sábado, 28 de maio de 2016

As tranças pretas


Não sou exactamente uma fã de fado, mas como acontece a qualquer português, também não lhe sou indiferente. E depois, há certos fados e/ou fadistas que acompanham a nossa vida e a marcam quase sem darmos por isso. 
Os três fados de que tenho memórias mais antigas são "o embuçado", o "cavalo russo" e "a moda das tranças pretas". Vicente da Câmara, que tornou este último mais conhecido, deixou-nos hoje. Mas o fado permanece...

quinta-feira, 26 de maio de 2016

"Está vento, assim custa..."


Todas as raparigas da minha geração têm a Anita como uma referência da sua infância. Pelo "Observador", soube que estes livros, que tanto contribuíram para desenvolver o nosso gosto pela leitura, comemoraram há dois dias 50 anos de publicação em Portugal.
Em minha casa não chegámos a ter a colecção inteira, mas havia aqueles que não podiam faltar: A "Anita dona de casa", desde logo, que era o primeiro volume, mas também a "Anita Mamã", a "Anita no ballet" ou a "Anita vai às compras".
Lembro-me de ir à Feira do Livro todos os anos, quando ela era ainda na Avenida da Liberdade, e de me deter longamente em bicos de pés junto da barraca amarela da Verbo Editora, a escolher, com critério e minúcia, um novo título (só podíamos comprar um). Lembro-me, também, de frases inteiras de alguns livros, que repetia com a minha irmã nas mais diversas circunstâncias, e que ainda hoje são uma espécie de "private joke" entre nós.
Muitos vieram depois considerar que o conteúdo destas histórias era demasiado conservador e veiculava uma visão da vida um pouco machista, o que na verdade me parece um exagero. Para nós, as histórias da Anita eram a mistura perfeita de ilusão e realidade quotidiana. Isso explica, talvez, o seu sucesso, que se prolongou por várias décadas. Estes são os primeiros livros que me lembro de ter lido. E relido muitas vezes, durante anos, até quase os saber de cor. 
Só quando já depois dos vinte anos deixámos a grande casa familiar da Conde Valbom é que eles desapareceram fisicamente da(s) nossa(s) casa(s). Acho que não guardei nenhum, a não ser na memória, onde ainda se conservam todos, intactos na sua pureza e simplicidade pueril, de onde às vezes regressam por uma palavra, uma frase, um desenho, e de onde espero que não desapareçam nunca por uma daquelas fatalidades que atiram tudo o que vivemos para o vazio do esquecimento.
Recentemente mudaram-lhe o nome e, sob nova editora, rebaptizaram-na, chamando-lhe Martine para a aproximar do original belga.
Mas para mim e para todas as que, como eu, cresceram com ela, será sempre a Anita, companheira de brincadeiras, descobertas e aventuras.

domingo, 22 de maio de 2016

Dias de praia


É nesta altura que a praia me apetece  mais. Porque seja o que for que tenha para fazer, quando olho o mar ou estendo o corpo ao sol naquele silêncio e quietude que antecedem o Verão, sinto-me imediatamente como se estivesse em férias. 
E é nesta relação com o mar, toda feita de sensações, que me reencontro e reequilibro e me reconcilio com o mundo e a vida.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Rendo-me


Quem me conhece sabe que não recebi de braços abertos a chegada de Assunção Cristas à presidência do CDS, até porque nunca escondi a minha preferência por Nuno Melo para substituir a marca fortíssima deixada por Paulo Portas. Não me apressei, por isso,  a "mudar de ideias" quando vi que não era esse o caminho escolhido, como vi tanta gente fazer. Resolvi esperar para ver, sem me apressar a pôr likes, vivas ou olés em todas as notícias surgidas, por mais positivas que fossem. Quis assistir, aguardar, mantendo-me no CDS, mas sem fazer coro com a unanimidade que se gerou à volta de um estilo novo. Quando me perguntavam se gostava dela, respondia sempre o mesmo: "não sou fã..." e recebia de volta "ahs e "ohs" de espanto. Pois se ela era tão tudo...
Não que não lhe reconhecesse qualidades inegáveis, inteligência, desde logo, mas também simpatia, determinação e arrojo. Ainda assim, a minha intuição, ou o que quer que possamos chamar-lhe, fazia-me pôr em tudo reticências: era a ascensão meteórica que me parecia poder significar excesso de ambição, era a simpatia extrema que aqui e ali me soava a falso, era um não sei quê que me provocava de certo modo um desconforto, uma daquelas sensações que não têm razões óbvias de ser e para as quais não encontramos qualquer explicação digna desse nome. Era só "uma impressão".
Mas, porque nestas coisas o bom senso e a racionalidade me levam sempre a considerar também o "benefício da dúvida", e porque reconheço em Assunção Cristas uma capacidade comunicativa ímpar, resolvi ter a ousadia de a convidar a ir ao meu Liceu por achar interessante que fosse falar aos nossos alunos do seu percurso e da vida "real", numa actividade da biblioteca intitulada:"À conversa com..."
Achei que não teria muito sucesso, mas tudo se resolveu com algumas ajudas preciosas. E, na verdade, mudei radicalmente de ideias e, confesso, não só me rendi ao charme de Assunção Cristas, como me sinto até um pouco envergonhada de ter começado por duvidar.
O que vi e ouvi foi uma pessoa de uma simplicidade, simpatia e disponibilidade que considero raras e excepcionais. A sessão foi naturalmente um enorme sucesso, não só pelo interesse que despertou, como pelo que nela se tratou e pela imagem que deixou: a de uma pessoa, como diriam os espanhóis "cercana" e "entrañable", que faz certamente muito mais pela política e pelos políticos do que qualquer comício, ou afim. Porque estar na política também é isto: estar com as pessoas genuinamente, ouvi-las e falar com elas, com tempo e dedicação.
Agora sei que o (meu) CDS está afinal bem entregue; e que Paulo Portas tinha razão quando teve essa intuição, que eu não tive. Enganei-me, sim. Mas ainda bem...

(Fotografia de Isabel Santiago Henriques)

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Paris


Esta é a cidade onde sempre me apetece voltar. E, de cada vez que volto, vejo-a igual e sempre diversa, inesgotável, apaixonante...

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Camino del Rocío


Esta é a semana da Romería del Rocío, que tem o seu ponto alto no próximo fim de semana. Ano após o ano, o sentimento é o mesmo: em espírito e coração é por lá que ando estes dias, mesmo quando em corpo estou aqui, como acontece muito mais vezes do que desejaria.

Viva esa Blanca Paloma
Viva Rocío, viva su niño
Viva el romero que va 
soñando llegar por tantos caminos
Vivan las hermandades
que por mirarte de lejos llegan
vivan los niños que van
Con sus padres a rezar
por aquella arena

domingo, 8 de maio de 2016

Não, eu não sou de esquerda


Sobre esta história das escolas com contratos de associação de que muito se tem falado nos últimos dias, não estou de acordo com o que diz em particular o meu partido, desde os chavões mais ou menos vazios, a argumentos mais consistentes de pessoas que muito prezo, mas com quem não tenho que estar sempre de acordo. E, na verdade, ser militante de um partido não me impede de pensar pela minha cabeça  - era o que faltava! - nem de ter uma opinião, ainda mais quando estou muito por dentro do assunto, como é aqui o caso.
Há em Portugal a ideia um pouco provinciana de que o ensino privado é bom e o público é mau (um pouco semelhante à ideia de que tudo o que é estrangeiro é que é), o que anda muito longe da realidade.
De facto, sendo certo que há de tudo em todo o lado, não tenho a menor dúvida que, apesar de muitos maus exemplos, que também existem, a qualidade do ensino é claramente melhor na escola pública (com excepções, hoje, apenas para o Liceu Francês, o Colégio Alemão e o St. Julian's School). E sei muito bem do que falo: na escola onde estou, recebo alunos vindos dos mais caros e conceituados colégios de Lisboa, a maioria dos quais muitíssimo mal preparados. Que tiveram por exemplo latim no ensino básico, mas chegam ao secundário sem saber escrever e interpretar correctamente em português. Enfim, podia multiplicar os exemplos, mas nem vale a pena. Porque o que está aqui em causa não é uma discussão sobre a qualidade do ensino, nem sobre o privado versus público.
É antes aquilo que se explica claramente aqui, nestes termos:
Quando faltam os argumentos, como sucede agora aos defensores dos contratos de associação com escolas privadas, e falta também a força com que, como sucedeu com o anterior governo, se impõe a falta de razão, sobram, para consumo da opinião pública, apenas dois recursos:
No plano emocional, jogar com o dramatismo das criancinhas que ficam sem a sua escolinha e dos pais que são confrontados com a perda de estatuto social ou a desorganização da vidinha se o menino ou a menina tiverem de deixar o "colégio" para ingressarem na escola pública indiferenciadora.
No plano racional, confundir a opinião pública distorcendo a realidade e recorrendo a analogias com situações aparentemente idênticas para tentar passar a ideia de que as reivindicações dos colégios são lógicas e fazem sentido.(...)
O carácter supletivo da prestação de serviços públicos por entidades privadas tem sido regra geral em todas as áreas da administração pública; (...) quando o Estado financia creches, escolas ou clínicas privadas para acolherem os utentes do público, não é para que estes "possam escolher", mas sim para que tenham acesso aos serviços de que necessitam e a que têm direito e que o Estado não está em condições de, pelos seus próprios meios, dar resposta adequada.
Ora eu, que até trabalhei nos serviços centrais do Ministério da Educação, sei que isto acontece hoje em relativamente poucos sítios no país (em Fátima, por exemplo, ou em Arruda dos Vinhos), e também que é mais ou menos escandaloso o que se passa com os colégios com contrato de associação, com os quais lucram em particular os seus proprietários e não os alunos visados, nem as famílias, como se quer fazer crer.
Acho interessante, pois, tanta preocupação repentina com os "professores que ficarão no desemprego", quando nunca ninguém se preocupou com as suas condições de trabalho, as quais são, tanto quanto sei, bem piores que as dos professores do público, e, mesmo essas, não são nada boas.
Claro que o Ministro é inenarrável e  Mário Nogueira uma figurinha execrável, que não representa nenhum professor minimamente decente (e ainda os há...).
Mas não metamos tudo no mesmo saco. E, sobretudo, nesta como noutras matérias, há que ouvir quem está por dentro do assunto. E isso, infelizmente, raramente se faz...

sábado, 7 de maio de 2016

Venham mais quatro


Há quatro anos, também chovia neste dia. Talvez um pouco menos, é certo. Era uma segunda~feira de um dia de Primavera parecido com um de Outono. Eu estava sozinha no gabinete da Praça de Alvalade (um luxo que era raro) e a chuva e o movimento da rua distraiam-me por momentos dos processos disciplinares, dos mails a que tinha que responder, e dos mais estranhos pedidos de esclarecimento. E foi enquanto olhava a rua e me perdia em pensamentos muito distantes e distintos do que tinha para fazer, que tive de súbito esta ideia: e se eu tivesse um blogue? 
Sem fazer a mais pequena ideia de como fazer, ou de onde isso me levaria, pus mãos à obra, tentando criar o que eu ainda nem sabia bem o que era. Quatro anos e quase mil posts depois, este é para mim um lugar "onde me sento e descanso", onde digo e faço o que me apetece, sem me preocupar muito com o que pensam ou dizem os que me lêem, não porque os despreze, mas apenas porque aqui, estou como em casa.
Entretanto, em quatro anos, muita coisa mudou. Mudou o mundo, mudou a minha vida e mudei eu com ela. Mas aprendi muito, conheci pessoas extraordinárias, arranjei novos amigos, pensei no que nunca tinha pensado e talvez não chegasse a pensar sozinha. Foi como um mundo novo que se me revelou.
Como em tudo, teve também coisas menos boas, decepções e enganos, gente amarga e tortuosa que se nos atravessa no caminho, tal como na vida. Mas não me posso queixar... O lado mau de tudo isto, contra o qual tanto me alertaram, continua a passar-me ao lado. E não perco muito tempo tempo com o que não me interessa.
Por isso, o balanço que faço é todo ele positivo, acho que tenho muitas razões para celebrar e, enquanto gostar disto, vou andando por aqui. Este ano, dei até um irmão mais novo ao meu "Isto e  Aquilo". Que venham daí mais quatro anitos, pois...

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Lisboa vista (quase) do céu


Nunca me canso de olhar Lisboa. E, de cada vez que a olho, emociono-me e surpreendo-me, como se fosse a primeira vez. 
Agora, vejo-a logo pela manhã estendendo-se preguiçosa em frente da minha janela, ou a mudar de cor ao fim do dia, o sol reflectido nos telhados, a esmorecer devagar até à chegada da noite.
E como se este namoro que me enche de encanto e alegria fosse pouco, surgiu há uma semana um novo ponto de observação, uma espécie de "tour Montparnasse" a céu aberto, e uma vista de 360º de cortar a respiração, situada no topo do prédio mais alto da mais elevada das colinas da cidade, a 174 metros de altura.
Vale a pena pagar os cinco euros da visita e deixar o olhar perder-se pela cidade e para além dela, até ao horizonte, a perder de vista. Fui hoje pela primeira vez e tenho a certeza de que voltarei muitas mais. Porque a minha Lisboa é linda. E enamora...

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O despudor dos afectos


Três ou quatro dias depois do Dia da Mãe, "tropecei", literalmente, neste vídeo, que já é antigo, mas não podia vir mais a propósito. E pensei, uma vez mais, que nunca nada é por acaso.
Vale a pena vê-lo com atenção, porque é enternecedor. E emocionou-me de uma forma muito particular. Por o ter encontrado justamente agora, uns dia depois do Dia da Mãe ter calhado numa data tão especial para a Helena como é o dia 1 de Maio, e uns dias antes de lançar no mundo o seu mais recente livro, com este título, que lhe assenta como uma luva: Gosto de gostar. (Dia 11 de Maio às 18.30, no Corte Inglés). Mas também por ser um retrato genuíno e muito fidedigno de uma pessoa que hoje conheço bem, de quem gosto muito, muito, muito, e com quem tenho aprendido uma infinidade  de coisas, das mais triviais às mais profundas, e em particular essa máxima tão certeira e importante, embora tantas vezes esquecida, de que não devemos nunca inibir-nos de dizer e de mostrar o que sentimos pelas pessoas que nos são queridas.


terça-feira, 3 de maio de 2016

Primavera Plena


A Primavera para mim é muito isto: um azul imenso que o brilho do sol intensifica, uma praia silenciosa e quase deserta, gaivotas, o cheiro do mar a entranhar-se-nos na pele, e a melodia incessante do seu vaivém ritmado, que embala e alimenta as mais insensatas quimeras. 

(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)

domingo, 1 de maio de 2016

Maio


Febrero revuelto, marzo ventoso y abril lluvioso, sacan a mayo  florido y hermoso.