segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Alegrias obrigatórias


Há duas festividades anuais cujas comemorações não me tocam: O Carnaval, de que nunca gostei muito, nem mesmo em criança, e as celebrações mais ou menos deprimentes que rodeiam a passagem de ano.
Sempre me fez um pouco de confusão aquela ideia que, com dia e hora marcada, tenhamos que estar muito contentes e divertirmo-nos de qualquer maneira, (ou fingir, pelo menos), em festas públicas ou privadas, que acontecem por todo o lado de forma indistinta e generalizada, nas quais toda a gente, invariavelmente vestida de preto, dourado ou prateado, come, bebe e dança de modo excessivo e ostentando uma alegria forçada, com um ar meio pateta, a fazer comboiozinhos, ou  outras coisas desse género; e onde é obrigatório cumprir estranhos rituais à meia-noite, como se, no segundo seguinte, ou até nas horas e dias por vir, as vidas das pessoas se alterassem de maneira significativa.
É a este tipo de festejos que eu e a minha irmã nos referimos há anos como as festas ri-pi-pi e tro-la-ró, um conceito que, provavelmente, só nós as duas entendemos, na imensa aversão e repugnância que nos causam. Pior que isto, só mesmo o "dia dos namorados"...
Não é mania de  ser "do contra". Nem é, sequer, querer ser diferente. É mais uma questão de fazer ou não fazer sentido. É que, na verdade, a noite de passagem de ano não é para mim muito diferente de outra noite qualquer e não faço questão de a comemorar de nenhuma maneira especial. Se calhar porque é só mais uma noite. Ou, talvez, porque não gosto de despedidas.
Prefiro as festas sem razão aparente, aquelas que acontecem apenas porque estamos felizes ou temos vontade de estar juntos. E os brindes que não  têm dia, nem hora, nem mês, ou  estação do ano marcados no calendário. Gosto de comemorações repentinas e inesperadas, surpreendentes ou longamente esperadas. Das que acontecem porque sim. Sem nenhum tipo de obrigatoriedade, ou de imposição.
Agrada-me, no entanto, a ideia de ter mais um ano,  com aquela carga de desconhecido que simultaneamente atrai e assusta, como tudo o que desejamos sem ter bem a certeza de  como é. De mais 365 dias inteirinhos, com 8760 horas  e mais minutos ainda para encher de ideias, de projectos e propósitos, de  promessas, de felicidades adiadas, da vida que se vai construindo passo a passo, na lenta caminhada de cada dia, com a vontade de querer sempre mais e de lhe dar, também, uma dimensão nova.
Como toda a gente, no final do ano, faço uma espécie de balanço de tudo o que vivi nos dias que ficam para trás, relembro mágoas e alegrias, tristezas e emoções, muitos momentos e acontecimentos bons e maus, que me modificaram e que, inevitavelmente, me fizeram crescer em termos pessoais.
Para o novo ano tenho já muitos sonhos, planos e desejos, alguns verdadeiramente inconfessáveis, mas, acima de tudo, só quero duas coisas: ter saúde - que é a mais importante de todas - e ser feliz! E continuar a acreditar que só o amor importa...

domingo, 30 de dezembro de 2012

Regresso



De volta a casa, à minha cidade, com a luz da lua reflectida no rio...
A entrada em Lisboa, pelo sul, é uma das melhores sensações de um regresso de viagem. A vista, à medida que se avança pela ponte, é a mais bonita de todas. E, depois, há também aquele momento bom de entrar de novo em casa e reencontrar o nosso espaço de intimidade. É bom partir, mas também sabe bem regressar. Ir para poder voltar...

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Fim de festa


Hoje é dia de festa, tempo de luz e de alegria serena, de amor incondicional e de coração aberto à esperança.
Cumpriu-se mais um Natal. Pela parte que me toca, terminados os festejos, sabe-me bem voltar à tranquilidade da minha casa, da lareira, do silêncio e do meu sofá; e deixar-me estar assim, quieta, sem fazer mais nada para além de ouvir música suave. Tempo de pausa, necessário e tão bom...
Porque, daqui a nada, com Espanha no horizonte, são outras festas, bem diferentes, mas não menos apetecíveis. Madrid está já ao virar da esquina. Aí vou eu... Olé!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O meu mundo



O meu Natal sempre foi muito mais Menino Jesus do que Pai Natal. Por isso, quando eu era pequena, a  festa concentrava-se sobretudo no dia 25. Porque se dava maior importância à espiritualdade da celebração do que ao consumismo. Deve ser, também, por essa razão, que esta continua a ser para mim  uma época de sentimentos e de afectos mais do que de presentes, de comidas e de bebidas. E, ainda hoje, o grande momento dos festejos familiares é o almoço do dia de Natal.
Tenho uma família pequena. Mas, felizmente, há na minha vida muitas pessoas a quem o que me liga é só o coração. E que são verdadeiramente importantes para mim. É essa grande família afectiva que fez e faz de mim muito do que eu hoje sou. São todas as pessoas que já passaram na minha vida e deixaram nela a sua marca. São, acima de tudo,  as que ficaram nela para sempre, as que estão comigo aqui e agora, que me acompanham e apoiam em todos os momentos, que me ouvem e me aturam, que partilham as minhas alegrias e atenuam as nódoas negras que vou fazendo pelo caminho; e que gostam de mim sem limites, porque me aceitam como eu sou.
É em todas essas pessoas, muito diferentes entre si e que fazem parte da minha vida, família, amigos e amores, que eu  hoje penso mais; e que abraço, na realidade, ou somente no coração, porque são o meu património sentimental; e porque lhes agradeço, infinitamente, o facto de me ajudarem na procura de um sentido para a vida e de contribuirem, todos os dias, para eu me sentir (ainda) mais feliz. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Chegou o Inverno




Não é uma das minhas estações preferidas, mas, no fundo, todas elas têm a sua magia e significado e é nessa diversidade que reside o efeito que cada uma tem em nós. 
Associado à noite, ao escuro, ao frio e a uma certa tristeza, o Inverno é também tempo de recolhimento, de interioridade, de abrigo e protecção, do  aconchego e do calor da casa,  assim como de uma certa fragilidade e desamparo, que torna ainda mais tocante qualquer  pequeno gesto querido.
A maioria das pessoas não gosta muito do Inverno. E, no entanto, tudo o que tem um lado negativo tem também um lado positivo, tudo pode ser ao mesmo tempo mau e bom, verso e reverso. Tudo o que é triste pode ser surpreendentemente belo. O Inverno não é apenas preto, ou branco; muito para além disso: ele pode ser cinzento, ou ter todas as cores do arco-íris. E ainda traz consigo a promessa de uma nova Primavera.
Como em quase tudo, a maior parte depende só de nós...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Para os meus amigos da blogosfera



 Hoje escrevo à mão, a tinta permanente, que é como eu gosto mais de escrever.  E, ao contrário do que é habitual, este é um post especialmente dedicado.
Porque esta é uma época de amor, de afectos e de emoções fortes. Porque a blogosfera foi uma descoberta boa deste ano, que chegou à minha vida quase por acaso, que me revelou um mundo novo e fez despertar um lado de mim que andava um pouco mais escondido.
Por todos os posts que, ao longo destes  sete meses, me fizeram rir, pensar, sorrir, emocionar-me, enternecer-me, reflectir, concordar, discordar, maravilhar-me, comover-me, deliciar-me e sonhar, numa teia sem fim de encantos e cumplicidades, que não imaginava possível entre pessoas que antes não sabiam da existência umas das outras e que nunca cruzaram um olhar.
Por todos aqueles a quem me afeiçoei sem precisar de os ter visto, que admiro e respeito sem conhecer o som das suas vozes, nem a musicalidade dos seus risos, que chegaram até mim apenas através das palavras (no princípio era o Verbo), com tudo o que elas escondem e revelam. Pelo  prazer da partilha e pelos laços que descobri que também é possível criar desta maneira.
E, ainda, para todos os que passam por aqui sem se dar a conhecer, para todos os que me "seguem" e eu acompanho também, ou, até, nem por isso; para os se detêm para ler o que eu vou escrevendo, ao sabor das minhas vontades e  de sentimentos de cada dia e de cada momento.
É para todos eles e, em particular, para o  Paulo, para a Helena, para a Virgínia, para a Fátima e para a Sissi, que vai este forte beijo e este abraço apertado de bom Natal, cheio de desejos das melhores coisas que a vida pode dar-nos, principalmente saúde, mas também alegria, amor, dias bem passados e muito boas surpresas.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Madrugar



Se há coisas de que eu não gosto, levantar-me cedo é, seguramente, uma delas. Custa-me sempre tanto!... 
À noite nunca tenho pressa de me deitar e tudo o que seja menos da meia-noite, ou uma, é demasiado cedo para mim. Mas, de manhã, sou incapaz de ouvir  o despertador e saltar da cama, com o vigor  e a determinação de quem está pronto para começar um novo dia. Preciso de uns dez minutinhos, pelo menos, para me mentalizar. Para me auto-convencer que vou ter mesmo que sair dali. Onde eu estava tão bem... E só o faço por obrigação, para ir trabalhar, ou por prazer - para ir viajar, por exemplo.
Em podendo, gosto de me ir deixando ficar até mais tarde, acordando e voltando a adormecer, gozando a preguiça do meio-sono, sem pressa nem horários a cumprir, numa espécie de desforra por todos aqueles dias em que tenho de me levantar antes de ter dormido tudo. É que eu adoro dormir! E tenho que dormir imenso. Oito horas, no mínimo, seria o ideal. Mas isso nem sempre é possível! Felizmente, não há preocupações, nem tristezas, ou desgostos, que sejam capazes de me tirar o sono; e, até agora, só muito raramente tive que lidar com espertinas e insónias.
Quem haveria pois de dizer que  me ia dar para esta maluqueira de me levantar muito mais do que cedo, três vezes por semana, para ir ao ginásio antes de ir trabalhar.  Às vezes, até a mim me custa a acreditar, porque nem me  reconheço. Claro que continua incomodar-me ouvir o toque do despertador às seis da manhã, que continua a ser difícil sair de casa antes das sete, quando lá fora ainda é tudo escuro e as ruas estão mais ou menos desertas.
Mas, depois, há o lado bom que têm, também, todas as coisas: os efeitos do exercício físico no corpo, o facto de me saber bem sentir-me em forma e de sair do ginásio a transbordar de energia e boa disposição.
E, acima de tudo, o prazer de poder assistir ao nascer do dia, de ver a noite fazer-se dia e Lisboa a clarear, a cidade a transformar-se, ampliando os sons e os movimentos, o sol a aparecer no horizonte, primeiro tímido e logo iluminando os telhados e o rio, silencioso e sereno, eterno companheiro de uma Lisboa  que acorda vagorosa, como eu.
Tudo isto dura há quatro meses e tal, mas ainda conserva  o sabor da novidade; ainda não me cansei de ver amanhecer, o nevoeiro dissipar-se, a cidade despertar, ganhar cor e vida, passar  da calma ao bulício, na  luz ímpar da manhã que, aos poucos, se vai tornando mais intensa.
E, nem que fosse somente para assistir a este magnífico espectáculo, já teria valido a pena madrugar...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Passagem do tempo



Les vieux ne bougent plus
Leurs gestes ont trop de rides
Leur monde est trop petit
Du lit à la fenêtre,
Puis du lit au fauteuil
Et puis du lit au lit.       (Les Vieux, de Jacques Brel)

Quando olho a minha mãe, vejo, com mais clareza, como podem ser duros e devastadores os efeitos que a passagem do tempo tem em nós.  Às vezes, confesso, não deixa de emocionar-me ver nela apenas uma sombra do que foi outrora.
É a mesma alegria. É o mesmo sorriso. Mas, o dinamismo e a energia de quem eu me habituara a ver positiva e bem-humorada, a agarrar a vida com as duas mãos, olhando-a de frente e lutando contra todos os impossíveis para a transformar numa festa diária, perdeu-se para sempre.
E pergunto-me o que ela pensará sobre tudo o que não consegue dizer-me. Tento aceitar a sua velhice com a naturalidade de quem sabe que o declínio não pode ser evitado.  Sei que, agora, tenho de ser eu a ampará-la e a mimá-la, para que ela se sinta bem. Só quero que, no tempo que lhe resta, ela possa ser muito feliz. E faço tudo por isso. Porque  o tempo também inverteu, de certo modo, os nossos papéis. Mas não deixa de ser triste constatar que, entre nós, só o  amor continua igual.
Os Domingos à tarde são um tempo só nosso, momento especial de estarmos juntas. Hoje, tento aproveitar ao máximo esse tempo. E  não consigo imaginar-me  sem os seus olhos verdes, sempre vivos,  mudando de tonalidade consoante o seu humor, nem sem os nossos risos cúmplices e os nossos abraços apertados.
Tenho, muitas vezes, saudades do seu colo. Do tempo em que bastava dizer: "ó mãe!" para tudo se resolver; em  que  bastava ser embalada pelos seus braços fortes e bons  para que todas as minhas dores passassem   e  os meus desgostos de menina se desvanecessem.
Quem sabe se, de afecto em afecto, o que procuramos a vida toda não é mesmo o regresso a essa inocência irremediavelmente perdida, que continua a parecer-nos  a "Terra Prometida".

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ternura



Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira

Hoje, agora, em total desarmonia com uma tarde agreste de Outono,  despedindo-se  impiedoso  e violento,  é só ternura que me enche o coração.
E, sempre que digo, penso, ou sinto ternura, é este poema, lindo, que eu adoro, que me vem à cabeça.
Mas, hoje, quero dar-to! Porque, repetindo O'Neill, também eu "tropeço de ternura por ti."

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Noites de Lisboa



Conhecida pelo seu romantismo meio decadente e  por uma  luz absolutamente  inigualável, Lisboa tem, também, uma extraordinária vida nocturna.
É quando o sol desaparece e o Tejo fica às escuras, que Lisboa desperta da sua habitual quietude  mais ou menos pachorrenta, se volta  para si  e se agita festiva, como uma adolescente em alvoroço.
Eu, que sou conhecida por ser muito "urbana", vivo em estado de permanente paixão pela minha cidade, caprichosa, cativante e sedutora a todas as horas.
Houve uma altura, há uns bons anos, em que saía quase todas as noites. Animada pela euforia da emancipação acabadinha de chegar, queria viver tudo de uma vez, como se nada, nem ninguém, me pudesse deter. Era o tempo em que tudo tinha que ser para hoje, já, agora mesmo. Em que queria ir aqui e ali, na sofreguidão desmedida de conhecer tudo e mais alguma coisa, restaurantes, bares, discotecas... E absorver, exaustivamente, o mundo de diversão que a noite me oferecia, que era de certo modo novo para mim e me encantava a ponto de não deixar sequer lugar para o  sono, nem para o cansaço.
Naquela época, todos os caminhos iam dar ao Xafarix, que era um dos lugares incontornáveis da noite de Lisboa. E onde, ainda por cima,  estava o Luís Represas, não na distância fria de um palco, mas coladinho a nós, com aquela voz única que Deus lhe deu, a cantar canções brasileiras (tantas vezes melhor do que as versões originais), lindas, que embalavam os nossos amores e desamores de então, que continuaram a fazê-lo durante uns anos e que, ainda hoje, me vêm frequentemente à memória. Como esquecer: Foi nos bailes da vida, ou num bar em troca de pão, que muitas gente boa...Não há ó gente, oh não, luar como esse do sertão... Prepare o seu coração, p'rás coisas que eu vou contar... E por falar em saudade, onde anda você... Quero falar de uma coisa, adivinhe onde ela anda...Ou ainda a Saudosa Maloca e a Teresa da Praia, em duetos tão deliciosos como hilariantes com um impagável Cajó?
E, no entanto, era quando a madrugada já ia adiantada e o Xafarix encerrava portas,  que aconteciam os melhores momentos, os mais emotivos, com um grupo restrito que se ia deixando ficar, a conversar, a beber, a comer tostas mistas, a rir e a cantar, em longas noitadas de  emoções, afectos e música, que, quase sempre, se prolongavam até à hora em que o dia já se fazia anunciar.
Guardo, bem vivas, muitas recordações boas desses anos e de incontáveis noites de farra total. Lembro-me, por exemplo, de uma vez ter estado connosco Pablo Milanês; e de outra noite em que fomos todos para minha casa, lá para as seis da manhã, comer bolo rei torrado com manteiga e ouvir Frank Zappa.
Entretanto já passou muito tempo, aconteceu muita coisa e todo aquele frenesim de outrora se esgotou.
Hoje, continuo a gostar da noite e de "sair", mas faço-o de maneira muito mais comedida, pensando nos efeitos colaterias que uma noitada à maluca pode causar no(s) dia(s) seguinte(s).
Ir jantar fora é um dos meus grandes prazeres. Gosto de bons restaurantes, daqueles onde o ambiente acolhedor, a comida e a bebida mais  requintadas, associados a uma excelente companhia, são a garantia de pequenos pedaços de paraíso. De momentos que fazem a vida valer a pena. E há restaurantes magníficos em Lisboa. Não os conheço todos, naturalmente, mas dos que já visitei (e repeti várias vezes) continua a ser, talvez, A Travessa, na Madragoa, que está no topo das minhas preferências. A isso não será indiferente a sua localização, no espaço meio feérico do Convento das Bernardas, que faz muito mais o meu género do que os ambientes frios e algo minimalistas do tipo  Bica do Sapato.
De discotecas nunca fui grande fã, embora tenha feito todo o circuito (kremlin, Plateau, KapitalLux, como todas as pessoas da minha geração), mas cada vez tenho menos paciência para esse tipo de espaços.
Para mim,  que sempre preferi os bares às discotecas, as melhores noites de Lisboa, as melhores festas, continuam a ser as do Xafarix. Há, agora, locais belíssimos, à beira-rio, ou com deslumbrantes vistas sobre a cidade, mas,  ali, no velho Chafariz de Santos,  vinte anos depois, o Xafarix continua igual e imparável, com boa música, muita alegria  e o sucesso que só consegue ter quem percebe o que anda a fazer. Mesmo se o Luís Represas  já só canta em dias de festa, lá está o Cajó para nos receber com a sua simpatia e boa disposição e sem o pretensiosismo exibicionista dos locais da moda.
Na verdade,  o Xafarix continua a ser um lugar de referência, um clássico, que eu não hesito em nomear como primeiríssima escolha, se me pedirem para assinalar um lugar para ir passar um bom bocado. E ainda que, actualmente, (e tirando a festa de aniversário, na noite de Santo António, que é imperdível e  em que acabo sempre por ir  "picar o ponto"), a minha presença no Xafarix seja incerta e pouco frequente, pelas mais diversas razões, é um sítio onde tenho sempre vontade de ir. Porque é como estar de novo na sala de velhos amigos, daqueles com quem nos sentimos bem, mesmo quando estamos muito tempo sem nos ver. E porque  é ali, naquele ambiente genuíno, festivo e acolhedor, entre risos e muita música, que continuo a sentir o aconchego e o bem-estar que só se sente em casa.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A moda das tatuagens

 
Definitivamente, eu não gosto mesmo nada de tatuagens.  Não consigo! Há modas que não me convencem de modo algum, vista a questão seja de que perspectiva for. E há coisas, também,  em relação às quais eu me confesso de uma intransigência sem limites, desproporcionada, quase irracional.
Dantes, quando eu era pequena, as tatuagens eram todas em forma de coração e tinham mensagens similares, que passavam  invariavelmente por uma inscrição do género: "amor de Mãe - Angola 1973". Hoje, há de tudo um pouco e para todos os gostos: desde a "Sininho" à execrável "Hello Kitty", passando por frases pseudo-profundas como: All you need is love, símbolos árabes ou caracteres japoneses, golfinhos no ombro,  rosas no tornozelo, estrelas na nuca ou no pescoço, flores no pulso, o nome do(a) namorado(a) nos lugares mais inconcebíveis, até aos desenhos personalizados e pretensamente originais, mas que de inovador têm muito pouco. E, no entanto, a diversidade não veio melhorar nada. Pelo contrário. O facto de ser uma moda que tem agora tantos seguidores, tornou-a  mais banal e corriqueira e, por isso mesmo,  ainda mais detestável. Com a agravante de que aquela porcaria nunca mais sai.
Quando penso em tatuagens, ou quando me entram pelos olhos dentro, vem-me sempre à ideia uma canção brasileira e a voz, magnífica, de Luís Represas: "Porque gado a gente marca (...) mas com gente é diferente..."
Falam-me de "arte" e de mais não sei o quê e eu não encontro ali beleza alguma. Apenas consigo vê-las no que têm de mais "chunga". Há em todas as tatuagens um toque qualquer de vulgaridade, que as torna, aos meus olhos, todas iguais. Um bocadinho exibicionistas, até.
E não apenas em casos extremos, de tatuagens enormes, que ocupam grandes extensões do corpo. Refiro-me a todas;  e, por isso, também, àquelas mais ou menos simples, em lugares recônditos, acessíveis apenas a alguns olhares, em circunstâncias de maior intimidade. Porque não há tatuagens discretas. É sempre qualquer coisa que está a mais,  uma espécie de borrão, uma mancha que se podia ter evitado. E já vi corpos lindos, que perdem a sua absoluta perfeição, porque, num cantinho qualquer, lá está aquele defeitozinho a dizer "olá, cá estou eu", confirmando a ideia de que "no melhor pano cai a nódoa".
Consigo, apesar de tudo,  amar quem tem uma tatuagem? Claro que sim, porque às vezes o amor sobrepõe-se a tudo e, então, a questão passa a ser insignificante. Não é pois caso para gostar menos de alguém só por causa de uma tatuagem,  mas, olhando para ela,  apetece-me sempre dizer: "Serias tão mais perfeito se não tivesses isso aí..."
Chamem-me beta, tia, snob, o que quiserem, mas não consigo olhar para uma tatuagem sem a achar uma "piroseira".
Enfim, parafraseando a Imperatriz Sissi, de um blog a que acho imensa piada, eu, quanto a esta "modernice", manifesto o meu enorme e mais profundo blheeec!

domingo, 9 de dezembro de 2012

O meu sofá


Ocupa o centro da minha sala e tem um lugar privilegiado na minha existência. Conhece os meus segredos mais obscuros, aqueles que não ouso mesmo contar a ninguém. Já viveu muito e talvez esteja, até, um bocadinho fora de moda. Mas isso não tem para mim a mais pequena importância. Porque temos uma longa história comum, de cumplicidade e de partilha.
Menos próximos de manhã, que é a altura do dia em  passo por ele com indiferença e quase o ignoro,  é a partir da hora de almoço  e à medida que o dia se vai fazendo noite, que nos vamos tornando mais íntimos. Então, consente-me tudo e, às ordens do meu humor e da minha vontade, deixa-se usar: para dormir, sonhar, divagar, descansar, ler, escrever, pensar, comer,  falar ao telefone, ver televisão, ouvir música, namorar. Para tudo o que eu quiser. E devolve-me a serenidade de que tantas vezes necessito.
É como um enorme colo, que me ampara e aconchega, única testemunha de inúmeras alegrias e desgostos, de tristezas passageiras, de  recordações, de desejos, de conversas e de silêncios, de mágoas profundas, de raivas incontidas e de lágrimas silenciosas, mas também de muitos momentos de ternura, de carícias demoradas, de almas a nu, de beijos apaixonados e de corpos despidos à pressa, na urgência do amor.
Sinto-lhe a falta com frequência. Quantos dias, sentada à frente do computador, a seguir ao almoço, me invade aquela moleza do corpo a pedir descanso e sonho com as delícias de uma sesta. Ou, em tardes de chuva e frio, anseio por lanchinhos, de lareira acesa, entregue ao seu conforto, de olhos presos na luz e no calor das chamas,  deixando o pensamento voar.
É onde gosto de me estender, quando chego a casa cansada, farta, ou triste. Ou quando estou feliz e  me apetece ficar um bocado sem fazer nada, deixando passar o tempo, perdida em mil  ideias e fantasias, de imaginação à solta, em tardes e noites ociosas, de silêncio, de paz e de preguiças várias.
Ah, se o meu sofá falasse, teria tanta coisa para contar...

sábado, 8 de dezembro de 2012

Blanca Paloma

 
Y a mí que me importa el día
ni el mes del año que sea
y aunque no haya romería
Mi fe siempre va con ella
Todo el año y cualquier día


Porque hoje é um dia consagrado a Nossa Senhora. E porque é a Virgem do Rocío que me guia, que me protege e que sempre me acompanha.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

E, de novo, Espanha


Não sou uma daquelas pessoas que olha com desconfiança para tudo o que é espanhol, alimentando o velho ditado segundo o qual, daqueles lados, "nem bom vento nem bom casamento." Irritam-me as rivalidades parvas entre dois países que têm tudo para se entender, porque, no fundo, se calhar, o que nos aproxima é muito mais do o que nos afasta, contrariamente ao que, durante tantos anos, sempre nos quiseram fazer crer.
Eu gosto de Espanha na sua diversidade e nos seus contrastes, como gosto de tudo o que é controverso e se ama, ou se odeia, sem indiferença nem meias tintas. É um país onde me sinto bem. Identifico-me com o prazer de viver e o espírito positivo, que faz de tudo uma festa. Mas, ainda me falta conhecer muita coisa. É que Espanha é enorme!...
Gostava, um dia, por exemplo, de fazer o caminho de Santiago, de ir ao cabo Finisterra, a Oviedo brindar com sidra, ou às festas de San Fermín, em Pamplona. E, também, a sítios menos afamados e muito mais recônditos, como Úbeda, na província de Jaén, considerada a jóia do renascimento andaluz,  Ronda,  ou Sos del  Rey Católico, em Zarogoza. E mais; muito mais!
Do que conheço, gosto de maneira mais intensa e apaixonada de San Sebastian, romântica e cativante, da aldeia de El Rocío (Huelva), por tudo o que significa para mim, de Barcelona, só por causa do Gaudí, (que os catalães são mesmo muito embirrantes), de Madrid, monumental e cosmopolita e, naturalmente, de Sevilha, que é a Espanha mais genuína.
Porque Espanha, para mim, é sul. É Andaluzia, sol, touros e mar. São as esplanadas, o flamenco e as sevilhanas. São noitadas intermináveis,  de amigos, de copos e de música. É o entusiamo excessivo e inebriante, com razão ou sem ela, o colorido forte e o à-vontade às mãos cheias.
Adoro  Sevilha, a sua cálida luminosidade, o ambiente "callejero" e a vida ao ar livre, o tilintar dos guizos das carroças  misturado com o som dos cascos dos cavalos no asfalto, a paz do rio Guadalquivir, o fervor religioso em ritmo de alegria, a simpatia das pessoas, o movimento fervilhante das ruas ao final do dia e a preguiça da sesta nas tardes quentes de Verão. Seja em que altura do ano for, Sevilha é sinónimo de ócio, de animação e de folia.
Há um ano que não vou a Espanha. E já tenho muitas saudades. Mas, daqui a mais ou menos vinte dias, vou resolver isso. Habituada a viajar em Dezembro, mas nunca nesta altura do ano, assim, entre festas (de Natal e de Ano Novo), é, de certo modo, uma estreia dupla, porque vou muito bem acompanhada, com amigos de há muito anos, mas com quem, por razões várias, nunca viajei antes. Só o destino é que não é novo. Repetir destinos conhecidos é uma velha mania minha e, desta vez, calhou Madrid. Não é a minha cidade preferida, mas é uma belíssima cidade, um  lugar onde me sabe sempre  bem regressar. E depois, Madrid é perto e bom caminho. E tem muito para ver e para fazer. Vai ser bom!...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Por toda a minha vida


Conhecemo-nos até ao mais pequeno detalhe, partilhamos pequenos e grandes momentos da vida um do outro, gardamos mil e um segredos de momentos só nossos, que nunca  ninguém, além de nós, saberá. Depois vem o tempo e o resto, que altera muita coisa, quase sem darmos por isso.
Mas não o essencial, que continua enorme e inteiro no coração. Porque há sentimentos que resistem ao tempo. E o que é que pode ser melhor do que a certeza de nos termos um ao outro para sempre?

domingo, 2 de dezembro de 2012

Espírito de Natal

 
Chegou o mês de Dezembro, tempo do advento e, por todo o lado, já se respira Natal.
Nesta época tão alucinantemente festiva, cheia de luz, de encanto e de emoção, é difícil não nos deixarmos contagiar pela euforia consumista, esquecendo um pouco a essência do que celebramos, o presépio e a sua lição de amor e simplicidade.
A alegria do nascimento do Menino Jesus traz, em cada ano, uma magia especial às nossas vidas. O que nos toca, verdadeiramente, é a força e a grandeza deste Deus Menino, que vem ao nosso encontro em toda a sua inocência, trazer-nos uma mensagem profunda de verdade, de amor, de vida e salvação.
E, na emotividade da festa, parece que os sentimentos se acentuam e fortalecem. Parece inevitável sentirmo-nos mais perto das pessoas de quem gostamos.
Eu, que sou uma sentimental, vivo estes dias com as emoções à flor da pele, fico muito mais sensível, tudo me comove e, apetece-me, acima de tudo, apertar nos braços, com muita força, todas as pessoas de quem gosto. E dizer-lhes, muitas vezes, como são importantes para mim e como lhes quero bem.
É em alturas assim que tenho vontade de celebrar a vida ainda mais, de agradecer a Deus as coisas boas que me dá todos os dias ( e são tantas!) e as pessoas maravilhosas que trouxe à minha vida e, em parte, fizeram (e fazem) de mim tudo o que hoje sou. E porque o espírito do Natal é todo só amor, esse é o melhor presente que tenho para dar às pessoas que trago no coração. É que o amor é o que há de mais forte e mais bonito. O amor pode tudo. E só o amor importa.