domingo, 14 de outubro de 2012

Açores


 Os Açores estão, hoje, na primeira página da actualidade informativa. Não por razões metereológicas, como costuma acontecer, mas por uma razão política, que é uma razão de peso!
Eu nunca fui aos Açores. Tenho, como quase todos os "continentais", uma relação de proximidade e distância com este arquipélago, como se aquela terra, que sabemos fazer parte de Portugal, fosse também, simultaneamente, uma espécie de "mundo à parte".
Apenas conheço os Açores pelas imagens que vou vendo e, sobretudo, por ouvi-los contar. Em todas as descrições, em tudo o que vejo e ouço, há   sempre referências  ao esplendor de uma paisagem deslumbrante e  de um lugar tranquilo, quase primitivo, (sem conotação pejorativa), marcado pelo silêncio.
Naturalmente, a partir de tudo isto, fui construindo uma imagem mental dos Açores. No meu imaginário, os Açores são verdes, azuis e cinzentos. São prados enormes e verdejantes, com vacas a pastar. E flores. Mas são também brumas mais ou menos misteriosas, um ar húmido e quente,  vidros salpicados pelos pingos da chuva. E mar, muito mar, mar em toda a parte, mar a perder de vista.
Aos Açores associo canções e autores: Peter's do Trovante  "Encontro uma ilha / será maravilha ou tem/ o que ninguém deu (...) "; Nemésio e o seu célebre Mau Tempo no Canal; ou a poesia em tom metafísico e  angustiado de Antero de Quental.
Mas falar dos Açores é também lembrar o famoso anticiclone, responsável pelas variações climáticas, trazendo o sol ou deixando chegar a chuva, consoante  a sua localização. E, desde  2007, os Açores recordam-me ainda um nome próprio, o de um açoriano, não de origem, mas de coração,  a quem me liga uma profunda amizade e por quem nutro especial afecto, uma daquelas raras pessoas que estão perto mesmo quando estão longe e que, inexplicavelmente, parece que conhecemos desde sempre.
O arquipélago dos Açores, referido às vezes como uma "pérola no Atlântico", tantas vezes descrito como um lugar paradisíaco, terá também, certamente, as particularidades de uma sociedade demasiado restrita.  Para mim, os Açores são o verdadeiro paradigma da insularidade, representam um lugar longínquo, perdido em pleno oceano, sempre a meio caminho não se sabe de onde, sempre próximo e distante, que eu quero e não quero desvendar.
E, no entanto, apesar de tudo o que ouço e vejo, tenho a certeza que não gostaria nem seria capaz de viver num lugar assim, porque  a sensação de espaço limitado seria maior que a sensação de liberdade;  e porque sou excessivamente urbana e preciso da agitação da minha Lisboa.
Às vezes penso que um dia que vá aos Açores se quebra a magia que está na minha cabeça. E então, vêem-me à memória estes versos de Fernando Pessoa:

Viajar! Perder países!
(...)
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

5 comentários:

  1. Bom dia, Isabel.

    Se me permite a petulância, ante um grande amor, prefere imaginá-lo ou vivê-lo? Sem embargo, não me parece que se deva privar os cinco (seis?) sentidos de uma grande paixão. Mesmo receando, ou antecipando, o seu fim. Depois, como as pessoas, muitos lugares jamais se esquecem, mesmo, ou principalmente, se vividos por nós.

    Beijinhos,

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  2. Pespondo-lhe: Prefiro vivê-lo, sem hesitação! Tem razão, Paulo. E tenho a certeza que um dia, não sei quando, vou aos Açores... ;)
    Beijinho
    Isabel

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    Respostas
    1. Respondo-lhe e não "pespondo-lhe"... :)))

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    2. Ainda outra coisa, Isabel:

      Os Açores não existem como um único local. Cada ilha ( e são nove!) é uma realidade totalmente diferente, quer nas gentes, quer nas paisagens. Por exemplo, a única ilha cujos habitantes têm acentuado sotaque é S. Miguel (a maior, a mais povoada e com geologias mais diversas). Porventura, também, a melhor para começar a visitar. Enfim... olhe, teria tanto para lhe dizer (ainda me falta conhecer as Flores e o Corvo)... :)

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    3. Obrigada Paulo! Um dia... :)
      Beijinho

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