sábado, 31 de dezembro de 2016

Eu e a minha circunstância


Como toda a gente tenho defeitos e qualidades. Sou muito tolerante para as pessoas a quem quero bem e quase nada para as outras. Não sou muito dada a amuos, nem a ressentimentos, não sou capaz de fazer birra durante muito tempo e uma das minhas maiores fraquezas é a incapacidade de prolongar uma zanga com as pessoas de quem gosto e que me importam.
E sou de extremos: gosto muito, ou não gosto mesmo nada. Mas não guardo ódios nem inimizades e a quase totalidade das pessoas de quem não gosto é-me totalmente indiferente.
Neste ano, como em todos, algumas pessoas ficaram pelo caminho, mas só estão comigo as que têm que estar e o tempo ajuda a tornar a verdade mais óbvia e a fazer uma selecção natural: afasta o que não importa e aproxima o que e/ou quem prezávamos menos e, afinal, injustamente.
É que tenho um coração enorme, mas quem lá está ocupa um espaço muito grande e, por isso, não cabe toda a gente. E só fica quem merece. São os os que vêm para ficar, de quem eu gosto desmedidamente, e por quem sou capaz de tudo. São os que me ajudam a viver melhor, aqueles que me enchem a vida com mimos e cuidados e que, na sua singularidade toda especial, me fazem sentir feliz, me fazem falta, com quem gosto de estar, de falar e de partilhar a vida.
Mas às vezes, também me engano, acredito em quem não devo, deixo-me levar pelo que parece mais do que pelo que é. Mas quando isso acontece, e passada a desilusão momentânea, o caminho segue igual.
Enfim, que o novo ano me permita, também, continuar a seguir a minha intuição e a saber guardar os amigos verdadeiros coladinhos ao coração, para levar comigo vida fora. Porque os amigos são o meu bem mais precioso...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Fim de Ano


Foi muito peculiar o ano que agora termina. Foi um ano de muitas mudanças e de surpresas. Boas e más. Dir-se-ia que é sempre mais ou menos assim. E, no entanto, parece-me que desta vez foi diferente. E deixará marcas, daquelas que não se esquecem facilmente, que nunca se apagam...
Em todo o caso, feito o balanço de perdas e ganhos, acho que tenho que continuar a sentir-me abençoada e a não poder queixar-me. Que o mau e o bom me tenham servido para aprender, para me modificar, para crescer por dentro, continuando a ser quem sou. Mas agora já não vale a pena pensar muito nisso. 
Que venham os novos 365 dias, ainda como um buraco negro que atrai e assusta, como tudo o que é novo e não se sabe o que será. E que sejam bons para todos, incluindo os que não gostam de mim ou de quem eu não gosto, que não sou de desejar mal a ninguém. 
Que saibamos fazer de cada minuto, de cada hora, de cada dia, um tempo que valha a pena. Porque a vida é maravilhosa...BOM ANO!

(Aqui ficam os que foram, para mim, dois momentos marcantes de 2016, musicalmente falando: o emotivo reencontro de Chenoa e Bisbal e o desaparecimento de Leonard Cohen, um dos músicos da minha vida).


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Lógico

Num ano em que já haviam desaparecido Leonard Cohen, David Bowie e Prince, o Rui Rocha escreveu isto no "Delito de Opinião", a propósito da morte de George Michael no dia de Natal:
Em 2016 morreram muitos dos ícones da nossa adolescência. Mas isso é natural. À medida que envelhecemos, a probabilidade de as nossas referências desaparecerem vai aumentando. Podemos não querer encarar a realidade, "culpando" 2016. Mas se 2016 foi mau, 2017 e os seguintes serão piores. A vida é assim.
Nunca tinha pensado nisto desta maneira, mas na verdade faz sentido...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Dias de Natal


É o tempo dos bons propósitos e das bons intenções, doa afectos e dos abraços, da paz e do amor.  De fé, de pureza e de simplicidade. Ou devia ser assim. Apenas isto; sobretudo isto...
Para não fugir à regra, aqui ficam então os meus melhores votos para todos os que por aqui passam e se detêm, a quem deixo também estas duas canções que, sendo muito diferentes, estão para mim muito relacionadas com o Natal. E um grande  e terno abraço...

 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A três meses da Primavera


Mesmo eu, que sou do sol e da luz, consigo encontrar algum encanto na tristeza sombria do Inverno, que chegou hoje de mansinho, sem os rigores de outros anos, porque o Outono insiste em demorar-se  ainda por aqui.
Este é um tempo de silêncios e de recolhimento, de se virar para dentro e passar horas no sofá, à lareira, entre conversas calmas, contemplação, afagos e bebidas quentes, como uma longa noite que faz resplandecer o dia. E, daqui a nada, é Primavera outra vez...

domingo, 18 de dezembro de 2016

Éternité



Tardes de inverno e cinema são, para mim, uma excelente combinação. Se há um filme francês em cartaz, então, não há lugar para grandes hesitações. Tudo isto e Audrey Tatou, a eterna Amélie, levou-me a ver Éternité, traduzido como "Amor Eterno", uma co-produção franco-belga, de um realizador vietnamita que vive em França desde os treze anos, Tran Anh Hung, e de quem eu nunca ouvira falar, adaptação de um romance de Alice Ferney, L'élégance des veuves (1995), que conta também com as interpretações das lindíssimas Mélanie Laurent e Bérénice Bejo.
É um filme diferente, lento, belo, casto e requintado, a fazer lembrar os romances que líamos na adolescência, sobre a passagem do tempo e os ciclos de vida que se repetem de geração em geração. Centrado nas mulheres, conta-nos a história de vários membros de uma família francesa, do fim do século XIX aos dias de hoje, sob o olhar de Valentine (Audrey Tatou), que seguimos a vida toda, através de uma voz em off que vai fazendo a narração. Com diálogos quase inexistentes, o filme centra-se nos estados de alma mais do que nos acontecimentos, no silêncio mais do que na palavra.  É a vida que passa, inexorável, girando em volta do nascimento, amor e morte. Não é exactamente o que estamos habituados a ver; mas eu gostei...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Não ter a noção


Não posso deixar de achar graça diante da opinião mais ou menos generalizada de que dar aulas é uma actividade que não exige grande trabalho, nem sequer preparação prévia, sobretudo quando já se tem muita experiência. 
Assim, é comum ouvir-se coisas do género:"Mas ao fim destes anos todos ainda precisas de preparar aulas?", ditas até por pessoas com alguma formação e conhecimentos. É como se bastasse passar o tempo, ou "conversar" sobre um determinado assunto. Esta ideia costuma de resto andar associada a uma outra, que é já "um clássico": a de que os professores têm muito tempo livre e mais férias que o comum dos mortais. Ou que quando acabam as aulas, os professores ficam também "desocupados". Mas, enfim, há que ter paciência... É que a educação é um daqueles assuntos sobre os quais toda a gente acha que percebe muito e opina a torto e a direito sem ter a mínima noção do que diz.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Um homem sem idade



Não está  entre os meus preferidos, mas não deixa de ser um dos nomes incontornáveis da Chanson Française de que eu tanto gosto, essa mistura perfeita de uma doce melodia com palavras fortes e sentidas. Falhei Brel, Brassens, Ferrat. E Piaf e Montand, claro, que já não fui a tempo de ouvir. Mas pude ver e ouvir ao vivo Reggiani, Moustaki (várias vezes) Ferré, Gréco...
Podia agora acrescentar  Aznavour à minha lista de concertos memoráveis e, ainda assim hesitei quase até ao último minuto, por motivos vários que incluíam o preço um pouco excessivo dos bilhetes. Depois, dada a provecta idade do cantor, achei que esta seria uma oportunidade única, talvez a última, e que não a devia perder. E fiz bem.
O mais impressionante de tudo foi a energia e a boa forma que se pode apresentar aos 92 anos. Quem vê quase não acredita. A voz pode não ser igual à de outrora, mas cantar durante cerca de duas horas e mostrar em palco uma energia que inclui uns passos de dança e muita garra não é para todos. Assim, assisti a um concerto de grande profissionalismo, que não se fica pela nostalgia do passado, mas mistura temas mais recentes com as canções "d'antan" e se projecta ainda no futuro, prometendo cantar em português na próxima visita.
Acompanhado por oito músicos, incluindo um "pianista clássico", foram, no entanto os momentos de piano e voz, pontuados aqui e ali pelo acordéon, tão "français", os mais intimistas e comoventes. Claro que não faltou nenhum dos êxitos esperados, de "hier encore", "she" ou  "emmenez-moi"  a mourir d'aimer" e a "la Bohème".
Durante o concerto não pude deixar de pensar que há de facto pessoas que parecem  não ter idade, ou relativamente às quais isso deixa de ter qualquer importância.
E, acima de tudo, fiquei cheia de vontade de voltar a Paris...

(Fotografias de Maria Cristina Guerra)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Madre del alma


Há dois anos, por estes dias, a minha vida mudou. Não gosto de recordar dias maus, mas é impossível esquecer aquele Domingo e os dias que se lhe seguiram, feitos de ansiedade e sofrimento. É sempre solitário o sofrimento. Sofre-se para dentro, em silêncio e solidão.
Nessa altura, como em todos os momentos bons e maus da minha vida, foi a Virgen del Rocío que me segurou nos seus braços e me levou pelo caminho, ensinando-me a aceitar a nova realidade e a aprender a vivê-la com a tranquilidade possível. É por isso que, por mais dolorosos que sejam estes dois anos em que vejo a minha mãe naquele mundo quieto e sem palavras que é agora o seu, lhe devolvo em  presença e amor e mimos tanto que ela sempre me deu, e me alegro por, apesar de tudo, a ter ainda do lado de cá da vida.
E nunca estou só, porque a Virgen del Rocío está sempre comigo. É ela que continua a ser o meu amparo e a minha força, enquanto canto para dentro "al Rocio yo quiero volver pa cantarle a la Virgen con fe, con un olé" e sonho e desejo "muy pronto" poder "volver a verla"...


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O dia da Helena


Vilancete

Mote
Se Helena apartar 
Do campo seus olhos
Nascerão abrolhos

Voltas
A verdura amena,
Gado que pasceis,
Sabei que deveis
Aos olhos de Helena.
Os ventos serena,
Faz flores de abrolhos
O ar dos seus olhos

Faz serras floridas,
Faz claras as fontes:
Se isto faz nos montes,
Que fará nas vidas?
Trá-las suspendidas,
Como ervas em molhos,
Na luz dos seus olhos.

Os corações prende
Com graça inumana
De cada pestana
Uma alma lhe pende.
Amor se lhe rende 
E, posto em geolhos
Pasma nos seus olhos.

                            (Luís de Camões)

Era assim a Helena de Camões. A "minha" é igualmente fantástica: ou mais ainda...
Tê-la no grupo dos meus amigos é uma honra e um privilégio enormes. Gosto muito dela. E faz hoje anos, não importa quantos, que a Helena não tem idade. Aqui fica (mais) um grande beijinho de parabéns, porque os mimos nunca são demais.

(Fotografia de Isabel Santiago Henriques)

domingo, 4 de dezembro de 2016

Inevitabilidades da época


Chega Dezembro e é isto: por muito que se lhe queira escapar, o Natal impõe-se(nos), ainda que o seu sentido se esvazie mais e mais. Assim, cumpram-se os rituais com todas as obrigações sociais  e familiares que não podem evitar-se, enquanto se espera que tudo passe rápido e voltem os dias tranquilos. Porque os afectos que nos acompanham de facto, e nos norteiam a vida, estão connosco sempre, sem precisar dos dias festivos.