vou descobrindo nos transportes quase vazios, nas ruas sem trânsito, no silêncio que deixa ouvir o canto das cigarras, no prazer de tomar café junto ao rio ao fim da tarde, de caminhar à-vontade pelas ruas, sem destino, de observar os mais escondidos recantos  e os detalhes  mais insignificantes, como aquela lindíssima árvore de flores cor de rosa, na Avenida da Igreja,  em que só reparei hoje de manhã.
São 31 dias, inteirinhos, para viver ao máximo, aproveitando esta paz!