sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Interrupção


Motivos de "força maior" obrigam-me a interromper temporariamente a aventura "bloguística".
É caso para dizer, como se ouvia quando era miúda: "Pedimos desculpa por esta interrupção".
Espero poder regressar em breve, renovada e cheia de força. Até já!...

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Os espectáculos da rentrée



Na semana passada assisti, em dias seguidos, a dois espectáculos. Muito diferentes no género e também no impacto que tiveram em mim. Um de música e outro de dança. Um de um cantor consagrado, que já vi muitas vezes; o outro de um artista controverso e premiadíssimo, de quem ouvira falar, mas que ainda nunca tinha podido ver ao vivo.
Caetano Veloso é, juntamente com Simone, um dos cantores brasileiros de quem vi mais concertos. O último tinha sido já há anos; e, por isso, a ocasião parecia-me imperdível, apesar do preço um pouco exagerado dos bilhetes. Era tudo como eu gosto: um concerto intimista, só com "voz e violão", no Coliseu, que é para mim a mais encantadora das salas de espectáculo de Lisboa, não apenas pelas memórias de muitas noites bem passadas, mas também pelo toque da magia da sua forma circular, que a torna mais especial e aconchegante.
O cartaz anunciava uma primeira parte com uma tal Teresa Cristina, que ninguém conhecia, mas não parecia constituir problema. Não estávamos, no entanto, preparados para assistir a um concerto de Teresa Cristina, com a participação de Caetano, que foi no fundo o que aconteceu.
Ela é sem dúvida dona de uma bonita voz e cantou essencialmente canções de Cartola, um antigo compositor e cantor brasileiro. Mas meia hora teria chegado, até porque ao fim da quarta ou quinta canção o registo era sempre igual. Foram muitas. E depois lá veio Caetano, igual a si mesmo. Com os êxitos esperados, onde apenas faltaram "Terra", "Sampa", "Menino do Rio" e "Alegria, alegria". A voz continua a de sempre, como se o tempo não passasse por ela; e viajar através dela por aquelas canções que sabemos de cor é deixar-se levar para um universo de sonho e de emoção.
Mas foi só uma horita, talvez nem tanto. Deu o espectáculo por encerrado e voltou ao palco com a dita Teresa Cristina pela mão, que cantou durante mais quarenta e cinco minutos, pontuados aqui e ali por um coro com Caetano. No fim, ficou a sensação de termos sido de certo modo ludibriados. Não havia necessidade...
Já o espectáculo de Israel Galván foi uma experiência única. Avassaladora. Um daqueles raros espectáculos que mexem connosco e modificam alguma coisa em nós. Pelo que há neles original e de surpreendente. Mesmo para mim, que já vi muito flamenco. E que achava que, tendo visto Rocío Molina, na sua imensa genialidade, já tinha visto tudo. Afinal não. Faltava isto. O espectáculo, chamado "fla.co.men" diz logo no nome uma parte do que é, pois ao fazer este jogo com a palavra "flamenco", vai desconstrui-lo e recriá-lo na mais absoluta liberdade.
Pena que a sala do CCB estivesse apenas a metade. Mas quem lá esteve saiu de alma cheia e com uma visão diferente do flamenco e até, se calhar, da vida. Assim, sim...


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Still the best


Dizia-me há dias alguém que é de uma área política totalmente distinta, senão mesmo oposta à sua (que é também a minha), que Paulo Portas é de uma inteligência e de uma cultura inigualáveis e, por isso mesmo, é sempre um gosto ouvi-lo, até porque não há ninguém em Portugal que fale com maior correcção linguística e clareza, o que faz de qualquer discurso seu uma espécie de "tratado de retórica". E, também, que uma pessoa assim tem que ter sido educada por alguém verdadeiramente extraordinário  - minha querida Helena Sacadura Cabral.
A opinião não é minha, mas eu subscrevo-a na íntegra. E, se é verdade que agora que se afastou da política se fala menos dele, eu sei que "está bem e recomenda-se" e não me esqueço que este é um dia especial, porque celebra 54 anos.
Parabéns, Paulo!

(Fotografia de Isabel Santiago Henriques)

sábado, 10 de setembro de 2016

Mulheres ao volante


De uma maneira geral, as mulheres, quase todas, tornam-se insuportáveis quando se trata de conduzir. Convencidas de que são "o máximo" ao volante, aceleram como se estivessem sempre numa qualquer situação de urgência e nunca deixam passar ninguém na passadeira. Enfim, raramente...
Nisto, como em tudo, há excepções, é claro, e eu nem gosto de generalizar assim, mas de facto o que observo é que, à semelhança do que acontece com os professores de Educação Física, noutro domínio, parece que um complexo oculto as faz ter necessidade de provar alguma coisa a alguém e talvez, em primeiro lugar, a elas próprias...

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Histórias de Lisboa (III)


Avenidas Novas

O bairro onde vivi os primeiros vinte anos da minha vida é, inexplicavelmente, um lugar por onde nunca passo sem ter a sensação de estar "em casa", mesmo quando na minha cabeça ecoam às vezes velhas canções: ( quand au hasard des jours/ je m'en vais faire un tour/ à mon ancienne adresse/ je ne reconnais plus/ ni les murs, ni les rues/ qui ont vu ma jeunesse). 
É verdade que o bairro é hoje muito diferente do que era naquele tempo, mais incaracterístico, talvez, muitos serviços e um pouco menos de alma. O nosso prédio, de azulejos verdes e brancos, foi substituído por um moderno edifício de vidro e ferro e a muitos outros aconteceram coisas semelhantes. Os cafés e as lojas já não são os mesmos, o padeiro e o leiteiro já não vêm de porta em porta, nem há eléctricos a passar dia e noite; já não há o Val do Rio, nem a drogaria, nem a sapataria na esquina, ou o Alberto confecções.
Hoje, a loja das tintas, na esquina com a Duque d'Ávila, é a Livraria Pó dos Livros e a pastelaria Colombo, na Avenida da República, transformou-se em Mcdonald's.
E, no entanto, apesar de toda estas mudanças que são um natural sinal dos tempos, há no meu antigo bairro pequenos detalhes que parecem tê-lo mantido de certo modo imune à passagem do tempo. Lá continua sempre igual a Versailles, até há pouco lugar obrigatório dos lanches de Domingo com a minha mãe, apesar de nem eu nem ela vivermos na zona, como se mantém igual o Colégio Académico (a "escola dos alunos burros", dizia-se na época), ou a Charcutaria Dava, mesmo ao lado da Pérola do Chaimite, com aquele magnífico cheiro a café, que continuam exactamente iguais ao que eram e são agora as únicas reminiscências de um tempo que  não volta.
Entretanto passei por outros lugares, gostei de uns mais do que de outros e, aos poucos, começo a afeiçoar-me também ao meu novo bairro, que não fica muito longe. Mas este será sempre um lugar que sinto como meu, que me pertence, a que pertenço.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Humor inteligente


Na linha de Les Intouchables ou Les Petits Mouchoirs, Retour chez ma Mère, inexplicavelmente traduzido por "Isto só a mim", é um daqueles deliciosos filmes franceses que nos diverte e deixa de bom humor, sem recorrer a alarvidades parvas, ou conneries, para estar mais no espírito.
A história, simultaneamente banal e plena de actualidade, centra-se no regresso de Stéphanie (Alexandra Lamy) à casa materna por, aos quarenta anos, ter ficado sem emprego e sem dinheiro, com tudo o que isso implica de (re)adaptação e de tensão latente.
É uma comédia, claro que sim, mas aborda também a complexidade das relações familiares em toda a sua ambiguidade e, apesar de um final talvez demasiado cor de rosa, fá-lo com ternura, com inteligência e com delicadeza. Josiane Balasko é excelente no papel da matriarca e é a ela que se devem as mais divertidas situações.
Enfim, não é um grande filme, não se trata de uma obra-prima, naturalmente, mas cumpre aquilo que o cinema deve ser e que se consegue sem grandes efeitos especiais: contar uma boa história, bem interpretada, com ritmo, e deixar-nos a sensação de leveza de quem passou um bom momento.
E para quem tem a ideia de que o cinema francês é muito "intelectual", aqui está uma vez mais a prova da sua imensa diversidade. É por isso, pela língua que tanto gosto de ouvir, e por muitas outras razões, que gosto tanto dele.