domingo, 31 de janeiro de 2016

No limite


Por mais desesperada que possa ser a situação, é bom acreditar que pode sempre haver uma saída...

sábado, 30 de janeiro de 2016

A Festa da Luz


Hoje, todos os que têm na Virgen del Rocío a sua força e fé, era junto a ela que queriam estar, naquela aldeia tão peculiar, lugar mágico que parece quase irreal e, entre amigos, celebrar a vida.
A Candelária comemora a apresentação de Jesus no Templo, a purificação da Virgem Maria e ocorre quarenta dias depois do Natal, a 2 de Fevereiro. Conhecida também como "festa da luz", nela se inclui a apresentação à Virgem das crianças nascidas durante o ano, para que recebem protecção e amparo. No Rocío, a festa tem lugar no fim de semana que antecede a data festiva e que é, quase sempre, o último de Janeiro.
E, como sempre acontece em Espanha, sobretudo na Espanha do sul, que é a de que mais gosto, este é o pretexto para ligar o religioso ao profano e festejar o que a vida tem de bom: reunir os amigos, comer, beber, cantar e dançar, naquela alegria esfuziante de quem acha que "vale mais rir que chorar" e que há que viver em plenitude todos os bons momentos, por mais simples que sejam.
Há o almoço no campo, há os cavalos e as carroças, que nunca podem faltar,  as guitarras e cajones, a flauta e o tamboril; mas há também, acima de tudo, a felicidade de partilhar o lado bom de existir, o que nos reconcilia com o mundo e faz acreditar que a vida é maravilhosa, como um presente dos céus. E então tudo é sentimento, emoção, e sintonia total com quem nos rodeia, tocados no mais fundo de nós pela pureza e a beleza de instantes de silêncio e festa, de cumplicidade e partilha, de realidade e sonho.
O que se passa no Rocío é indizível, diferente de tudo, e permanece apenas no coração de quem o vive. Mas essa é uma vivência tão forte e tão funda que quem passa por lá não pode esquecê-la; e guarda-a consigo para sempre, enquanto sonha voltar. 




quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Para sempre


Hoje fui ver o mar. Na realidade não ia vê-lo mas aproveitei. E à primeira impressão  eu via-o mas não o via, porque via dele apenas a realidade imediata em ondas e espuma. Foi preciso que deixasse vir ao de cima o que oculto se me queria revelar. Abandonei-me a ele e deixei. Mas o que então se me revelou foi uma nebulosa confusa de emoções , memórias, associações indistintas, qualquer coisa que se anuncia como numa casa desabitada. O indizível. O flagrantemente presente e que se não acaba de esclarecer. O estranho que nos perturba e não sabemos de onde vem. A praia estava deserta e o mar convulsionava-se num mundo ainda por nascer (...) Eu podia enumerar todos os elementos do que presenciava, mas havia outra realidade que ficava intacta à minha enumeração. Essa, essa - dizê-la. Não é aí precisamente que começa o "escrever bem"? Por isso a escrita não tem que ver com o real mas com o outro real dela. (...) Há no homem o insondável da sua interrogação. Mas só o artista a conhece e a pode revelar aos outros para ela ser desses outros e a verdade do ser se lhes iluminar. Escrever bem. Ser sensível ao que se quer revelar e ser só a sua revelação. E o mundo existir porque ele o revelou. 
(Vergílio Ferreira, Pensar)

Tinha dezassete anos quando o li pela primeira vez. Ou, pelo menos, quando se me revelou. E essa leitura marcou-me de uma forma tão profunda, que determinou de certo modo a escolha do caminho, porque me levou a decidir em definitivo que queria estudar literatura.
Escritor, ensaísta, professor, de personalidade forte e humor mordaz, dele se diz que morreu a escrever, aos oitenta anos, e que quis que o seu caixão ficasse virado para a Serra da Estrela, que ele tanto amava. Verdade ou não, o que importa é o que nos fica: uma obra imensa que, goste-se muito ou não se goste nada, ocupa um lugar central na literatura portuguesa do século XX. É, por isso, incompreensível e imperdoável que tenha sido retirado dos programas de Português do Ensino Secundário...
Vergílio Ferreira faria hoje cem anos. E, para mim, será sempre um dos melhores.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Essencial


Há muito quem, na ânsia de tudo saber e de tudo fazer, se esqueça de se dar o tempo e o espaço necessários para, em silêncio e solidão, se conhecer a si próprio.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Encantos e subtilezas


É quase sempre nas mais pequenas coisas que a vida se revela, sublime e misteriosa. Basta estar atento. E deixá-la fluir...


(Fotografia do blogue à Esquina da Tecla)

domingo, 24 de janeiro de 2016

Conversa de circunstância


Confesso a minha inabilidade para a chamada "conversa de circunstância", o que já me fez passar por situações que vão do mais caricato ao mais constrangedor. Ainda assim,  quando não sei bem o que dizer, prefiro calar-me. Mas o que parece à partida uma vantagem tem como contrapartida que quem não me conhece bem me tome frequentemente por antipática, ou convencida. O que vale é que já cheguei àquela fase fantástica em que a opinião alheia conta pouco, quase nada...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Do amor...


O amor é isto tudo: são olhos perdidos no fundo de outros olhos, são risos e vozes e cheiros, são beijos ardentes e corpos enlaçados. São as pessoas que mudam a nossa vida, que despertam o melhor de nós, que nos fazem voar mais alto e mais longe do que imagináramos ser capazes; são momentos perfeitos que dão sentido aos nossos dias. É o desejo genuíno e urgente de duas vontades em sintonia. É dar sem pensar em receber, prender e soltar, querer agarrar e deixar ir.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

110 anos


Inaugurado a 20 de Janeiro de 1906, o Liceu Pedro Nunes, como ainda hoje é conhecido, começou por designar-se "Lyceu Central da 3ª Zona Escolar de Lisboa", funcionando até 17 de Novembro de 1911 no Liceu do Carmo, primeiro, e na Rua do Sacramento à Lapa, depois, até se instalar definitivamente no centro da cidade, na Avenida Pedro Álvares Cabral, junto ao belíssimo Jardim da Estrela, num edifício criado de raiz pelo arquitecto Ventura Terra, modernizado entre 2008 e 2010 no âmbito do programa de intervenção da Parque Escolar, com um projecto da autoria dos arquitectos Pedro Viana Botelho e Maria do Rosário Beija, e classificado desde 2012  como "Monumento de interesse público".
Ao longo da sua história, passaram pelo Liceu Pedro Nunes alunos e professores que são ou foram figuras de relevo na sociedade portuguesa, como Nuno Crato, Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Represas, enquanto alunos, ou Rómulo de Carvalho, o Padre Alberto Neto e Delfim Santos, como professores, para referir apenas alguns exemplos.
No velho edifício só me lembro de ter entrado uma vez, há muitos anos, para fazer um exame do "Propedêutico" - também eu fui "cobaia" da mil e umas experiências e reformas do ensino dos anos pós revolução de Abril e que se mantêm actualmente, no mesmo ritmo frenético e insensato, a cada mudança de governo. Guardo  uma memória difusa desse dia longínquo, marcado acima de tudo pelos nervos e a ansiedade de um acontecimento excepcional. Do espaço, só recordo  a enorme escadaria de madeira, que ainda existe, e uma sala de grandes janelas.
Hoje, o Liceu Pedro Nunes - que ainda não conheço bem, mas sinto já um pouco meu - é um espaço imenso, lindo e de bom gosto, onde a tradição e a modernidade se conjugam em harmonia, um lugar com história, onde passo muitas horas dos meus dias, um mundo quase todo novo que descubro devagar, no arrepio da surpresa que é também um desafio que se vai construindo a cada dia, e onde cabem todas as vitórias e derrotas, esperanças e desilusões, expectativas e vontades de que se vai fazendo o quotidiano, como se a vida estivesse sempre a recomeçar.
E, apesar de não haver lugares perfeitos, vivo ainda no estado de encantamento que têm todos os inícios, na satisfação de um sonho realizado, e na alegria de estar num lugar a que gosto muito de pertencer.



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Justiça


Por ser alguém que "em circunstâncias excepcionais desempenhou um mandato excelente ao serviço do seu país", Paulo Portas foi hoje condecorado em Madrid com a Grã-Cruz da Ordem de Mérito do Estado Espanhol, atribuída pelo Rei de Espanha.
Nada mais justo. Mas não deixa de ser irónico, e lamentável, também, que seja no exterior que este reconhecimento se produza e que  (à excepção do DN)  a comunicação social, sempre pronta a "apontar dedos" ao mínimo deslize, quase não tenha noticiado o facto e a sua relevância, que deveria ser motivo de orgulho para todos nós.
Mas, no fundo, não me surpreende. Este país pequenininho, invejoso, medíocre e tacanho não merece uma pessoa com o mérito, as qualidades e a competência de Paulo Portas. É pena...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Amores da vida inteira (I)


Como quem conhece o calor de um colo antigo, ou a doçura de um terno abraço, feito de intimidade e de surpresa, de tempos a tempos, o coração inquieta-se de novo e reacende o desejo de voltar. 
Aqui, há um encanto sublime que não existe em nenhum outro lugar, que se nos revela a cada novo encontro, na luz do fim da tarde reflectida no rio, na quietude dos jardins, no requinte de avenidas e praças, na sofisticação despreocupada que invade tudo e devagar se nos impregna na pele, e se demora em nós, semelhante a um vício impossível de abandonar; é uma complexa e singular mistura, de charme, de beleza, de sensualidade e de emoção, que nos enamora e enfeitiça e, como uma boa maldição, se nos instala na alma, e no corpo, para sempre.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Revelação


É assim, em silêncio e solidão, no espanto perante a beleza do mundo e o enigma da vida, que melhor me descubro no mais fundo de mim.

(Fotografia do blogue À Esquina da Tecla)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Travessia(s)


Janeiro, como Agosto, por diferentes e quase opostas razões, são os meses que mais me pesam e demoram a passar. Gosto das estações intermédias, dos dias claros e frescos, da Primavera irrompendo plena de vida num colorido exuberante e ostensivo, do emocionante renascer da natureza todo feito de pujança e esplendor, como da beleza um pouco nostálgica do Outono, em tons dourados, amarelos, vermelhos, alaranjados e castanhos,  e da ideia de recomeço que lhe é também inerente.
É fascinante a relação que estabelecemos com o tempo. O tempo que corre e o tempo que apenas é. A sequência de acontecimentos que se sucedem de forma lenta, ou rápida, fluindo como a água, associado à influência que tem em nós a alternância entre a luz e a escuridão, o dia e a noite, ou a mudança das estações; mas, também, tudo o que é relativo no tempo e no espaço, o tempo que passa demasiado rápido, ou dura para lá da nossa vontade, em função da impressão boa ou má que nos causa, e nos permite ou impede de viver cada instante na mais absoluta plenitude. 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Arrojo


Era quando lhe via nos olhos aquele brilho especial, o fulgor em que se misturavam a audácia, a curiosidade  e o medo em doses quase iguais, que voltava a deixar-se encantar. Havia naquele destemor qualquer coisa que a seduzia mais que tudo, que lhe trazia de volta a ternura e o desejo, e a certeza funda e reconfortante de que era muito grande o que os unia, que o tempo tinha modificado e consolidado para além do que haviam podido imaginar e apesar de tudo o que de bom e mau tinham passado juntos, e estava para lá de todos os nomes que lhe quisessem dar e de tantas coisas que não se conseguem compreender; que era cumplicidade e estímulo, e corpo e alma e vida inteira, e às vezes também aquele aperto no peito a que se chama, simplesmente, amor.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Joy


Há em Jennifer Lawrence um magnetismo qualquer, misto de talento, força e sedução, que reduz a quase nada todos os que a rodeiam. É mais ou menos o que se passa no último filme de David O. Russel, em que interpreta Joy Magano e o seu percurso de criança excessivamente criativa a empreendedora de sucesso, passando por toda a espécie de dificuldades desde o ponto de partida ao ponto de chegada. Baseado numa história verídica, é este final feliz que faz com que o filme seja frequentemente designado como "um conto de Cinderela dos tempos modernos".
E, no entanto, se exceptuarmos Jennifer Lawrence, o filme é apenas mediano, apesar de ser assinalável o restante elenco, que inclui nomes tão sonantes como Bradley Cooper, Robert de Niro, ou Isabella Rossellini, aqui relegados para um segundíssimo plano e com personagens muito pouco consistentes, uma espécie de caricaturas. Há depois, também, quanto a mim, um problema de ritmo. A história pormenoriza excessivamente o longo calvário da personagem principal, arrasta-o até um pouco, para depois acelerar de súbito no final, quando a vida lhe começa a correr melhor.
Enfim, será um filme a ver pela interpretação de Jennifer Lawrence, mas que, na verdade, não me convenceu inteiramente.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Quem será?


O que será o CDS depois da saída de Paulo Portas é ainda uma incógnita. Para já, apenas a certeza de que seja o que for que venha a passar-se será certamente diferente do que foi até aqui.
A este respeito, Adolfo Mesquita Nunes, de quem gosto muito e cuja opinião tenho em grande consideração, dá hoje uma entrevista ao DN que vale a pena ler e da qual transcrevo apenas algumas passagens. Estas:
Sobre se a saída de Portas foi ou não na altura certa: Não sei se é oportuno avaliar a bondade ou a justeza da decisão. O que interessa é que a decisão foi tomada e o CDS tem que decidir o que fazer com ela. A decisão coincide com um novo ciclo político que evidencia algumas mudanças que podem ser um oportunidade histórica para o CDS. (...) O CDS deve aproveitar uma maior dificuldade de renovação e actualização do PSD e surgir como a novidade que as pessoas precisam. (...) assumindo-se como o partido do reformismo sensato, que quer mudar o que há a mudar, com sensatez, com método, com pragmatismo e não por imposição externa ou ideológica. (...) Não podemos ambicionar ter o mesmo estilo de liderança sem o líder que a inspirava. Por outro lado, penso que os desafios com que Paulo Portas se foi deparando, e que foi vencendo, são diferentes dos desafios que temos agora pela frente.
Sobre Nuno Melo e Assunção Cristas: Assunção Cristas tem um espírito pragmático e sensato assinalável. Nuno Melo tem um sentido político preciso e uma combatividade invulgar. Espero que o partido continua a contar com os dois. (...) Já defini aquilo que é para mim importante, agora vamos ver se algum corresponde à minha análise.
Eu preferia que Paulo Portas tivesse continuado como líder do CDS, mas entendo a sua decisão. E a conjuntura também a propicia, por diferentes razões. Não sou de ficar nostalgicamente agarrada ao passado. E, por isso, agora, importa antes de mais o que aí vem. Mas, contrariamente a Adolfo Mesquita Nunes, eu sei quem prefiro. Por muito que o partido possa continuar a contar com Assunção Cristas, que tem qualidades inegáveis, quem pode e deve assumir a liderança, por ser mais capaz de o fazer, é Nuno Melo. Dentro de dias, haverá certamente novidades.
E, em função do que vier a acontecer, posso também decidir continuar no CDS, ou deixar o partido...

domingo, 10 de janeiro de 2016

Do desejo



Hoje, a crónica quinzenal de Júlio Machado Vaz no Notícias Magazine dizia o seguinte sobre o desejo: (...) amadurecido, como um bom vinho, recusa pressas e veste a dança dos corpos de roupagens que a anunciam e prolongam para lá do espasmo, damas de honor sem as quais a boda perde brilho: cumplicidade, riso, ternura. Comparado a quem degusta vagarosamente essa maravilhosa bebida, fala também do gozo da pausa, do erotismo difuso, da viagem lenta ao fim do copo e do corpo, da luz já outonal de Setembro, dos adágios tocados a quatro mãos e dois imaginários; do desejo vintage!
E lembrou-me uma conversa que tive ontem com umas amigas, na qual falávamos de como o sexo também se vai tornando melhor com a experiência e o tempo e como pode tornar-se até mais livre e estimulante.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Prazer e necessidade


Contrariando aquela ideia de que as necessidades de sono vão diminuindo à medida que a idade avança, estou em crer que elas variam antes de pessoa para pessoa, independentemente dos anos que cada um tem.
Estou entre os que os precisam de dormir muito (oito horas, no mínimo) para poder sentir-se bem. Mais: dormir é para mim um enorme prazer. Por isso adoro sestas no sofá seja qual for a estação do ano, adormeço sempre com muita facilidade e raramente tenho um sonho mau, daqueles que nos fazem acordar em sobressalto.
Mas, exceptuando as férias e alguns fins de semana, as minhas horas de sono ficam sempre um pouco aquém do que preciso. Talvez porque também não sou capaz de me deitar cedo...
Isso explica que, depois de uns dias de pausa, tenha vivido esta semana em estado de semi-sonambulismo, na incapacidade de voltar ao ritmo alucinante do quotidiano, aos três despertadores que tocam a horas obscenas, e a uma vida feita em permanente correria, e anseie como nunca a chegada do fim de semana para me recompor de todos os afazeres e cansaços deste recomeço, e poder enfim dar-me ao luxo de, enquanto houver sono, dormir tranquila como um bebé, sem nada que venha interromper-me os sonhos. 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Ralações


Tenho, desde sempre, um relacionamento difícil com as novas tecnologias. Não sou exactamente aquilo a que se chama "info-excluída", mas utilizo-as no básico e de acordo com as necessidades de cada momento. E lá me vou desenvencilhando como posso e sei, umas vezes bem e outras nem tanto.
O pior é quando as coisas correm mal. Foi o que aconteceu hoje. Por causa de um problema com a bateria do telemóvel, que teve que ser substituída, tiveram de repor os dados de origem e reiniciá-lo. Pelo caminho perdi fotografias (a maior parte), músicas e até alguns contactos. E tem sido um verdadeiro stress redefinir tudo. Demorei horas e ainda não está terminado.
É em momentos destes que eu tenho realmente consciência das minhas limitações nesta área e, que parafraseando uma amiga, só posso dizer que, de facto, eu e as tecnologias "não temos uma relação adulta".

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

De pernas para o ar


Virou-lhe o mundo ao contrário e marcou-a para sempre. Muitos anos depois, não havia ainda braços que a segurassem melhor, nem companhia que lhe soubesse tão intensamente a paraíso, por mais tortuosos que fossem os caminhos percorridos e profundas as marcas da passagem do tempo.
No fundo, não podia deixar de pensar que tudo valera a pena: que o caos e o abismo haviam sido também a redenção e a felicidade, tudo sempre com aquele não sei quê que era nada e tudo ao mesmo tempo, amizade e todos os sentimentos de repente confundidos, fraqueza e força, dor e amor ardente, cicatriz e arrepio, lágrimas e riso, surpresa e deslumbramento, solidão e companhia, frio e calor; e aquela emoção da primeira vez, sempre diferente, mas sempre repetida. 
E sabia que mais ninguém a percebia e conhecia tanto, nem a poderia fazer assim tão desmedidamente feliz.

sábado, 2 de janeiro de 2016

O Ano do Macaco


2016 traz consigo algumas efemérides. Celebra-se o centenário de dois escritores muito diferentes, mas de que gosto bastante: Mário Dionísio e Vergílio Ferreira. Segundo leio no Observador, várias canções comemoram cinquenta anos. Entre elas, as do álbum "Parsley, sage, rosemary and  thyme" de Simon and Garfunkel, como "Scarborough Fair" e "Homeward Bound", que animaram a minha adolescência e não imaginava tão antigas.
De acordo com o horóscopo chinês, o ano que agora começa é o ano do macaco. Mais: como é regido pelo elemento fogo, é o ano do macaco de fogo, associado também à cor vermelha. Começa a 8 de Fevereiro e vai até 27 de Janeiro de 2017. E, segundo consta, promete grandes mudanças nas nossas vidas. Bom, desde que sejam para melhor...
Não ligo grande coisa a isto dos signos, mas a ser verdade, diz-se que é um ano que trará novas e pouco convencionais maneiras de ver e de fazer  as coisas
E a avaliar pelo que já se vai vendo na politica portuguesa, podemos esperar, no mínimo, grandes macacadas.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Bons Propósitos


O início do ano vem marcado de mistério e novidade, na certeza dos dias que se sucedem devagar, com a alternância das estações, o som da chuva e o barulho do mar, o sol, a lua, e tudo aquilo de que gostamos e não gostamos e nos vai enchendo a existência; o que apenas passa por nós e o que nos marca, todas as histórias que pensamos viver, ou o que não imaginamos e nos surpreende; o que fomos deixando para depois, em promessas sucessivamente adiadas, o que julgamos que ainda pode vir a ser se...
E os brindes que não  têm dia, nem hora, nem mês, ou  estação do ano previamente marcados no calendário. E todas as comemorações inesperadas, que são as que sabem melhor. E a alegria dos reencontros, assim como aquilo que desejamos, sem ter bem a certeza de querer ou não querer, por não saber bem como é. 
E assim, passo a passo, na lenta caminhada de cada dia, vai-se construindo a vida, com a vontade de querer sempre mais; e de lhe dar, também, uma outra dimensão, que nos modifique e nos leve um pouco mais além...

Se a vida é oportunidade, deves aproveitá-la.
Se a vida é beleza, importa que a admires.
Se a vida é sonho, deves concretizá-lo.
Se a vida é desafio, ousa enfrentá-lo.
Se a vida é dever, importa que o cumpras.
Se a vida é jogo, não fujas e aprende a jogá-lo.
Se a vida é mistério, faz por desvendá-lo.
Se a vida é promessa, não deixes de a cumprir.
Se a vida é riqueza, esforça-te por conservá-la.
Se a vida é preciosa, cuida bem dela.
Se a vida é amor, goza essa dádiva em pleno.
Se a vida é tristeza, tenta superá-la.
Se a vida é combate, não desistas de lutar.
Se a vida é felicidade, faz tudo por merecê-la.
Se a vida é tragédia, tenta dominá-la.
Se a vida é aventura, aceita afrontá-la.
Enfim, se a tua vida é Vida, sabe defendê-la 
Com todas as forças que ele te der
E dá-Lhe graças para todo o sempre
Por aquilo que te foi dado viver.

                                                        (Helena Sacadura Cabral)