quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Assim, sim...



Mesmo para quem gosta muito do que faz é fácil às vezes deixar-se levar pelo cansaço ou o desânimo. É muito desgastante a profissão que escolhi; trabalha-se muito e ganha-se pouco, sofre-se grande pressão psicológica a cada dia, em cada hora, e é preciso lidar com muita gente e muitas coisas ao mesmo tempo, cada qual com especificidades próprias e as mais diversas ideossincrasias a funcionar em simultâneo.
E, no entanto, três meses depois da mudança que eu quis, não me arrependo de nada. Foi quase como começar outra vez. Cada escola é um mundo novo, com regras próprias, hábitos, pessoas, modos e tempos diferentes. É preciso observar, aprender, adaptarmo-nos e mudar, sem deixar de ser quem somos, ou de acreditar no que acreditamos, num caminho lento, cheio de altos e baixos, de avanços e retrocessos, de vitórias e derrotas construídas no tempo e na estranheza, de surpresas e cansaços vários, na tentativa de fazer o melhor de que somos capazes e de levar todos aqueles nos foram confiados e dependem de nós o mais longe que eles puderem chegar, o que é também um desafio gigantesco, misto de responsabilidade, de risco e de aventura.
Como em tudo e em todo o lado, encontra-se bom e mau, pessoas fantásticas e outras que é melhor manter à distância, competência e desleixo. Mas, para já, posso dizer que valeu a pena. Foram três meses duríssimos, que chegaram ao fim com um balanço positivo em resultados e em satisfação, mas em que quase tudo foi conquistado a pulso, a cada minuto contado no relógio. Que, ainda assim, me fizeram perceber com mais clareza que gosto disto, malgré tout. E se dúvidas houvesse, elas dissiparam-se hoje, quando li isto num dos noventa e não sei quantos texto de auto-avaliação:
Hoje sinto que sou uma boa aluna a Português, mas nem sempre foi assim (...) percebi que desde que a escrita de textos se tornou algo semanal para mim, alguns desses problemas, como a falta de ideias, dificuldade em estruturar o texto, etc, melhoraram muito. (...)
Vim a descobrir que gosto muito mais da disciplina de Português do que algum dia achei que viria a gostar e, apesar de às vezes não ficar muito entusiasmada quando a professora nos manda escrever um texto durante a aula, cada vez acho as aulas de Português mais interessantes. 
Pode até soar a presunção, mas para além de tanta novidade e dos bons resultados com que fechamos esta etapa, esta é para mim a verdadeira recompensa de três meses de muito trabalho, e a certeza de que é sempre possível fazer um pouco mais, ou ainda melhor.

4 comentários:

  1. Não soa nada a presunção o facto de se sentir compensada pelo seu trabalho que é árduo. A sociedade não sabe dar o devido valor à profissão pilar de um país que é ensinar!
    Aprender a Língua mãe é também outro grande pilar para todas as outras disciplinas curriculares . Quando não se sabe interpretar, escrever com deve ser e analisar é o descalabro . Só com muitos exercícios, quer escritos e verbalizados, se aprende e não com joguinhos de facilidades.
    Beijinho.

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    1. Na verdade a sociedade não lhe dá o devido valor, mas essa imagem negativa é também muitas vezes criada pelos próprios profissionais. Nesta, como em todas as profissões, há muito bom e muito mau. Nós estamos apenas mais expostos.
      Pois, Madalena, a língua materna é fundamental, mas às vezes invertem-se as prioridades, ou escolhe-se o caminho mais fácil. E é necessário insistir no essencial: ler, ler, ler, pensar e escrever muito.
      O resto não é assim muito relevante...
      Obrigada
      Beijinho

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  2. Parabéns!

    Também sou professora da escola primária e apesar de gostar muito do que faço, às vezes sinto-me cansada. São muitos anos de serviço.
    Insisto muito com a leitura e leio muitos livros aos meus alunos. O gosto pela leitura começa aqui, nestas idades. Orgulho-me de ter alunos, pequeninos, que gostam de ler.

    Um beijinho:)

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    1. O cansaço é inevitável, Isabel. Mas depois, às vezes, também há o que nos compensa disso tudo. Concordo consigo. É nessas idades precoces que deve começar o gosto pela leitura, que deve ser incentivado em casa, tal como na escola.
      E nem são precisos "Planos Nacionais de Leitura"...

      Obrigada. Um beijinho para si também. :)

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