sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O meu Liceu


O Pedro Nunes fez hoje 111 anos. É uma data bonita, um número que, segundo se diz, está associado a optimismo, a novos começos e a motivação. 
Como costuma acontecer nesta data, o dia foi de festa. Começou e terminou com música; e, durante toda a manhã, multiplicaram-se as mais diversas actividades, organizadas conjuntamente por alunos e professores - filmes, exposições, torneios, sessões de poesia, conferências, laboratórios abertos, rastreios de saúde, jogos, workshops, - por onde toda a gente circulava em total liberdade, vivendo a escola de uma maneira diferente, naquilo que ela deve ser acima de tudo: um lugar de abertura ao mundo, de cultura e de saber, mas também de reflexão, de encontro(s) e de partilha.
Tal como aconteceu no ano passado, mas desta vez com um pouco mais de fundamento, sinto prazer e orgulho de pertencer a este lugar, onde apesar de nem tudo ser perfeito - nunca é, em lado nenhum, - aprender  e ensinar continua a ser bom e a ter sentido.
Durante muito tempo (22 anos), foi outra a escola que senti como minha, onde estava quase como em casa, onde aprendi a dizer "a minha escola" com esse sentimento de pertença relativamente a um lugar e a um projecto  que, de certo modo, também ajudei a construir. Onde vivi muitos momentos bons e maus, conheci pessoas extraordinárias e outras detestáveis, onde me construí pessoal e profissionalmente, onde gostei muito de ser professora e devagar fui traçando esse caminho, com esforço e empenho, suor e sangue, às vezes, também, na tentativa de ir fazendo mais e melhor em cada dia.
Não foi sempre fácil, mas eu não gosto do que é fácil. Foi, acima de tudo, apaixonante. E, como adoro desafios, entreguei-me de alma e coração, dando o melhor de mim a um projecto em que acreditava profundamente,  e que me parecia tão certo como definitivo. Por isso, não estava nos meus planos sair dali.
Mas a vida nem sempre é como imaginamos e, muitas vezes, quase sempre, vira-se do avesso e troca-nos as voltas. Porque, subitamente, tudo mudou. A "minha escola" deixou de o ser, tornou-se um lugar desagradável e hostil, sem rumo nem projecto, um lugar  mais ou menos à deriva, onde ninguém pode ser feliz. Achei então que era a altura de partir,  encerrar um ciclo e começar uma nova etapa, noutro lugar, que pudesse de novo sentir "meu".
Assim se cumpriu um sonho antigo: o privilégio de pertencer a um liceu com história, moderno e antigo simultaneamente; e a possibilidade de começar tudo outra vez, com a experiência como valor acrescentado. Sem qualquer nostalgia do que ficou para trás. Tal como nos amores, foi bom enquanto durou a "chama acesa", deixou marcas em mim, mas já não há saudade nem mágoa, porque agora é outro tempo e são outros desafios, diferentes, mais ou menos difíceis, e não menos aliciantes.
E à medida que o tempo vai correndo, vou sentindo cada vez mais que este é agora o meu lugar, o meu liceu. E gosto de aqui estar.

4 comentários:

  1. Parabéns pela data e pela profissão que escolheu. Também eu abracei essa profissão há muitos anos e foi com paixão que a vivi por mais de três décadas. Momentos fascinantes, outros dolorosos e muitos outros de muito trabalho, mas sempre carregados de muito empenho e gosto. Despedi-me da minha Escola (há pouco mais de seis anos) e do tempo maravilhoso em que ensinei e aprendi. Ficam as recordações quase sempre choradas e plenas de saudade - uma saudade mágica -.
    Por ser uma professora o meu bem-haja, Isabel.

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    1. Obrigada, Maria. É bom gostar-se do que se faz, mesmo quando não é fácil...

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  2. Por força das funções que venho desempenhando, coordenador do 3º ciclo numa secundária, vou espreitando o que se faz por outros locais. E o Pedro Nunes é das escolas que visito (virtualmente). Não tenho dúvidas que nos próximos anos reforçará o seu lugar como uma das escolas cimeiras lisboetas.

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    1. Já é uma das escolas cimeiras. Para mim é, sem dúvida, a melhor. E com tradição...

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